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PERSPECTIVA DE IMIGRANTES SOBRE A INTEGRAÇÃO PESSOAL E FAMILIAR NA SOCIEDADE BRASILEIRA

RESUMO

Objetivo:

descrever as vivências de imigrantes e suas famílias relativas à integração no Brasil.

Método:

estudo descritivo, com abordagem qualitativa, realizado em município no Sul do Brasil. Os informantes foram 13 imigrantes que residiam no Brasil entre seis meses e cinco anos e que conseguiam se comunicar em português, inglês ou espanhol. Os dados foram coletados entre maio e novembro de 2021, mediante entrevistas semiestruturadas, audiogravadas e submetidas à análise de conteúdo temática.

Resultados:

os 13 participantes tinham idades entre 27 e 65 anos (média de 36 anos), sendo nove mulheres, sete provenientes da Venezuela e os demais de países da América do Sul, Central e África. Emergiram três categorias as quais mostram as adversidades experienciadas, sobretudo em relação a empregos (baixos salários, exploração de mão de obra, não reconhecimento de títulos acadêmicos), dificuldades de comunicação e distância da família. Por outro lado, mostram também a satisfação com a segurança pública, assistência à saúde e possibilidade de desenvolvimento pessoal e profissional. Para manter a união familiar e suas origens, as pessoas em situação de imigração ajudam financeiramente os membros que não puderam migrar, fazem comidas típicas e utilizam o idioma nativo no ambiente domiciliar.

Conclusão:

a integração à sociedade brasileira é permeada por desafios, nomeadamente pela ausência/distância da família de origem e/ou constituída, não compreensão do idioma, problemas laborais e financeiros e fragilidade na rede de apoio social. Contudo, os imigrantes buscam manter um adequado funcionamento familiar a partir do apoio de instituições e da manutenção da cultura de origem.

DESCRITORES:
Família; Imigração; Relações familiares; Dinâmica familiar; Enfermagem familiar; Sociedade Receptora de Migrantes; Aculturação

ABSTRACT

Objective:

to describe the experiences of immigrants and their families related to integration in Brazil.

Method:

this is a descriptive study, with a qualitative approach, carried out in a municipality in southern Brazil. The informants were 13 immigrants who had lived in Brazil between six months and five years and who were able to communicate in Portuguese, English or Spanish. Data were collected between May and November 2021, through semi-structured interviews, audio-recorded and subjected to thematic content analysis.

Results:

the 13 participants were aged between 27 and 65 years (mean age 36 years), nine of whom were women, seven from Venezuela and the others from countries in South, Central America and Africa. Three categories emerged which show the adversities experienced, especially in relation to jobs (low wages, labor exploitation, non-recognition of academic titles), communication difficulties and distance from family. On the other hand, they also show satisfaction with public safety, health care and the possibility of personal and professional development. To maintain family unity and their origins, people in an immigration situation financially help members who could not migrate, make typical foods and use the native language in the home environment.

Conclusion:

integration into Brazilian society is permeated by challenges, namely the absence/distance from family of origin and/or constituted, lack of understanding of language, work and financial problems and social support network weakness. However, immigrants seek to maintain an adequate family functioning based on the support of institutions and the maintenance of the culture of origin.

DESCRIPTORS:
Family; Immigration; Family Relationships; Family Dynamics; Family Nursing; Migrant-Receiving Society; Acculturation

RESUMEN

Objetivo:

describir las experiencias de los inmigrantes y sus familias con respecto a la integración en Brasil.

Método:

estudio descriptivo, con abordaje cualitativo, realizado en un municipio del sur de Brasil. Los informantes fueron 13 inmigrantes que habían vivido en Brasil entre seis meses y cinco años y que podían comunicarse en portugués, inglés o español. Los datos fueron recolectados entre mayo y noviembre de 2021, a través de entrevistas semiestructuradas, grabadas en audio y sometidas a análisis de contenido temático.

Resultados:

los 13 participantes tenían entre 27 y 65 años (edad media 36 años), nueve de los cuales eran mujeres, siete de Venezuela y los demás de países de América del Sur, Central y África. Emergieron tres categorías que muestran las adversidades vividas, especialmente en relación al trabajo (bajos salarios, explotación laboral, no reconocimiento de títulos académicos), dificultades de comunicación y distanciamiento familiar. Por otro lado, también muestran satisfacción con la seguridad pública, la atención de la salud y la posibilidad de desarrollo personal y profesional. Para mantener la unidad familiar y sus orígenes, las personas en situación de inmigración ayudan económicamente a los miembros que no pudieron migrar, elaboran comidas típicas y utilizan la lengua materna en el ámbito familiar.

Conclusión:

la integración en la sociedad brasileña está permeada por desafíos, a saber, la ausencia/lejanía de la familia de origen y/o constituida, la falta de comprensión del idioma, los problemas laborales y financieros y la debilidad en la red de apoyo social. Sin embargo, los inmigrantes buscan mantener un adecuado funcionamiento familiar basado en el apoyo de las instituciones y el mantenimiento de la cultura de origen.

DESCRIPTORES:
Familia; Inmigración; Relaciones Familiares; Dinámica Familiar; Enfermería Familiar; Sociedad Receptora de Migrantes; Aculturación

INTRODUÇÃO

Imigrante é a pessoa que sai de seu local de origem e se estabelece em um novo país. Essa mudança pode ocorrer de forma espontânea ou forçada por motivos que ultrapassam a vontade individual, incluindo guerras, perseguições e conflitos. Em 2020, estimava-se que uma a cada 30 pessoas no mundo era imigrante, o que corresponde a 281 milhões de pessoas deslocadas de seu país de origem11. United Nations Department of Economic and Social Affairs, Population Division. International Migration 2020 Highlights [Internet]. 2020 [cited 2022 Dec 30]. Available from: https://www.un.org/en/desa/international-migration-2020-highlights
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. No contexto brasileiro, o cenário não é diferente, uma vez que, em 2021, cerca de 1,3 milhão de imigrantes residia no país, sendo os maiores fluxos migratórios originários da Venezuela, Haiti, Bolívia e Colômbia22. Cavalcanti L, De Oliveira T, Silva B, orgs. Relatório anual: refúgio no brasil para a imigração e uma década de desafios [Internet]. Brasília, DF(BR): OBMigra; 2021 [cited 2022 Apr 25]. 321 p. Available from: https://portaldeimigracao.mj.gov.br/images/Obmigra_2020/Relat%C3%B3rio_Anual/Relato%CC%81rio_Anual_-_Completo.pdf
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O processo migratório tem se caracterizado como um fenômeno global sem precedentes, com repercussões importantes nos âmbitos macro e microssocial, que afeta de diferentes formas a vida em família33. Milanez CM, de Córdova ZVE, Castro A, Fraga CC. Family functioning in the emotional and psychological health of children and adolescents. Rev Mult Psic [Internet]. 2019 [cited 2022 Apr 25];13(47):1905. Available from: https://doi.org/10.14295/idonline.v13i47.1905
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. Como primeira instituição social e principal formadora de padrões, a família exerce grande influência comportamental e psicológica sobre os indivíduos, além de moldar suas atitudes44. Marín Iral M, Iral M del PM, Córdoba PAQ, et al. Influencia de las relaciones familiares en la primera infancia. Poiésis [Internet]. 2019 [cited 2022 Apr 25];36(2019):164-83. Available from: https://doi.org/10.21501/16920945.3196
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. Configura-se, portanto, como um sistema complexo que tem como funções garantir a subsistência de seus membros, cuidar na saúde e na doença, além de ofertar afeto, apoio e promover a resiliência em situações de crise33. Milanez CM, de Córdova ZVE, Castro A, Fraga CC. Family functioning in the emotional and psychological health of children and adolescents. Rev Mult Psic [Internet]. 2019 [cited 2022 Apr 25];13(47):1905. Available from: https://doi.org/10.14295/idonline.v13i47.1905
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. Segundo a teoria dos sistemas familiares, a família constitui um todo, que se subdivide em díades e subsistemas abertos, sendo que cada um de seus membros também constitui um todo individualmente55. Wright LM, Leahey M. Theoretical foundations of the calgary family assessment and intervention models. In: Shajani Z, Snell D, editors. A guide to family assessment and intervention. 7th ed. Philadelphia, PA(US): F.A. Davis Company; 2019. p. 21-50..

As interações negativas, a exemplo de separações, perdas e afastamento físico, promovem importantes modificações no sistema familiar como um todo, reverberando em cada um de seus membros33. Milanez CM, de Córdova ZVE, Castro A, Fraga CC. Family functioning in the emotional and psychological health of children and adolescents. Rev Mult Psic [Internet]. 2019 [cited 2022 Apr 25];13(47):1905. Available from: https://doi.org/10.14295/idonline.v13i47.1905
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. O funcionamento familiar é prejudicado quando a família vive uma situação adversa, o que pode levar a conflitos, dificuldades financeiras, separação do núcleo familiar, alterações em sua estrutura e desenvolvimento, entre outros66. Galvez A. Transnational mother blame: protecting and caring in a globalized context. Med Anthropol [Internet]. 2019 [cited 2022 Mar 1];38(7):574-87. Available from: https://doi.org/10.1080/01459740.2019.1653866
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. Porém as interações de uns com os outros e com sistemas extrafamiliares permitem que a família encontre um equilíbrio entre a mudança e a estabilidade55. Wright LM, Leahey M. Theoretical foundations of the calgary family assessment and intervention models. In: Shajani Z, Snell D, editors. A guide to family assessment and intervention. 7th ed. Philadelphia, PA(US): F.A. Davis Company; 2019. p. 21-50..

O sentimento de perda é um aspecto emocional muito comum em famílias imigrantes, podendo ser até mesmo comparado ao luto. Isso porque envolve, além do deslocamento físico e a separação familiar, a perda de sua terra, sua casa, seus pertences, seu idioma, sua carreira profissional e suas conexões com a comunidade77. Cossa ERC. Luto migratório em pessoas refugiadas: entre a saúde mental e a intervenção psicossocial. REVISE [Internet]. 2020 [cited 2022 Aug 29];6(2020):275-302. Available from: https://www3.ufrb.edu.br/seer/index.php/revise/article/view/1872
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Como os imigrantes vivenciam situações estressantes e que podem acarretar certo grau de sofrimento psíquico, marcado pelo isolamento e vulnerabilidade social, econômica e afetiva88. Cariello AN, Perrin PB, Morlett‐Paredes A. Influence of resilience on the relations among acculturative stress, somatization, and anxiety in latinx immigrants. Brain Behav [Internet]. 2020 [cited 2022 Mar 1];10(12):e01863. Available from: https://doi.org/10.1002/brb3.1863
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, eles necessitam de integração ao novo ambiente. Alguns fatores com potencial para promover a resiliência dessa população e favorecer sua integração à nova sociedade envolvem cultura, familismo, religiosidade, biculturalismo, empatia e o apoio da comunidade.

Na concepção de Walsh, resiliência familiar se refere às mudanças ocorridas em seu funcionamento diante de situações adversas, o que envolve uma adaptação positiva e permite a seus membros recuperar a capacidade de prosperar, apesar do sofrimento e da luta, emergindo mais fortes face ao enfrentamento de desafios futuros99. Walsh F. Applying a family resilience framework in training, practice, and research: mastering the art of the possible. Fam Process [Internet]. 2016 [cited 2022 Aug 1];55(4):616-32. Available from: https://doi.org/10.1111/famp.12260
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Assim, por considerar a família como um sistema em constante adaptação e que pode alcançar a resiliência vivenciando situações que modificam seu funcionamento, especialmente por saber que no Brasil existe um grande contingente de imigrantes e que não foram localizados estudos sobre a integração dessas famílias ao contexto brasileiro, é que se definiu como objetivo da presente investigação descrever as vivências de imigrantes e suas famílias relativas à integração no Brasil.

MÉTODO

Trata-se de um estudo descritivo-exploratório de abordagem qualitativa, que integra um estudo multicêntrico realizado no Brasil, Portugal e Espanha. Neste recorte serão apresentados dados de imigrantes residentes em um município do estado do Paraná, no Sul do Brasil. O consolidated criteria for reporting qualitative research (COREQ) foi utilizado para guiar a escrita deste estudo.

Dentre os três estados do Sul do Brasil, o Paraná recebeu o maior número de imigrantes no período entre 2010 e 2019 (48.826, sendo 47.413 em Santa Catarina e 45.967 no Rio Grande do Sul)22. Cavalcanti L, De Oliveira T, Silva B, orgs. Relatório anual: refúgio no brasil para a imigração e uma década de desafios [Internet]. Brasília, DF(BR): OBMigra; 2021 [cited 2022 Apr 25]. 321 p. Available from: https://portaldeimigracao.mj.gov.br/images/Obmigra_2020/Relat%C3%B3rio_Anual/Relato%CC%81rio_Anual_-_Completo.pdf
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. O município em estudo é o terceiro no Estado em termos populacionais (estimativa de 436.472 habitantes)1010. IBGE ‒ Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades e Estados - Maringá - PR Principais informações sobre o município [Internet]. 2021 [cited 2021 Nov 3]. Available from: https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/pr/maringa.html
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e constitui importante polo econômico e educacional, o que justifica sua escolha como local de moradia por muitos imigrantes.

Foram elegíveis para participar do estudo multicêntrico, imigrantes com 18 anos ou mais, residentes no Brasil há, pelo menos, seis meses e que compreendessem/comunicassem em português, inglês ou espanhol. Por conseguinte, foram excluídos aqueles com residência fixada há mais de cinco anos, por entender que, teoricamente, já estariam integrados à cultura do país. Eles foram localizados quando procuraram uma Organização não-governamental (ONG) que presta apoio ao imigrante, com vistas a facilitar a integração inicial, após sua chegada ao país/município, e também mediante o emprego da técnica Snowball (bola de neve)1111. Bockorni BRS, Gomes AF. A amostragem em snowball (bola de neve) em uma pesquisa qualitativa no campo da administração. Rev Ciênc Empres UNIPAR [Internet]. 2021 [cited 2022 Mar 1];22(1):105-17. Available from: https://doi.org/10.25110/receu.v22i1.8346
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Os imigrantes que participam do presente estudo foram selecionados dentre os partícipes do estudo matricial, levando em consideração o interesse pela temática, a disponibilidade de tempo e a disposição em colaborar. A coleta de dados ocorreu entre maio e novembro de 2021, mediante entrevistas em profundidade realizadas de modo presencial e aplicadas nos idiomas português, inglês ou espanhol, conforme a capacidade do participante. As entrevistas foram realizadas pela mesma pesquisadora (enfermeira, mestranda em enfermagem, com experiência em coleta de dados qualitativos), que não mantinha nenhuma relação com os participantes, além da acolhida na instituição. No entanto, sensibilizada com as necessidades relatadas e conhecendo o trabalho que ali era realizado, passou a atuar voluntariamente após o início do estudo matricial.

As entrevistas tiveram duração média de 50 minutos, foram audiogravadas após consentimento e realizadas em local, dia e horário definidos pelos participantes, sendo seis efetivadas por meio de visita domiciliar e outras sete nas dependências da ONG. As entrevistas foram conduzidas mediante a aplicação de um questionário sociodemográfico e o uso de algumas perguntas norteadoras, construídas com base no objetivo do estudo e na literatura vigente sobre o tema. Foram elas: Como é para você viver fora de seu país de origem? Em que condições você veio para o Brasil? Fale sobre isto. Como tem sido sua integração e a de sua família no Brasil? Fale sobre isto. Quais os principais desafios enfrentados no processo de imigração? Qual sua rede de apoio aqui no Brasil? Como é sua relação com os familiares que ficaram no país de origem? Fale mais sobre esta experiência.

As entrevistas foram transcritas na íntegra preferencialmente no mesmo dia de sua realização, traduzidas para o português e, posteriormente, submetidas à análise de conteúdo, modalidade temática seguindo as três etapas pré-definidas1212. Bardin L. Análise de conteúdo. São Paulo, SP(BR): Edições 70; 2016. 288 p.. Na pré-análise, as falas foram organizadas sistematizando as ideias iniciais mediante a leitura flutuante do corpus de análise. Na etapa de exploração do material, foi realizada a codificação das unidades de registro, tendo sido identificados 374 códigos iniciais, posteriormente agrupados em 10 categorias preliminares, segundo semelhanças e diferenças semânticas identificadas, as quais culminaram em três categorias temáticas, conforme descrito na Figura 1.

Figura 1 -
Processo de categorização dos resultados.

Na etapa seguinte, a de tratamento e interpretação dos resultados, ocorreu a categorização, seguida da interpretação e discussão com a literatura atual, considerando os princípios da Teoria dos Sistemas Familiares55. Wright LM, Leahey M. Theoretical foundations of the calgary family assessment and intervention models. In: Shajani Z, Snell D, editors. A guide to family assessment and intervention. 7th ed. Philadelphia, PA(US): F.A. Davis Company; 2019. p. 21-50., a qual compreende a família como um organismo que constitui um todo. Esta teoria vê a família como unidade de cuidado e não apenas como fornecedora de informações e por esta razão tem sido utilizada como referencial teórico na enfermagem quando se pretende uma abordagem para além da doença e/ou do indivíduo. O conceito de resiliência familiar de Walsh99. Walsh F. Applying a family resilience framework in training, practice, and research: mastering the art of the possible. Fam Process [Internet]. 2016 [cited 2022 Aug 1];55(4):616-32. Available from: https://doi.org/10.1111/famp.12260
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, o qual valoriza o modo como o sistema familiar enfrenta as experiências adversas e desafiadoras, reorganiza-se e as supera, também foi utilizado como referencial. Ressalta-se que, para o processo de transcrição e análise dos dados, não houve a utilização de softwares.

Para garantir o rigor metodológico da pesquisa, foram respeitados os princípios de credibilidade, transferibilidade, adequabilidade e confirmabilidade, mediante a apresentação de dados sociodemográficos dos participantes. Deste modo, o estudo pautou-se pela descrição detalhada do método seguindo os Critérios do COREQ, bem como pela utilização de estratégias primordiais, como coleta de dados por período prolongado, inclusão de participantes de diferentes países, descrição densa em diário de campo e manutenção de uma trilha de auditoria sobre as principais decisões metodológicas e analíticas ao longo da pesquisa1313. Silva CVI, Soares TJ. Critérios e estratégias de qualidade e rigor na pesquisa qualitativa. Cienc Enferm [Internet]. 2020 [cited 2022 Mar 1];26:28. Available from: https://doi.org/10.29393/ce26-22ceis20022
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.

No desenvolvimento do estudo foram seguidos todos os preceitos éticos disciplinados pela resolução 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde e seu projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da instituição signatária. Os participantes foram informados sobre a forma de participação desejada e a livre opção de envolvimento com o estudo, momento em que foi lido e assinado o termo de consentimento livre e esclarecido, disponibilizado em português, inglês e espanhol para facilitar o entendimento dos entrevistados. No intuito de preservar o anonimato, na apresentação dos resultados, as falas estão identificadas apenas com número indicativo da ordem de realização da entrevista, seguido do nome do país de origem (exemplo: E11 - Haiti).

RESULTADOS

Os 13 participantes em estudo tinham idades entre 27 e 65 anos, nove eram do sexo feminino, sete tinham ensino superior completo, três possuíam ensino médio completo e os demais, apenas concluído o ensino fundamental. Todos se encontravam no país já há mais de dois anos, sendo sete provenientes da Venezuela, dois da Colômbia e um dos seguintes países: Haiti, República Dominicana, Paraguai e Angola. A busca por melhores condições financeiras foi mencionada como principal motivo para a migração por nove participantes, dois deles se referiram à fuga de guerras e conflitos, outros dois, consecutivamente, por motivos pessoais: o acompanhamento do marido brasileiro e o interesse por estudar no país. Oito imigrantes viviam no Brasil com suas famílias nucleares, outros cinco com membros da família extensa. Três homens (todos com ensino superior) estavam desempregados no momento da entrevista, quatro pessoas declararam ser do lar, outras três eram autônomas (professora de espanhol, costureira e artesã), um se declarou estudante, outro trabalhador no comércio, mas sem carteira assinada, e apenas um tinha emprego formal com registro.

Da análise dos dados, emergiram três categorias temáticas que serão descritas a seguir:

As adversidades decorrentes da imigração

Para os participantes deste estudo, a imigração representa um processo difícil, sobretudo pela separação familiar, seja temporária ou permanente, como se pode observar. É difícil porque toda a família ficou lá... toda a família... (E1 - Venezuela). Ele falou que não tinha como trazer nós três juntas (esposa e duas filhas), porque não tinha dinheiro... ele estava sozinho [...] quando eu consegui vir, a gente teve que se unir e trabalhar para trazer elas (E8 - República Dominicana). Eu decidi deixar meus dois filhos, para poder vir trabalhar e estudar (E6 - Haiti). Eu deixei lá a minha mãe... eu a deixei porque eu sabia com certeza que seria melhor para mim e para as minhas filhas, para a família, mas foi difícil chegar aqui, sem algum familiar perto... (E10 - Colômbia).

O distanciamento físico da família desperta sentimentos de tristeza e solidão, como evidenciam os dizeres dos participantes: Às vezes eu deitava e minha lágrima molhava todo o meu travesseiro, por causa desses cinco anos longe dele (marido) (E6 - Haiti). A gente sente muita saudade da família, fica toda separada e eu entendo que minha família agora é minha esposa e minhas filhas, mas sabe? Ficar longe da mãe, pai, irmãos, é bem difícil... (E9 - Venezuela).

Deixar parte da família no país de origem, sabendo que possivelmente não irão vê-los novamente é uma decisão difícil. A consciência de que não terão mais a facilidade de rever seus familiares idosos, seja porque eles não têm condições físicas e/ou financeiras, ou mesmo por não desejarem deixar o país de origem e seus costumes, é motivo de tristeza e sofrimento para os membros da família: Nossa realidade é que nunca mais vai ser igual a gente vivia com toda a nossa família, primos, tios, e agora estão todos dispersados no mundo inteiro, então, é algo que a gente nunca mais vai se encontrar, todos juntos… (E3 - Venezuela). Ela (mãe) às vezes fica tão triste, fica até com depressão, fala que vai morrer e não vai ver a gente de novo, é tão triste... eu também fico com muita saudade dela (E6 - Haiti). A minha mãe na verdade falou que não quer migrar, porque ela já está ficando velhinha, ela gosta do cantinho dela, ela falou assim, ela vem de um país estrangeiro, ela vai ficar estranha, é melhor ela ficar no cantinho dela (E7 - Venezuela).

O processo de integração ao país se torna muito mais difícil quando não há pessoas conhecidas ou uma rede de apoio durante esse período, sobretudo nos primeiros tempos: O lugar que cheguei no Brasil, em Roraima, tinha treze pessoas no apartamento, a maioria era de jovens que estavam só, eu era a mais velha, junto com outra pessoa. Quase todas trabalhavam na rua, na prostituição, mas lá na Venezuela sua família não sabia, elas falavam que estavam trabalhando (E7 - Venezuela).

Em alguns casos, quando chegam ao Brasil, os membros podem ser encaminhados para abrigos diferentes: Eu estava em um refúgio, consegui entrar como mulher solteira, mas meus filhos ficaram fora e conseguiram dormir na igreja, pelo meu cunhado que chegou lá, então eles tiveram permissão de dormir à noite, somente depois que terminava o culto que eles entravam, era como algo escondido (E7 - Venezuela).

Durante a integração das famílias ao país de acolhimento, o que leva algum tempo, vários desafios surgem, dentre eles os relacionados com o trabalho. Por exemplo, há dificuldade para se conseguir emprego, especialmente na área de atuação no país de origem. Não é fácil conseguir a revalidação de diplomas e a necessidade de se submeter a empregos informais com vistas à exploração da força de trabalho se avoluma: Para mim o trabalho foi... é um processo ainda, porque eu sou formado lá, e não consigo trabalhar na mesma coisa aqui, pois não tem valor o meu diploma (E4 - Venezuela). Eu trabalhava e o patrão falava “eu vou dar mil reais” e quando chegou o dia pagava 700, 750 e ficava com o resto, e passava a gente para trás, foi bem difícil (E8 - República Dominicana).

Superar as barreiras idiomáticas e os problemas de comunicação é outro desafio que impacta a vida do imigrante, além das dificuldades no cotidiano e no trabalho, pais com filhos estudantes também apresentaram dificuldades em auxiliá-los nas tarefas escolares. O patrão disse: não entendo o que você fala, não dá para trabalhar. Então, mandaram ele embora… (E1 - Venezuela). Difícil foi poder trabalhar, é um choque, mas com o passar dos meses, você vai conseguindo falar um pouco melhor, uma pessoa recomenda a outra, e pouco a pouco se vai dando a oportunidade de fazer alguma coisa para manter a família (E13 - Venezuela). O único difícil é o idioma, tu queres ajudar nas tarefas escolares e tu tens que aprender primeiro (E2 - Venezuela).

Os relatos incluídos nessa categoria mostram que as adversidades experienciadas com a imigração envolvem dificuldades de instalação, barreiras idiomáticas e o distanciamento da família de origem, tudo isso acaba prejudicando a adaptação dos imigrantes no novo país. O sistema familiar precisa exercitar diariamente a resiliência, a fim de superar todas as adversidades encontradas e torná-las fortalezas.

Fatores que facilitam a integração do imigrante e sua família

Quando tomam a decisão de sair da terra natal, o apoio e o acolhimento de amigos, familiares, instituições sociais e religiosas são essenciais para que os imigrantes tenham uma experiência positiva: Nós chegamos num refúgio da Igreja, quando a gente chegou, já tínhamos pessoas da igreja, irmãos da igreja no aeroporto, esperando por nós, a gente não conhecia nada, mas quando eles olharam, nossa! fomos muito abençoados. (E1 - Venezuela). Eles prestaram um apoio (ONG), deram comida, deram roupa, porque quando você viaja, você viaja com sua mala e nada mais, com seus projetos, com seus sonhos, você sai com o pouco que tem, e aí precisa de ajuda (E7 - Venezuela). Muito apoio da igreja, eles deram apoio para a gente chegar, eles conseguiram nos ajudar a alugar a casa, deram ajuda nos primeiros meses para nós conseguirmos um trabalho (E5 - Venezuela). Eu sempre fiquei tranquilo porque eu sei que estou com a minha família, agora se eu estivesse sozinha, seria diferente... (E8 - República Dominicana).

A imigração junto com outros familiares facilita o processo de integração, por possibilitar aos integrantes da família a superação das adversidades, concretizar os projetos de vida e manter o funcionamento familiar. Isso se verifica nas palavras dos participantes: Em nossa experiência foi diferente... graças a que nós viemos todos juntos, ele pode estudar, eu posso trabalhar, minha mãe pode ficar olhando as meninas com meu pai… (E1 - Venezuela). Ajudou muito, sempre ajuda, porque na hora de trabalhar a gente não tem que deixar os filhos com qualquer pessoa, elas ficam com meus sogros, foi muito bom, ter trazido eles com a gente (E3 - Venezuela). Não que eu me considere melhor do que os outros, mas eu me considero privilegiado. Porque eu tenho família aqui no Brasil, então de uma certa forma é diferente das outras pessoas que têm a questão de adaptação sem ninguém (E11 - Angola).

Com a imigração, todos os membros familiares sofrem alterações em seus papéis, de modo a permitir o funcionamento familiar: A rotina de vida, lá tínhamos um estilo de vida, eu acordava cedo, preparava as mocinhas para a escola, meu marido as pegava e levava, aqui como não estamos nas mesmas condições, cada um tem que ajudar de outra forma (E2 - Venezuela). Agora como eu estou em casa com minha esposa, a gente se ajuda, se eu tenho que fazer uma coisa, ela me apoia, a gente decide juntos o que fazer, eu posso também ficar mais tempo com as filhas, ensinar elas, ajudar com as tarefas delas, nos organizar para fazer as tarefas no lar, fazer a limpeza, fazer as compras, então eu não acho ruim esse tempo, eu acho que foi bom (E3 - Venezuela).

Ante a ausência e a dificuldade de criar novos laços, ocorre um fortalecimento do sistema familiar: A gente faz muito por preservar a família, que fique junta, que fique próxima, é uma de nossas prioridades, a família (E3 - Venezuela). A única diferença é que na Venezuela morávamos com outros familiares, aqui estamos sozinhos, lá tínhamos muitos amigos, aqui conhecemos poucas pessoas, então, quanto a vida social, isso mudou muito, mas a vida familiar aqui entre nós fica igual ou até mais forte (E1 - Venezuela). A vida em família para nós é muito importante, nós moramos juntos, tomamos decisões juntos, meus filhos maiores, eles participam nas decisões [...] meus filhos maiores eles suplementam essa parte de apoio dos familiares que ficaram lá (E4 - Venezuela).

Mesmo diante de conflitos e adversidades, o respeito e a valorização da família prevalecem: Para nós é muito importante o familiar... nem sempre a gente tem a mesma forma de pensar de enxergar as coisas, têm opiniões diferentes, tem brigas, mas sempre juntos, sempre... é importante (E4 - Venezuela). Nós falamos que se relacionar com uma pessoa, envolve conflitos. Porém, independentemente do conflito que você vai ter com um familiar a gente precisa de uma certa forma enfrentar as dificuldades (E11 - Angola). A gente está levando bem, um consegue entender o outro... ele faz as coisas, ele pede desculpas, e você sabe, “ah amor desculpa”, e a gente trata de levar a linha que não passa do limite, principalmente eu, eu sei que a gente mora junto, tem que respeitar e tem que amar um ao outro (E7 - República Dominicana).

As oportunidades de emprego, o crescimento pessoal/financeiro, a segurança pública e o acesso gratuito ao sistema de saúde foram destacados como fatores que favorecem o processo de adaptação diante da imigração: As coisas que a gente estava procurando: segurança, e principalmente isso, uma cidade que fosse segura e com oportunidade para trabalhar e crescer (E4 - Venezuela). É bem diferente, mais oportunidades acho que aqui tem. A verdade é que a nossa meta é sempre: ficar em um lugar onde a gente sinta que é sua casa (E9 - Colômbia). Aqui é bem... um paraíso, porque graças a Deus a gente acha hospital, a gente acha comida, no Brasil é bem melhor, a gente estudando tem a possibilidade de aprender, aqui é bem mais fácil (E3 - Venezuela). Lamentavelmente eu não sinto falta do meu país... eu me sinto tranquila aqui, eu acho que Brasil é meu país agora (E10 - Colômbia).

Com a vivência de imigrantes e suas famílias no Brasil, destacam-se algumas potencialidades decorrentes da imigração, principalmente quando esta ocorre em conjunto a outros membros da família. Nesses casos, os processos se tornam menos penosos e as oportunidades de crescimento pessoal e profissional são facilitadas, com possibilidade de se ter mais sucesso na realização dos projetos de vida e exercitar a resiliência.

Mantendo o elo familiar diante da distância

Ter membros da família distantes acarreta sentimentos saudosistas, e, na tentativa de minimizá-los, a reunificação com a família extensa é um desejo de muitos imigrantes. Ou seja, manter a proximidade e reunir a família torna-se um objetivo, apesar de, por vezes, configurar-se como uma possibilidade distante para as circunstâncias atuais: Nossa meta agora é pelo menos nos encontrar com meus pais, minhas irmãs em algum lugar, é ficar juntos até meus pais falecerem (E3 - Venezuela). A gente está no processo de fazer renovação, e ficar... trazer nossos familiares, minha mãe, meu padrasto, e aí esse é o plano, essa é a ideia, a ideia é ficar, para mim a ideia é ficar (E4 - Venezuela). Eu propus trazer minha família e eu vim para cá sozinha, graças a Deus minha família está aqui, agora estamos melhor (E7 - Venezuela).

Os imigrantes reiteram a falta dos lugares e da cultura que possuíam no país de origem, mas também afirmam que as crianças possuem mais facilidade de integração à nova cultura e, por isso, perdem muitos elementos daquela anterior: Sempre temos saudade de nossa terra, de nossa cultura, das pessoas (E3 - Venezuela). A (filha) mais velha falou que ela queria voltar lá para ver, para visitar, para ver minha mãe, só que a mais nova, ela fala que é brasileira, ela falou para mim que ela não quer nunca voltar lá, ela falou “não, eu quero ficar aqui no Brasil” (E8 - República Dominicana). Ela (filha) não fala na nossa língua, criolo, ela só fala português, a mais velha também, só que a mais velha ela consegue falar e conversar em criolo, um pouco melhor do que ela (E6 - Haiti).

Cabe destacar, por outro lado, que os imigrantes utilizam algumas estratégias para valorizar a cultura original, trazer memórias afetivas e ajudar a manter e passar adiante as tradições familiares: A gente fala espanhol, passou da porta para dentro tem que falar espanhol lá em casa, porque meus filhos vão esquecer... meu filho mais pequeno vai esquecer, e é parte da formação dele (E4 - Venezuela). A língua, um pouco falo português um pouco criolo, eu sempre tento manter tudo que tinha lá (E8 - República Dominicana). Eu trato de reproduzir na minha família as coisas boas que eu vivia, com minha mãe, com minha avó, eles faziam sopa no domingo, no sábado, com minhas irmãs, nós éramos apegados (E7 - Venezuela). Minha tia mesmo estando aqui Brasil ela faz comidas típicas de Angola que se eu tivesse aqui sozinho, acho que não faria (E11 - Angola). A gente fica falando no nosso idioma para não o perder, a gente faz almoço de nosso jeito, para gente não perder nossa cultura (E6 - Haiti).

Os entrevistados relataram a necessidade de prestar apoio e ajuda financeira aos membros que, por algum motivo, não conseguiram migrar, pois, apesar de gozarem de certa estabilidade no novo país, não esquecem da família que não migrou e buscam auxiliá-la financeiramente: Porque a gente não esquece da família, então uma das coisas que a gente está aqui no Brasil é para ajudar os que ficaram lá, porque “eu migrei, eu vim com minha família e tudo está bem”, mas não, tem muitas pessoas que estão lá e estão precisando da nossa ajuda (E4 - Venezuela). Umas das coisas bem complicadas é que quando você mora fora do país, tem de alguma forma uma responsabilidade com sua família que ficou na Venezuela, na verdade com o trabalho que eles têm, não conseguem atingir as suas necessidades básicas (E13 - Venezuela). Qualquer coisa que elas precisam, nós temos que mandar dinheiro, lá não tem nada de graça (E8 - República Dominicana).

Quando outros membros da família não conseguem imigrar conjuntamente, acaba despertando naqueles que imigraram o sentimento de responsabilidade para com os familiares e sua cultura, de modo que se sentem na obrigação de construir estratégias para minimizar esse sentimento e passar adiante suas tradições.

DISCUSSÃO

Os resultados mostraram que vivenciar a integração em uma nova sociedade é permeado por desafios, uma vez que sair de um local em que se está integrado para outro desconhecido e com muitas diferenças é um processo difícil. As dificuldades experienciadas pelos entrevistados corroboram resultados que ressaltam a vivência de situações negativas e vulnerabilidade social, tais como preconceitos praticados por parte de moradores locais, além de certo grau de desumanização, dificultando a integração dessas pessoas ao novo país1414. Markowitz DM, Slovic P. Why we dehumanize illegal immigrants: a US mixed-methods study. PLoS One [Internet]. 2021 [cited 2022 Mar 19];16(10):e0257912. Available from: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0257912
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-1515. Tafner DAOV, Nitschke RG, Tholl AD, Souza JB, Nabarro M. Potências e limites no quotidiano dos migrantes refugiados afrodescendentes haitianos. Ciênc Cuid Saúde [Internet]. 2022 [cited 2022 Nov 9];21:e56000. Available from: https://doi.org/10.4025/ciencuidsaude.v20i0.56000
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Ao chegarem em um local desconhecido, muitas vezes sem falar o idioma, sem renda, sem moradia e sem o apoio familiar, os indivíduos são submetidos a sentimentos de estresse, angústias e dificuldades de adaptação1616. Urzúa A, Leiva-Gutiérrez J, Caqueo-Urízar A, Vera-Villarroel P. Rooting mediates the effect of stress by acculturation on the psychological well-being of immigrants living in Chile. PLoS One [Internet]. 2019 [cited 2022 Mar 19];15(10):e0219485. Available from: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0219485
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. Como se não bastasse tudo isso, ainda têm de lidar com muitos comportamentos agressivos ou preconceituosos por parte dos nativos, tal como foi relatado em relação à atitude de patrões e suas práticas discriminatórias. Tudo isso pode ter impactos negativos para a saúde mental dos imigrantes1717. Cox Jr RB, de Souza DK, Bao J, Lin H, Sahbaz S, Greder KA, et al. Shared language erosion: rethinking immigrant family communication and impacts on youth development. Children [Internet]. 2021 [cited 2022 May 2];8(4):256. Available from: https://doi.org/10.3390/children8040256
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A crença autóctone de que um país é propriedade de seus primeiros habitantes pode ser a razão utilizada por moradores locais para reivindicar a propriedade coletiva de um território e de uma cultura social vigente, ocasionando consequências negativas para os recém-chegados1818. Verkuyten M, Thijs J. Being here first: ethnic majority children’s autochthony beliefs and attitudes toward immigrants. J Youth Adolesc [Internet]. 2019 [cited 2022 Mar 16];48(7):1281-95. Available from: https://doi.org/10.1007/s10964-019-01015-0
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. A depender da intensidade e frequência da experiência com os comportamentos xenofóbicos, podem ocorrer situações que dificultam o funcionamento familiar, com reverberações em toda a rede relacional99. Walsh F. Applying a family resilience framework in training, practice, and research: mastering the art of the possible. Fam Process [Internet]. 2016 [cited 2022 Aug 1];55(4):616-32. Available from: https://doi.org/10.1111/famp.12260
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.

Um estudo canadense verificou que as respostas comportamentais e biológicas ao estresse podem influenciar e ser influenciadas por sentimentos de segurança que surgem por meio de relacionamentos com outras pessoas e conexões espirituais como forma de promover a resiliência1919. Matheson K, Asokumar A, Anisman H. Resilience: safety in the aftermath of traumatic stressor experiences. Front Behav Neurosci [Internet]. 2020 [cited 2022 Mar 23];14:596919. Available from: https://doi.org/10.3389/fnbeh.2020.596919
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. Para Walsh99. Walsh F. Applying a family resilience framework in training, practice, and research: mastering the art of the possible. Fam Process [Internet]. 2016 [cited 2022 Aug 1];55(4):616-32. Available from: https://doi.org/10.1111/famp.12260
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, quando a pessoa é exposta a circunstâncias estressoras, ela necessita exercitar domínios que irão determinar como reagirá a essas situações. Neste sentido, um sistema de crenças se torna importante à medida que as orienta para a recuperação e crescimento, além de promover o sentido de coerência, tornando a crise ou o desafio passível de ser resolvido.

Vivenciar o processo da imigração e separação familiar, principalmente quando os pais viajam primeiro buscando se estabilizar, para só depois trazer seus filhos ou demais familiares, causa prejuízos substanciais ao sistema familiar2020. Wiel van der R, Kooiman N, Mulder CH. Family complexity and parents’ migration: the role of repartnering and distance to non-resident children. Europ J Population [Internet]. 2021 [cited 2022 Mar 19];37(4-5):877-907. Available from: https://doi.org/10.1007/s10680-021-09594-0
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. Nesses casos, as crianças experienciam dois tipos de reorganização de sua família: primeiro, na separação de seus pais e do ambiente familiar a que estavam acostumadas; depois, na separação de seus cuidadores temporários, seguido da possibilidade de não os ver mais, especialmente por serem mais velhos e decidirem permanecer no país de origem, o que gera conflitos e instabilidades em suas mentes, podendo inclusive atrapalhar o seu desenvolvimento2121. Speidel R, Galarneau E, Elsayed D, Mahhouk S, Filippelli J, Colasante T, et al. Refugee children’s social-emotional capacities: links to mental health upon resettlement and buffering effects on pre-migratory adversity. Inter J Environm Res Public Health [Internet]. 2021 [cited 2022 Mar 19];18(22):12180. Available from: https://doi.org/10.3390/ijerph182212180
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Em tais circunstâncias, os papéis que funcionavam anteriormente não funcionam mais, sendo necessário reorganizar o sistema. Isto interfere, sobremaneira, nas relações e reciprocidade entre os integrantes da família, comprometendo a dinâmica familiar e a resiliência deste grupo2222. Roh SY, Chang IY. Exploring the role of family and school as spaces for 1.5 generation South Korean’s adjustment and identity negotiation in New Zealand: a qualitative study. Inter J Environm Res Public Health [Internet]. 2020 [cited 2022 Mar 16];17(12):4408. Available from: https://doi.org/10.3390/ijerph17124408
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A presença da família e de uma rede de apoio favorecem a integração do imigrante no país de acolhimento. Ter alguém com quem se possa contar facilita a realização de objetivos e a conexão com a sociedade de acolhimento, além de propiciar ao imigrante uma sensação de pertencimento, o que colabora para facilitar a integração no novo país2020. Wiel van der R, Kooiman N, Mulder CH. Family complexity and parents’ migration: the role of repartnering and distance to non-resident children. Europ J Population [Internet]. 2021 [cited 2022 Mar 19];37(4-5):877-907. Available from: https://doi.org/10.1007/s10680-021-09594-0
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. A partir de um estudo realizado com imigrantes Haitianos no Brasil, observou-se que aquelas famílias que vêm ao país sem uma rede de acolhimento têm um percurso bem mais difícil em razão da falta de políticas públicas de acolhimento e de inserção sociocultural no país2323. Silva SA. Imigração e redes de acolhimento: o caso dos haitianos no Brasil. Rev Bras Estud Pop [Internet]. 2017 [cited 2022 Apr 25];34(1):99-117. Available from: https://doi.org/10.20947/S0102-3098a0009
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. Isso desafia o poder público e os profissionais de saúde a buscarem meios que possam favorecer a identificação de iniquidades sociais decorrentes de uma série de vulnerabilidades experienciadas em diversos contextos de vida do imigrante e sua família, com vistas a dirimi-las2424. Cavalcante Neto AS, Oliveira MAC. Saúde dos imigrantes venezuelanos: revisão de escopo. Ciênc Cuid Saúde [Internet]. 2021 [cited 2022 Oct 13];20:e56000. Available from: https://doi.org/10.4025/ciencuidsaude.v20i0.56000
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Salienta-se que no caso dos participantes deste estudo, o acesso gratuito ao sistema de saúde foi destacado como um dos fatores que favorece o processo de adaptação. Este resultado difere do encontrado em estudo realizado com mulheres imigrantes no Chile2525. Ojeda MAA, Santos EKA, Damiani PR. Experiences of immigrant women accessing health care in Punta Arenas, Chile. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2020 [cited 2022 Dec 13];29(spe):e20190276. Available from: https://doi.org/10.1590/1980-265X-TCE-2019-0276
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, a começar pelo fato de que lá os serviços de saúde não são públicos. Ademais, mesmo pagando, algumas participantes relataram discriminação no tratamento recebido e atendimento despersonalizado, resultando em consultas tardias diante de intercorrências na saúde, dificultando a adaptabilidade ao novo contexto socio-sanitário.

O acolhimento por meio de instituições sociais ou religiosas, associada à presença de outros membros familiares atua como fator protetivo, fazendo com que os projetos de vida sejam mais facilmente alcançados. Nessa direção, estudo realizado nos Estados Unidos da América (EUA) mostrou que as práticas religiosas proporcionam força, bem-estar e perspectiva de vida positiva durante o processo de migração, favorecendo esta integração2626. Moreno O, Ortiz M, Fuentes L, Garcia D, Leon-Perez G. Vaya Con Dios: The Influence of religious constructs on stressors around the migration process and U.S. lived experiences among latina/o immigrants. Inter J Environm Res Public Health [Internet]. 2020 [cited 2022 Mar 18];17(11):3961. Available from: https://doi.org/10.3390/ijerph17113961
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. Analogamente, em Málaga (Espanha), foi evidenciada a importância de se fortalecer o senso de comunidade dos latino-americanos residentes na cidade para seu adequado ajuste biopsicossocial2727. Millán-Franco M, Domínguez de la Rosa L, Hombrados-Mendieta MI, Gómez-Jacinto L, García-Cid A. The sense of community in Latin Americans in Malaga: multiple senses of community. Quad Psicol [Internet]. 2019 [cited 2022 Mar 16];21(3):1484. Available from: https://doi.org/10.5565/rev/qpsicologia.1484
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. Ressalta-se que o risco de aculturação é elevado na população migrante e uma das medidas para combatê-lo é a construção da cidadania mediante identidade cultural, reconhecimento e propagação de relações com os outros2828. Mayorga ASC, Torres MSP, Sánchez AAA. Identidad y construcción de comunidad en la población afrocolombiana de la localidad de suba, Bogotá. Tabula Rasa [Internet]. 2019 [cited 2022 Mar 18];(32):271-88. Available from: https://doi.org/10.25058/20112742.n32.12
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A aculturação também afeta as relações familiares, visto que a maior facilidade de crianças e adolescentes em aprender um novo idioma, hábitos e modo de pensar contrasta com a dificuldade vivenciada pelos familiares mais velhos, que é a de se integrarem a uma nova sociedade. Isso pode gerar dificuldade de comunicação nos subsistemas1717. Cox Jr RB, de Souza DK, Bao J, Lin H, Sahbaz S, Greder KA, et al. Shared language erosion: rethinking immigrant family communication and impacts on youth development. Children [Internet]. 2021 [cited 2022 May 2];8(4):256. Available from: https://doi.org/10.3390/children8040256
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, desencadeando conflitos intergeracionais, distanciamento e alterações na dinâmica e no funcionamento do sistema familiar.

Em contrapartida, os depoimentos dos imigrantes desse estudo, que, em sua quase totalidade eram chefes e/ou responsáveis por seu núcleo familiar, mostraram que é no cerne da família que eles procuram manter aspectos de sua cultura, seja por tradições alimentares ou mesmo falando o idioma nativo dentro de casa, numa tentativa de postergar a aculturação dos mais jovens. De modo semelhante, estudo realizado com imigrantes coreanos na Nova Zelândia identificou que a família se configura como um espaço-chave em que os membros buscam reter a sua identidade étnica e seus valores tradicionais2222. Roh SY, Chang IY. Exploring the role of family and school as spaces for 1.5 generation South Korean’s adjustment and identity negotiation in New Zealand: a qualitative study. Inter J Environm Res Public Health [Internet]. 2020 [cited 2022 Mar 16];17(12):4408. Available from: https://doi.org/10.3390/ijerph17124408
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Dessa forma, ao mesmo tempo em que os imigrantes absorvem parte da cultura da sociedade receptora, buscam a própria integração no novo país, sem perder as suas origens. Infere-se que esta estratégia exemplifica, na prática, o princípio da equifinalidade, o que permite a organização do sistema e a garantia do funcionamento familiar55. Wright LM, Leahey M. Theoretical foundations of the calgary family assessment and intervention models. In: Shajani Z, Snell D, editors. A guide to family assessment and intervention. 7th ed. Philadelphia, PA(US): F.A. Davis Company; 2019. p. 21-50..

Os resultados também evidenciaram uma esperança latente de reunificação familiar, traduzida pela necessidade de trazer para o país de acolhida os familiares que não puderam migrar. Neste sentido, estudo realizado nos EUA apontou que é esta esperança que motiva os imigrantes a vivenciarem o relacionamento familiar, mesmo sendo à distância1818. Verkuyten M, Thijs J. Being here first: ethnic majority children’s autochthony beliefs and attitudes toward immigrants. J Youth Adolesc [Internet]. 2019 [cited 2022 Mar 16];48(7):1281-95. Available from: https://doi.org/10.1007/s10964-019-01015-0
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. Também nos EUA, estudo etnográfico que analisou as estratégias de resiliência e os mecanismos para manter o funcionamento de famílias transnacionais, mostrou que os imigrantes prestam cuidados aos seus familiares que migraram, mas também necessitam prestar apoio àqueles que ficaram no país de origem, dando continuidade em seus papéis mesmo diante de novos contextos2828. Mayorga ASC, Torres MSP, Sánchez AAA. Identidad y construcción de comunidad en la población afrocolombiana de la localidad de suba, Bogotá. Tabula Rasa [Internet]. 2019 [cited 2022 Mar 18];(32):271-88. Available from: https://doi.org/10.25058/20112742.n32.12
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-2929. Thomas EB, Smith-Morris C. Family and family-like relations for transnational migrants: ideals of care informed by kin, non-family, and religion. Hispanic J Behav Scien [Internet]. 2020 [cited 2022 Mar 1];42(3):344-62. Available from: https://doi.org/10.1177/0739986320937435
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. Desse modo, enquanto a distância física se faz presente, para manter o vínculo familiar, os imigrantes desse estudo fizeram referência à disposição e aos esforços empreendidos para ajudar financeiramente aqueles que ficaram em seus países de origem.

O presente estudo possui limitações. A primeira delas se relaciona a não presença de um intérprete cultural e linguístico da mesma nacionalidade de cada participante durante a coleta de dados. Apesar de a pesquisadora principal possuir domínio dos idiomas utilizados nas entrevistas, aspectos inerentes a diferenças culturais podem ter passado despercebidos. Outra limitação está diretamente relacionada ao fato de as entrevistas, após transcritas, não terem sido apresentadas aos participantes. Entretanto, em decorrência da pandemia da Covid-19, optou-se por realizar apenas um contato com os entrevistados, minimizando os riscos de exposição. Por fim, destaca-se que outra possível limitação se relaciona à nacionalidade dos participantes, uma vez que a maior parte é composta por imigrantes venezuelanos e isso pode circunscrever os resultados às percepções socioculturais, educacionais e familiares deste grupo. Em contrapartida, tendo em vista que o maior contingente de imigrantes que atualmente está no Brasil, e inclusive no município em estudo, é originário desse país, tal achado era esperado.

CONCLUSÃO

A integração de imigrantes à sociedade brasileira é permeada por desafios, os quais estão relacionados à distância ou ausência da família de origem e/ou constituída que ficou no país de origem. Esses percalços são acentuados pela dificuldade de integração à nova cultura, não compreensão do idioma do país de acolhimento, subempregos, baixos salários, mudança nos papéis familiares e pela fragilidade na rede de apoio social. Manter um funcionamento familiar adequado, assim como minimizar as dificuldades vivenciadas ocorre quando a pessoa não imigra sozinha ou outros familiares já estão no país de acolhida, pois mesmo em situações adversas, a família representa importante fonte de apoio a seus membros. Ações de acolhida por parte de entidades sociais e religiosas e manutenção de hábitos culturais, também possuem papel preponderante no processo de integração.

É necessário que os países acolhedores destinem maior atenção aos imigrantes e a seus familiares, bem como promovam estudos com foco no papel da comunidade de acolhida, de modo a favorecer e agilizar a integração desses indivíduos. Por fim, ressalta-se a importância de a equipe de saúde estar preparada para identificar e acolher as necessidades dessas pessoas de forma integral e humana. Como pesquisas futuras, sugere-se a realização de intervenções que considerem o sistema familiar, com vistas a fortalecê-lo, favorecendo a resiliência de imigrantes, bem como investigar o acesso à saúde e questões que envolvam a sociabilidade e a saúde mental dessa população.

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NOTAS

  • ORIGEM DO ARTIGO

    Extraído da dissertação - Funcionamento familiar de imigrantes que vivem no Brasil: um estudo quanti-qualitativo, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Estadual de Maringá, em 2022
  • FINANCIAMENTO

    O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001
  • APROVAÇÃO DE COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

    Aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Maringá, parecer n. 4.450.114/2020, Certificado de Apresentação para Apreciação Ética 40442120.4.0000.0104.

Editado por

EDITORES

Editores Associados: Melissa Orlandi Honório Locks, Monica Motta Lino. Editor-chefe: Elisiane Lorenzini

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Abr 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    10 Set 2022
  • Aceito
    22 Nov 2022
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