UTILIDADE DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO: OLHAR DOS ENFERMEIROS PORTUGUESES

RESUMO

Objetivo

identificar a percepção dos enfermeiros sobre a utilidade das tecnologias de informação e comunicação na sua prática profissional, bem como na comunicação entre a equipe multidisciplinar.

Método

estudo quantitativo, descritivo, de caráter exploratório, realizado com 3.451 enfermeiros, de 36 instituições hospitalares de Portugal Continental. Como instrumento de coleta de dados foi utilizado um questionário. Na análise dos dados, utilizando o SPSS^®, recorreu-se à estatística descritiva.

Resultados

das nove tecnologias em estudo constata-se que relativamente à sua utilidade na prática profissional, os enfermeiros qualificaram como útil ou muito útil a Intranet (84,3%), o Correio Eletrônico (79,5%), o SClínico^® (74,8), o Sistema de Apoio à Prática de Enfermagem (70,9%), o Sistema de Apoio ao Médico (63,2%), o Boletim informativo (62,9), o ALERT^® (59,4%), a Plataforma de Dados da Saúde (42,8%) e o SONHO^® (31,8). No que se refere à sua utilidade no âmbito da comunicação entre a equipe multidisciplinar, os enfermeiros qualificaram como útil ou muito útil o Correio Eletrônico (75,2%), a Intranet (74,2%), o SClínico (72,5%), o Sistema de Apoio à Prática de Enfermagem (67,1%), o Sistema de Apoio ao Médico (63,6%), o ALERT^® (58,9%), o Boletim informativo (57,2), a Plataforma de Dados da Saúde (40,1%) e o SONHO^® (29,4%).

Conclusão

apesar da utilidade das tecnologias apresentar percentuais relevantes, torna-se pertinente analisar o motivo pelo qual a percepção de utilidade dos enfermeiros é superior para a Intranet e para o Correio Eletrônico quando comparados com as tecnologias específicas de dados assistenciais utilizadas no contexto hospitalar.

DESCRITORES
Enfermagem; Hospitais; Tecnologias em saúde; Tecnologia da informação; Prática profissional

ABSTRACT

Objective

to identify nurses’ perception on the usefulness of information and communication technologies in their professional practice, as well as in communication among the multidisciplinary team.

Method

this is a quantitative, descriptive study, of exploratory character, carried through with 3.451 nurses from 36 hospital institutions of Portugal. A questionnaire was used as a data collection instrument. In data analysis, using SPSS^® resorted to descriptive statistics.

Results

of the nine technologies under study, we found that regarding their usefulness in professional practice, nurses qualified as useful or very useful: Intranet (84.3%), email (79.5%), SClínico^® (74.8%), Nursing Practice Support System (70.9%), Physician Support System (63.2%), newsletter (62.9), ALERT^® (59.4%), Health Data Platform (42.8%) and SONHO^® (31.8). Regarding its usefulness in communication among the multidisciplinary team, nurses qualified as useful or very useful: email (75.2%), Intranet (74.2%), SClínico (72.5%), Nursing Practice Support System (67.1%), Physician Support System (63.6%), ALERT^® (58.9%), newsletter (57.2), Health Data Platform (40.1%) and SONHO^® (29.4%).

Conclusion

despite the usefulness of technologies presenting relevant percentages, it is pertinent to analyze why nurses’ perceived usefulness is superior to Intranet and email when compared with specific technologies of care data used in the hospital context.

DESCRIPTORS
Nursing; Hospital; health Technologies; Information technology; Professional practice

RESUMEN

Objetivo

identificar la percepción de los enfermeros sobre la utilidad de las tecnologías de la información y la comunicación en su práctica profesional, así como en la comunicación entre el equipo multidisciplinario.

Método

estudio cuantitativo, descriptivo, exploratorio, realizado con 3.451 enfermeros, de 36 instituciones hospitalarias de Portugal. Como instrumento de recolección de datos se utilizó un cuestionario. En el análisis de datos, usando el SPSS^®, fue utilizado estadística descriptiva.

Resultados

de las nueve tecnologías estudiadas, encontramos que en relación a su utilidad en la práctica profesional, los enfermeros describieron la Intranet (84,3%), el correo electrónico (79,5%), el SClínico^® (74,8%), el Sistema de Apoyo a la Práctica de Enfermería (70,9%), el Sistema de Apoyo al Médico (63,2%), el boletín informativo (62,9), el ALERT^® (59,4%), el Plataforma de Datos de Salud (42,8%) y el SONHO^® (31,8). En cuanto a su utilidad en el contexto de comunicación entre el equipo multidisciplinar, los enfermeros calificaron el correo electrónico (75,2%), la Intranet (74,2%), el SClínico^® (72,5%), el Sistema de Apoyo a la Práctica de Enfermería (67,1%), el Sistema de Apoyo al Médico (63,6%), el ALERT^® (58,9%), el boletín informativo (57,2%), la Plataforma de Datos de Salud (40,1%) y el SONHO^® (29,4%).

Conclusión

a pesar de la utilidad de las tecnologías para presentar porcentajes relevantes, es pertinente analizar la razón por la cual la percepción de utilidad de las enfermeras es superior para la Intranet y para el Correo Electrónico cuando se compara con las tecnologías específicas de datos asistenciales utilizadas en el contexto hospitalario.

DESCRIPTORES
Enfermería; Hospitales; Tecnologías sanitarias; Tecnología de la informacion; Practica profesional

INTRODUÇÃO

A inserção das tecnologias e inovações tecnológicas no setor da saúde cresce de maneira exponencial. A discussão sobre a utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) em Saúde compõem parte do Health at a Glance: Europe 2018, como tema emergente e prioridade de organizações governamentais.1

Em Portugal, as tecnologias têm vindo a ser integradas de maneira crescente nos serviços de saúde. Destaca-se o reconhecimento global que o eHealth adquiriu em toda a Europa, sendo estímulo global dos governos para implementação das TICs com consequente melhoria da qualidade, produção e gestão de recursos. Nesse sentido, Portugal tem estimulado as instuições de saúde através do desenvolvimento de sistemas de informação que visam facilitar os registros e agilizar os processos, estimular a transparência, prevenir o desperdício e estimular o combate à fraude.2

Atualmente, é sabido que as tecnologias permeiam o mundo de trabalho dos profissionais de saúde. Dentre esses profissionais, os enfermeiros representam grande parte da força de trabalho no setor da saúde, com processos de trabalho semelhantes, entre os pares, em diferentes países.3 Na perspectiva de autores, a enfermagem está em uma intersecção de oportunidades para desafiar assuntos globais de saúde, como a escassez de profissionais, e a inserção das TICs, e os enfermeiros podem estimular os líderes na criação de espaços para implementação e utilização efetiva das TICs.4

Ao desempenhar um papel de grande relevância nas instituições de saúde, aos enfermeiros cabe, geralmente, a responsabilidade, a organização, a manutenção e a coordenação das operações de funcionamento de diversos locais onde se realiza atendimento às necessidades de saúde das pessoas. Em muitos ambientes, são os enfermeiros que realizam a articulação do trabalho da equipe multiprofissional e que possuem responsabilidades significativas na área da gestão.5

E é nesses contextos, que emerge a pertinência da incorporação das TICs nos ambientes de prática, constituindo-se em um movimento que sinaliza para a permanência das tecnologias nos espaços de produção de assistência, compondo parte do trabalho em saúde e, mais especificamente, em enfermagem.

As TICs são instrumentos que podem gerar impactos no processo de trabalho dos profissionais de saúde. Um estudo relacionou a utilização das TICs com a organização e melhoria no processo de trabalho da equipe multiprofissional.6 Assim, destaca-se que, quando bem empregadas as tecnologias podem influenciar positivamente os ambientes da prática contribuindo para alcançar os objetivos relativos à segurança e qualidade no processo de trabalho dos profissionais de enfermagem.7

Para alcançar tais objetivos, entre outros aspetos, há necessidade de sistemas de informação e de tecnologias informáticas que integrem a colaboração dos diferentes profissionais de saúde em prol de altos níveis de qualidade no processo de cuidados das pessoas doentes.8

Em Portugal, apesar de existirem tecnologias de informação e comunicação muito diversas, à data da coleta de dados, existiam nos hospitais públicos nove TICs: Sistema de Apoio à Prática de Enfermagem (SAPE); SClínico^®; Sistema de Apoio ao Médico (SAM); ALERT^®; Sistema Integrado de Informação Hospitalar, designado por SONHO^®; Plataforma de Dados da Saúde (PDS); Intranet; Boletim Informativo e Correio Eletrônico.

O SAPE, atualmente atualizado em SClínico, é um recurso que permite a informatização das diferentes fases do Processo de Enfermagem; o SAM é uma aplicação informática orientada para a atividade do médico; o ALERT^® é um software clínico que na maioria dos Hospitais em estudo, está implementado nos Serviços de Urgência; o SONHO, acrónimo de Sistema Integrado de Informação Hospitalar, tem como principais funcionalidades o registo de doentes, a informação sobre o procedimento efetuado pelo doente em códigos da Classificação Internacional de Doenças (CID) e o registro de saída do doente com transformação em Grupos de Diagnóstico Homogéneos (GDH) para contabilização financeira relativa à passagem do doente pelo hospital. Por fim, o PDS é uma plataforma também web que permite o acesso à informação dos cidadãos que tenham número de utente no Sistema Nacional de Saúde (SNS), sem a necessidade de existir deslocações e/ou envio de documentos entre instituições.

Embora as tecnologias de informação e comunicação sejam diversas e com imensas potencialidades, o problema é que, na prática, são notórias algumas lacunas, entre elas, dificuldade de utilização, desafios na implementação e suporte dos profissionais de informática, aspectos que têm vindo a comprometer a utilização efetiva das TICs.

Diante do exposto, com este estudo procuramos identificar a percepção dos enfermeiros sobre a utilidade das tecnologias de informação e comunicação na sua prática profissional, bem como na comunicação entre a equipe multidisciplinar.

MÉTODO

Pesquisa de abordagem quantitativa, descritiva, de caráter exploratório,⁹ realizada em 36 instituições hospitalares de Portugal Continental, em março de 2016. A técnica de amostragem utilizada foi não probabilística por conveniência. Foram definidos como critérios de inclusão ser enfermeiro no exercício profissional e exercer a sua atividade profissional na instituição hospitalar num período de tempo igual ou superior a seis meses, nos departamentos de medicina e especialidades médicas, cirurgia e especialidades cirúrgicas ou medicina intensiva e urgência.

Assim, após aprovação das respectivas comissões de ética das instituições envolvidas, foi realizada a coleta de dados. Tendo em consideração os serviços de cada instituição hospitalar em que o estudo foi autorizado, a população acessível correspondeu a 10.013 enfermeiros. De acordo com os critérios definidos, todos os enfermeiros que pertenciam às equipes de enfermagem dos serviços onde o estudo foi autorizado, que exerciam há mais de seis meses e que aceitaram participar, foram incluídos na amostra que ficou constituída por 3.451 enfermeiros. Depois de esclarecidos sobre os objetivos, bem como sobre os procedimentos inerentes à investigação, através de informação escrita disponibilizada no serviço, ou por presença física do investigador, aos enfermeiros que aceitaram participar no estudo, foi solicitado que assinassem o consentimento informado, tendo sido garantida a confidencialidade e o anonimato na utilização e divulgação das informações obtidas.

Como instrumento de coleta de dados, foi utilizado o questionário, constituído por duas partes: Parte I - Caracterização do respondente; Parte II - Percepção dos enfermeiros sobre a utilidade das tecnologias de informação e comunicação no âmbito da prática profissional de enfermagem e da comunicação entre a equipe multidisciplinar.

Embora em Portugal ainda não existam estudos que comprovem, o uso das diversas TICs pelos enfermeiros, parece estar, em alguns casos, relacionado com a utilidade que é atribuída a cada tecnologia. Por esse motivo, considerou-se relevante avaliar a percepção dos enfermeiros sobre a utilidade das TICs na sua prática profissional, bem como, no âmbito da comunicação entre a equipe multidisciplinar. Com base nesse pressuposto, foi decidido pelos autores, que no instrumento elaborado, nas variáveis ordinais⁹ utilidade das TICs na prática profissional dos enfermeiros e utilidade das TICs no âmbito da comunicação entre a equipe multidisciplinar, a escala de respostas do tipo Likert pode variar entre 1 e 5, sendo que 1 corresponde a inútil, 2 pouco útil, 3 não tenho opinião ou não conheço, 4 útil e 5 muito útil.

Para o tratamento e análise dos dados, utilizamos o programa estatístico, Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 22,0. De acordo com a natureza das variáveis e os objetivos do estudo, recorremos à estatística descritiva.⁹

Importa referir que esta pesquisa faz parte de uma investigação mais abrangente, concretizada no contexto nacional, sobre os contextos da prática hospitalar e as concepções dos enfermeiros, aprovada, inicialmente, pela Comissão de Ética para a Saúde do Centro Hospitalar de São João, com o número 98-15.

RESULTADOS

Os resultados deste estudo demonstram que dos 3.451 enfermeiros, a maioria é do género feminino (77,1%). A idade média é de 36,4 anos, com um desvio padrão de 8,3. O estado civil majoritário é casado/união estável (61,1%), seguindo-se o de solteiro (33,8%), o de divorciado (4,7%) e o de viúvo (0,3%). No que concerne ao grau acadêmico, a licenciatura é largamente maioritária (88,0%), seguindo-se o mestrado (10,7%), o bacharelado (1,1%) e o doutoramento (0,2%).

Com relação à distribuição regional dos enfermeiros, segundo as regiões da Administração Regional de Saúde a que pertencem as instituições hospitalares, predominou o Norte (43,2%), seguindo-se Lisboa e Vale do Tejo (24,0%), o Centro (22,3%), o Alentejo (6,2%) e o Algarve (4,2%). Na distribuição dos enfermeiros pelos serviços onde exercem funções, predominam os serviços de medicina e especialidades médicas (44,2%), cirurgia e especialidades cirúrgicas (33,7%) e, por fim, medicina intensiva e urgência (22,1%).

No que se refere à condição em que exercem a profissão, a maioria são enfermeiros (76,3%), seguindo-se os enfermeiros especialistas (19,9%) e os enfermeiros gestores (3,8%). Quanto à distribuição do tempo de exercício profissional, para os enfermeiros o tempo médio é de 12,2 anos, com um desvio padrão de 7,7; para os enfermeiros especialistas o tempo médio é de 15,7 anos, com um desvio padrão de 7,2; por fim, para os enfermeiros gestores o tempo médio é de 27,2 anos, com um desvio padrão de 6,2.

Relativamente à área da especialidade dos enfermeiros especialistas, verifica-se que predomina a enfermagem de reabilitação (44,6%), seguindo-se a enfermagem médico-cirúrgica (37,8%). Em relação aos enfermeiros gestores, predominou a enfermagem médico-cirúrgica (40,3%) e a enfermagem de reabilitação (32,8%).

Para além dos dados sociodemográficos e profissionais, em atendimento aos objetivos da pesquisa, com a aplicação do questionário foi possível identificar a percepção dos enfermeiros sobre a utilidade das tecnologias de informação e comunicação na prática profissional, bem como sobre a sua utilidade no âmbito da comunicação entre a equipe multidisciplinar.

Utilidade das TICs no âmbito da prática profissional dos enfermeiros

Em relação à percepção dos enfermeiros sobre a utilidade das tecnologias de informação e comunicação no âmbito da prática profissional, os resultados são apresentados na tabela 1.

Tabela 1 -
Distribuição numérica e percentual sobre a utilidade das tecnologias de informação e comunicação na prática profissional dos enfermeiros. Porto, Portugal, 2016. (n=3451)

Tecnologia	Frequência
	Inútil		Pouco útil		Sem opinião		Útil		Muito útil		Total
	n	%	n	%	n	%	n	%	n	%	n	%
SAPE	63	1,8	162	4,7	780	22,6	1677	48,6	769	22,3	3451	100,0
SClínico	39	1,1	122	3,5	711	20,6	1531	44,4	1048	30,4	3451	100,0
SAM	56	1,6	112	3,2	1102	31,9	1694	49,1	487	14,1	3451	100,0
ALERT	83	2,4	116	3,4	1203	34,9	1479	42,9	570	16,5	3451	100,0
SONHO	103	3,0	558	16,2	1693	49,1	819	23,7	278	8,1	3451	100,0
PDS	65	1,9	408	11,8	1501	43,5	1061	30,7	416	12,1	3451	100,0
Intranet	25	0,7	105	3,0	410	11,9	1989	57,6	922	26,7	3451	100,0
Boletim informativo	42	1,2	407	11,8	832	24,1	1663	48,2	507	14,7	3451	100,0
Correio eletrônico	55	1,6	239	6,9	414	12,0	1993	57,8	750	21,7	3451	100,0

No que se refere ao SAPE, útil é a resposta mais frequente (48,6%), seguindo-se não tenho opinião ou não conheço (22,6%). Os resultados apresentados na Tabela 1, evidenciam que a utilidade desta tecnologia é elevada, note-se que útil e muito útil em conjunto representam 70,9% dos enfermeiros.

No SClínico^®, útil é a resposta mais frequente (44,4%), seguindo-se muito útil (30,4%). Logo, a utilidade desta tecnologia é elevada, note-se que útil e muito útil em conjunto representam 74,7% dos enfermeiros.

No SAM, útil é a resposta mais frequente (49,1%), seguindo-se não tenho opinião ou não conheço (31,9%). A utilidade desta tecnologia é moderada, note-se que útil e muito útil em conjunto representam 63,2% dos enfermeiros.

Com relação ao ALERT^®, útil é a resposta mais frequente (42,9%), seguindo-se não tenho opinião ou não conheço (34,9%). Os resultados evidenciam que a utilidade dessa tecnologia é moderada, note-se que útil e muito útil em conjunto representam 59,4% dos enfermeiros.

No Sistema Integrado de Informação Hospitalar, conhecido por SONHO^®, não tenho opinião ou não conheço é a resposta mais frequente (49,1%), seguindo-se útil (23,7%). Os resultados indicam que a utilidade dessa tecnologia é muito baixa, note-se que útil e muito útil, em conjunto, representam apenas 31,8% dos enfermeiros.

Na Plataforma de Dados da Saúde (PDS), não tenho opinião ou não conheço é a resposta mais frequente (43,5%), seguindo-se útil (30,7%). Pelos resultados, constata-se que a utilidade dessa tecnologia é baixa, note-se que útil e muito útil, em conjunto, representam apenas 42,8% dos enfermeiros.

No que concerne à Intranet, útil é a resposta maioritária (57,6%), seguindo-se muito útil (26,7%). Logo, a utilidade dessa tecnologia é muito elevada, note-se que útil e muito útil, em conjunto, representam 84,4% dos enfermeiros.

No Boletim informativo, útil é a resposta mais frequente (48,2%), seguindo-se não tenho opinião ou não conheço (24,1%). A utilidade dessa tecnologia é moderada, note-se que útil e muito útil, em conjunto, representam 62,9% dos enfermeiros.

Com relação ao Correio Eletrônico, útil é a resposta maioritária (57,8%), seguindo-se muito útil (21,7%). Logo, a utilidade dessa tecnologia é elevada, note-se que útil e muito útil, em conjunto, representam 79,5% dos enfermeiros.

A Figura 1 sinaliza o percentual de utilidade (útil e muito útil) das tecnologias de informação e comunicação mencionadas.

Figura 1 -
Percentual de utilidade das tecnologias de informação e comunicação na prática profissional dos enfermeiros. Porto, Portugal, 2016.

Os resultados descritos demonstram que as tecnologias de informação e comunicação que os enfermeiros consideram como mais úteis para a prática profissional são: Intranet, Correio Eletrônico, SClínico^®, SAPE, SAM, Boletim Informativo, ALERT^®, PDS e o SONHO^®.

Utilidade das TICs no âmbito da comunicação entre a equipe multidisciplinar

Com relação à percepção dos enfermeiros sobre a utilidade das tecnologias de informação e comunicação no âmbito da comunicação entre a equipe multidisciplinar, os resultados são apresentados na tabela 2.

Tabela 2 -
Distribuição numérica e percentual sobre a utilidade das tecnologias de informação e comunicação na comunicação entre a equipe multidisciplinar. Porto, Portugal, 2016. (n=3451)

Tecnologia	Frequência
	Inútil		Pouco útil		Sem opinião		Útil		Muito útil		Total
	n	%	n	%	n	%	n	%	n	%	n	%
SAPE	86	2,5	215	6,2	833	24,1	1539	44,6	778	22,5	3451	100,0
SClínico	65	1,9	156	4,5	729	21,1	1459	42,3	1042	30,2	3451	100,0
SAM	63	1,8	153	4,4	1039	30,1	1658	48,0	538	15,6	3451	100,0
ALERT	88	2,5	134	3,9	1196	34,7	1484	43,0	549	15,9	3451	100,0
SONHO	141	4,1	552	16,0	1744	50,5	746	21,6	268	7,8	3451	100,0
PDS	74	2,1	442	12,8	1549	44,9	998	28,9	388	11,2	3451	100,0
Intranet	58	1,7	216	6,3	616	17,8	1922	55,7	639	18,5	3451	100,0
Boletim informativo	82	2,4	279	8,1	1115	32,3	1526	44,2	449	13,0	3451	100,0
Correio eletrônico	88	2,5	273	7,9	498	14,4	1931	56,0	661	19,2	3451	100,0

Para o SAPE, útil é a resposta mais frequente (44,6%), seguindo-se não tenho opinião ou não conheço (24,1%). Os resultados apresentados na tabela 2, indicam que a utilidade dessa tecnologia é moderada, note-se que útil e muito útil, em conjunto, representam 67,1% dos enfermeiros.

No SClínico^®, útil é a resposta mais frequente (42,3%), seguindo-se muito útil (30,2%). Logo, a utilidade dessa tecnologia é elevada, note-se que útil e muito útil, em conjunto, representam 72,5% dos enfermeiros.

Com relação ao SAM, útil é a resposta mais frequente (48,0%), seguindo-se não tenho opinião ou não conheço (30,1%). Os resultados evidenciam que a utilidade dessa tecnologia é moderada, note-se que útil e muito útil, em conjunto, representam 63,6% dos enfermeiros.

No que concerne ao ALERT^®, útil é a resposta mais frequente (43,0%), seguindo-se não tenho opinião ou não conheço (34,7%). Pelos resultados, constata-se que a utilidade dessa tecnologia é moderada, note-se que útil e muito útil, em conjunto, representam 58,9% dos enfermeiros.

No SONHO^®, não tenho opinião ou não conheço é a resposta maioritária (50,5%), seguindo-se útil (21,6%). Portanto, a utilidade dessa tecnologia é muito baixa, note-se que útil e muito útil, em conjunto, representam apenas 29,4% dos enfermeiros.

Na PDS, não tenho opinião ou não conheço é a resposta mais frequente (44,9%), seguindo-se útil (28,9%). Logo, a utilidade dessa tecnologia é baixa, note-se que útil e muito útil, em conjunto, representam apenas 40,2% dos enfermeiros.

No que se refere à Intranet, útil é a resposta maioritária (55,7%), seguindo-se muito útil (18,5%). Portanto, a utilidade dessa tecnologia é elevada, note-se que útil e muito útil, em conjunto, representam 74,2% dos enfermeiros.

No Boletim informativo, útil é a resposta mais frequente (44,2%), seguindo-se não tenho opinião ou não conheço (32,3%). Os resultados evidenciam que a utilidade dessa tecnologia é moderada, note-se que útil e muito útil, em conjunto, representam 57,2% dos enfermeiros.

Por fim, no Correio Eletrônico, útil é a resposta maioritária (56,0%), seguindo-se muito útil (19,2%). Portanto, a utilidade dessa tecnologia é elevada, note-se que útil e muito útil, em conjunto, representam 75,1% dos enfermeiros.

A Figura 2 ilustra o percentual de utilidade (útil e muito útil) das tecnologias de informação e comunicação mencionadas relativamente à comunicação entre a equipe multidisciplinar.

Figura 2 -
Percentual de utilidade das tecnologias de informação e comunicação no âmbito da comunicação entre a equipe multidisciplinar. Porto, Portugal, 2016.

Os resultados descritos demonstram que as tecnologias de informação e comunicação que os enfermeiros consideram como mais úteis para a comunicação entre a equipe multidisciplinar são: Correio Eletrônico, Intranet, SClínico^®, SAPE, SAM, ALERT^®, Boletim Informativo, PDS e SONHO^®.

Terminada a apresentação dos resultados, constata-se que a distribuição das respostas para cada tecnologia, quanto à sua utilidade no âmbito da comunicação entre a equipe multidisciplinar, está muito próxima da registrada relativamente à utilidade das tecnologias para a prática profissional dos enfermeiros.

DISCUSSÃO

As tecnologias de informação e comunicação, cada vez mais, ocupam um lugar de destaque nas organizações, realidade à qual os serviços de saúde não ficam alheios.10 No caso das instituições hospitalares, é indiscutível que as tecnologias de informação e comunicação permeiam os processos de trabalho dos profissionais de saúde, sendo encontradas diversas aplicações das TICs, que além de constituírem importantes instrumentos de trabalho, podem, quando bem utilizadas, ser promotoras da melhoria dos ambientes de prática.7

O fato de nos contextos hospitalares serem encontrados diferentes softwares de informatização, sinaliza a necessidade de foco estratégico das organizações para a escolha das TICs que possam ser mais adequadas e gerar mais benefícios para as organizações.11

No que se refere à utilidade das tecnologias na prática profissional dos enfermeiros e no âmbito da comunicação entre a equipe multidisciplinar, apesar da coerência entre os resultados deste estudo, torna-se pertinente analisar o motivo pelo qual a percepção de utilidade é superior para a Intranet e para o Correio Eletrônico, quando comparados com as tecnologias específicas da profissão e disciplina de enfermagem, de que é exemplo o Sistema de Apoio à Prática de Enfermagem, atualmente atualizado em SClínico^® em todos os hospitais públicos.12

Nos últimos anos, as instituições hospitalares têm sofrido alterações significativas com dependência do incremento das tecnologias de informação e comunicação. No que se refere às tecnologias incluídas na pesquisa, o Sistema de Apoio à Prática de Enfermagem, e a atualização do mesmo, em SClínico^®, cujas matrizes concetuais incorporam de forma explícita itens tradutores do processo de pensamento em enfermagem, não são, conforme seria expectável, as tecnologias qualificadas pelos enfermeiros como mais úteis, o que impõe a nossa reflexão. Num estudo publicado em 2018, foram identificados fatores que condicionam a valorização dessas tecnologias, dos quais destacamos: as frequentes atualizações da tecnologia, a falta de integração e interoperabilidade dos softwares, a complexidade da tecnologia, a inadequação da tecnologia aos contextos da prática, a falta de conhecimento sobre a tecnologia, bem como o tempo dispendido na realização de registros.13

Sendo os softwares de informatização hospitalar, recursos emergentes a serem utilizados em todas as organizações de saúde, impõe-se como um desafio a utilização dos mesmos de forma sistemática e efetiva. O problema é que na prática, a falta de conhecimento sobre as potencialidades das tecnologias condiciona o uso das mesmas pelos enfermeiros.7

Em relação à Plataforma de Dados da Saúde e ao Sistema Integrado de Informação Hospitalar, que permitem a partilha de informações biométricas e clínicas, a constatação de percentagens elevadas na opção não tenho opinião ou não conheço está especificamente relacionada com o desconhecimento quanto às potencialidades destes recursos tecnológicos.

O SAM, sendo o sistema de apoio ao médico, e o ALERT, constituindo o sistema clínico existente nos serviços de urgência, veiculam informações relevantes à execução de intervenções interdependentes, motivo pelo qual, uma percentagem significativa de enfermeiros os consideram úteis.

Por último, a facilidade na acessibilidade da informação justifica a elevada utilidade percecionada pelos enfermeiros relativamente à intranet e ao correio eletrônico, especialmente, para terem acesso a informações relevantes relacionadas à prática clínica, o que, por sua vez, na perspetiva de outros autores, melhora a qualidade do cuidado e a comunicação entre os profissionais.14 Nesse contexto, atendendo aos resultados do estudo, fica a ideia de que o julgamento clínico do enfermeiro pode estar sustentado no conhecimento geral disponibilizado na Intranet e/ou por correio eletrônico, muitas vezes, como resultado da partilha entre colegas, em detrimento de dados relevantes e específicos de cada paciente, disponíveis nas tecnologias SAPE, SClínico^®, SAM e PDS.

À semelhança de outro estudo realizado, as tecnologias de informação e comunicação ainda são pouco exploradas pelos profissionais, ficando por descobrir um mundo de oportunidades que essas ferramentas podem facultar para melhorar o desenvolvimento pessoal, profissional e organizacional.6 Evidencia-se, portanto, a necessidade dos profissionais de saúde, se inserirem no ambiente tecnológico que além de permitir a disseminação de conhecimento, pode apoiar a tomada de decisão clínica.15^-16 Atendendo a que o tempo dispendido e as dificuldades de acesso para uso das tecnologias de informação e comunicação têm sido apontados como as principais barreiras, o investimento em dispositivos móveis que facilitassem o acesso, surge como uma possibilidade interessante.8^,16

De fato, em contextos cada vez mais complexos, questiona-se se a utilidade das tecnologias de informação e comunicação pode ser potenciada pelo acesso em tempo real através de dispositivos móveis, ao invés de somente via Web.8 Embora o referido possa constituir uma possibilidade, importa ainda consciencializar os profissionais de enfermagem de que qualquer tecnologia adicionada ao cuidado, aumenta, numa fase inicial, a complexidade do trabalho, todavia a longo prazo, pode potencializar a redução da carga de trabalho, bem como, melhorar a qualidade dos cuidados.8

Nesse sentido, importa acrescentar que embora algumas tecnologias de informação e comunicação, tenham vindo a ser utilizadas para apoiar o desenvolvimento do Processo de Enfermagem Informatizado,17 o que também aconteceu em Portugal com o SAPE e o SClínico^®, urge a necessidade de se adotarem recursos, que permitam usar as tecnologias de informação e comunicação como base estruturada de conhecimento, o que efetivamente nem sempre é possível com a intranet e com o correio eletrônico.

Nos resultados deste estudo, o percentual de utilidade das tecnologias de informação e comunicação na prática profissional dos enfermeiros e o percentual de utilidade das TICs no âmbito da comunicação entre a equipe multidisciplinar apresentam algumas especificidades. A percepção de utilidade das tecnologias de informação e comunicação é superior na prática profissional dos enfermeiros, à exceção da tecnologia SAM. A percentagem superior relativamente à utilidade da tecnologia de informação e comunicação SAM no âmbito da comunicação entre a equipe multidisciplinar ocorre em função dos enfermeiros terem que acessar ao SAM para buscar as evoluções médicas e acompanhar informações relacionadas ao paciente, o que efetivamente já foi confirmado noutros estudos.13 Assim, esse resultado reforça o que ocorre na prática diária de trabalho dos enfermeiros relativamente ao acesso às informações nos sistemas disponíveis nas instituições.

Os achados desta pesquisa também corroboram os de outros estudos quando mencionam que organizações que empregam tecnologias de informática em enfermagem por um longo período de tempo, relataram melhoras nos processos clínicos, na comunicação entre a equipe e na qualidade geral de atendimento aos pacientes.18^-19

Na sequência do mencionado, este estudo indica a necessidade de novas pesquisas envolvendo a compreensão das expectativas, usabilidade e aplicação prática dos recursos tecnológicos no contexto assistencial e no âmbito da comunicação entre a equipe multidisciplinar.

CONCLUSÃO

As tecnologias de informação e comunicação contribuem para o desenvolvimento do processo de trabalho dos enfermeiros, constituindo, por isso, um desafio a sua utilização diária e sistemática.

Na pesquisa realizada, a percepção dos enfermeiros quanto à utilidade da intranet e do correio eletrônico, atingiu valores percentuais superiores à utilidade das tecnologias desenvolvidas especificamente com a finalidade de interface de registros da assistência aos usuários e comunicação entre a equipe multidisciplinar. O referido, para além de traduzir a relevância atribuída pelos enfermeiros a tecnologias não específicas ao seu exercício profissional, torna urgente a necessidade de consolidar o uso das tecnologias de comunicação e informação específicas. Uma das formas de atingir a referida consolidação passa pela realização de ações de ensino, tanto nos cursos de graduação como na educação permanente, para identificar oportunidades de melhoria e apoio aos usuários das tecnologias de informação e comunicação.

O fato de a utilidade das tecnologias de informação e comunicação ter sido avaliada apenas em relação a dois componentes, prática profissional e comunicação entre a equipe multidisciplinar, constitui uma limitação deste estudo.

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NOTAS

• ORIGEM DO ARTIGO

  Artigo original, parte de uma investigação mais abrangente, sobre “Os contextos da prática hospitalar e as concepções dos enfermeiros”. Essa investigação culminou na tese - Contextos da prática hospitalar e conceções de enfermagem: olhares sobre o real da qualidade e o ideal da excelência no exercício profissional dos enfermeiros, apresentada ao Programa Doutoral em Ciências de Enfermagem, do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar - Universidade do Porto, em 2017.

• APROVAÇÃO DE COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

  Aprovado pelo Comitê de Ética para a Saúde do Centro Hospitalar de São João, com o parecer número 98-15.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  09 Abr 2021
• Data do Fascículo
  2021

Histórico

• Recebido
  05 Jun 2019
• Aceito
  05 Mar 2020