Acessibilidade / Reportar erro

EFEITOS DE UMA INTERVENÇÃO PSICOTERAPÊUTICA BREVE DE APOIO EM PACIENTES HEMODIAlisados: estudo quase-experimental

RESUMO

Objetivos

avaliar a qualidade de vida relacionada à saúde e a resiliência de pacientes hemodialisados na cidade do Porto, Portugal, antes e após a intervenção psicoterapêutica Relaxamento, Imagens Mentais e Espiritualidade. Identificar os fatores que interferem nos níveis de resiliência destes pacientes.

Método

estudo quase-experimental, realizado com 17 participantes de duas unidades de diálise da cidade do Porto, Portugal, de novembro de 2018 a abril de 2019. Foram utilizados questionário de caracterização sociodemográfica e clínica, escala de qualidade de vida (Kidney Disease Quality of Life-Short Form), escala de resiliência, e intervenção psicoterapêutica breve. Cada paciente recebeu três sessões da intervenção, sendo avaliados pelos instrumentos listados antes e depois. Foram utilizados testes de Shapiro Wilks para verificar normalidade dos dados, testes t de Student e de Wilcoxon para comparação das médias e regressão linear na identificação dos fatores associados à resiliência.

Resultados

a percepção da qualidade de vida foi melhor em quase todos os domínios da escala pós-intervenção, com diferença estatisticamente significativa nas dimensões: função física (p=0,006) e função emocional (p=0,021). Na avaliação da resiliência, verificou-se aumento com significância estatística no período pós-intervenção (p=0,002); análises de regressão linear revelaram que religião, outras patologias e histórico de transplante são fatores relacionados ao aumento dos níveis de resiliência; e uso de medicamentos antidepressivos e anti-hipertensivos são fatores que podem interferir na diminuição da resiliência.

Conclusão

a intervenção contribuiu para melhora na resiliência e de alguns domínios da qualidade de vida dos pacientes, podendo ser estimulada sua aplicabilidade no contexto dos pacientes em hemodiálise.

DESCRITORES
Terapias complementares; Qualidade de vida; Resiliência psicológica; Insuficiência renal crônica; Hemodiálise; Cuidados paliativos; Medicina psicossomática

ABSTRACT

Objectives

to assess health-related quality of life and resilience among hemodialyzed patients in the city of Porto, Portugal, before and after the Relaxation, Mental Images and Spirituality psychotherapeutic intervention, and identify factors interfering in these patients’ levels of resilience.

Method

a quasi-experimental study was conducted from November 2018 to April 2019 among 17 patients attending two dialysis centers located in Porto, Portugal. A questionnaire addressing sociodemographic and clinical information was applied together with the Kidney Disease Quality of Life-Short Form, a resilience scale, and a brief psychotherapeutic intervention. Each patient attended three intervention sessions, and the instruments were applied before and after the intervention. The Shapiro-Wilk test was performed to verify the normality of data, while the Student’s t-test and Wilcoxon test were performed to compare the means, and linear regression was used to identify resilience-associated factors.

Results

after the intervention, quality of life perception improved in virtually all the scale’s domains, with statistically significant differences in the physical function (p=0.006) and emotional function (p=0.021). The resilience assessment revealed a statistically significant improvement in the post-intervention (p=0.002); linear regression analyses showed that having a religion, other pathologies, or a history of transplant is related to increased resilience levels while taking antidepressants or anti-hypertensive medications negatively affect it.

Conclusion

the intervention contributed to improving resilience and some domains concerning the patients’ quality of life. Thus, it can be implemented among patients undergoing hemodialysis.

DESCRIPTORS
Complementary therapies; Quality of life; Resilience psychological; Chronic kidney disease; Hemodialysis; Palliative care; Psychosomatic medicine

RESUMEN

Objetivos

evaluar la calidad de vida relacionada a la salud y resiliencia de pacientes en hemodiálisis, en la ciudad do Porto, en Portugal, antes y después de la intervención psicoterapéutica: Relajamiento, Imágenes Mentales y Espiritualidad. También, identificar los factores que interfieren en los niveles de resiliencia de estos pacientes.

Método

estudio casi experimental, realizado en 17 participantes de dos unidades de diálisis de la ciudad de Porto, en Portugal, de noviembre de 2018 a abril de 2019. Fueron utilizados: el cuestionario de caracterización sociodemográfica y clínica, la escala de calidad de vida (Kidney Disease Quality of Life-Short Form), la escala de resiliencia y la intervención psicoterapéutica breve. Cada paciente recibió tres sesiones de intervención, siendo evaluados por los instrumentos arriba listados, antes y después. Fueron utilizadas las pruebas: Shapiro Wilks para verificar la normalidad de los datos, t de Student y de Wilcoxon para comparación de las medias; y, la regresión linear para la identificación de los factores asociados a la resiliencia.

Resultados

la percepción de la calidad de vida fue mejor en casi todos los dominios de la escala, después de la intervención, con una diferencia estadísticamente significativa en las dimensiones: función física (p=0,006) y función emocional (p=0,021). En la evaluación de la resiliencia, se verificó aumento con significación estadística, en el período después de la intervención (p=0,002). Los análisis de regresión linear revelaron que la religión, otras patologías y el histórico de trasplante, son factores relacionados con el aumento de los niveles de resiliencia; y, el uso de medicamentos antidepresivos y antihipertensivos son factores que pueden interferir en la disminución de la resiliencia.

Conclusión

la intervención contribuyó para la mejora de la resiliencia y de algunos dominios de la calidad de vida de los pacientes, pudiendo ser estimulada su aplicabilidad en el contexto de los pacientes en hemodiálisis.

DESCRIPTORES
Terapias complementarias; Calidad de vida; Resiliencia psicológica; Insuficiencia renal crónica; Hemodiálisis; Cuidados paliativos; Medicina psicosomática

INTRODUÇÃO

A doença renal crônica (DRC) é uma anormalidade da estrutura ou função renal, presente por um período igual ou maior que três meses, detectada pela presença de albuminúria persistente ou pela redução da taxa de filtração glomerular11. Ronco P, Rovin B, Schlöndorff D, eds. KDIGO 2018 Clinical practice guideline for the prevention, diagnosis, evaluation, and treatment of hepatitis C in chronic kidney disease. KI Supplements [Internet]. 2018 [cited 2019 Oct 20];8(3):91-165. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6336217/
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/article...
. A DRC tem se tornado um grande problema de saúde pública22. Park JI, Baek H, Jung HH. Prevalence of chronic kidney disease in Korea: the Korean national health and nutritional examination survey 2011-2013. J Korean Med Sci [Internet]. 2016 [cited 2019 May 9];31(6):915-23. Available from: https://doi.org/10.3346/jkms.2016.31.6.915
https://doi.org/10.3346/jkms.2016.31.6.9...
, causando impactos na qualidade de vida (QV), nos gastos com a saúde, e afeta de 8 a 16% da população mundial33. Lotufo PA. Renal disease screening: a potential tool for reducing health inequity. Sao Paulo Med J [Internet]. 2016 [cited 2019 Jul 21];134(1):1-2. Available from: https://doi.org/10.1590/1516-3180.2016.13411512
https://doi.org/10.1590/1516-3180.2016.1...
.

O tratamento de hemodiálise (HD) é a modalidade de terapia renal substitutiva mais realizada entre os pacientes com DRC. Embora prolongue a vida, provoca repercussões negativas devido às mudanças nos hábitos e rotinas, levando ao comprometimento da qualidade de vida (QV)44. Jesus NM, Souza GF, Mendes-Rodrigues C, Almeida Neto OP, Rodrigues DDM, Cunha CM. Qualidade de vida de indivíduos com doença renal crônica em tratamento dialítico. J Bras Nefrol [Internet]. 2019 [cited 2019 Nov 15];41(3):364-374. Available from: https://doi.org/10.1590/2175-8239-jbn-2018-0152
https://doi.org/10.1590/2175-8239-jbn-20...
.

O termo QV requer uma definição, já que se trata de um tema complexo e subjetivo, por envolver diversas áreas de estudo, levando a uma tendência, conforme o interesse científico e político ao qual a pesquisa está relacionada. Para este estudo, utilizou-se a definição da Associação Brasileira de Self-Healing55. Associação Brasileira de Self-Healing. Cálculo do escore do questionário SF36. São Paulo SP(BR): ABSH; 2014. Available from: http://www.absh.org.br/00.php?nPag=11_001
http://www.absh.org.br/00.php?nPag=11_00...
, que defende que a qualidade de vida está relacionada à saúde (QVRS), sendo um subconjunto do termo QV, frequentemente utilizado para distinguir QV em sentido mais amplo e relacionada a parâmetros clínicos. A QVRS aborda aspectos relevantes que englobam saúde, sintomas físicos, funções físicas, emocionais, cognitivas e sexuais, estado funcional e as possíveis consequências desses fatores55. Associação Brasileira de Self-Healing. Cálculo do escore do questionário SF36. São Paulo SP(BR): ABSH; 2014. Available from: http://www.absh.org.br/00.php?nPag=11_001
http://www.absh.org.br/00.php?nPag=11_00...
.

Pesquisadores buscaram compreender os aspectos que envolvem os processos de enfrentamento e resiliência de pacientes em tratamento hemodialítico, e o impacto da DRC sobre a QV destes. Assim, constataram que a resiliência está relacionada com o alcance de uma boa saúde psíquica66. Galvão JO, Matsuoka ETM, Castanha AR, Furtado FMSF. Processos de enfrentamento e resiliência em pacientes com doença renal crônica em hemodiálise. Contextos Clínic [Internet]. 2019 [cited 2019 Oct 10];12(2):659-84. Available from: doi. Available from: doi. https://doi.org/10.4013/ctc.2019.122.13
https://doi.org/10.4013/ctc.2019.122.13...
.

Entre muitas definições, resiliência está associada à capacidade do indivíduo de se recuperar das adversidades, e vê-las como oportunidade de crescimento. Seus determinantes incluem fatores biológicos, psicológicos, sociais e culturais que interagem uns com os outros para determinar como alguém responde a experiências estressantes77. Southwick SM, Bonanno GA, Masten AS, Panter-Brick C, Yehuda R. Resilience definitions, theory, and challenges: interdisciplinary perspectives. Eur J Psychotraumatol [Internet]. 2014 [cited 2019 Apr 2];5:1. Available from: https://doi.org/10.3402/ejpt.v5.25338
https://doi.org/10.3402/ejpt.v5.25338...
. Teoricamente, sugere-se que a autoconfiança e o apoio social são variáveis conceituais chaves, também há uma associação positiva entre maior resiliência/melhor apoio social, e maior probabilidade de resposta ao tratamento88. Newton-John T, Mason C, Hunter M. The role of resilience in adjustment and coping with chronic pain. Rehabil Psychol [Internet]. 2014 [cited 2019 Apr 2];59(3):360-5. Available from: https://doi.org/10.1037/a0037023
https://doi.org/10.1037/a0037023...
. Neste cenário, analisar os níveis de QVRS e resiliência dos pacientes contribui para a elaboração de melhorias e intervenções para aqueles que convivem diariamente com a DRC, levando-se em conta o caráter incurável dessa patologia.

Alinhado ao contexto, utilizamos neste estudo a intervenção psicoterapêutica Relaxamento, Imagens Mentais e Espiritualidade (RIME), inserida no âmbito de cuidados paliativos, e que favorece a potencialização dos recursos internos do paciente. A RIME é uma intervenção psicoterapêutica breve de apoio, de caráter complementar, que integra as técnicas de relaxamento, imaginação dirigida e elementos da espiritualidade, constituindo uma abordagem simbólica e transpessoal99. Elias ACA. Manual para aplicação - RIME - Psicoterapia breve por imagens alquímicas. Campinas, SP(BR): Unicamp; 2018. Available from: http://intervencaorime.com.br/downloads/E-Book_Manual_para_Aplicacao-RIME.pdf
http://intervencaorime.com.br/downloads/...
. Tem como objetivo ressignificar a dor psíquica, a dor espiritual ou um foco de sofrimento definido pelo paciente, possibilitando fortalecer os recursos psíquicos saudáveis e a resiliência, melhorando a QV frente ao adoecer99. Elias ACA. Manual para aplicação - RIME - Psicoterapia breve por imagens alquímicas. Campinas, SP(BR): Unicamp; 2018. Available from: http://intervencaorime.com.br/downloads/E-Book_Manual_para_Aplicacao-RIME.pdf
http://intervencaorime.com.br/downloads/...
.

Assim, o estudo em questão teve como objetivos avaliar a QVRS e resiliência de pacientes em tratamento hemodialítico na cidade do Porto (Portugal), antes e após a intervenção psicoterapêutica RIME; e identificar os fatores que interferem nos níveis de resiliência destes pacientes.

MÉTODO

Estudo de intervenção quase-experimental, sem grupo controle, do tipo antes e depois. O estudo foi realizado em duas unidades privadas de diálise, conveniadas com o sistema público de saúde, localizadas em uma cidade da região norte de Portugal. O início se deu em dezembro de 2018 e término em abril de 2019.

A população do estudo foi composta pelos pacientes adultos, com diagnóstico de DRC, inseridos no programa de HD dessas unidades. No mês de dezembro de 2018 foi feito contato com a primeira unidade de diálise, que atendia, na ocasião, 50 pacientes, sendo que 35 (70%) destes tinham idade superior a 65 anos. Os 15 pacientes restantes atendiam aos critérios de inclusão, porém quatro se recusaram a participar do estudo, fazendo parte da amostra 11 participantes. Já na segunda unidade de diálise, foi fornecida uma lista com 11 nomes, que se enquadravam nos critérios de inclusão, dentre eles apenas seis concordaram em participar da pesquisa. Dessa forma, a amostra final foi composta por 17 participantes que foram informados do objetivo do estudo, dos instrumentos e intervenção a serem aplicados, além da garantia do anonimato e sigilo dos dados.

Foram estabelecidos os seguintes critérios de inclusão: idade entre 18 e 64 anos; possuir diagnóstico médico de DRC; estar em tratamento de HD há pelo menos seis meses; estar orientado auto e alopsiquicamente; e ter as capacidades cognitivas preservadas. Os critérios adotados para exclusão foram: apresentar quadros demenciais ou déficits cognitivos (rastreado por meio da aplicação do miniexame do estado mental - MEEM)1010. Brucki SMD, Nitrini R, Caramelli P, Bertolucci, PHF, Okamoto IH. Suggestions for utilization of the mini-mental state examination in Brazil. Arq Neuropsiquiat [Internet]. 2003 [cited 2019 Jan 8];61(3B):777-81. Available from: https://doi.org/10.1590/S0004-282X2003000500014
https://doi.org/10.1590/S0004-282X200300...
; apresentar sequelas ou deficiências que impossibilitassem a aplicação dos instrumentos e da intervenção RIME; e realizar diálise peritoneal. Para descontinuidade da intervenção, adotaram-se os seguintes critérios: manifestação verbal do participante de não querer permanecer no estudo após a primeira sessão; hospitalização ou qualquer ausência superior a duas semanas.

Abaixo, segue fluxograma informativo dos participantes, conforme Figura 1:

Figura 1 -
Fluxograma adaptado segundo o Consolidated Standards of Reporting Trials (CONSORT)1111. Schulz KF, Altman DG, Moher D, CONSORT Group. CONSORT 2010 statement: updated guidelines for reporting parallel group randomised trials. BMJ [Internet]. 2010 Mar 23 [cited 2020 Aug 12];340:c332. Available from: https://doi.org/10.1136/bmj.c332
https://doi.org/10.1136/bmj.c332...
.

Protocolo da intervenção: foram aplicadas três sessões de RIME em cada um dos participantes. As sessões aconteciam uma vez por semana, em dias e horários pré-agendados, em uma sala privativa da unidade de diálise - previamente escolhida para esta finalidade (o mesmo procedimento foi realizado nas duas unidades de diálise). Os horários escolhidos eram aqueles que antecediam as sessões, ou nos dias em que o paciente não era submetido à HD. Cada sessão durou cerca de vinte e cinco minutos, nos quais o paciente ficava posicionado confortavelmente na cadeira de HD, que regulava conforme sua vontade; normalmente preferiu-se ficar deitado, em decúbito dorsal. As primeiras sessões da intervenção RIME datam do mês de janeiro e foram finalizadas em abril de 2019.

Foi necessário adequar o ambiente para três participantes: a primeira, uma paciente que fazia uso de cadeira de rodas, preferiu receber as sessões de RIME em sua cadeira, em sala privativa; a segunda, também cadeirante, preferiu receber as sessões na cadeira de HD, durante o tratamento. Para esta paciente, nos dias da intervenção, era solicitado a equipe que a posicionasse na última cadeira ao lado da parede, e era utilizado um biombo, separando-a dos demais, garantindo o máximo de privacidade. O terceiro paciente manifestou interesse em receber a intervenção em seu domicílio, pois relatou que o ambiente da clínica por si só, já o deixava muito cansado, o que foi prontamente atendido. Em todas as sessões, foi utilizado como material de apoio um notebook pessoal, em que eram tocadas as músicas para indução do relaxamento, assim como a pesquisadora utilizava-o para fazer anotações antes e após a intervenção, e um álbum composto por 4 fotografias (tamanho da Folha A4), com imagens da natureza (jardim de flores com cachoeira suave, um lago sereno ao pé da montanha, um campo, por onde passa um rio tranquilo e uma praia tranquila, com mar sereno). Ao final da terceira sessão de RIME, cada participante era novamente submetido aos instrumentos de avaliação (pós-teste).

A avaliação dos participantes consistiu em questionário de caracterização sociodemográfica e clínica, escala de qualidade de vida Kidney Disease and Quality of Life Short-Form (KDQOL-SFTM)1212. Hays RD, Kallish JD, Mapes DL, Coons SJ, Carter WB. Development of the kidney disease quality of life (KDQoL) instrument. Qual Life Res [Internet]. 1994 [cited 2019 Jan 8];3(5):329-38. Available from: https://doi.org/10.1007/BF00451725
https://doi.org/10.1007/BF00451725...
, e escala de resiliência (ER). O KDQoL-SFTM é um instrumento específico que avalia a DRC. Os escores de seus itens variam entre 0 e 100, sendo que o cálculo das pontuações é feito por dimensão, não existe um valor único resultante da avaliação global da qualidade de vida relacionada à saúde QVRS, mas sim, escores médios para cada dimensão, analisadas separadamente. Valores maiores refletem melhor QVRS, valores menores, QVRS menos favorável. A escala de resiliência contém 25 itens em escala Likert de sete pontos, o total de escores varia de 25 a 175 na escala original1313. Wagnild GM, Young HM. Development and psychometric evaluation of Resilience Scale. J Nurs Meas [Internet]. 1993 [cited 2019 Sept 22];1(2):165-78. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/7850498
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/7850...
, e de 25 a 161 pontos na versão adaptada para pacientes portugueses adultos. Sendo sua correspondência, valores iguais ou menores que 124 pontos indicam baixa resiliência; valores de 125 a 145 indicam níveis moderados de resiliência, e valores maiores que 145 indicam de moderadamente alta a alta resiliência. Tanto os instrumentos quanto a intervenção foram aplicados pela mesma pesquisadora, e foram realizados de forma individualizada.

Os desfechos clínicos primários de interesse foram as variações dos níveis de resiliência e de qualidade de vida. A variável de tratamento do estudo foi a intervenção psicoterapêutica breve RIME, ofertada a cada paciente uma vez por semana, durante três semanas.

Utilizou-se o software livre R para analisar os dados, versão 3.2.0. Foram realizadas análises descritivas, teste de Shapiro Wilks para verificar a existência de normalidade dos dados, e para comparação das médias o teste t de Student (para amostras com distribuição normal) e teste de Wilcoxon (para amostras que não atenderam a suposição de normalidade) indicado pelo teste de Shapiro Wilks. A metodologia utilizada para ajuste do modelo de regressão linear múltipla foi o Least Absolute Shrinkage and Selection Operator (Lasso)1414. Tibshirani R. Regression Shrinkage and Selection via the Lasso. J R Stat Soc. 1996;58(1):267-88.. Foi adotado nível de significância de 5%. A anuência dos participantes deu-se por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

RESULTADOS

A Tabela 1 apresenta a distribuição dos participantes, de acordo com suas características sociodemográficas e clínicas. Dos 17 pacientes que fizeram parte da amostra, a maioria era composta pelo sexo masculino, com média de idade 56,5 anos, situação conjugal casado/união estável, e professavam o catolicismo. Em relação aos dados clínicos, a maioria dos respondentes possuíam outras patologias, com destaque para hipertensão, seguida de diabetes, faziam uso de polifarmácia (±6 medicamentos/dia). O acesso vascular mais utilizado era a fístula arteriovenosa (FAV), 23,52% dos pacientes possuíam histórico de transplante renal, e a maioria encontrava-se em listas de espera para transplante.

Tabela 1 -
Caracterização da amostra quanto aos aspectos sociodemográficos e clínicos dos pacientes em HD. Porto, PT, 2019. (n=17)

Na Tabela 2 são apresentados os escores médios da QVRS, atribuídos aos pacientes nos períodos antes e depois da intervenção RIME, e os resultados do teste t de Student. Verifica-se que a percepção de QVRS foi melhor em quase todos os domínios do KDQOL-SFTM, porém com diferença estatisticamente significativa nas dimensões: Função física (p-valor=0,006) e Função emocional (p-valor=0,02).

Tabela 2 -
Comparação dos escores de QVRS dos pacientes em HD nos períodos Pré e Pós intervenção. Porto, PT, 2019. (n=17)

Ao serem comparadas as médias dos escores de resiliência dos pacientes, presentes na Tabela 3, antes e após a intervenção, verificou-se que os pacientes apresentaram um acréscimo relevante no período pós-intervenção 135,0±12,8, com significância estatística (p-valor=0,002).

Tabela 3 -
Comparação dos escores de resiliência dos pacientes em HD nos períodos Pré e Pós-intervenção. Porto-PT, 2019. (n=17)

Na Tabela 4 estão apresentados os resultados da análise de regressão linear múltipla, tendo como desfecho o grau de resiliência, com as variáveis explicativas sociodemográficas e clínicas dos pacientes em hemodiálise.

Tabela 4 -
Resultados da análise de regressão linear tendo como desfecho o grau de resiliência e as variáveis explicativas dos pacientes em HD. Porto, PT, 2019. (n=17)

DISCUSSÃO

Em relação ao perfil sociodemográfico da população, os achados corroboram os resultados de outros estudos realizados com doentes renais crônicos em tratamento de HD, nos quais predominam o sexo masculino, união estável, média de idade de 56 anos e adeptos da religião católica1515. Oliveira APB, Schmidt DB, Amatneeks TM, Santos JC, Cavallet LHR, Michel RB. Qualidade de vida de pacientes em hemodiálise e sua relação com mortalidade, hospitalizações e má adesão ao tratamento. J Bras Nefrol [Internet]. 2016 [cited 2019 Sept 22];38(4):411-20. Available from: https://doi.org/10.5935/0101-2800.20140012
https://doi.org/10.5935/0101-2800.201400...
-1818. Tomazou C, Charalambous G, Jelastopulu E. Quality of life in patients with chronic kidney disease: a cross-sectional study comparing patients on hemodialysis, peritoneal dialysis and with kidney transplantation. Br J Med Res [Internet]. 2015 [cited 2019 Jul 07];8(6):516-25. Available from: https://doi.org/10.9734/BJMMR/2015/17304
https://doi.org/10.9734/BJMMR/2015/17304...
.

De acordo com os resultados, a RIME promoveu melhoras em alguns aspectos da QVRS de pacientes portugueses em tratamento de HD, assim como proporcionou aumento dos níveis de resiliência. Pela análise das médias da KDQOL-SFTM, foi possível inferir que a percepção de QVRS foi melhor em quase todos os domínios após a RIME, porém com diferença estatisticamente significativa nas dimensões: “Função física” (p-valor=0,006) e “Função emocional” (p-valor=0,021). A RIME, ao integrar as técnicas de relaxamento, imaginação dirigida e elementos da espiritualidade, favorece a potencialização dos recursos internos do paciente, dando novos significados a sua dor e sofrimento, promovendo QV frente ao adoecimento99. Elias ACA. Manual para aplicação - RIME - Psicoterapia breve por imagens alquímicas. Campinas, SP(BR): Unicamp; 2018. Available from: http://intervencaorime.com.br/downloads/E-Book_Manual_para_Aplicacao-RIME.pdf
http://intervencaorime.com.br/downloads/...
. Nesse sentido, intervenções de cunho biopsicossocial e espiritual promovem momentos de descontração, relaxamento mental e bem-estar físico e emocional, suscitam o sentimento de esperança e enfrentamento da doença, e assim proporcionam melhora na QV destes pacientes99. Elias ACA. Manual para aplicação - RIME - Psicoterapia breve por imagens alquímicas. Campinas, SP(BR): Unicamp; 2018. Available from: http://intervencaorime.com.br/downloads/E-Book_Manual_para_Aplicacao-RIME.pdf
http://intervencaorime.com.br/downloads/...
,1616. Brasileiro TOZ, Prado AAO, Assis BB, Nogueira DA, Lima RS, Chaves ECL. Effects of prayer on the vital signs of patients with chronic kidney disease: randomized controlled trial. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2017 [cited 2019 Aug 02];51:e03236. Available from: https://doi.org/10.1590/S1980-220X2016024603236
https://doi.org/10.1590/S1980-220X201602...
. A espiritualidade estimula os recursos internos, o que auxilia na aceitação da doença e pode favorecer o processo de reabilitação1616. Brasileiro TOZ, Prado AAO, Assis BB, Nogueira DA, Lima RS, Chaves ECL. Effects of prayer on the vital signs of patients with chronic kidney disease: randomized controlled trial. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2017 [cited 2019 Aug 02];51:e03236. Available from: https://doi.org/10.1590/S1980-220X2016024603236
https://doi.org/10.1590/S1980-220X201602...
.

Um estudo controlado e randomizado, com 65 pacientes em tratamento de HD, objetivou testar a eficácia de outra modalidade de intervenção: a terapia cognitiva comportamental, que trabalha com a modificação de crenças e comportamento. Esta foi administrada durante as sessões de HD, visando reduzir sintomas depressivos nesses pacientes. Dos 65 participantes matriculados em dois centros de diálise de Nova York, 59 completaram o estudo e foram alocados em dois grupos, grupo de tratamento (n = 33) e grupo controle da lista de espera (n=26)1919. Cukor D, Halen NV, Asher DR, Coplan JD, Weedon J, Wyka KE, et al. Psychosocial intervention improves depression, quality of life, and fluid adherence in hemodialysis. J Am Soc Nephrol [Internet]. 2014 [cited 2019 Feb 18];25(1):196-206. Available from: https://doi.org/10.1681/ASN.2012111134
https://doi.org/10.1681/ASN.2012111134...
. Os resultados mostraram que houve melhorias significativas nos quadros de depressão. Entre os participantes com depressão diagnosticada na linha de base, 89% do grupo de tratamento não estavam deprimidos no final do tratamento, em comparação com 38% no grupo da lista de espera (teste exato de Fisher, p = 0,01). Além disso, o grupo de tratamento experimentou maiores melhorias na QVRS, avaliada com a KDQOL-SFTM (p=0,04)1919. Cukor D, Halen NV, Asher DR, Coplan JD, Weedon J, Wyka KE, et al. Psychosocial intervention improves depression, quality of life, and fluid adherence in hemodialysis. J Am Soc Nephrol [Internet]. 2014 [cited 2019 Feb 18];25(1):196-206. Available from: https://doi.org/10.1681/ASN.2012111134
https://doi.org/10.1681/ASN.2012111134...
. Esses resultados reforçam que intervenções voltadas à saúde contribuem para a melhora na QVRS e devem ser incentivadas.

Um estudo de revisão sistemática2020. Manzini CSS, Damasceno VAM, Elias ACA, Orlandi FS. The brief psychotherapeutic intervention “relaxation, mental images and spirituality”: a systematic review. Sao Paulo Med J [Internet]. 2020 [cited 2020 Jan 10];138(3):176-83. Available from: https://doi.org/10.1590/1516-3180.2019.030202102019 .
https://doi.org/10.1590/1516-3180.2019.0...
, compilou em seus resultados que a RIME promoveu benefícios múltiplos a outras populações. Em relação a tais benefícios, a intervenção promoveu a ressignificação da dor simbólica da morte de pacientes fora de possibilidade de cura; proporcionou QV no processo de morrer; contribuiu para o bem-estar emocional de pacientes ostomizados; contribuiu com a QV de pacientes com câncer de mama, com possibilidades de cura; trouxe benefícios à QV de pacientes com câncer de cabeça e pescoço; promoveu ressignificação da dor espiritual de jovens enlutados, oferecendo retorno satisfatório quanto à elaboração do luto. Autores afirmam que intervenções como técnicas de relaxamento, meditação e visualização de imagens guiadas são propícias para se trabalhar com componentes da saúde espiritual e favorecem maior percepção de bem-estar, dos processos cognitivos e da saúde mental e física, sendo eficazes também na redução de sentimentos de ansiedade e desesperança2121. Quinceno JM, Vinaccia S. La salud en el marco de la psicología de la religión y la espiritualidad. Divers Perspect Psicol [Internet]. 2009 [cited 2020 Jan 10];5:321-36. Available from: https://doi.org/10.15332/22563067
https://doi.org/10.15332/22563067...
-2222. Elias ACA, Ricci MD, Rodrigues LHD, Pinto SD, Giglio JS, Baract EC. The biopsychosocial spiritual model applied to the treatment of women with breast cancer, through RIME intervention (Relaxation, Mental Images, Spirituality). Complement Ther Clin Pract 2015;21(1):1-6. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25682524
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2568...
.

A dimensão da KDQOL-SFTM melhor pontuada foi o “Estímulo por parte da equipe de diálise”, com médias de 83,82 e 84,56 pré e pós-intervenção, respectivamente. Em segundo lugar, a “Função sexual”, em que os escores apontaram médias de 91,67 pré e pós-intervenção. Esses dados são compatíveis com outros estudos realizados com a mesma população2323. Lira CLOB, Avelar TC, Bueno JMMH. Coping and quality of life of the patients in hemodialysis. Estud Interdiscip Psicol [Internet]. 2015 [cited 2019 May 22];6(1):82-99. Available from: https://doi.org/10.5433/2236-6407
https://doi.org/10.5433/2236-6407...
-2424. Lopes J M, Fukushima RLM, Inouye K, Pavarini SCI, Orlandi FS. Quality of life related to the health of chronic renal failure patients on dialysis. Acta Paulista de Enferm [Internet]. 2014 [cited 2019 Oct 13];27(3):230-6. Available from: https://doi.org/10.1590/1982-0194201400039
https://doi.org/10.1590/1982-01942014000...
. A equipe de cuidado, além de estabelecer vínculo assertivo com os pacientes, representa-lhes uma fonte de apoio e incentivo para, possibilitando a adesão ao tratamento e colaborando com melhores níveis de QVRS2323. Lira CLOB, Avelar TC, Bueno JMMH. Coping and quality of life of the patients in hemodialysis. Estud Interdiscip Psicol [Internet]. 2015 [cited 2019 May 22];6(1):82-99. Available from: https://doi.org/10.5433/2236-6407
https://doi.org/10.5433/2236-6407...
.

Por outro lado, as dimensões mais comprometidas foram “Situação de trabalho” apresentando menor escore pré-intervenção (14,71±34,30), seguida da “Função física” (16,18±29,24). Esses resultados corroboram com outras pesquisas reportadas na literatura1515. Oliveira APB, Schmidt DB, Amatneeks TM, Santos JC, Cavallet LHR, Michel RB. Qualidade de vida de pacientes em hemodiálise e sua relação com mortalidade, hospitalizações e má adesão ao tratamento. J Bras Nefrol [Internet]. 2016 [cited 2019 Sept 22];38(4):411-20. Available from: https://doi.org/10.5935/0101-2800.20140012
https://doi.org/10.5935/0101-2800.201400...
,1717. Stumm EMF, Benetti ERR, Pretto CR, Barbosa DA. Effect of educational intervention on the quality of life of hyperphosphathemic chronic renal on hemodialysis. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2019 [cited 2019 Dec 13];28:e20180267. Available from: https://doi.org/10.1590/1980-265X-TCE-2018-0267
https://doi.org/10.1590/1980-265X-TCE-20...
,2323. Lira CLOB, Avelar TC, Bueno JMMH. Coping and quality of life of the patients in hemodialysis. Estud Interdiscip Psicol [Internet]. 2015 [cited 2019 May 22];6(1):82-99. Available from: https://doi.org/10.5433/2236-6407
https://doi.org/10.5433/2236-6407...
, que apontam que a função física e situação de trabalho estão prejudicadas nos pacientes em HD. A função física é uma dimensão que pode comprometer a relação do paciente com suas atividades laborais ou outras atividades rotineiras. Levando-se em consideração seu desempenho físico, e o aparecimento de sintomas como fraqueza e mal-estar, que interferem nas atividades diárias, refletindo negativamente na QVRS. Quanto à situação de trabalho, o paciente com DRCT necessita de três sessões por semana de HD, por um período de 4h por sessão, o que pode explicar a falta de oportunidade de adquirir e manter uma atividade remunerada, muitas vezes dependendo de um salário auxílio-doença. Ainda, as pessoas inativas ou sem vínculo profissional devido às limitações físicas, geralmente são dependentes da previdência social e estão sujeitas a menor poder aquisitivo, o que pode estar associado a níveis mais baixos de QVRS.

Os resultados do presente estudo evidenciaram aumento nos níveis de resiliência dos pacientes. No período pré-intervenção, foram pontuados baixos escores de resiliência, de acordo com a escala (114,5±35,6), e, no pós-intervenção, foram alcançados níveis moderados (135,0±12,8), com significância estatística (p-valor= 0,002). Um estudo realizado no Irã2525. Noghan N, Akaberi A, Pournamdarian S, Borujerdi E, Hejazi SS. Resilience and therapeutic regimen compliance in patients undergoing hemodialysis in hospitals of Hamedan, Iran. Electronic Physician [Internet]. 2018 [cited 2019 Nov 25];10(5):6853-8. Available from: https://doi.org/10.19082/6853
https://doi.org/10.19082/6853...
, com 107 participantes, que objetivou investigar a relação entre resiliência e adesão ao regime terapêutico em pacientes submetidos à HD, pontuou médias de resiliência mais baixas (75,04±14,54) que o presente estudo. Os resultados daqueles autores indicaram que apenas 25 (23,4%) dos pacientes aderiram ao regime terapêutico, portanto 82 (76,6%) não aderiram. Os pacientes que tiveram adesão ao tratamento apresentaram média superior de resiliência (80,48±15,71), em relação àqueles que não aderiram (73,38±13,84), com diferença estatística significativa (p=0,032). A literatura afirma que a resiliência é uma habilidade única de pessoas para prevenir, limitar e superar os efeitos nocivos de condições difíceis, como doenças crônicas, e que há uma associação positiva entre maior resiliência e probabilidade maior de resposta ao tratamento99. Elias ACA. Manual para aplicação - RIME - Psicoterapia breve por imagens alquímicas. Campinas, SP(BR): Unicamp; 2018. Available from: http://intervencaorime.com.br/downloads/E-Book_Manual_para_Aplicacao-RIME.pdf
http://intervencaorime.com.br/downloads/...
,2525. Noghan N, Akaberi A, Pournamdarian S, Borujerdi E, Hejazi SS. Resilience and therapeutic regimen compliance in patients undergoing hemodialysis in hospitals of Hamedan, Iran. Electronic Physician [Internet]. 2018 [cited 2019 Nov 25];10(5):6853-8. Available from: https://doi.org/10.19082/6853
https://doi.org/10.19082/6853...
, assim como esta garante melhor adaptação às restrições impostas pela doença2626. Santos RI, Costa RS. Assessment of resilience in patients with chronic kidney disease undergoing hemodialysis. Rev Cienc Saude [Internet]. 2016 [cited 2019 Apr 04];6(1):1-8. Available from: https://doi.org/10.21876/rcsfmit.v6i1.461
https://doi.org/10.21876/rcsfmit.v6i1.46...
.

Análises de regressão linear revelaram que algumas variáveis contribuíram para o aumento ou a diminuição da resiliência dos pacientes. De acordo com os resultados, as variáveis: religião, outras patologias e histórico de transplante renal foram fatores significativos relacionados ao aumento da resiliência. Enquanto, medicamentos, como os antidepressivos e anti-hipertensivos, estão relacionados à sua diminuição. Alguns fatores se mostram protetores, reduzindo o impacto da doença, permitindo para alguns pacientes a superação e ressignificação do quadro clínico. Estudos reiteraram que possuir uma crença religiosa ou ser praticante implica positivamente na resiliência2626. Santos RI, Costa RS. Assessment of resilience in patients with chronic kidney disease undergoing hemodialysis. Rev Cienc Saude [Internet]. 2016 [cited 2019 Apr 04];6(1):1-8. Available from: https://doi.org/10.21876/rcsfmit.v6i1.461
https://doi.org/10.21876/rcsfmit.v6i1.46...
,2727. Böell JEW, Silva DMGV, Hegadoren KM. Sociodemographic factors and health conditions associated with the resilience of people with chronic diseases: a cross sectional study. Rev Latino-Am Enfermagem [Internet]. 2016 [cited 2019 Nov 11];24:e2786. Available from: https://doi.org/10.1590/1518- 8345.1205.2786
https://doi.org/10.1590/1518- 8345.1205....
. Um estudo realizado em um Hospital Escola da Faculdade de Medicina, na cidade de Itajubá (Brasil)2626. Santos RI, Costa RS. Assessment of resilience in patients with chronic kidney disease undergoing hemodialysis. Rev Cienc Saude [Internet]. 2016 [cited 2019 Apr 04];6(1):1-8. Available from: https://doi.org/10.21876/rcsfmit.v6i1.461
https://doi.org/10.21876/rcsfmit.v6i1.46...
, teve por objetivo avaliar o nível de resiliência de pacientes com DRC em HD. Os resultados mostraram que 61% dos pacientes em tratamento dialítico apresentaram tendência à resiliência, e a religião foi uma das questões biossociais que pode ter influenciado essa tendência. Outro estudo, que verificou a associação entre resiliência e variáveis sociodemográficas e de saúde em 603 pessoas com diagnóstico de DRC e/ou diabetes mellitus tipo 2, trouxe em seus resultados que as pessoas que referiram ter uma religião apresentaram melhores níveis de resiliência2727. Böell JEW, Silva DMGV, Hegadoren KM. Sociodemographic factors and health conditions associated with the resilience of people with chronic diseases: a cross sectional study. Rev Latino-Am Enfermagem [Internet]. 2016 [cited 2019 Nov 11];24:e2786. Available from: https://doi.org/10.1590/1518- 8345.1205.2786
https://doi.org/10.1590/1518- 8345.1205....
.

Em relação aos fatores “outras patologias” e “transplante renal”, pode-se inferir hipoteticamente, que favorecem o aumento da resiliência por exigir do paciente um grau maior de comprometimento com sua saúde. A perda do transplante pode estar relacionada com a esperança de vida do paciente, com sua vontade e necessidade de continuar o percurso da vida, de se cuidar melhor, motivando-o à adesão ao tratamento, e assim interferindo no aumento da resiliência.

Também se encontrou no presente estudo que alguns fatores contribuíram para a queda da resiliência, como uso de antidepressivos e anti-hipertensivos. Um estudo realizado com cuidadores familiares de pacientes com doença de Alzheimer também encontrou relação entre sintomas depressivos e menores níveis de resiliência2828. Manzini CSS, Vale FAC. Resilience of family caregivers of elderly with Alzheimer. Rev Eletr Enf [Internet]. 2016 [cited 2020 Jan 20];18:1-8. Available from: https://doi.org/10.5216/ree.v18.37035
https://doi.org/10.5216/ree.v18.37035...
. Pode-se deduzir também que medicamentos como antidepressivos, que agem diretamente nos neurotransmissores cerebrais, podem eventualmente levar o paciente a um menor processo de resiliência. Uma vez que esses pacientes podem apresentar alteração no humor ou na emoção. A literatura não evidencia a relação entre esses aspectos medicamentosos e os níveis de resiliência, devendo, portanto, este tema ser oportunamente estudado em pesquisas futuras.

Chamamos a atenção com este estudo para a importância da avaliação dos níveis de QVRS e resiliência dos pacientes em HD. Essas variáveis são capazes de evidenciar as potencialidades ou fragilidades dos pacientes permitindo ações assertivas por parte da equipe de enfermagem /multiprofissional.

Em relação às limitações desse estudo, destacam-se o tamanho limitado da amostra, a falta de um grupo controle, e a impossibilidade da generalização dos resultados, uma vez que a pesquisa foi realizada e focada em serviços de diálise específicos. Desta forma, sugere-se a realização de novos estudos, com diferentes delineamentos e incluindo amostras maiores, a fim de auxiliar na produção de novas evidências. Ademais, a resiliência tem sido um tema escasso nas pesquisas quantitativas de enfermagem, o que dificulta as buscas para embasamento dos dados - fato que também agrega valor a este estudo.

CONCLUSÃO

Baseado nos resultados das duas avaliações, antes e depois da intervenção, foi possível concluir que a RIME apresentou efeitos satisfatórios sobre as dimensões “Função física” e “Função emocional” da KDQoL-SFTM e sobre a resiliência dos pacientes em tratamento de HD. Análises de regressão linear apontaram que algumas variáveis estão relacionadas ao aumento ou a diminuição da resiliência dos pacientes. As variáveis religião, outras patologias e histórico de transplante renal foram fatores significativos relacionados ao aumento da resiliência. Enquanto as variáveis medicamentos, como os antidepressivos e anti-hipertensivos, estão relacionados à sua diminuição.

O uso de intervenções, voltadas ao bem-estar psicoemocional e a promoção de novas potencialidades do paciente, permite que este aprimore suas estratégias de enfrentamento e se fortaleça diante das adversidades, encontrando novas formas de lidar com as experiências de sofrimento.

AGRADECIMENTO

Agradecimentos aos coordenadores da unidade de diálise Venerável Ordem Terceira de São Francisco, e do Instituto de Diagnósticos e Terapia em Doença Renal (IDTDR), ambos da cidade do Porto, PT.

REFERENCES

  • 1. Ronco P, Rovin B, Schlöndorff D, eds. KDIGO 2018 Clinical practice guideline for the prevention, diagnosis, evaluation, and treatment of hepatitis C in chronic kidney disease. KI Supplements [Internet]. 2018 [cited 2019 Oct 20];8(3):91-165. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6336217/
    » https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6336217/
  • 2. Park JI, Baek H, Jung HH. Prevalence of chronic kidney disease in Korea: the Korean national health and nutritional examination survey 2011-2013. J Korean Med Sci [Internet]. 2016 [cited 2019 May 9];31(6):915-23. Available from: https://doi.org/10.3346/jkms.2016.31.6.915
    » https://doi.org/10.3346/jkms.2016.31.6.915
  • 3. Lotufo PA. Renal disease screening: a potential tool for reducing health inequity. Sao Paulo Med J [Internet]. 2016 [cited 2019 Jul 21];134(1):1-2. Available from: https://doi.org/10.1590/1516-3180.2016.13411512
    » https://doi.org/10.1590/1516-3180.2016.13411512
  • 4. Jesus NM, Souza GF, Mendes-Rodrigues C, Almeida Neto OP, Rodrigues DDM, Cunha CM. Qualidade de vida de indivíduos com doença renal crônica em tratamento dialítico. J Bras Nefrol [Internet]. 2019 [cited 2019 Nov 15];41(3):364-374. Available from: https://doi.org/10.1590/2175-8239-jbn-2018-0152
    » https://doi.org/10.1590/2175-8239-jbn-2018-0152
  • 5. Associação Brasileira de Self-Healing. Cálculo do escore do questionário SF36. São Paulo SP(BR): ABSH; 2014. Available from: http://www.absh.org.br/00.php?nPag=11_001
    » http://www.absh.org.br/00.php?nPag=11_001
  • 6. Galvão JO, Matsuoka ETM, Castanha AR, Furtado FMSF. Processos de enfrentamento e resiliência em pacientes com doença renal crônica em hemodiálise. Contextos Clínic [Internet]. 2019 [cited 2019 Oct 10];12(2):659-84. Available from: doi. Available from: doi. https://doi.org/10.4013/ctc.2019.122.13
    » https://doi.org/10.4013/ctc.2019.122.13
  • 7. Southwick SM, Bonanno GA, Masten AS, Panter-Brick C, Yehuda R. Resilience definitions, theory, and challenges: interdisciplinary perspectives. Eur J Psychotraumatol [Internet]. 2014 [cited 2019 Apr 2];5:1. Available from: https://doi.org/10.3402/ejpt.v5.25338
    » https://doi.org/10.3402/ejpt.v5.25338
  • 8. Newton-John T, Mason C, Hunter M. The role of resilience in adjustment and coping with chronic pain. Rehabil Psychol [Internet]. 2014 [cited 2019 Apr 2];59(3):360-5. Available from: https://doi.org/10.1037/a0037023
    » https://doi.org/10.1037/a0037023
  • 9. Elias ACA. Manual para aplicação - RIME - Psicoterapia breve por imagens alquímicas. Campinas, SP(BR): Unicamp; 2018. Available from: http://intervencaorime.com.br/downloads/E-Book_Manual_para_Aplicacao-RIME.pdf
    » http://intervencaorime.com.br/downloads/E-Book_Manual_para_Aplicacao-RIME.pdf
  • 10. Brucki SMD, Nitrini R, Caramelli P, Bertolucci, PHF, Okamoto IH. Suggestions for utilization of the mini-mental state examination in Brazil. Arq Neuropsiquiat [Internet]. 2003 [cited 2019 Jan 8];61(3B):777-81. Available from: https://doi.org/10.1590/S0004-282X2003000500014
    » https://doi.org/10.1590/S0004-282X2003000500014
  • 11. Schulz KF, Altman DG, Moher D, CONSORT Group. CONSORT 2010 statement: updated guidelines for reporting parallel group randomised trials. BMJ [Internet]. 2010 Mar 23 [cited 2020 Aug 12];340:c332. Available from: https://doi.org/10.1136/bmj.c332
    » https://doi.org/10.1136/bmj.c332
  • 12. Hays RD, Kallish JD, Mapes DL, Coons SJ, Carter WB. Development of the kidney disease quality of life (KDQoL) instrument. Qual Life Res [Internet]. 1994 [cited 2019 Jan 8];3(5):329-38. Available from: https://doi.org/10.1007/BF00451725
    » https://doi.org/10.1007/BF00451725
  • 13. Wagnild GM, Young HM. Development and psychometric evaluation of Resilience Scale. J Nurs Meas [Internet]. 1993 [cited 2019 Sept 22];1(2):165-78. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/7850498
    » https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/7850498
  • 14. Tibshirani R. Regression Shrinkage and Selection via the Lasso. J R Stat Soc. 1996;58(1):267-88.
  • 15. Oliveira APB, Schmidt DB, Amatneeks TM, Santos JC, Cavallet LHR, Michel RB. Qualidade de vida de pacientes em hemodiálise e sua relação com mortalidade, hospitalizações e má adesão ao tratamento. J Bras Nefrol [Internet]. 2016 [cited 2019 Sept 22];38(4):411-20. Available from: https://doi.org/10.5935/0101-2800.20140012
    » https://doi.org/10.5935/0101-2800.20140012
  • 16. Brasileiro TOZ, Prado AAO, Assis BB, Nogueira DA, Lima RS, Chaves ECL. Effects of prayer on the vital signs of patients with chronic kidney disease: randomized controlled trial. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2017 [cited 2019 Aug 02];51:e03236. Available from: https://doi.org/10.1590/S1980-220X2016024603236
    » https://doi.org/10.1590/S1980-220X2016024603236
  • 17. Stumm EMF, Benetti ERR, Pretto CR, Barbosa DA. Effect of educational intervention on the quality of life of hyperphosphathemic chronic renal on hemodialysis. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2019 [cited 2019 Dec 13];28:e20180267. Available from: https://doi.org/10.1590/1980-265X-TCE-2018-0267
    » https://doi.org/10.1590/1980-265X-TCE-2018-0267
  • 18. Tomazou C, Charalambous G, Jelastopulu E. Quality of life in patients with chronic kidney disease: a cross-sectional study comparing patients on hemodialysis, peritoneal dialysis and with kidney transplantation. Br J Med Res [Internet]. 2015 [cited 2019 Jul 07];8(6):516-25. Available from: https://doi.org/10.9734/BJMMR/2015/17304
    » https://doi.org/10.9734/BJMMR/2015/17304
  • 19. Cukor D, Halen NV, Asher DR, Coplan JD, Weedon J, Wyka KE, et al. Psychosocial intervention improves depression, quality of life, and fluid adherence in hemodialysis. J Am Soc Nephrol [Internet]. 2014 [cited 2019 Feb 18];25(1):196-206. Available from: https://doi.org/10.1681/ASN.2012111134
    » https://doi.org/10.1681/ASN.2012111134
  • 20. Manzini CSS, Damasceno VAM, Elias ACA, Orlandi FS. The brief psychotherapeutic intervention “relaxation, mental images and spirituality”: a systematic review. Sao Paulo Med J [Internet]. 2020 [cited 2020 Jan 10];138(3):176-83. Available from: https://doi.org/10.1590/1516-3180.2019.030202102019
    » https://doi.org/10.1590/1516-3180.2019.030202102019
  • 21. Quinceno JM, Vinaccia S. La salud en el marco de la psicología de la religión y la espiritualidad. Divers Perspect Psicol [Internet]. 2009 [cited 2020 Jan 10];5:321-36. Available from: https://doi.org/10.15332/22563067
    » https://doi.org/10.15332/22563067
  • 22. Elias ACA, Ricci MD, Rodrigues LHD, Pinto SD, Giglio JS, Baract EC. The biopsychosocial spiritual model applied to the treatment of women with breast cancer, through RIME intervention (Relaxation, Mental Images, Spirituality). Complement Ther Clin Pract 2015;21(1):1-6. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25682524
    » https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25682524
  • 23. Lira CLOB, Avelar TC, Bueno JMMH. Coping and quality of life of the patients in hemodialysis. Estud Interdiscip Psicol [Internet]. 2015 [cited 2019 May 22];6(1):82-99. Available from: https://doi.org/10.5433/2236-6407
    » https://doi.org/10.5433/2236-6407
  • 24. Lopes J M, Fukushima RLM, Inouye K, Pavarini SCI, Orlandi FS. Quality of life related to the health of chronic renal failure patients on dialysis. Acta Paulista de Enferm [Internet]. 2014 [cited 2019 Oct 13];27(3):230-6. Available from: https://doi.org/10.1590/1982-0194201400039
    » https://doi.org/10.1590/1982-0194201400039
  • 25. Noghan N, Akaberi A, Pournamdarian S, Borujerdi E, Hejazi SS. Resilience and therapeutic regimen compliance in patients undergoing hemodialysis in hospitals of Hamedan, Iran. Electronic Physician [Internet]. 2018 [cited 2019 Nov 25];10(5):6853-8. Available from: https://doi.org/10.19082/6853
    » https://doi.org/10.19082/6853
  • 26. Santos RI, Costa RS. Assessment of resilience in patients with chronic kidney disease undergoing hemodialysis. Rev Cienc Saude [Internet]. 2016 [cited 2019 Apr 04];6(1):1-8. Available from: https://doi.org/10.21876/rcsfmit.v6i1.461
    » https://doi.org/10.21876/rcsfmit.v6i1.461
  • 27. Böell JEW, Silva DMGV, Hegadoren KM. Sociodemographic factors and health conditions associated with the resilience of people with chronic diseases: a cross sectional study. Rev Latino-Am Enfermagem [Internet]. 2016 [cited 2019 Nov 11];24:e2786. Available from: https://doi.org/10.1590/1518- 8345.1205.2786
    » https://doi.org/10.1590/1518- 8345.1205.2786
  • 28. Manzini CSS, Vale FAC. Resilience of family caregivers of elderly with Alzheimer. Rev Eletr Enf [Internet]. 2016 [cited 2020 Jan 20];18:1-8. Available from: https://doi.org/10.5216/ree.v18.37035
    » https://doi.org/10.5216/ree.v18.37035

NOTAS

  • ORIGEM DO ARTIGO

    Extraído da tese - O efeito da intervenção Relaxamento, Imagens Mentais e Espiritualidade (RIME) sobre a qualidade de vida e resiliência de pacientes em tratamento de hemodiálise, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, da Universidade Federal de São Carlos, em 2020.
  • FINANCIAMENTO

    Apoio financeiro concedido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) em forma de bolsa de estudos na modalidade Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior - PDSE/CAPES. Processo Número 88881.189868/2018-01, concedido à primeira autora do estudo.
  • APROVAÇÃO DE COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

    O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa da Escola Superior de Enfermagem do Porto, parecer favorável Fluxo 2019/179.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Ago 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    06 Maio 2020
  • Aceito
    01 Jul 2020
Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós Graduação em Enfermagem Campus Universitário Trindade, 88040-970 Florianópolis - Santa Catarina - Brasil, Tel.: (55 48) 3721-4915 / (55 48) 3721-9043 - Florianópolis - SC - Brazil
E-mail: textoecontexto@contato.ufsc.br