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MEMORIAIS DE DOCENTES DE ENFERMAGEM, FOUCAULT E ADRIANA VAREJÃO: APROXIMAÇÕES EM PESQUISA-ENSAIO ÉTICO-ESTÉTICA

RESUMO

Objetivo

ensaiar ética-esteticamente acerca da escrita de memoriais acadêmicos como modo de constituição de sujeitos titulares numa escola de enfermagem brasileira.

Método

ensaio ético-estético. Utilizou-se marco teórico-metodológico sob perspectiva dos estudos foucaultianos, da intertextualidade, em conjunto com reprodução de obras de Adriana Varejão. Utilizou-se também fontes documentais de 16 memoriais de docentes titulares da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, escritos entre 2012 e 2020.

Resultados

a escrita de memoriais acadêmicos é uma prática de constituição de sujeitos que dizem a verdade sobre si mesmos. Inspiramo-nos em obras artísticas da brasileira Adriana Varejão como aproximação ao campo da arte, já conhecido por sua possibilidade de criação. O lugar docente-assistencial, enfermeira-assistencial, enfermeira e docente são lugares de produção de verdade sobre si. Em contrapartida, outras identidades, como sanitarista e antropóloga na e da saúde, compõem os quadros. Tais produções de verdades acerca de si, no ritual acadêmico da titularidade, produzem atos de saber e poder nos quais o sujeito que escreve se torna o que afirma ser em seu testemunho e, na abertura da extirpação ocular, mostra-se e se prolifera esta imagem a quem se aproxima.

Conclusão

a escrita funciona como vestimentas que trajam tais sujeitos, em sua melhor costura. Nos memoriais, busca-se reforçar o lugar de saber; saber sobre si e sobre como se tornou professora titular, de modo a não romper o quadro ou de operar cirurgicamente em seu modo de vista.

DESCRITORES
Ensaio; Filosofia em enfermagem; Ética; Estética; História da enfermagem

ABSTRACT

Objective

to conduct an essay ethically and aesthetically about writing academic memorials as a way of constituting full subjects in a Brazilian Nursing School.

Method

this is an ethical-aesthetic essay. A theoretical-methodological framework was used from the perspective of Foucaultian studies of intertextuality, together with reproduction of works by Adriana Varejão. We also used documentary sources from 16 memorials of full professors at the Universidade Federal do Rio Grande do Sul Nursing School, written between 2012 and 2020.

Results

writing academic memorials is a practice of constituting subjects who tell the truth about themselves. We are inspired by artistic works by Brazilian Adriana Varejão as an approximation to the field of art, already known for its possibility of creation. The teaching-care place, nurse-caregiver, nurse and professor are places of production of truth about themselves. On the other hand, other identities, such as sanitarian and anthropologist in and of health, make up the paintings. Such productions of truths about themselves, in the academic ritual of ownership, produce acts of knowledge and power in which subjects who write become what they claim to be in their testimony and, in the opening of the ocular extirpation, this image is shown and proliferated to those who approach it.

Conclusion

writing works as clothes worn by such subjects, in their best sewing. In the memorials, the aim is to reinforce the place of knowing and knowing about herself and about how she became a full professor, so as not to break the situation or to operate surgically in her way of seeing.

DESCRIPTORS
Essay; Philosofy, Nursing; Ethics; Esthetics; History of Nursing

RESUMEN

Objetivo

ensayar ético-estéticamente sobre la redacción de memoriales académicos como forma de constituir sujetos titulares en una escuela de enfermería brasileña.

Método

ensayo ético-estético. Se utilizó un referencial teórico-metodológico desde la perspectiva de los estudios foucaultianos, de la intertextualidad, junto con la reproducción de obras de Adriana Varejão. También se utilizaron fuentes documentales de 16 memoriales de profesores de la Escuela de Enfermería de la Universidad Federal de Rio Grande do Sul, escritos entre 2012 y 2020.

Resultados

la redacción de memoriales académicos es una práctica de constitución de sujetos que dicen la verdad sobre sí mismos. Nos inspiramos en las obras artísticas de la artista brasileña Adriana Varejão como una aproximación al campo del arte, ya conocida por su posibilidad de creación. El lugar de enseñanza-cuidado, enfermero-cuidador, enfermero y docente son lugares de producción de verdad sobre sí mismos. Por otro lado, otras identidades, como la de sanitario y antropólogo en y de la salud, conforman los encuadres. Tales producciones de verdades sobre uno mismo, en el ritual académico de la propiedad, producen actos de saber y poder en los que el sujeto que escribe se vuelve lo que pretende ser en su testimonio y, en la apertura de la extirpación ocular, esta imagen

Conclusión

obras de escritura como ropa usada por tales temas, en su mejor costura. En los memoriales, el objetivo es reforzar el lugar del conocimiento; saber de sí misma y cómo llegó a ser profesora titular, para no romper la situación ni operar quirúrgicamente su forma de ver.

DESCRIPTORES
Ensayo; Filosofía en Enfermería; Ética; Estética; Historia de la Enfermería

INTRODUÇÃO: NAUFRÁGIO DA NAU DA COMPANHIA DAS ÍNDIAS

“Em civilizações sem barcos, esgotam-se os sonhos, e a aventura é substituída pela espionagem, os piratas pelas polícias”22. Foucault M. De espaços outros. Estud Avançados [Internet]. 2013 [cited 2022 Jan 25];27(79):113-22. Available from: https://doi.org/10.1590/S0103-40142013000300008
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:9.

Este artigo versa sobre uma inspiração de naufrágio (Figura 1). Sobre a viagem de um barco pirata que, lançado aos mares da pesquisa em enfermagem, busca a intertextualidade e foge da espionagem das polícias, isto é, dos limites de pensamento de que o navegar deve seguir rotas já traçadas nesta área de conhecimento. Nesse sentido, este artigo apresenta pistas de uma pesquisa-ensaio, de exercício de navegação que articulou campos de produção distintos, como arte contemporânea, filosofia, ciências sociais e enfermagem. Nessa interlocução entre diferentes áreas de saberes, produziu-se ensaio ético-estético que busca refletir acerca de como nos tornamos o que somos, em práticas de escrita de memoriais de docentes titulares de uma Escola de Enfermagem brasileira.

Figura 1 -
Naufrágio da Nau da Cia das Índias.11. Varejão A. Naufrágio da Nau da Companhia das Índias. [Óleo sobre tela, 230 x 530 cm]; 2005. [cited 2022 Jan 25]. Available from: http://www.adrianavarejao.net/br/home
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Os memoriais são documentos que, “a próprio punho”, versam sobre a vida acadêmica, os méritos, as conquistas, entre outros motivos de orgulho de quem se propôs ocupar o topo da carreira universitária. No ensaio, os memoriais adquiriram a preciosidade que os documentos arquivados guardam a respeito de nós mesmos, enquanto sujeitos modernos. Mais do que acúmulo de histórias individuais e/ou coletivas dispostas ao longo do tempo, os memoriais apresentam um olhar sobre o espaço, sobre mares abertos de possibilidades investigativas.

Com a bússola das práticas de escrita, parte-se do pressuposto de que a escrita acadêmica é um exercício, uma prática, que, assim como outras desenvolvidas na profissão de enfermagem ou de docência nesta área, envolve habilidades, exercícios, reflexões, leituras e reescritas. Tal prática é desenvolvida desde os bancos escolares primários e moldada ao longo dos anos, inclusive nas graduações e pós-graduações na Escola de Enfermagem, com a fabricação de trabalhos, monografias, relatórios de estágio, provas, artigos, resumos para congressos, evoluções em prontuários, entre outros modos de praticar o exercício das palavras.

As práticas de escrita irão acompanhar os indivíduos, constituindo modos de ser, modos de pensar e de agir de sujeitos enfermeiros e docentes. Tais práticas vão consolidando, no ambiente acadêmico e nos serviços de saúde, modos de aprender e de ensinar na área da enfermagem. Ao longo do tempo, esses modos vão constituindo rotas náuticas nesta área na qual se pode seguir, a partir da leitura e escritas de manuais, protocolos, livros didáticos, checklist, ou se pode refletir, recriar, sob o desejo de “imaginar a figura do criador como o herdeiro que assume, reclama e até elege o legado, mas que se esforça, igualmente, por se livrar do conservadorismo reverencial”33. Ramos do Ó JMN. Fazer a mão: por uma escrita inventiva na universidade. Lisboa: Edições do saguão; 2019.:11.

Com a imagem da herdeira, reivindica-se a potência da criação que acolhe o que vem antes, isto é, saberes disciplinares, esses modos já existentes de organização de saberes e práticas e, ao mesmo tempo, problematiza os limites, a partir de uma questão específica, lançando de outro modo a construção de saberes em integração intertextual. Dito isto, questiona-se nesta pesquisa-ensaio: de que modo professoras titulares da escola de enfermagem se constituem como sujeitos em suas escritas de memoriais?

Tomamos os memoriais como modos de constituição de sujeitos, na relação que estes estabelecem consigo mesmos e com outros, a partir da prática do relato de si, que age ética-esteticamente em relação a certas regras e saberes organizados nesse tipo de escrita. Falamos em ética pois é o modo como o sujeito conduz a si mesmo diante das regras existentes, diante das decisões acerca de qual caminho percorrer na escrita quando pretende falar sobre si, ao concorrer à promoção de carreira para titular na universidade pública. Falamos também em estética pois compreendemos a vida como uma obra de arte, na qual se espera que, ao escrever sobre si mesmo, mobilizem-se palavras e/ou imagens para além do campo racional e, ainda, que modifiquem o sujeito que, ao escrever, volta a sua história e suas práticas, olha para si, e modifica-se nessa reflexão.

Para navegar na questão proposta, partimos de conhecimentos prévios, que envolvem técnicas, referências, modos realizados por outros que, na medida em que se conectam, isto é, fazem sentido, produzem certo objeto, criam-se enquanto experiência, enquanto intertextualidade. Inspiramo-nos em obras artísticas da brasileira Adriana Varejão como aproximação ao campo da arte, já conhecido por sua possibilidade de criação. A fabricação de Varejão é uma das possibilidades de diálogo intertextual, que ajuda a olhar para a herança escolar e de formação de professores titulares não apenas para reproduzir o já dito, mas explorando e criando pensamento a partir do que foi escrito nos memoriais.

MÉTODO: AZULEJARIA DE COZINHA COM CAÇAS VARIADAS

O encantamento com a obra Azulejaria de cozinha com caças variadas44. Varejão A. Azulejaria de cozinha com caças variadas. [Óleo sobre tela, 230 x 530 cm]; 2005 [cited 2022 Jan 25]. Available from: http://www.adrianavarejao.net/br/home
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(Figura 2) abre o tópico de cunho reflexivo-metodológico. Nessa pintura, vemos partes de corpos de animais justapostos, formando novos corpos, dependurados como num açougue, nas frias cores brancas e azuis dos azulejos. Com este quadro, é possível ver um armazém de sentido, na expressão de Jorge Ramos do Ó.22. Foucault M. De espaços outros. Estud Avançados [Internet]. 2013 [cited 2022 Jan 25];27(79):113-22. Available from: https://doi.org/10.1590/S0103-40142013000300008
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Podemos pensar que o questionamento de Varejão envolve certo confronto da carne com as superfícies esfriadas, lisas e isoladas de um açougue.55. Moraes M. Adriana Varejão. 2nd ed. São Paulo, SP(BR): Folha de São Paulo; 2017. Na cozinha de caças variadas, o criar busca (des)naturalizar o olhar, sua obstinação pelo todo e pelo universal, de modo a apresentar um uno múltiplo em detalhes, superfícies e diferenças, para multiplicar sentidos.

Figura 2 -
Azulejaria de Cozinha com Caças Variadas.44. Varejão A. Azulejaria de cozinha com caças variadas. [Óleo sobre tela, 230 x 530 cm]; 2005 [cited 2022 Jan 25]. Available from: http://www.adrianavarejao.net/br/home
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A despeito de se estabelecer um método para se apropriar da realidade acerca da constituição de sujeitos, o ensaio ético-estético é compreendido como “experiência modificadora de si no jogo da verdade”;66. Foucault M. História da sexualidade: o uso dos prazeres. São Paulo: Paz e Terra; 2017. Vol. 2.:14 isto é, como exercício de abertura crítica às próprias verdades. É possível pensar diferente do que se pensa? É possível construir caminhos de investigação diferentes do que se sabe? Mais do que um exercício de autocrítica, trata-se de um exercício filosófico, de preocupação ético-estética de “conversão do olhar na escrita acadêmica, como cuidado consigo, como escrita de si, como arte da existência”,77. Fischer RMB. Poéticas de processos criativos: nas artes, na educação [seminário avançado]. Faculdade de Educação. Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2017.:125 para buscar constituir uma nova política de verdade.

O marco teórico-metodológico teve como base os estudos foucaultianos, e a intertextualidade entre as áreas de Filosofia, Artes, Ciências Sociais e Enfermagem. Como modo de reflexão, o artigo navega na forma de um ensaio ético-estético. Neste, exercita-se a crítica e o olhar para a forma. Este se diferencia do modo de escrita na qual seguimos, por exemplo, técnicas de análise e de coleta de dados, onde a produção é da ordem da organização racional e da vigilância à sequência dos métodos científicos. Ambos com seus rigores, porém distintos em modo de devir do sujeito que os pratica, e que produzem diferentes realidades. No campo da enfermagem, aproximo esta ideia ao que Dave Holmes e Marilou Gagnon escrevem sobre pesquisas em enfermagem. Para as autoras, “o pensamento nômade é vital para o desenvolvimento do conhecimento em enfermagem, visto que disciplina e profissão continuam a ser moldadas por um conservadorismo que impede o desenvolvimento do conhecimento marginal”.88. Holmes D, Gagnon M. Power, discourse, and resistance: poststructuralist influences in nursing. Nurs Philos [Internet]. 2018 [cited 2022 Jan 25];19(1):e12200. Available from: https://doi.org/10.1111/nup.12200
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:5 O ensaio ético-estético constituiu-se como exercício de existência na vida acadêmica, de modo a atravessar fronteiras entre saberes científicos, filosóficos e artísticos. Exercício de transbordamento entre saberes, de intertextualidade.22. Foucault M. De espaços outros. Estud Avançados [Internet]. 2013 [cited 2022 Jan 25];27(79):113-22. Available from: https://doi.org/10.1590/S0103-40142013000300008
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Escolher o ensaio para escrita é aceitar a difícil tarefa de não ter as respostas, de trabalhar sobre possibilidades e não sobre certezas; é aceitar a possibilidade de naufragar.

Como modo de transitar entre as áreas supracitadas, além de arcabouço teórico, utilizou-se também como fontes documentais os memoriais de docentes titulares da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, escritos entre 2012 e 2020. A escolha do período deve-se à situação de que, desde os anos 2000, quando ocorreu a mudança nas regras de progressão ou promoção na carreira docente, com a inclusão do documento memorial, a Escola de Enfermagem da UFRGS teve 16 professoras que atingiram o topo da carreira, chegando a Professor Titular até 2020. Destas, quatro realizaram concurso para o cargo, no ano de 2012, e 12 foram promovidas entre os anos 2014 e 2020, a partir da Lei 12.863, de 2013. O período de recolha deste material ocorreu entre Novembro de 2019 e Julho de 2020. Todos os memoriais da Escola de Enfermagem no período relacionado foram lidos e analisados.

Para acesso a estes documentos, foi necessário aprovação em Comitê de Ética, uma vez que tais documentos não estão disponíveis na biblioteca ou outro acervo público. Após aprovação, a obtenção dos memoriais foi realizada a partir do contato direto da pesquisadora principal com as(os) professoras(es) titulares da Escola de Enfermagem, por meio de e-mail, contato telefônico, mensagem WhatsApp e/ou presencialmente. Todas autorizaram o uso de seus memoriais, assim como a divulgação de seus nomes, por via de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Houve ainda processo de validação do uso dos excertos, entre Agosto e Setembro de 2020, quando todas(os) participantes concordaram com o uso dos fragmentos, já dentro do contexto de análise. Esta etapa oportunizou tanto o contato dos participantes com o manuscrito original da pesquisa, como também belos e interessantes retornos às pesquisadoras sobre a leitura que fora realizada, tendo sido um momento importante de trocas entre pesquisadoras e participantes.

RESULTADOS: TESTEMUNHAS OCULARES X, Y, Z

A escrita de memoriais acadêmicos é uma prática de constituição de sujeitos que dizem a verdade sobre si mesmos. Vale lembrar que a produção da verdade, isto é, a vontade de verdade, é da ordem do discurso.1010. Foucault M. A ordem do discurso. 10nd ed. São Paulo, SP(BR): Loyola; 2004. Nesse sentido, a questão a se fazer, nestes resultados, não estaria direcionada a avaliar se o que se diz nos memoriais é verdadeiro ou falso, isto é, em verificar se o que foi escrito “realmente aconteceu”, mas a interrogar a vontade de verdade que atravessa as autoras e autores dos memoriais e seus efeitos regulados de poder. A vontade de verdade é um sistema de exclusão no qual residem os perigos do discurso.1010. Foucault M. A ordem do discurso. 10nd ed. São Paulo, SP(BR): Loyola; 2004. Esta apoia-se em práticas pedagógicas, em sistemas de edição, de bibliotecas, de classificação, e neste caso, em progressão de carreira universitária.

Como na instalação9 (Figura 3), chamamos a atenção aos três quadros. Olhamos para estes e reconhecemos a artista, em diferentes roupagens. A partir do trabalho de hibridismo, a artista realiza uma crítica de si em forma de instalação, com três autorretratos modificados e olhos em formato de pérolas dispostos em uma mesa de vidro à frente dos quadros, juntos a lupas de aumento. No rosto das mulheres oriental, negra e indígena aparece a perspectiva da artista que, ao pintar a si de diferentes modos, produz uma reflexão sobre como nos tornamos o que somos. Nas pinturas com as diferentes heranças culturais, Varejão exerce um trabalho de reflexão sobre si e que se constrói como testemunha (ocular) de si.

Figura 3 -
Testemunhas Oculares X, Y, Z.99. Varejão A. Testemunhas oculares X, Y, Z. [Óleo sobre tela, porcelana, fotografia, prata, vidro e ferro, 200 x 250x 35 cm, 85 x 70 cm cada tela, 16 x 88x 25 cm cada objeto]; 1997 [cited 2022 Jan 25]. Available from: http://www.adrianavarejao.net/br/home
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Nos memoriais, professoras titulares reforçam certas identidades, como na obra Testemunhas Oculares X, Y, Z99. Varejão A. Testemunhas oculares X, Y, Z. [Óleo sobre tela, porcelana, fotografia, prata, vidro e ferro, 200 x 250x 35 cm, 85 x 70 cm cada tela, 16 x 88x 25 cm cada objeto]; 1997 [cited 2022 Jan 25]. Available from: http://www.adrianavarejao.net/br/home
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(Figura 3). A herança de trajetória de trabalho que se inicia na assistência e, gradualmente migra para a docência, apresenta um quadro escrito com as vestes de docente-assistencial, enfermeira-assistencial, enfermeira e docente, professora e enfermeira.

“A minha vida acadêmica no ensino de graduação na UFRGS e na ULBRA foi voltado ao ensino do cuidado de enfermagem ao adulto hospitalizado em situação de saúde mais ou menos crítica [...]. Deste modo desenvolvi práticas pedagógicas em unidades de internação cirúrgica de pacientes adultos [...]”. Também fui docente de disciplina teórica e campo prático em centro de terapia intensiva.1111. Lautert L. Memorial. Escola de Enfermagem. Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2014.:24

“Encaminho ao leitor para conhecer minha caminhada epistemológica relativa às vivências formativas acadêmico-profissionais implicadas na construção da minha identidade profissional como professor-enfermeiro [...]”.1212. Schneider JF. Memorial. Escola de Enfermagem. Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2012.:3

Nesta escrita que produz verdades sobre si, há também outras afirmações de identidades na Escola de Enfermagem, como a de sanitarista e de antropóloga na e da saúde que compõem a série das testemunhas.

“[...] A vontade de ser professor titular vem disso. É o que atesta a vida que escolhi, com momentos de inserção no cenário político ou de governo, não se descola da prática educativa [...]. Falei que era sanitarista? É, sou, ou, então, sou Educador. Também sou! Ser professor é o que mais sei fazer, não sobreviveria sem ser”.1313. Ceccim RB. Memorial. Escola de Enfermagem. Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2015.:1

“As vias que me conduziram a essa mudança de perspectivas teórico-metodológica [substituição da abordagem obtida na graduação em enfermagem] se expressam na minha trajetória acadêmica. Sem subestimar a importância dessa profissão, senti a necessidade de ampliar meus conhecimentos para além dos limites convencionais estabelecidas pelas abordagens curativas e biomédicas”.1414. Gerhardt TE. Memorial. Escola de Enfermagem. Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2018.:1

“O dito me fortalece. Evocando o passado ora presente desvelam-se em minha memória conquistas e enfrentamentos num turbilhão de acontecimentos em que alegrias, desejos, certezas e incertezas juntam-se num movimento único resultando em vivências e experiências do todo e das partes. Condições que conferem possibilidades de descrever minhas memórias com autenticidade e igualmente defender ideias e exercitar a autocrítica, com o cuidado de manter convicção o que me é próprio, a condição de “ser enfermeira”.1515. Crossetti MGO. Memorial. Escola de Enfermagem. Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2012.:1

“A escolha do curso de Enfermagem como formação universitária foi fruto de uma vocação e de uma sensibilidade em mim existente em ouvir as queixas das pessoas sobre seus ‘problemas de saúde e a vontade de compreendê-las, de penetrar na raiz dos fatores antes de intervir”.1414. Gerhardt TE. Memorial. Escola de Enfermagem. Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2018.:6

“Descrever minha vida acadêmica obrigou-me a ultrapassar o que fiz, para que fiz e como fiz, indo para além do enumerado em meu curriculum vitae [...] esse memorial foi construído a partir de elementos que constituem a memória das minhas vivências na construção e (re)construção da minha trajetória acadêmico profissional, de um processo de construção de minha identidade como professor-enfermeiro”.1212. Schneider JF. Memorial. Escola de Enfermagem. Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2012.:47

Tais produções de verdades acerca de si, no ritual acadêmico da titularidade, produzem atos de saber e poder nos quais o sujeito que escreve torna-se o que afirma ser em seu testemunho e que, na abertura da extirpação ocular, mostra e prolifera esta imagem a quem se aproxima.

DISCUSSÃO

Foucault,1616. Foucault M. Hermenêutica do Sujeito: curso no Collège de France [1981-1982]. 3rd ed. São Paulo, SP(BR): Martins Fontes; 2014. em suas investigações sobre velhas questões filosóficas ocidentais acerca da relação entre sujeito e verdade, interrogou-se sobre práticas, sobre modos de discursos em que buscamos dizer a verdade, como visto nos estudos sobre sujeitos loucos e sujeitos delinquentes. Além destes, ele analisou práticas discursivas na qual o sujeito falante, sujeito trabalhador e sujeito vivente se constituem como objeto de saber na sociedade. Posteriormente, investigou as práticas de exame de consciência e da confissão, importantes dispositivos penais nas experiências de sexualidade. Nestas, ele analisou questões entre sujeito e verdade de outro modo: não mais discursos que produzem a verdade sobre outros, mas discursos que produzem a verdade sobre si. Na esteira de pesquisas sobre discursos que constituem sujeitos como sujeitos de veridicção, este autor constatou a importância do princípio “é preciso dizer a verdade sobre si mesmo”, proveniente da moral Antiga ocidental, mas que, ao longo dos tempos sofreu modificações e permanece em nossas heranças contemporâneas, com características da nossa época.

Na tradição filosófica platônica e da filosofia antiga (à exceção de Aristóteles), a questão sobre a que preço é possível ter acesso à verdade era respondida pelo próprio sujeito que se referia a qual trabalho deveria ser operado sobre si, qual a modificação seria necessária para se ter acesso à verdade. Foucault chamou de espiritualidade “o conjunto de buscas, práticas, e experiências tais como as purificações, as asceses, as renúncias, as conversões do olhar, as modificações de existência, que constituem, não para o conhecimento, mas para o sujeito, para o ser mesmo do sujeito, o preço a pagar para ter acesso à verdade”.1616. Foucault M. Hermenêutica do Sujeito: curso no Collège de France [1981-1982]. 3rd ed. São Paulo, SP(BR): Martins Fontes; 2014.:14 Isto é, o preço para um sujeito ter acesso à verdade faz referência à prática que visava a modificação de seu modo de ser, a partir de certos exercícios dirigidos a si, de práticas espirituais.

Na leitura foucaultiana, esta prática segue o preceito geral do cuidado de si. O cuidado de si era uma prática difundida entre os gregos, uma verdadeira rede de obrigações e serviços para a alma. E a escrita era uma das características desse cuidado, sendo tomadas notas de si que podiam ser relidas para reativar as verdades necessárias para esse cuidado, como modo de exercício da famosa prescrição délfica “conhece-te a ti mesmo”. Tal prescrição fundaria, para o Ocidente, a relação entre sujeito e verdade. Já a partir de Descartes, e posteriormente com Kant, há uma requalificação filosófica do princípio “conhece-te a ti mesmo”, na qual é instaurada a evidência como origem para esse pensamento filosófico. Desse modo, o sujeito se tornou capaz de verdade sem precisar se modificar, ou seja, a existência do sujeito dava acesso ao seu ser.

A prática científica, com o raciocínio lógico, correto, da evidência, eliminava a necessidade de uma condição de trabalho espiritual para que o sujeito fosse capaz de conhecer a verdade. Herdaríamos então, em nossa prática científica contemporânea, por meio do método científico, a capacidade de conhecer e chegar à verdade; isto é: tornarmo-nos sujeitos que dizem a verdade.

Nesse contexto exploratório entre verdade e sujeito, retomo a obra Testemunhas oculares X, Y, Z99. Varejão A. Testemunhas oculares X, Y, Z. [Óleo sobre tela, porcelana, fotografia, prata, vidro e ferro, 200 x 250x 35 cm, 85 x 70 cm cada tela, 16 x 88x 25 cm cada objeto]; 1997 [cited 2022 Jan 25]. Available from: http://www.adrianavarejao.net/br/home
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(Figura 2). Nela, a artista pinta a relação entre sujeitos e apresenta a si mesma de forma modificada, na qual passamos a acreditar por ver elementos de reflexão sobre si, referidos à nossa história colonial-capitalística. Segundo a própria artista, o “conteúdo se forma em termos de subjetividades descolonizantes porque lida com inúmeras referências culturais - não apenas da história oficial, mas também de muitas outras histórias escondidas ou obscurecidas que ficam nas margens”.1717. Varejão A. Adriana Varejão abre mostra ‘Talavera’ com obras inéditas em NY. GPS Lifetime [Internet]. 2021 [cited 2022 Jan 25]. Available from: https://gpslifetime.com.br/index.php/conteudo/entretenimento/arte/80/adriana-varejao-abre-mostra-talavera-com-obras-ineditas-em-ny?page=2
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:1 Nas histórias descolonizantes de Varejão poderíamos imaginar uma prática espiritual, que produz sujeitos que conhecem a verdade sobre si mesmos.

Entre as histórias obscurecidas a que Varejão faz referência na obra Testemunhas oculares X, Y, Z99. Varejão A. Testemunhas oculares X, Y, Z. [Óleo sobre tela, porcelana, fotografia, prata, vidro e ferro, 200 x 250x 35 cm, 85 x 70 cm cada tela, 16 x 88x 25 cm cada objeto]; 1997 [cited 2022 Jan 25]. Available from: http://www.adrianavarejao.net/br/home
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(Figura 4) aparece a frenologia, que consistia em um método determinista do século XIX através do qual se buscava descobrir e mensurar aspectos do crânio, suas medidas, o nariz, tatuagens e expressões para avaliar a loucura, a criminalidade ou a inteligência de um indivíduo. No caso da obra, há uma referência a tal técnica com a incisão e retirada de um dos olhos das mulheres, para estudo da íris como elemento possível de uma alteração de aptidões mentais de uma pessoa, entendendo que seria possível saber a última cena vista pela pessoa morta.1818. Schwarcz LM, Varejão A. Pérola imperfeita: a história e as histórias na obra de Adriana Varejão. Rio de Janeiro, RJ(BR): Cabogó; 2014. Nesta referência à frenologia podemos ver outro modo de se constituir uma verdade. Verdade do conhecimento biológico, do uso de uma técnica racional científica para produzir conhecimentos verdadeiros. O fora e o dentro desses olhos arrancados ficam justapostos às pinturas de si, às verdades sobre si.

Figura 4 -
Testemunhas Oculares X, Y, Z. Adriana Varejão.99. Varejão A. Testemunhas oculares X, Y, Z. [Óleo sobre tela, porcelana, fotografia, prata, vidro e ferro, 200 x 250x 35 cm, 85 x 70 cm cada tela, 16 x 88x 25 cm cada objeto]; 1997 [cited 2022 Jan 25]. Available from: http://www.adrianavarejao.net/br/home
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Nas pinturas, autorretratos ético-estéticos, nas quais a artista produz um olhar que interroga possibilidades de si, inclusive a de ter um olho extirpado por uma técnica moderna de investigação de indivíduos, e que nos remete ao sangue, violência e paixão. Entendemos tudo isso como um exercício espiritual de conhecer-se a si mesmo. A partir da obra Testemunhas oculares X, Y, Z99. Varejão A. Testemunhas oculares X, Y, Z. [Óleo sobre tela, porcelana, fotografia, prata, vidro e ferro, 200 x 250x 35 cm, 85 x 70 cm cada tela, 16 x 88x 25 cm cada objeto]; 1997 [cited 2022 Jan 25]. Available from: http://www.adrianavarejao.net/br/home
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poderíamos olhar a nós próprias, com este olho que foi cirurgicamente retirado, agora externo a nós, que nos instiga a interrogar sobre como nos vemos, de que modo constituímos nossos olhares e as últimas imagens que veremos.

A partir da leitura dos memoriais vemos, na promoção de carreira docente, discursos possíveis de serem ditos e outros que são excluídos. Por meio da narrativa das trajetórias profissionais e acadêmicas são descritos fatos, histórias, lembranças e reflexões de modo autobiográfico. As autoras e autores dos memoriais elaboram discursos produtores de verdades sobre si, na relação com instituições e pessoas, que lhes parecem dignos de nota.

Talvez possa parecer uma obviedade que o que foi escrito nos memoriais seja verdade, ou que os sujeitos que o dizem não o fariam diferente e, com isso, não caberia aqui realizar o exercício da desconfiança. Entretanto, compreendemos que os modos pelos quais a produção de verdade acontece têm uma história, ou seja: os modos de produção de verdade em nossas sociedades são modificados conforme certas regras, certos regimes, e a pergunta sobre de que modo produzimos a verdade sobre nós mesmos tem a sua pertinência.

Fazer uma reflexão acerca dos modos pelos quais certas questões são ditas e aceitas por nós como verdadeiras é colocar em evidência a relação não apenas entre sujeito e verdade, mas sobre quem sou eu que estou aqui a escrever este memorial e como me constituo como sendo deste modo. É também perceber que os modos como digo o que sou ou os caminhos que trilhei para ser quem sou, fazem parte de uma trama do que é possível ser dito neste regime de verdade e, ainda, que produz efeitos de poder. Tais efeitos de poder produzem, regulam, indicam o discurso sobre certo modo de ser professor titular em determinada época e lugar.

Entendemos que a escrita de memorial acadêmico é uma prática de constituição de sujeitos que dizem a verdade sobre si mesmos. Vemos nessas escritas saberes e poderes que operam na produção de regimes de verdade e poder sobre nós mesmas e que produzem modos de subjetivação, isto é, nos modos de nos constituirmos de certa forma não de outra.

No excerto retirado do memorial de Crossetti,15 que reivindica suas “memórias com autenticidade”, esta professora titular escreve sobre sua trajetória de 40 anos de enfermeira e 37 de docência na UFRGS, organizados em capítulos de encher os olhos de tamanha dedicação e produção que estruturou em sua vida profissional. Seu memorial, em conjunto com outros que compuseram esta tese, chamaram a atenção sobre algo que talvez seja por demais óbvio entre nós, que é a afirmação da condição, da identidade de “ser enfermeira” como algo próprio nesse lugar de titularidade, isto é, referente a esta condição que a docente se refere como um modo de existência.

Judith Butler,1919. Butler J, Relatar a si mesmo: crítica da violência ética. Belo Horizonte, BH(BR): Autêntica; 2017. ao escrever sobre a constituição de si no sujeito foucaultiano, afirma que os termos que um regime de verdade fabrica é que possibilitam o reconhecimento de si. Isto é, o modo pelo qual alguém pode “ser” é circunscrito às formas reconhecíveis e não reconhecíveis por certas normas e regras, e nas quais o sujeito que busca dizer “quem é” responderá respeitando as normas do regime de verdade. No entanto, Foucault não defende apenas que exista uma relação com essas normas, mas também que qualquer relação com o regime de verdade será ao mesmo tempo uma relação consigo mesma. Uma operação crítica não pode acontecer sem essa dimensão reflexiva. Pôr em questão um regime de verdade, quando é o regime que governa a subjetivação, é pôr em questão a verdade de mim mesma e, com efeito, minha capacidade de dizer a verdade sobre mim mesma, de fazer um relato de mim mesma.

Nessa linha de argumentação, Butler1919. Butler J, Relatar a si mesmo: crítica da violência ética. Belo Horizonte, BH(BR): Autêntica; 2017. dirá que é na capacidade de questionamento sobre si, na capacidade de dizer a verdade sobre si, que reside o que Foucault chamou de ética da crítica. Tal situação resultaria na possibilidade de colocar em perigo a própria possibilidade de reconhecimento do outro, isto porque “uma vez que questionar as normas de reconhecimento que governam o que eu poderia ser, perguntar o que elas deixam de fora e o que poderiam ser forçadas a abrigar, é o mesmo que, em relação ao regime atual, correr o risco de não ser reconhecido como sujeito”.1919. Butler J, Relatar a si mesmo: crítica da violência ética. Belo Horizonte, BH(BR): Autêntica; 2017.:36

Por ora, reivindicamos a necessidade de olhar para os modos de produção de verdade sobre nós mesmas a fim de estabelecer a possibilidade do ensaio ético-estético que propusemos neste artigo. Se nos constituímos como sujeitos que dizem a verdade sobre nós mesmos, de que modo essas verdades operam produtivamente nos sistemas de manutenção dos regimes de verdade e de poder que nos produzem? Se o que digo sobre mim mesma é condicionado por regras de reconhecimento do outro, o que digo que sou e o que quero afirmar como podendo ser, no momento que considero o auge da carreira universitária?

CONCLUSÃO

Retomamos a questão navegadora na qual nos perguntamos: de que modo professoras titulares da escola de enfermagem se constituem como sujeitos em suas escritas de memoriais? Transitamos por obras da artista Adriana Varejão em costura com Foucault e outros autores e autoras que dialogam em mesma perspectiva epistemológica.

Os memoriais acadêmicos são pintados por evidências, por comprovações de carteira de trabalho, certificados, publicações, títulos e prêmios, que servem como ornamentação, como traje com que se apresentam os sujeitos da pintura, em suas características próprias, como área de trabalho, departamento. A descrição das atividades funciona como as vestimentas que trajam estes sujeitos, em sua melhor costura.

Vemos ainda, nos trechos apresentados, constituições de sujeitos a partir da relação com a prática assistencial e práticas educativas. Neste trabalho, fruto de tese de doutorado, apresentamos a constituição de identidades como um dos modos de fabricação de sujeitos, dentre outros possíveis analisados. São identidades que podem ser reconhecidas ou não por seus pares, onde a restrição de formas possíveis para a alcançar a titularidade na área da Enfermagem pode propiciar rupturas com a profissão, como visto nos escritos de alguns dos docentes titulares.

A prática de escrita dos memoriais busca reforçar o lugar de saber. Saber sobre si, sobre como se tornou professora titular, de modo a não romper o quadro ou de operar cirurgicamente em seu modo de vista, olhos, corpo, de modo a proclamar alguma “verdade ferina” - prática parresiástica,2020. Amarijo CL, Silva CD, Acosta DF, Cruz VD, Barlem JGT, Barlem ELD. Power devices used by nurses to fight domestic violence against women. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2021 [cited 2022 Feb 19];30(1):e20190389. Available from: https://doi.org/10.1590/1980-265X-TCE-2019-0389
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alguma experiência trágica, conflitos que surgiram em suas subjetivações. Pinturas de si sem extirpação ocular como ocorre no autorretrato de Varejão na obra Testemunhas oculares X, Y, Z.

Neste ensaio, que buscou entender, conhecer e modificar-se a partir da pergunta “Como nos constituímos como sujeitos na prática da escrita acadêmica?”, as incisuras funcionaram como modos de navegação, sem buscar linearidades, coerências entre si, foram passeando em linhas de devir e constituindo a experiência de reflexão desta investigação.

Por fim, cabe dizer que veio o naufrágio. Embora tenhamos buscado elaborar determinado espaço e tempo, não conseguimos expor as diversas leituras e escritas acerca dessa prática. Os ventos nos levaram para outros rumos, embora essa rota tenha vibrado em nosso estômago. Quem sabe, haja aí substrato para mais uma jornada.

AGRADECIMENTO

Aos docentes da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul que aceitaram participar da pesquisa e dispobilizaram seus memoriais para análise.

À secretaria acadêmica da Escola de Enfermagem por contribuir na localização dos materiais da pesquisa.

A banca de doutorado que contribuiu para o delineamento e discussão no estudo.

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NOTAS

  • ORIGEM DO ARTIGO

    Extraído da tese - Como nos tornamos o que somos: memoriais acadêmicos em ensaio ético-estético, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 2021.
  • FINANCIAMENTO

    Bolsista de doutorado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.
  • APROVAÇÃO DE COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

    Aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, parecer n. 3.593.318 e CAEE 19396619.9.0000.5347/2019.

Editado por

EDITORES

Editores Associados: Jaime Alonso Caravaca-Morera, Monica Motta Lino. Editor-chefe: Roberta Costa.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Ago 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    19 Fev 2022
  • Aceito
    27 Maio 2022
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