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GRAVIDEZ NÃO PLANEJADA EM COMUNIDADES QUILOMBOLAS: PERCEPÇÃO DOS ADOLESCENTES

RESUMO

Objetivo:

compreender a percepção de adolescentes residentes em comunidade Quilombola quanto à gravidez não planejada e suas repercussões na vida em comunidade.

Metodologia:

pesquisa descritiva, qualitativa utilizando o método criativo e sensível por meio das dinâmicas de criatividade e sensibilidade: Encurtando Distâncias e Corpo Saber. Participaram adolescentes residentes em comunidade Quilombola de zona rural do município de São Mateus, Espírito Santo (Brasil). Os encontros ocorreram nos finais de semanas, três domingos do mês de dezembro de 2018. Os resultados foram organizados pelo software Iramuteq® e as imagens e narrativas desenvolvidas pelo método de análise de conteúdo.

Resultados:

participaram nove adolescentes, católicos, solteiros, com renda familiar de menos de um salário mínimo, residentes em casa própria e que vivem da agricultura de subsistência. Possuem acesso ao serviço público de saúde, que utilizam, quando adoecem. O software demonstrou que as palavras “gravidar” e “trabalhar” são centrais em suas narrativas. As experiências e vivências dos adolescentes foram expressas pelas categorias: Repercussão da gravidez para os adolescentes na comunidade Quilombola; Direitos da gestante na comunidade; e Comportamento das famílias e dos adolescentes frente à gravidez.

Conclusão:

a compreensão da gravidez não planejada, levando em consideração aspectos étnicos raciais, possibilita elaborar estratégias de educação em saúde que respeite os aspectos culturais e sociais dessa comunidade, para que se tenha êxito nas ações, sendo esse um grande desafio para os profissionais envolvidos.

DESCRITORES:
Gravidez na adolescência; Enfermagem pediátrica; Comportamento e mecanismos comportamentais; Grupo com ancestrais do continente africano; Políticas de saúde

ABSTRACT

Objective:

to understand the perception of adolescents living in Quilombola community regarding unplanned pregnancy and its repercussions on community life.

Methodology:

descriptive, qualitative research using the creative and sensitive method through the dynamics of creativity and sensitivity: Shortening Distances and Body Knowledge. Participants were adolescents living in a Quilombola community in the rural area of the municipality of São Mateus, Espírito Santo (Brazil). The meetings took place at weekends, on three Sundays in December 2018. The results were organized by the Iramuteq® software and the images and narratives were developed by the content analysis method.

Results:

nine adolescents, catholic, single, with a family income of less than one minimum wage, living in their own home and living on subsistence agriculture participated. They have access to the public health service, which they use when they get sick. The software demonstrated that the words "pregnant" and "work" are central to their narratives. The experiences of adolescents were expressed by the following categories: Repercussion of pregnancy for adolescents in the Quilombola community; Rights of pregnant women in the community; and Behavior of families and adolescents towards pregnancy.

Conclusion:

the understanding of unplanned pregnancy, taking into account racial ethnic aspects, makes it possible to develop health education strategies that respect the cultural and social aspects of this community, so that the actions can be successful, which is a great challenge for the professionals involved.

DESCRIPTORS:
Adolescent pregnancy; Pediatric nursing; Behavior and behavioral mechanisms; Group with ancestors from the African continent; Health policies

RESUMEN

Objetivo:

comprender la percepción de las adolescentes que viven en la comunidad Quilombola sobre el embarazo no planificado y sus repercusiones en la vida comunitaria.

Metodología:

investigación descriptiva, cualitativa utilizando el método creativo y sensible a través de la dinámica de la creatividad y la sensibilidad: Acortando distancias y conocimiento corporal. Los participantes fueron adolescentes residentes en una comunidad Quilombola en el área rural del municipio de São Mateus, Espírito Santo (Brasil). Las reuniones tuvieron lugar los fines de semana, los tres domingos de diciembre de 2018. Los resultados fueron organizados por el software Iramuteq® y las imágenes y narrativas fueron desarrolladas por el método de análisis de contenido.

Resultados:

participaron nueve adolescentes, católicos, solteros, con un ingreso familiar menor a un salario mínimo, que viven en su propia casa y viven de la agricultura de subsistencia, que tienen acceso al servicio público de salud, que utilizan cuando se enferman. El software demostró que las palabras "embarazada" y "trabajo" son fundamentales para sus narrativas. Las experiencias de las adolescentes se expresaron en las siguientes categorías: Repercusión del embarazo para las adolescentes de la comunidad Quilombola; Derechos de las mujeres embarazadas en la comunidad; y Comportamiento de familias y adolescentes hacia el embarazo.

Conclusión:

la comprensión del embarazo no planeado, tomando en cuenta los aspectos étnicos raciales, permite desarrollar estrategias de educación en salud que respeten los aspectos culturales y sociales de esta comunidad, para que las acciones sean exitosas, lo cual es un gran desafío para los profesionales. involucrado.

DESCRIPTORES:
Embarazo adolescente; Enfermería pediátrica; Comportamiento y mecanismos conductuales; Grupo con ancestros del continente africano; Políticas de salud

INTRODUÇÃO

Para a Organização Mundial da Saúde,11. World Health Organization. Young people´s health - a challenge for society. Report of a WHO study group on young people and health for all. Technical Report Series 731 [Internet]. Geneve (CH): WHO; 1986 [cited 2020 Jul 21]. Available from: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/41720/1/WHO_TRS_731.pdf
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a adolescência é o período da vida que perdura entre os 10 a 19 anos, contando com suas subdivisões entre menores (10 a 14 anos) e maiores (15 a 19 anos). É uma fase da vida em que ocorrem alterações que vão desde as mudanças corporais à necessidade de adaptação à organização de estruturas psicológicas e ambientais, impostas pelo meio sócio-econômico-cultural em que se vive11. World Health Organization. Young people´s health - a challenge for society. Report of a WHO study group on young people and health for all. Technical Report Series 731 [Internet]. Geneve (CH): WHO; 1986 [cited 2020 Jul 21]. Available from: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/41720/1/WHO_TRS_731.pdf
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. Neste sentido, pensar a saúde do adolescente implica refletir sobre os diversos modos como vivem dentro de sua realidade. Por sua vez, leva a um movimento de (re-)pensar as práticas de saúde e de educação em saúde que se voltam para esse público que tem especificidades próprias e que está passando por uma das etapas mais difíceis, que é a entrada na vida adulta22. Collière MF. Cuidar. A primeira arte da vida. 2nd ed. Loures (PT): Editora Lusociência; 2003..

No Brasil, em 2015, houve três milhões de nascimentos, cujas mães eram adolescentes entre 10 e 14 anos de idade, alertando sobre a necessidade de empenho urgente das autoridades e sociedade para a reversão dessa problemática33. Ministério da Saúde (BR). Diretrizes nacionais de assistência ao parto normal: versão resumida. Brasília, DF(BR): Ministério da Saúde; 2017 [cited 2020 Jul 20]. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_nacionais_assistencia_parto_normal.pdf
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Embora o Ministério da Saúde tenha registrado uma redução de 17% na incidência de gravidez na adolescência, no Brasil, em 2017,44. Ministério da Saúde (BR). Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos - SINASC [Internet]. Brasília, DF(BR): Ministério da Saúde ; 2017 [cited 2019 Apr 3]. Available from: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinasc/cnv/nvuf.def
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essa ocorrência gestacional, não planejada, é considerada um dos grandes problemas da saúde pública, por estar relacionado com o aumento da mortalidade infantil.

Gravidez não planejada é a gestação que não é programada pela mulher, podendo ser denominada também como indesejada e inoportuna, quando acontece em um momento da vida que é considerado inadequado. Pode, ainda, ser considerada como um acidente ou um erro que aconteceu no tempo indevido e que não foi programada para determinada fase da vida55. Evangelista CB, Barbieri M, Silva PLNJ. Unplanned pregnancy and the factors associated with the participation in the family planning program. Rev Pesq Cuid Fund Online [Internet]. 2015 [cited 2019 May 17];7(2):2464-74. Available from: https://doi.org/10.9789/2175-5361.rpcfo.v7.3633
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Em relação aos fatores que predispõem o aumento da gravidez não planejada na adolescência destacam-se questões sociais, econômicas, familiares, de gênero, culturais e de educação e as dificuldades de acesso a programas de planejamento familiar66. Araújo AKL, Nery IS. Knowledge about contraception and factors associated with pregnancy planning in adolescence. Cogitare Enferm [Internet]. 2018 [cited 2019 Jul 10];23(2):e55841. Available from: https://doi.org/10.5380/ce.v23i2.55841
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-77. Azevedo AEBI. Guia prático de atualização: prevenção da gravidez na adolescência. Adolesc Saúde [Internet]. 2018 [cited 2019 Aug 15];15(Suppl 1):86-94. Available from: http://www.adolescenciaesaude.com/detalhe_artigo.asp?id=763
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Quanto à repercussão de uma gravidez não planejada na adolescência, ela afeta tanto o adolescente quanto o recém-nascido. O adolescente, principalmente as meninas, podem apresentar sentimentos indesejáveis e distintos, como nervosismo, tristeza e medo, abandono dos estudos, das atividades de lazer e do convívio com os amigos pois passa a dedicar a maior parte do seu tempo aos cuidados diários da criança. Também pode afetar a saúde física e psicológica do recém-nascido88. Taborda JA, Silva FC, Ulbricht L, Neves EB. Consequências da gravidez na adolescência para as meninas considerando-se as diferenças socioeconômicas entre elas. Cad Saúde Colet [Internet]. 2014 [cited 2018 Dec 2];22(1):16-24. Available from: https://doi.org/10.1590/1414-462X201400010004
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Nesse sentido, é preciso deixar claro que as questões de gênero são um forte marcador de gravidez na adolescência, haja vista que as meninas não são reconhecidas como pessoas sexuadas em nossa sociedade patriarcal, o que inibe a adolescente de dizer “não” ao sexo indesejado, negociar a prática da relação íntima segura e ter acesso aos métodos anticoncepcionais e preservativos. Além disso, o impacto da gravidez na adolescência também não é equânime para meninos e meninas, pois as meninas se afastam da escola para cuidar dos filhos e, normalmente, são abandonadas por seus parceiros. Essa realidade tem sido combatida por meio de políticas, como o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que tem com Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) nº 5, a igualdade de gênero e empoderamento de mulheres e meninas99. Santos BR, Magalhães DR, Mora GG, Cunha A, eds. Gravidez na adolescência no Brasil: vozes de meninas e de especialistas. Brasília, DF(BR): Indica; 2017..

Na tentativa de reduzir a vulnerabilidade dos adolescentes, foi instituída a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência, por meio da Lei nº 13.798/2019 que objetiva disseminar informações sobre medidas preventivas e educativas que possam contribuir, efetivamente, na redução da gravidez na adolescência1010. Brasil. Lei nº 13.798, de 3 de janeiro de 2019. Acrescenta art. 8º-A à Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), para instituir a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência. Diário Oficial da União, Brasília, DF(BR); 04 Jan 2019 [cited 2020 Mar 20]. Available from: http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?data=04/01/2019&jornal=515&pagina=3
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A literatura aponta que o desfecho, gravidez, não é igual para todos os adolescentes, porém os estudos são realizados com jovens residentes no meio urbano e de raça branca que possuem acesso facilitado ao serviço de saúde e à informação, deixando de fora os residentes no meio rural e os negros, que são maioria (54% é de pretos ou pardos), segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística1111. Santos NLB, Guimarães DA, Gama CAP. A Percepção de mães adolescentes sobre seu processo de gravidez. Rev Psicol Saúde [Internet]. 2016 [cited 2019 June 20];8(2):83-96. Available from: https://doi.org/10.20435/2177-093X-2016-v8-n2(07)
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. O Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil relata a diminuição da qualidade e da expectativa de vida da população negra, e menor acesso a serviços de saúde, sobretudo entre jovens negros, quando comparada ao restante da população.

Evidências científicas apontam que as desigualdades raciais interferem diretamente na saúde reprodutiva em jovens do sexo feminino, e no acesso a serviços de atenção à saúde1212. Cotrim IA, Silva LJ, Souzas R. Cenários da saúde da população negra no Brasil. Cad Saúde Pública [Internet]. 2017 [cited 2019 June 22];33(10):e00143517. Available from: https://doi.org/10.1590/0102-311x00143517
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. Portanto, é fundamental conhecer melhor esse público uma vez que a saúde da população negra e das comunidades tradicionais é uma das temáticas que compõe a Agenda de Prioridades de Pesquisa do Ministério da Saúde,1313. Ministério da Saúde (BR). Agenda de Prioridades de Pesquisa do Ministério da Saúde. Brasília, DF(BR): Ministério da Saúde ; 2018 [cited 2019 Feb 02]. Available from: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/agenda_prioridades_pesquisa_ms.pdf
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devido as suas singularidades e a necessidade de prevenção dos agravos.

Nesse sentido, comunidades quilombolas, compreendidas por afrodescendentes segundo critérios de auto atribuição, permeadas por singularidades culturais, sofrem com situações de vulnerabilidade social, que impactam em suas condições de saúde, principalmente as localizadas em áreas rurais1414. Rezende LC, Caram CS, Caçador BS, Brito MJM. Nurses’ practice in quilombola communities: an interface between cultural and political competence. Rev Bras Enferm [Internet]. 2020 [cited 2020 Jul 20];73(5):e20190433. Available from: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2019-0433
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Este estudo está fundamentado em preceitos freirianos, com atenção às experiências do indivíduo e de sua leitura diante das outras culturas, com respeito e diálogo diante das especificidades do contexto histórico-cultural da realidade local, pois cada um apresenta uma forma de estar e viver no mundo. Parte do pressuposto de que o ser humano é histórico e quanto mais refletir de maneira crítica sobre a sua existência, mais poderá se influenciar e se tornar mais livre1515. Galli EF, Braga FM. O diálogo em Paulo Freire: concepções e avanços para transformação social. Quaestio [Internet]. 2017 [cited 2019 June 20];19(1):161-80. Available from: https://doi.org/10.22483/2177-5796.2017v19n1p161-180
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Deste modo, mostra-se a necessidade em trabalhar a temática gravidez não planejada dentro de comunidade Quilombola, na compreensão do modo de vida e das particularidades desse público, para poder melhorar a assistência à saúde, educação e políticas públicas direcionadas para às reais necessidades desta população. Portanto, o objetivo do estudo é compreender a percepção de adolescentes residentes em comunidade Quilombola quanto à gravidez não planejada e suas repercussões na vida em comunidade.

MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa participante1616. Dias S, Gama A. Community-based participatory research: foundations, requirements and challenges for researcher. Rev Enferm UFSM [Internet]. 2019 [cited 2020 Jan 22];9:e48. Available from: https://doi.org/10.5902/2179769232536
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com abordagem qualitativa, que utilizou o Método Criativo Sensível (MCS) de pesquisa grupal baseada em arte1717. Cabral IE, Neves ET. Pesquisar com o método criativo e sensível na enfermagem: fundamentos teóricos e aplicabilidade. In: Lacerda RM, Costenaro RGS, eds. Metodologia da pesquisa para a enfermagem: da teoria à prática. Porto Alegre, RS(BR): Moriá; 2016. p. 325-50.. O MCS favorece a expressão da crítica reflexiva dos estágios de transitividade da consciência e da dialogicidade própria do fenômeno humano investigado. Tal método vem acessar e aproximar a experiência centrada nas condições existenciais concretas da vida social dos participantes com o objeto investigado, além de ser corroborado com a utilização de concepções freirianas para valorização da singularidade, concretização e valorização das experiências da coletividade. Apresenta uma diversidade na construção do conhecimento, além da sua produção ser realizada a partir do censo comum e também do saber cientifico1717. Cabral IE, Neves ET. Pesquisar com o método criativo e sensível na enfermagem: fundamentos teóricos e aplicabilidade. In: Lacerda RM, Costenaro RGS, eds. Metodologia da pesquisa para a enfermagem: da teoria à prática. Porto Alegre, RS(BR): Moriá; 2016. p. 325-50.. O método permite, ainda, que o participante, por meio da criatividade e sensibilidade, possa expressar seus pensamentos, ações e conceitos a respeito do mundo e de si mesmo, utilizando Dinâmicas de Criatividade e Sensibilidade (DCS). A DCS é composta por cinco momentos do MCS, sendo o 1° a apresentação individual e coletivo, disponibilizando o material para a atividade a ser realizada no ambiente, lançar a questão geradora de debate (QGD) e explicar a atividade; o 2° tempo para a produção da atividade sugerida/explicada; o 3° exposição das produções artísticas, quando se sentirem prontos; no 4°, realiza-se a discussão grupal, a partir da questão geradora; e no 5° momento, o pesquisador resume o conjunto dos temas e subtemas, e o grupo valida.

A pesquisa foi realizada na comunidade Quilombola mais antiga de São Mateus, fundada em 1822, na zona rural, às margens do rio Cricaré na região conhecida como Sapê do Norte, com área de 2.543 km², que fica a 44 quilômetros da cidade, ao norte do estado do Espírito Santo (Brasil). Respeitou-se a Resolução nº. 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde, para a realização desta pesquisa.

A liderança da comunidade e a agente comunitária de saúde distribuíram convites às famílias dos adolescentes, para uma reunião na igreja Católica local, no primeiro domingo de dezembro de 2018, após o rito de celebração, onde se expôs a proposta de pesquisa e convite aos pais e aos adolescentes presentes a participarem do estudo. Na sequência, foi lido e explicado o conteúdo dos Termos (Consentimento Livre e Esclarecido, para os pais/responsáveis e do Assentimento, para os adolescentes) da pesquisa, seguido do recolhimento das assinaturas, em concordância à sua participação. Os adolescentes tiveram direito ao anonimato, ou seja, seu nome não foi exposto, sendo identificado pela sigla AD seguido do sexo e ordem (ADM1, ADF4...).

Participaram, da pesquisa, nove adolescentes, sendo três meninos e seis meninas em todas as etapas, que atenderam aos critérios de inclusão: cursar o ensino fundamental ou o ensino médio em escola pública, da zona rural, residir na comunidade, estar na faixa etária entre 10 e 19 anos completos,11. World Health Organization. Young people´s health - a challenge for society. Report of a WHO study group on young people and health for all. Technical Report Series 731 [Internet]. Geneve (CH): WHO; 1986 [cited 2020 Jul 21]. Available from: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/41720/1/WHO_TRS_731.pdf
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ter habilidade cognitiva e motora para participar das DCS. Foram excluídos adolescentes fora do sistema de escolarização mínima.

A geração de dados foi implementada com duas DCS, cuja duração mínima foi de 40 minutos e máxima de 1 hora e 30 minutos, sem interferência da equipe de pesquisadores. Na primeira dinâmica - “Encurtando distâncias”, realizada no primeiro encontro, a QGD “Eu sou... estou... quero...” favoreceu a constituição da identidade grupal dos participantes para fins da pesquisa. Além disso, ajudou com a integração e a construção do sentimento de pertencimento no grupo, envolvendo os participantes, a pesquisadora e os auxiliares de pesquisa. Deu-se tempo livre para que completassem a sequência de perguntas em um trabalho individual. Ao final, cada participante apresentou e discutiu, em grupo, o que produziu, fez a síntese e validação dos temas geradores codificados em biografia de cada participante, sendo, nesse momento, revelado que no grupo havia irmãos e todos os participantes eram parentes consanguíneos, mais, especialmente, primos e primas.

Na segunda dinâmica, “Corpo saber, a QGD: “qual sua percepção sobre gravidez não planejada na fase da adolescência”? trouxe a memória latente da percepção do adolescente residente em comunidade Quilombola quanto à gravidez não planejada e às suas manifestações comportamentais a se imaginar na situação de uma gestação não planejada. A aplicação desta dinâmica auxilia na compreensão da visão dos adolescentes acerca do corpo em sua dimensão física e social enquanto via principal de acesso à experiência do cuidado1818. Balbinotti I. A violência contra a mulher como expressão do patriarcado e do machismo. Rev Esmesc [Internet]. 2018 [cited 2018 Mar 25];25(31):239-64. Available from: https://doi.org/10.14295/revistadaesmesc.v25i31.p239
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. Com o material fornecido (cartolina, canetinha e cola) e em torno de 118 palavras, o grupo elaborou a produção artística. A preocupação foi fornecer palavras que envolvessem a questão da gravidez. Houve separação natural de meninos e meninas e cada grupo foi convidado a desenhar a silhueta de uma gestante na cartolinha, a partir daí o grupo se debruçou para realizar a produção artística, colando as palavras-chave oferecidas pela pesquisadora ou escrevendo novas, nas partes do corpo que julgaram pertinentes, com a finalidade de responder à QGD, durante o tempo livre necessário. Durante a realização da atividade manual, o grupo conversava e compartilhava o material fornecido.

Os encontros ocorreram em uma das duas salas de aula da escola da comunidade, em três domingos do mês de dezembro de 2018. A pesquisa ocorreu no fim de semana para que os participantes que estudavam na Escola Família Agrícola, em regime de alternância semanal, pudessem participar.

O corpus textual foi organizado pelo software Iramuteq® 0.7 Alfa 212 que é um programa informático gratuito, que tem sido cada vez mais presente em estudos na área de Ciências Humanas e Sociais, pois possibilita diferentes formas de análises estatísticas sobre corpus textuais e sobre tabelas de indivíduos por palavras1919. Salvador PTCO, Gomes ATL, Rodrigues CCFM, Chiavone FBT, Alves KYA, Bezerril MS, et al. IRAMUTEQ nas pesquisas qualitativas brasileiras da área da saúde: scoping Review. Rev Bras Promoç Saúde [Internet]. 2018 [cited 2019 Feb 01];31(Suppl):1-9. Available from: https://doi.org/10.5020/18061230.2018.8645
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. Sua abrangência é a de cinco análises diferentes, saber: estatísticas de ordem clássica de textos; pesquisa de grupos específicos; classificação por hierarquia na ótica descendente; análise de similaridades e palavras em nuvem. Utilizando-se, esta última, no processamento dos dados coletados, descrevendo graficamente o agrupamento de palavras-chave culminadas a pesquisa. Trata-se de uma análise lexical simples, cuja estrutura da figura é criada em função da quantidade numérica de ocorrências que cada palavra tem no resultado da análise efetuada pelo software, quanto maior e mais centralizado estiver um vocábulo na nuvem, maior é o grau de sua enunciação pelos sujeitos e quanto mais afastada e menor seu tamanho, menor é o seu grau de evocação2020. Kami MTM, Larocca LM, Chaves MMN, Lowen IMV, Souza VMP, Goto DYN. Working in the street clinic: use of IRAMUTEQ software on the support of qualitative research. Esc Anna Nery Rev Enferm [Internet]. 2016 [cited 2019 Feb 10];20(3):e20160069. Available from: https://doi.org/10.5935/1414-8145.20160069
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Após, realizou-se a análise de conteúdo temático2121. Mendes RM, Miskulin RGS. A análise de conteúdo como uma metodologia. Cad Pesqu [Internet]. 2017 [cited 2018 Feb 17];47(165):1044-66. Available from: https://doi.org/10.1590/198053143988 .
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do corpus textual (escrito e imagético) das DCS, com sucessivas leituras de impregnação do material, codificaram-se palavras, expressões, fragmentos textuais das experiências e vivências dos adolescentes sobre a gravidez não planejada, expressa nas imagens das produções artísticas que foram agrupadas nos temas: repercussão da gravidez para os adolescentes na comunidade Quilombola; direitos da gestante na comunidade e comportamento das famílias e dos adolescentes frente à gravidez na comunidade Quilombola. Para o encerramento do trabalho de campo, adotaram-se dois princípios de saturação dos dados: a repetição e a pertinência das narrativas dos participantes2121. Mendes RM, Miskulin RGS. A análise de conteúdo como uma metodologia. Cad Pesqu [Internet]. 2017 [cited 2018 Feb 17];47(165):1044-66. Available from: https://doi.org/10.1590/198053143988 .
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RESULTADOS

As seis meninas e os três meninos participantes tinham idades entre 11 e 15 anos, católicos e todos eram solteiros. Três estudavam na escola pluridocente da comunidade (pré ao 5º ano do ensino fundamental) e seis na Escola Família Agrícola (6º ano do ensino fundamental ao ensino médio). Os nove residiam em casa própria e possuíam renda familiar mensal abaixo de um salário mínimo. O sustento das famílias advinha do trabalho nas pequenas propriedades onde plantavam café conilon, pimenta do reino e frutas (coco, jaca, banana, manga, abacate, entre outras) e do benefício social do Programa de Transferência de Rendas do Governo Federal (Bolsa Família). Quanto ao acesso ao serviço de saúde, todos utilizavam o serviço público de saúde, que fica a 12 km, sendo acionado somente quando adoecem, provavelmente devido à dificuldade de deslocamento, pois a comunidade fica em zona rural e seu alcance é por estrada de terra, tornando-se dificultado devido às más condições, com buracos, erosões e atoleiros em época de chuva.

A dinâmica “Corpo saber” foi aplicada para conhecer as experiências e vivências de adolescentes sobre a gravidez não planejada e as repercussões na vida em comunidade que foram expressas pela produção artística, sendo o corpus de análise as imagens e narrativas dos jovens participantes. Desta forma, o mosaico de imagem da produção artística das meninas revelou a silhueta da gestante (Figura 1A) cercada por 45 palavras (Figura 1Aa) expressando o quanto a gravidez repercute na vida da menina. Já o mosaico da imagem dos meninos (Figura 1B) revelou uso de 10 palavras (Figura 1Bd), sendo, este, 4 vezes menor, quando comparado com as meninas, evidenciando o impacto da gravidez não planejada na vida delas. Ainda se notou que as palavras “obstáculos”, “família” e “mudanças no corpo” foram colocadas no corpo da gestante, sugerindo palavras centrais e de maior destaque para o grupo de meninos, sendo as demais palavras fixadas em torno da silhueta da gestante.

Figura 1 -
Mosaico das produções artísticas grupais de cinco meninas (A) e três meninos (B) e palavras relacionadas à gravidez escolhidas pelas meninas (Aa) e meninos (Bb) adolescentes de uma comunidade Quilombola, DCS “Corpo saber”. São Mateus, ES, Brasil, 2018.

As narrativas dos adolescentes, durante a discussão grupal, expressando experiências e vivências com a gravidez não planejada, foram organizadas pelo software que dividiu o corpus em 19 textos, 309 ocorrências, 131 formas, 79 hapax, sendo este 25.57% das ocorrências em 60.31% das formas - hápax, que são as palavras apresentadas nos textos somente uma vez. A média de ocorrências, por texto, foi de 16.26.

Na análise lexical, empregando a nuvem de palavras, que as agrupa e as organiza graficamente, em função da sua frequência, obtivemos a comparação de vocábulos semelhantes ou expressões que mais se repetiram. A Figura 2 apresenta 14 palavras mais frequentes maiores que as outras, demonstrando, assim, seu destaque no corpus de análise da pesquisa. Desta forma, observou-se que o vocábulo “gravidar” ficou em destaque seguido de “trabalhar”, ou seja, na opinião dos adolescentes, a gravidez repercute, principalmente, em conseguir um trabalho para ganhar dinheiro e sustentar o filho, afirmação esta sustentada nas demais palavras com menor frequência, como responsabilidade, amasiar (que para eles significa morar junto com alguém sem vínculo legal ou formal), parar de estudar, responsabilidade de menino e menina. Importante salientar que não existe a palavra “gravidar” e sim o verbo engravidar, porém o sistema, por sua origem ser francesa, tem o vocabulário limitado na língua portuguesa.

Figura 2 -
Nuvem de Palavras. São Mateus, ES, Brasil, 2019.

No tema “Repercussão da gravidez para os adolescentes na comunidade Quilombola”, as narrativas dos adolescentes revelaram que a gravidez não planejada traz mudanças na vida do adolescente e uma das questões abordadas diz respeito à responsabilidade, principalmente das meninas. Observou-se insegurança de algo que é desconhecido e a crítica que uma menina fez ao revelar que algumas delas não têm compromisso no cuidado com o filho [...]. O primeiro filho é muita responsabilidade, você não sabe como vai ser! (ADF8).

[...] Tudo muda porque tem que ter mais responsabilidade! (ADF4).

[...] Tem muitas grávidas que não tem compromisso com os filhos, que não tem responsabilidade! (ADF4).

A crítica fica mais evidente e caracterizada com a narrativa de uma menina ao afirmar que a adolescente continua a ingerir bebida alcoólica, mesmo na gestação. [...] Tem muitas meninas que bebe cerveja e quando fica grávida é uma responsabilidade ..., mesmo assim elas continuam a beber! (ADF4).

Outra repercussão, na vida da adolescente grávida, está relacionada aos sintomas da gestação, conforme narrativa de uma das jovens participantes. [...] Grávida tem mudança no corpo, tem grávida que incha! Incha os pés, têm enjoo, essas coisas (ADF8).

A gravidez não planejada repercute em várias mudanças na vida de meninos e meninas na comunidade Quilombola e está relacionada ao abandono dos estudos para trabalhar na propriedade da família ou em outra, para sustentar a criança que irá nascer. Observa-se, conforme relato de meninos e meninas, que o sustento do filho é de competência masculina; enquanto o papel de cuidado com a criança fica a cargo da mulher, evidenciando as questões de gênero que estão presentes em seu cotidiano. [...] muitos param de estudar (ADF6). [...] a menina e o menino estudam/, aí a menina fica grávida do menino/, o menino tem que parar de estudar para arranjar um serviço e a menina também para de estudar (ADM1).

[...] vai ter que parar de estudar! [...] o tempo que você parou de estudar vai ser uma coisa que vai perder! (ADM2).

[...] aí o menino tem que trabalhar se não como vai sustentar o filho dele? Ele trabalha na própria roça! (ADM3). [...] Geralmente a mãe é quem cria o filho e participa mais, o homem só quer saber de roça! (ADF6).

A narrativa de um menino evidenciou, ainda mais, a diferença de gênero existente na comunidade Quilombola, onde o adolescente assume o papel de “homem”, replicando atitudes consideradas como comuns, no meio social onde vivem. A gravidez pode se configurar como um rito de passagem da infância para a vida adulta para meninos e meninas da comunidade, marcado pelo abandono da escola para assumir a responsabilidade do cuidado do filho e das atividades domésticas, para meninas, e da aquisição de emprego para o sustento da família, pelos meninos. [...] o homem é mais de farra//, aí ele recebe o salário no trabalho, dá um pouco de dinheiro para mulher fazer compra e o resto vai para farra! (ADM1).

“Direitos da gestante na comunidade” permitiu compreender o modo de vida rural desse grupo Quilombola, marcada pela dificuldade para se manter uma gestação em relação à situação econômica e no impedimento da menina em trabalhar, no meio rural, por ser considerado um ofício árduo, oferecendo riscos à gestação, segundo os participantes. [...] Muitas grávidas não têm condição de comprar alimento bom! [...] Não aceitam mulher grávida na roça! Ela pode cair ou se machucar! Aí elas ficam em casa dormindo, sem fazer nada (ADF4).

Durante o diálogo e discussão grupal, eles expuseram a importância dos direitos da adolescente gestante, como por exemplo, o acesso à saúde, o acolhimento, etc... [...] Aqui tem a agente comunitária de saúde que agenda a primeira consulta de pré-natal. [...] Porque se ela está grávida ela tem direito a tudo, exemplo acolhimento, família... (ADF4; ADF8).

No tema “Comportamento das famílias e dos adolescentes frente à gravidez na comunidade Quilombola”, os participantes revelaram que, na comunidade, não tem o hábito de casar, e sim de se “juntar”/“amasiar”, sem pensar em um futuro próximo, e que geralmente a menina é quem muda para a casa do menino. [...] aqui na comunidade os adolescentes se amasiam (ADF4). [...] não se casam! (ADF6).

[...] olha aqui é tudo meio doido! Eles juntam logo, sem querer saber o que vem pela frente e depois se separam, falam que não querem mais (ADF8). [...] começam sempre morando com a família! // mas depois vão construindo seu próprio lar, e às vezes a criança fica com a avó! (ADF8). [...] quando tem uma mulher grávida, a mulher se muda para a casa do homem! (ADM3).

Segundo foi exposto, durante a discussão grupal, ficou evidente que a adolescente é bem acolhida pela família na comunidade, caso a gestação venha a ocorrer no período da adolescência. É comum que a comunidade ampare esses adolescentes que estão prestes a constituir uma família. [...] aqui na comunidade, todo mundo apoia e acolhe a gestante (ADF4).

Pode-se perceber, segundo o relato acima, que a gravidez na adolescência é um período de grandes mudanças, principalmente pela interrupção dos estudos para assumir o trabalho para o sustento da nova família. Porém, com o amparo da comunidade, da família e do parceiro, acompanhado dos direitos e cuidados com a adolescente, a gravidez se torna um momento menos árduo de ser vivenciado.

DISCUSSÃO

A comunidade Quilombola, onde a pesquisa foi desenvolvida, possui características culturais e sociais marcantes, como por exemplo, princípios conservadores e tradicionais baseados na filosofia católica, reprodução de valores e comportamentos adquiridos no contexto familiar e de uma forte cultura patriarcal.

Desta forma, as imagens da silhueta das gestantes, acompanhadas de palavras que associadas à questão da gravidez, representadas pelos adolescentes, em suas produções artísticas, revelaram, no imaginário do grupo, que as repercussões de uma gravidez não planejada na comunidade Quilombola tem maior impacto na vida das meninas do que na dos meninos.

Coaduna com este imaginário, estudo1818. Balbinotti I. A violência contra a mulher como expressão do patriarcado e do machismo. Rev Esmesc [Internet]. 2018 [cited 2018 Mar 25];25(31):239-64. Available from: https://doi.org/10.14295/revistadaesmesc.v25i31.p239
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que aponta que esta iniquidade de gênero é um estereótipo socialmente construído, principalmente no meio rural, cujas relações sociais pautam-se em valores patriarcais forjados pelo masculino, onde tradicionalmente, desde a colonização brasileira até os dias atuais, tem-se a ideia de que a mulher é responsável pelas atividades domésticas e o homem pelo sustento da família.

Nesse sentido, em nossa cultura, a repercussão de uma gravidez na adolescência requer da menina a responsabilidade no cuidar do filho, enquanto aos meninos compete a busca de um emprego para o sustento da família, fato este, representado nitidamente pelos adolescentes da pesquisa.

Os papéis sociais são bem definidos na comunidade Quilombola, onde os homens desempenham atividade de agricultura, base da economia rural; e as mulheres possuem maior participação nas tarefas domésticas2222. Partelli ANM, Cabral IE. Stories about alcohol drinking in a quilombola community: Participatory methodology for creating-validating a comic book by adolescents. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2017 [cited 2019 Jan 8];26(4):e2820017. Available from: https://doi.org/10.1590/0104-07072017002820017
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. Na comunidade participante, observou-se a desigualdade entre os gêneros, em que o feminino é submisso ao masculino, valor cultivado hereditariamente e que pode influenciar na falta de autonomia da adolescente, quanto à ideia de direitos produtivos; representa uma construção histórico-cultural da sociedade brasileira, nos moldes machistas, em que o homem se mostra superior à mulher2323. Souza VP, Gusmão TLA, Frazão LRSB, Guedes TG, Monteiro EMLM. Protagonism of adolescents in planning actions to prevent sexual violence. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2020 [cited 2020 Sept 28];29:e20180481. Available from: https://doi.org/10.1590/1980-265x-tce-2018-0481 .
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Estudo etnográfico2424. Moraes-Partelli AN, Cabral IE. Images of alcohol in the adolescents’ life of one quilombola community. Rev Bras Enferm [Internet]. 2019 [cited 2019 Feb 18];72(2):468-75. Disponível em: Disponível em: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2018-0264
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desenvolvido na mesma comunidade Quilombola desta pesquisa, revela que há tendência dos mais novos em seguirem o modelo profissional dos pais e/ou de seus ancestrais, onde são estimulados pela família e pelas Escolas Família Agrícola, que além do ensino de disciplinas do componente curricular, estimulam o aprendizado e formação profissional para o jovem do campo, qualificando-o tanto para continuar os estudos, quanto para se dedicar a agricultura familiar ou em outras propriedades. Aqueles que desejam adquirir outro tipo de formação, buscam a sede do município que fica a 44 quilômetros da comunidade, prática pouco comum devido aos altos custos relacionados, principalmente, ao transporte e alimentação. Ainda, algumas mulheres trabalham ocasionalmente em atividades agrícolas, sendo pagas por dia trabalhado.

As mudanças corporais e os sintomas de gravidez repercutem nas atividades laborais na roça e podem tornar-se impedimento para trabalhar no campo, sendo considerado um direito adquirido para as adolescentes grávidas, por envolver risco à saúde do bebê e da gestante. Este comportamento é similar em comunidades tradicionais indígenas já estudadas2525. Igansi Ml, Zatti CA. Gestação: conhecendo a realidade das aldeias indígenas no Brasil. Braz J Surg Clinic Res [Internet]. 2018 [cited 2019 May 09];23(1):48-52. Available from: https: www.mastereditora.com.br/periodico/20180606_085304.pdf
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, demonstrando o entendimento que o trabalho no campo requer esforço físico que coloca a gestante em situação vulnerável.

Outra repercussão da gravidez na adolescência está relacionada ao abandono dos estudos, dependendo da classe social em que o adolescente está inserido. No Brasil, adolescentes que pertencem às classes altas, este período pode ser dedicado, exclusivamente, aos estudos e experimentação, sem grandes consequências emocionais, econômicas e sociais. Já nas classes mais baixas, há mais riscos e consequências para o adolescente, sendo este um período que, simplesmente, antecede a constituição da própria família, que poderá afetar, especialmente, a juventude e a possibilidade de elaborar um projeto de vida estável2626. Pinheiro YT, Freitas GDM, Pereira NH. Perfil epidemiológico de puérperas adolescentes assistidas em uma maternidade no município de João Pessoa - Paraíba. Rev Ciênc Méd Biol [Internet]. 2017 [cited 2020 Jan 20];16(2):174-9. Available from: https://doi.org/10.9771/cmbio.v16i2.21906
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Porém, o que se observou na comunidade em questão, é que a gravidez é sinônimo de responsabilidade, pelo fato de se tornarem pais, e os planos para o futuro, para a maioria dos entrevistados, seria de trabalhar na propriedade da família ou em outras propriedades para a garantia do sustento de sua família.

O consumo de álcool na adolescência também ficou evidenciado nos discursos, onde a menina deverá parar de beber para não causar males ao filho, que se considera uma atitude responsável para os adolescentes. Estudo2424. Moraes-Partelli AN, Cabral IE. Images of alcohol in the adolescents’ life of one quilombola community. Rev Bras Enferm [Internet]. 2019 [cited 2019 Feb 18];72(2):468-75. Disponível em: Disponível em: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2018-0264
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evidenciou que o álcool na comunidade Quilombola é culturalmente e socialmente aceito. O consumo de bebida alcoólica é mais evidente entre os homens, representados pela imagem do pai, tio e avô, do que entre as mulheres. Os homens consomem bebida alcoólica no quintal de casa, nos botecos e no campo de futebol da comunidade, enquanto elas consomem principalmente nas festas da comunidade. A experimentação e uso do álcool entre os adolescentes são atitudes que, especialmente, os meninos reproduzem como parte dos ritos de passagem para a vida adulta, na construção de sua masculinidade, tomando-se como modelo de referência o viver dentro de um ambiente de consumo permissivo e um desafio para os profissionais de saúde, na promoção e na educação em saúde, com esses adolescentes.

Em relação à assistência à saúde, as pessoas que ali residem contam com a atenção primária fornecida pela Unidade Básica de Saúde que se encontra a 12 quilômetros da comunidade. Segundo os adolescentes, a agente comunitária de saúde, que reside na própria comunidade, agenda a primeira consulta para a realização do pré-natal, considerado um dos direitos da gestante, além do direito ao acolhimento, família e alimentação de qualidade.

Desta forma, nota-se que as gestantes da comunidade possuem acesso à unidade de saúde para a realização do pré-natal que tem a função de acompanhar o desenvolvimento da gestação. Porém, estudos evidenciam que as adolescentes grávidas apresentam dificuldades para realizar o pré-natal com menos do que seis visitas de rotina, trazendo riscos para a saúde da adolescente e da criança, além da repercussão para família e sociedade, aumentando os custos associados ao evento, para o sistema de saúde, por elevar taxas de mortalidade, além de impactar no futuro dos envolvidos77. Azevedo AEBI. Guia prático de atualização: prevenção da gravidez na adolescência. Adolesc Saúde [Internet]. 2018 [cited 2019 Aug 15];15(Suppl 1):86-94. Available from: http://www.adolescenciaesaude.com/detalhe_artigo.asp?id=763
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Sobre o comportamento das famílias, é patente que apesar da gravidez não planejada na adolescência ser um momento de grandes mudanças, a família Quilombola acolhe o adolescente. Essa acolhida se dá, inicialmente, pela união física do casal denominada por eles por amasiar, geralmente na casa do menino.

Estudos evidenciam que a gravidez não planejada na adolescência não é um fenômeno homogêneo, pois tudo depende da situação social na qual o adolescente está inserido. As famílias de classe social média e alta, não Quilombolas e residentes em área urbana, dão suporte aos adolescentes para garantir que a gravidez não prejudique o percurso de escolarização e profissionalização; já na classe social baixa, os adolescentes param de estudar para conseguir um trabalho, se submetendo a salários baixos e à falta de profissionalização2626. Pinheiro YT, Freitas GDM, Pereira NH. Perfil epidemiológico de puérperas adolescentes assistidas em uma maternidade no município de João Pessoa - Paraíba. Rev Ciênc Méd Biol [Internet]. 2017 [cited 2020 Jan 20];16(2):174-9. Available from: https://doi.org/10.9771/cmbio.v16i2.21906
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O apoio familiar aos adolescentes que se tornam pais precocemente é extremamente importante, pois eles estão passando por um momento crítico, cheio de incertezas e inseguranças quanto ao que fazer2727. Nunes GP, Sena FG, Costa CC, Kerber NPC, Zanchi M, Gonçalves CV. Gestante adolescente e seu sentimento acerca do apoio familiar. Rev Enferm UFSM [Internet]. 2018 [cited 2019 May 08];8(4):731-43. Available from: https://doi.org/10.5902/2179769227161
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. Na maioria dos casos, quando uma adolescente descobre que está grávida, não há muitas dúvidas sobre o acolhimento do bebê: este será acolhido, seja pelos pais ou pelos avós. A questão pertinente é que, salvas raras exceções, os familiares não sabem lidar com a nova situação2828. Munslinger IM, Silva SM, Bortoli CFC, Guimarães KB. A maternidade na perspectiva de mães adolescentes. Rev Bras Promoç Saúde [Internet]. 2016 [cited 2019 May 05];29(3):357-63. Available from: https://doi.org/10.5020/18061230.2016.p357
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A vivência de uma gestação precoce e não planejada é, muitas vezes, repleta de significativas transformações, com implicações no ambiente familiar, levando a desajuste, impulsionando a família e a adolescente a reorganizarem seus projetos de vida2828. Munslinger IM, Silva SM, Bortoli CFC, Guimarães KB. A maternidade na perspectiva de mães adolescentes. Rev Bras Promoç Saúde [Internet]. 2016 [cited 2019 May 05];29(3):357-63. Available from: https://doi.org/10.5020/18061230.2016.p357
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. As transformações advindas de uma gravidez dessa natureza podem ser identificadas como um problema para os adolescentes, onde vão iniciar uma família que afetará, especialmente, a juventude e a possibilidade de elaborar um projeto de vida estável,2929. Rodrigues ARS, Barros WM, Soares PDFL. The prevention of teenage pregnancy in adolescent's view. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2015 [cited 2020 Jan 21];24(1):30-7. Available from: https://doi.org/10.1590/0104-07072015000130014
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para adolescentes de zona urbana, não quilombolas, porém para os de comunidade Quilombola evidenciou-se que, apesar das repercussões relatadas (responsabilidade, abandono do estudo, aquisição de emprego para sustento da família, união dos adolescentes) as famílias se unem para acolher e apoiar os jovens em suas necessidades.

Apesar da gravidez na adolescência não ser encarada como um problema, em si, pelos atores desta pesquisa, sabe-se que a adolescência constitui uma fase da vida marcada por estímulos que influenciam os hábitos e comportamentos, expondo essa população às diversas vulnerabilidades. Em áreas rurais, onde há uma maior dificuldade de acesso aos serviços de saúde e aos métodos contraceptivos, há necessidade de desenvolver estratégias articuladas com a educação e sociedade civil a fim de realizar ações efetivas com os adolescentes, discutindo e informando que a gravidez na adolescência pode apresentar complicações maternas, fetais e neonatais, além de agravar problemas socioeconômicos existentes77. Azevedo AEBI. Guia prático de atualização: prevenção da gravidez na adolescência. Adolesc Saúde [Internet]. 2018 [cited 2019 Aug 15];15(Suppl 1):86-94. Available from: http://www.adolescenciaesaude.com/detalhe_artigo.asp?id=763
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. Assim, torna-se relevante que as escolas adotem parceria com os serviços de saúde e desenvolvam um trabalho de conhecimento adequado, conscientização e prevenção à gravidez na adolescência, ofertando momentos de diálogos, de escutas e de informação como meio de orientar esse público sobre os riscos e consequências dessa ocorrência3030. Brum MLB, Motta MGC, Zanatta EA. Bioecological systems and elements that make adolescents vulnerable to sexually transmissible infections. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2019 [cited 2020 Sept 28];28:e20170492. Available from: https://doi.org/10.1590/1980-265X-TCE-2017-0492
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.

Uma das principais limitações do estudo está relacionada a generalização dos dados, já que foi desenvolvido em uma comunidade Quilombola. No entanto, o objetivo de compreender a percepção de adolescentes residentes em comunidade Quilombola, quanto à gravidez não planejada e suas repercussões na vida em comunidade, foi alcançado com o emprego do MCS, que favoreceu a expressão da crítica reflexiva sendo possível observar que a gravidez precoce, na fase da adolescência na comunidade Quilombola, se diferencia dos jovens inseridos em outros contextos, culturas e classes sociais.

CONCLUSÃO

Com esse estudo, compreendeu-se que a vida rural na comunidade Quilombola apresenta aspectos próprios, a identidade de um povo, que permeiam e orientam o cotidiano das famílias, sendo que a gravidez não planejada na adolescência apresenta repercussões, porém não é encarada, pelos adolescentes participantes, como um problema e, sim, como uma fase de transição da vida, marcada pelo abandono dos estudos, aquisição de emprego, união estável, aquisição de responsabilidades que necessita do apoio das famílias.

Assim, as estratégias de educação em saúde entre adolescentes residentes em comunidades Quilombolas devem respeitar os aspectos culturais e sociais dessa localidade para que se tenha êxito nas ações. Contudo, é um grande desafio para os profissionais envolvidos nessas estratégias, uma vez que há uma linha tênue entre o respeito a essas singularidades e as complicações maternas, fetais e neonatais que podem envolver uma gestação na adolescência, além do desafio para a implantação do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável, no que tange à igualdade de gênero e ao empoderamento de mulheres e meninas no mundo, em uma comunidade patriarcal.

Essa pesquisa pode contribuir para a realização de outros estudos e criação de novas estratégias de educação em saúde como a produção de tecnologias educativas do cuidado, pois se faz necessária a inovação nas políticas de atenção à saúde do adolescente, que se adotem metodologias capazes de estimular novas verdades, modificar conceitos, práticas e comportamentos, em busca de uma vida mais saudável.

AGRADECIMENTO

Aos adolescentes participantes da pesquisa.

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NOTAS

  • ORIGEM DO ARTIGO

    Extraído da pesquisa - Tradução do conhecimento e narrativas de adolescentes em uma Comunidade Quilombola sobre a gravidez não planejada na construção de histórias em quadrinhos, vinculada ao Núcleo de Pesquisa em Saúde, da Universidade Federal do Espírito Santo, Centro Universitário Norte do Espírito Santo, em 2019.
  • APROVAÇÃO DE COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

    Aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Espírito Santo, Centro Universitário Norte do Espírito Santo, parecer n. 2.934.899, Certificado de Apresentação para Apreciação Ética 99138718.1.0000.5063.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Ago 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    16 Abr 2020
  • Aceito
    27 Nov 2020
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