TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS ELABORADAS PARA ENSINAR SUPORTE BÁSICO DE VIDA AO ADOLESCENTE: REVISÃO DE ESCOPO

RESUMO

Objetivo:

mapear as tecnologias educacionais elaboradas para ensinar suporte básico de vida ao adolescente.

Método:

revisão de escopo, conduzida conforme metodologia Joanna Briggs Institute, realizada entre maio e novembro de 2022, em sete bases de dados e no Google Scholar para responder à pergunta: “Quais as tecnologias educacionais elaboradas/utilizadas sobre suporte básico de vida para adolescentes?”. Dois revisores independentes selecionaram, mediante critérios de inclusão/exclusão, os artigos usando os programas EndNote® e Rayyan®. Utilizou-se formulários adaptados da Joanna Briggs para extração e análise metodológica. Os dados foram reportados pela extensão do checklist PRISMA-ScR e o protocolo deste estudo está publicado em: https://doi.org/10.17605/OSF.IO/P87SV.

Resultados:

selecionou-se 34 artigos, os quais foram organizados em seis categorias de tecnologias educacionais: 1) Audiovisuais; 2) Computacionais; 3) Kits de aprendizagem; 4) Dispositivos móveis; 5) Material Impresso; e 6) Manufaturadas. Este tema é publicado desde 1975, sobretudo por revistas médicas, cujos autores são principalmente europeus e norte-americanos. Foram incluídos 16 ensaios experimentais e 18 quase-experimentais, de qualidade metodológica variável, realizados, predominantemente, com estudantes de nível médio.

Conclusão:

as tecnologias educacionais mapeadas foram: vídeos, filmes, Digital Versatile Disc, imagens, músicas, narrativas audiovisuais, jogos, realidade virtual/avatar, web cursos, software computacional, aplicativos para computador e smartphone, cartões de tarefa e manequins (incluído os manufaturados). Embora haja inúmeras tecnologias educacionais sobre Suporte Básico de Vida para adolescentes, estas não têm proporcionado o alcance de bons níveis de habilidade práticas, principalmente quando se propõem a ensinar ventilação para leigos.

DESCRITORES:
Reanimação cardiopulmonar; Tecnologia educacional; Tecnologia; Adolescente; Materiais de ensino

ABSTRACT

Objective:

to map the educational technologies devised to teach Basic Life Support to adolescents.

Method:

a scoping review conducted according to the Joanna Briggs Institute methodology and carried out between May and November 2022, in seven databases and Google Scholar, to answer the following question: “Which are the educational technologies devised/used about Basic Life Support for adolescents?”. By means of inclusion/exclusion criteria, two independent reviewers selected the articles resorting to the EndNote® and Rayyan® software programs. Forms adapted from the Joanna Briggs Institute were used for data extraction and methodological analysis. The data were reported by means of the PRISMA-ScR checklist extension and the protocol of this study is published in: https://doi.org/10.17605/OSF.IO/P87SV.

Results:

a total of 34 articles were selected, which were organized into six categories of educational technologies: 1) Audiovisual; 2) Computational; 3) Learning kits; 4) Mobile devices; 5) Printed material; and 6) Manufactured. This topic has appeared in publications since 1975, especially in medical journals, mainly by European and North American authors. The materials included were 16 experimental and 18 quasi-experimental trials, of varied methodological quality levels and predominantly conducted with High School students.

Conclusion:

the educational technologies mapped were as follows: videos, films, Digital Versatile Disc, images, music, audiovisual narratives, games, virtual reality/avatar, web courses, computational software, computer and smartphone apps, task cards and manikins (including manufactured ones). Although there are countless educational technologies on Basic Life Support for adolescents, they have not allowed achieving good levels of practical skills, mainly when they propose to teach ventilation to lay people.

DESCRIPTORS:
Cardiopulmonary resuscitation; Educational technology; Technology; Adolescent; Teaching materials

RESUMEN

Objetivo:

mapear las tecnologías educativas elaboradas para enseñar Soporte Vital Básico a adolescentes.

Método:

revisión de alcance, realizada conforme a la metodología del Joanna Briggs Institute entre mayo y noviembre de 2022, en siete bases de datos y en Google Académico para responder la siguiente pregunta: “¿Cuáles son las tecnologías educativas elaboradas/utilizadas sobre Soporte Vital Básico dirigidas al público adolescente?”. Mediante criterios de inclusión/exclusión, dos revisores independientes seleccionaron los artículos usando los programas EndNote® y Rayyan®. Se emplearon formularios adaptados del Joanna Briggs Institute para la extracción de datos y el análisis metodológico. Los datos se reportaron por medio de la extensión de la checklist PRISMA-ScR y el protocolo de este estudio está publicado en: https://doi.org/10.17605/OSF.IO/P87SV.

Resultados:

se seleccionaron 34 artículos, que fueron organizados en seis categorías de tecnologías educativas, a saber: 1) Audiovisuales; 2) Informáticas; 3) Kits de aprendizaje; 4) Dispositivos móviles; 5) Materiales impresos; y 6) Fabricadas. Este tema ha sido objeto de publicaciones desde 1975, especialmente en revistas especializadas en Medicina, y principalmente con autores europeos y norteamericanos. Se incluyeron 16 ensayos experimentales y 18 cuasiexperimentales, de calidad metodológica variable y mayoritariamente realizados con estudiantes de nivel medio.

Conclusión:

las tecnologías educativas que se mapearon fueron las siguientes: videos, películas, Digital Versatile Disc, imágenes, música, narrativas audiovisuales, juegos, realidad virtual/avatar, cursos web, software de computación, apps para computadoras y smartphones, fichas de tareas y maniquíes (incluyendo los fabricados). Aunque se dispone de innumerables tecnologías educativas sobre Suporte Vital Básico para adolescentes, no ha permitido lograr buenos niveles de habilidades prácticas, principalmente cuando se proponen enseñar ventilación a personas comunes.

DESCRIPTORES:
Reanimación cardiopulmonar; Tecnología educativa; Tecnología; Adolescente; Materiales didácticos

INTRODUÇÃO

A Parada Cardiorrespiratória (PCR) permanece como a emergência mais grave e de pior prognóstico1. O relatório da American Heart Association (AHA) apontou que somente 10,4% dos pacientes com Parada Cardíaca Extra Hospitalar (PCREH) sobrevivem à hospitalização inicial. Neste contexto, só 39,2% dos adultos recebem Reanimação Cardiopulmonar (RCP) por leigos e apenas 11,9% tiveram um Desfibrilador Externo Automático (DEA) aplicado2.

Mesmo com importantes melhorias nos protocolos de RCP, a sobrevivência à PCREH está no mesmo nível desde 20122. A solução deste problema perpassa pelo ensino e treinamento de leigos em Suporte Básico de Vida (SBV). De acordo com a cadeia de sobrevivência a uma PCREH, SBV é o termo que designa as etapas de ressuscitação cardiopulmonar. As etapas dirigidas a leigos consistem em acionar o Serviço Médico de Emergência (SME), realizar RCP imediata de alta qualidade e aplicar rápida desfibrilação3.

Dentre os leigos que precisam ser capacitados em SBV, estão os adolescentes que além de aprender, podem ensinar RCP aos colegas4. Entretanto, pesquisadores da Dinamarca5 e do Canadá6 apontaram que limitações estruturais, políticas e econômicas dificultam esse processo. Por outro lado, estudo do tipo Ensaio Controlado Randomizado (ECR) evidenciou que, quando os adolescentes recebem treinamento, apresentam habilidades práticas e autoconfiança para ajudar efetivamente vítimas de PCR7.

Neste sentido, com vistas a interpor o baixo conhecimento de adolescentes sobre esse tema, a AHA e a Sociedade Europeia de Ressuscitação recomendam o treinamento mediante design instrutivo em combinação com tecnologias educacionais e ensino ministrado por instrutores8^-9.

Não obstante, para se fazer uso dessas tecnologias, instrutores precisam de respostas sobre lacunas literárias envolvendo este tema. Por exemplo, ainda não se sabe quais são as tecnologias utilizadas para ensinar SBV ao adolescente, em que contexto podem ser aplicadas e qual a sua efetividade ou limitação. Para melhor uso das tecnologias, é necessário conhecer o seu processo de construção e validação, quais públicos são mais beneficiados e se são permeadas por estudos com qualidade metodológica que possibilita replicação e segurança de suas indicações. Cabe ressaltar que, pesquisas preliminares10 feitas em maio de 2022 não encontraram revisões de escopo em curso ou concluídas que respondessem à pergunta deste estudo.

Neste contexto, conhecer a produção científica sobre as tecnologias educacionais é relevante, pois possibilitará aos enfermeiros e demais profissionais da saúde, o ensino e a Prática Baseada em Evidências (PBE). Deste modo, objetivou-se mapear as tecnologias educacionais elaboradas para ensinar suporte básico de vida ao adolescente.

MÉTODO

Trata-se de uma revisão de escopo conduzida seguindo as recomendações do Joanna Briggs Institute (JBI)11 e relatada conforme o checklist Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR)12. O protocolo deste estudo está publicado na Open Science Framework: https://doi.org/10.17605/OSF.IO/P87SV; e na revista Online Brazillian Journal of Nursing. Por se tratarem de dados de domínio público, está pesquisa não necessitou de aprovação do comitê de ética.

Esta revisão, realizada entre maio e novembro de 2022, seguiu cinco passos: (1) definição da pergunta do estudo; (2) estabelecimento de critérios de inclusão/exclusão; (3) definição do tipo de fonte e construção da estratégia de pesquisa para cada base de dados; (4) seleção e extração de estudos; (5) análise da evidência e apresentação dos resultados.

A questão de pesquisa foi elaborada com base no acrônimo PCC em que P (população) - adolescentes, C (conceito) - tecnologias educacionais e C (contexto) - suporte básico de vida. Deste modo, perguntou-se: “Quais as tecnologias educacionais são elaboradas/utilizadas sobre suporte básico de vida para adolescentes? Definiu-se os critérios de inclusão/exclusão para cada letra do acrônimo PCC. Deste modo, foram incluídos estudos cuja população era constituída por adolescentes com idade entre 10 e 19 anos13; que utilizassem, dentro do conceito, tecnologias educacionais e que tivessem sido contextualizadas ao ensino do SBV.

Excluiu-se artigos que não se encontravam publicados na íntegra ou que apresentassem somente estratégias educativas sem o uso de tecnologias, haja vista que elas foram bem delimitadas pela literatura atual14. Esta revisão avaliou pesquisas de todos os delineamentos metodológicos e não estabeleceu limite temporal ou restrições de idioma.

As buscas foram realizadas nas bases Medical Literature and Retrieval System online (MEDLINE) via National Center for Biotechnology Information (NCBI/PubMed); Cumulative Index to Nursing & Allied Health Literature (CINAHL) via coleção Thomson Reuters; Web of Science (WOS) via Clarivate Analytics e Embase via Elsevier, acessadas pelo Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES); Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Índice Bibliográfico Español en Ciencias de la Salud (IBECS) e Base de Dados em Enfermagem (BDENF) via Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Também foram realizadas buscas no Google Scholar.

A estratégia de pesquisa seguiu três etapas15. Na primeira, realizou-se pesquisa nas bases MEDLINE (NCBI/PubMed) e CINAHL para identificar os termos contidos em títulos, resumos e descritores de indexação. Na etapa dois, uma segunda pesquisa foi feita usando os termos da primeira etapa com os descritores identificados na segunda. Na terceira, os pesquisadores buscaram nas listas de referências estudos que porventura não tivessem sido recuperados nas duas primeiras etapas.

O quadro 1 apresenta a sintaxe de construção, descritores/palavras-chaves e operadores booleanos empregados na busca de alta sensibilidade na base MEDLINE/ NCBI/PubMed. As demais estratégias podem ser verificadas no protocolo da revisão de escopo: https://doi.org/10.17605/OSF.IO/P87SV

Quadro 1 -
Sintaxe de construção, descritores/palavras-chaves e operadores booleanos utilizados na base MEDLINE/ NCBI/PubMed. Teresina, PI, Brasil, 2022.

MEDLINE/NCBI/PubMed

(("Adolescent"[Mesh Terms] OR (Adolescent) OR (Adolescence) OR (Adolescents) OR (Adolescents, Female) OR (Adolescents, Male) OR (Teenager) OR (Teenagers) OR (Teens) OR (Youth) OR ("High School") OR ("School Children") OR ("Middle school") OR ("High school students")) AND ("educational technology"[MeSH Terms] OR "teaching materials"[MeSH Terms] OR ("technology"[MeSH Terms] AND "health education"[MeSH Terms]) OR (educational technology) OR (teaching materials) OR (Instructional Technology) OR (Technology, Educational) OR (Technology, Instructional) OR (Audiovisual Aids) OR ("Instructional Film and Video") OR (e-learning) OR (Multimedia) OR (mobile phone application) OR (mHealth) OR (Communications Media) OR (Education, Distance) OR (Pamphlets) OR (audio-Video Demonstration) OR (Virtual Reality) OR (Education Resuscitation) OR (web course) OR (serious game))) AND ((Basic Cardiac Life Support) OR "resuscitation"[MeSH Terms] OR "cardiopulmonary resuscitation"[MeSH Terms] OR "heart massage"[MeSH Terms] OR (Resuscitation) OR (Cardiopulmonary Resuscitation) OR (Heart Massage) OR (CPR) OR (B-CPR) OR (CO-CPR) OR (Code Blue) OR (Life Support, Basic Cardiac) OR (Mouth-to-Mouth Resuscitation) OR (cardio pulmonary resuscitation) OR (reanimation) OR (resuscitation orders) OR (cardiac massage) OR (massage, heart))

• *MEDLINE/PubMed: Medical Literature and Retrieval System online via National Center for Biotechnology Information.

Para seleção dos estudos, contou-se com dois revisores independentes, ambos com expertise em SBV e tecnologias educacionais (PKL/RSM). As discordâncias foram gerenciadas por uma terceira revisora (MOM), que emitiu parecer para inclusão e/ou exclusão dos estudos em conflito. Realizou-se pré-teste com os revisores para avaliar a “calibragem” consensual perante a seleção dos estudos. O pré-teste obteve índice de concordância de 94%.

Os resultados foram importados para o EndNote Web onde ocorreu a investigação da duplicidade das referências bibliográficas16. Para análise, seleção e exclusão dos artigos, utilizou-se o software Rayyan (Qatar Computing Research Institute, Doha, Qatar)17.

As publicações foram incluídas ou excluídas primeiramente mediante leitura do título e resumo. Em seguida, foram lidas na íntegra e avaliadas de acordo com os critérios de inclusão/exclusão. Nesse sentido, os textos oriundos da literatura cinzenta tiveram a mesma dinâmica de avaliação (peer review).

Os dados foram extraídos conforme instrumento baseado no modelo disponível no manual JBI11, que foi transcrito para Microsoft Office Excel 365/2022, na forma de quadro sinóptico, cujas variáveis foram: autores, periódico, ano, país, local de estudo, idioma, objetivo, delineamento, nível de evidência, população, tecnologia, resultados, conclusões, referencial teóricos e processo de construção e/ou validação da tecnologia.

Ainda que não seja obrigatória a avaliação da qualidade metodológica dos estudos, optou-se por fazer esta avaliação em função dos dois delineamentos metodológicos identificados. Deste modo, cada estudo incluído teve sua qualidade metodológica avaliada através de dois instrumentos da JBI’s Critical Appraisal Tools18, um para estudos quase-experimentais (com 9 itens) e o outro para artigos experimentais (com 13 itens). Além desta avaliação, os artigos também tiveram seu Nível de Evidência (NE) classificado de acordo com as recomendações de Melnik19.

O processo de triagem e os resultados estão apresentados em figuras e diagramas que acompanham um resumo descritivo das variáveis inquiridas. As tecnologias encontradas foram sintetizadas, a partir da maneira de aplicação, em seis categorias analíticas. Cabe ressaltar que, todas as tecnologias inseridas foram contempladas pelo referencial de Nietsche como sendo tecnologia educacional20.

RESULTADOS

Identificou-se 3.280 publicações, sendo 1.567 na MEDLINE/PubMed, 1.038 na EMBASE, 232 na CINAHL, 40 na LILACS/BVS, 17 na BDENF/BVS, 7 na Web Of Science, 29 na IBECS e 350 no Google Scholar. Após exclusão dos duplicados e aplicação de critérios de inclusão/exclusão, 34 artigos compuseram a amostra conforme fluxograma apresentado na Figura 1.

Figura 1 -
Fluxograma PRISMA- ScR (adaptado) da seleção dos artigos da revisão. Teresina, PI, Brasil, 2022.

Dos 34 artigos, 7 (20,5%) foram publicados na revista Resuscitation, a qual concentrou o maior número de pesquisas sobre a temática. Outros 27 periódicos publicaram entre um e dois estudos. O texto mais antigo é de 1975 e, entre os anos de 2016 e 2019, houve o maior número de publicações, 18 (52,9%).

O continente Europeu concentrou maior número de publicações, com 24 (70,5%) estudos, com destaque para Espanha e Bélgica com cinco (14,7%) cada, seguido do continente Americano, com cinco (14,7%) pesquisas, sendo quatro (11,7%) dos Estados Unidos da América (EUA) e uma (2,9%) do Brasil. Houve três (8,8%) estudos asiáticos, sendo dois (5,8%) da Índia e um (2,9%) da Coreia do Sul; um (2,9%) euroasiático publicado na Turquia e outro (2,9%) de cooperação conduzido por EUA e Suécia (2,9%).

Quanto ao idioma, 28 (82,3%) estudos foram publicados em inglês, quatro (11,7%) em espanhol, um (2,9%) em Húngaro e um (2,9%) em português. Com relação ao delineamento, 18 (52,9%) eram quase-experimentais, com nível III na pirâmide de evidências e 16 (47%) eram ensaios controlados randomizados, sendo nível II.

A avaliação crítica metodológica, indicada pelo instrumento JBI, revelou que os estudos experimentais apesar de atenderem a maioria dos critérios indicados para a avaliação de qualidade, não atendiam itens importantes relacionados à alocação e ao cegamento dos participantes, do pesquisador e dos responsáveis, por fornecer o tratamento e dos avaliadores de resultados. Constatou-se que 14 estudos quase-experimentais atenderam a maioria dos quesitos da avaliação da qualidade apontados pelo instrumento, sendo considerados de boa qualidade. Os principais pontos não atendidos foram relativos à presença de grupo controle e/ou à realização de múltiplas medições.

Os 34 estudos foram dirigidos, em sua totalidade amostral, à 19.878 adolescentes escolares. Destes artigos, 17 (50%) foram realizados com 8.977 alunos do ensino médio, dois (5,8%) com 313 adolescentes do ensino fundamental, dois (5,8%) envolvendo 547 estudantes do ensino fundamental e médio, e em 13 (38,2%) pesquisas não houve descrição do nível escolar dos 10.041 participantes envolvidos.

Apenas dois (5,8%) artigos fundamentaram a construção/desenvolvimento da tecnologia sobre pressupostos de teorias educacionais, sendo a teoria cognitiva da aprendizagem multimídia a única adotada21^-22. Outros dois (5,8%) utilizaram a metodologia “peer learning” no momento de aplicação do teste, apesar de não criarem a tecnologia com base em pressupostos teóricos educacionais23^-24.

Em apenas um (2,9%) estudo há afirmação de que a tecnologia foi validada, porém sem detalhamento deste processo25. Em 21 (61,7%) artigos, não há suficientes esclarecimentos quanto ao processo de validação. Dos 13 (38,2%) que apresentam dados sobre o método de construção, há informações de que são elaboradas por universidades26^-27; conselhos de ressuscitação22^,28^-34; entidades como a Cruz Vermelha24 ou com base em revisão sistemática35.

Todos os estudos se propuseram a aferir o conhecimento teórico e/ou prático em SBV após aplicação das tecnologias. Entretanto, apenas 11 (32,3%) utilizam instrumentos construídos e validados para esta aferição. Estes fizeram com: diretivas do The HANDDS program25; especialistas em pediatria36; diretrizes do Handbook of Competence and Motivation37; instruções do West Midlands38; orientações do “Program for high School Students (PROCES)34 e em seis (17,6%) pesquisas o Cardiff test22^-23^,32^,35^,39^,40 foi adaptado.

Há grande diversidade de tecnologias envolvidas no ensino do SBV para adolescentes. Por este motivo e por apresentarem características operacionais diferentes, sintetizou-se para análise seis categorias: audiovisuais; computacionais; kits de aprendizagem, tecnologias para dispositivos móveis; material impresso; e artigos manufaturados (Figura 2). Todavia, oito (23,5%) estudos enquadraram-se em mais de uma categoria por avaliar o efeito de mais de uma tecnologia22^,24^,32^,39^,41^-44.

Figura 2 -
Categorias e tecnologias educacionais identificadas nos estudos. Teresina, PI, Brasil, 2022.

A categoria audiovisual apresentou o maior número de estudo com 15 (44,1%) publicações. Destas, 10 (29,4%) utilizaram vídeos/filmes/DVDs26^,32^,36^,39^-43^,45^-46, duas (5,8%) verificaram a efetividade da música associada ao vídeo34^,44; duas (5,8%) utilizaram desenhos combinados ao vídeo47 e imagens22 e outra (2,9%) avaliou as narrativas audiovisuais para ensinar SBV ao adolescente48.

Na segunda categoria, identificou-se 11 (32,3%) pesquisas envolvendo tecnologias computacionais. Destas, três (8,8%) avaliaram jogos27^,38^,49; duas (5,8%) abordaram realidade virtual43^,50; três (8,8%) examinaram web cursos e/ou cursos com Ensino a Distância (EAD)31^,41^,51; duas (5,8%) testaram programas interativos de computador28 e software computacional52, e uma (2,9%) avaliou a aprendizagem baseada em aplicativos para computador53.

Na terceira categoria, mapeou-se 9 (26,4%) estudos que utilizaram kits para aprendizagem e autoaprendizagem em SBV24^-25^,29^,33^,35^,39^,44^,54^-55. Estes eram compostos, na maioria dos estudos, por Vídeos/DVDs e manequins. Outros continham aplicativos de celular para feedback das compressões39, manuais55, cartões de tarefa24, folhetos instrucionais33 e música para orientar a velocidade das compressões44.

A quarta categoria incluiu quatro (11,7,8%) publicações com tecnologias para dispositivos móveis23^,32^,39^,56. Nesse sentido, um estudo avaliou o aplicativo (App) “StartnHart”, que combinava vídeos e textos para instruir o espectador a realizar SBV23; outra verificou se o App “HELP Notfall” aumentava a qualidade da RCP de espectadores56; uma pesquisa comparou um aplicativo móvel e o vídeo32, e outro estudo utilizou o aplicativo de smartphone “PocketCPR” para aferir as habilidades práticas adquiridas pelos participantes de um curso de SBV39.

Na quinta categoria, foram incluídos três (8,8%) artigos que avaliaram o uso de material impresso para educação em SBV21^,22^,24. Um estudo avaliou a importância do design de ferramentas instrucionais mediante cartões de tarefa21; outro verificou a eficácia dos cartões de tarefas associados ao vídeo24 e uma pesquisa investigou se aprendizagem do SBV a partir das imagens produz resultados de aprendizagem superiores ao vídeo22. Não foram identificadas tecnologias que evidenciassem o uso de histórias em quadrinhos, cartilhas e folders. Entretanto, há manuais impressos e folhetos instrucionais como tecnologias complementares aos kits de aprendizagem33^,55.

Na sexta categoria, mapeou-se dois (5,8%) estudos que utilizaram tecnologias manufaturadas24^,42. No primeiro estudo, utilizou-se um manequim customizado para avaliação da aprendizagem em RCP após ensino guiado por vídeo42. No segundo, um manequim de espuma e sacos plásticos para ensinar compressões e ventilações24. Em ambos os estudos, essas tecnologias não foram utilizadas isoladamente.

No Apêndice I e na OSF (https://doi.org/10.17605/OSF.IO/P87SV), pode ser vista uma síntese completa das produções mapeadas. Esta contém ano, autor, país, nível de evidência, avaliação metodológica, objetivo, tecnologia educacional/ categorias, principais resultados e conclusões envolvendo as tecnologias educacionais para ensinar SBV aos adolescentes.

DISCUSSÃO

São escassas as pesquisas que envolvem o uso de tecnologias educacionais para abordagem em saúde com jovens57. Neste sentido, esta revisão de escopo mapeou as tecnologias sobre SBV para adolescente. Os achados revelaram que as tecnologias educacionais mais utilizadas são as audiovisuais, tais como: vídeo, DVDs, filmes e músicas.

Dentre os resultados positivos envolvendo as tecnologias audiovisuais, citam-se: melhora no conhecimento teórico26^,34^,36^,39^,42^-44, equivalência ao ensino tradicional41, aumento de ganhos em habilidades práticas32^,36^,44^-46 e ampliação da intenção e confiança para reanimar39^,40^,42. Entretanto, não é consenso que ocorre aumento em habilidades pós-intervenção26^,32. Além disso, uma pesquisa evidenciou que o efeito do esquecimento aparece mais rápido quando o vídeo é utilizado para ensinar SBV à distância41.

Para atenuar o efeito do esquecimento dentro desta categoria, podem ser oferecidas revisões periódicas58 e a combinação de recursos audiovisuais para complementar o treinamento conduzido por instrutor32^,40^,42^,43^,45. Neste sentido, podem ser utilizados mecanismos de feedback e músicas, uma vez que favorecem a memorização e retenção de conhecimento34^,44.

Dentre as tecnologias que envolviam o uso de computadores, mapeou-se jogos educativos, realidade virtual, web cursos, softwares e aplicativos. Os artigos que avaliaram jogos educativos e treinamento com realidade virtual aconselham seu uso combinado ao treinamento tradicional38^,50 com foco no público jovem27, pois proporcionam mudança significativa da confiança para realizar RCP43^,50.

Por outro lado, apesar do jogo educativo ter melhorado a qualidade da prática de RCP27, ele não proporcionou percentis de compressão torácica dentro da margem recomendada pela AHA38^,49. E mesmo com o incremento no conhecimento teórico após a realização web cursos e/ou cursos EAD41, não houve elevação significativa das habilidades práticas51.

No entanto, descobriu-se que estas limitações podem ser atenuadas quando se utilizam programas interativos de computador com feedback de instrutor28 ou software computacional com feedback eletrônico52. Ainda com o uso de softwares, há limitações nas práticas relacionadas à ventilação28. Constata-se, portanto, que as tecnologias computacionais demandam enfoque no ensino da prática para aprimorar as habilidades de RCP.

Os Kits demostraram que adolescentes, muito além da passividade de recepção do treinamento, podem ser instrutores de RCP25^,33^,35^,54. Os kits aumentaram os acertos sobre SBV25^,29^,35^,39^,44^,59, assim como a intenção59, confiança e capacidade de agir39. Não obstante, mesmo havendo melhora na prática de RCP44, boa retenção imediata29 e a longo prazo29^,44^,55, recomenda-se o ensino prático no formato presencial de RCP39^,55^,59.

Dentre as limitações envolvendo kits, citam-se: o custo, a não avaliação do treinamento dado por adolescentes à comunidade e os baixos percentis de acertos para realizar técnicas de ventilação, verificação de sinais vitais e abertura de via aérea24^,35^,55. Entre os pontos positivos, são apontados seu poder de disseminar instruções a grandes públicos30^,35 e a dispensa de um profissional da saúde para ministrar o curso.

Em função dos benefícios advindos desta modalidade de treinamento, sugere-se, para transpor as barreiras mencionadas, que os kits contenham vídeos instrutivos e que o manequim de RCP seja compartilhado25. Também podem ser utilizados equipamentos alternativos para ensinar RCP apenas com as mãos24, uma vez que esta adaptação pode gerar facilidade no treinamento em massa29.

Os artigos com tecnologias para dispositivos móveis revelam que o aplicativo é a ferramenta mais utilizada. Porém, mesmo com melhora nas taxas de profundidade de RCP feita por adolescentes32^,56, sobretudo quando é utilizado para dar feedback de profundidade39, há significativas orientações que contraindicam seu uso.

Se o aplicativo é utilizado de modo síncrono à condução da PCREH56, ele não motiva a realização de RCP23; atrasa o tempo para pedir socorro, identificar precocemente a PCR e realizar a primeira compressão; e tem efetividade inferior às tecnologias economicamente mais acessíveis32.

Se por um lado, os Apps identificados nesta revisão não tiveram bom desempenho no processo de ensino do SBV, por outro lado há evidências de que, quando são utilizados como dispositivo de alerta, acionam pessoas que rapidamente prestam assistência, gerando, portanto, melhora nos índices de sobrevivência60.

Apenas um estudo evidenciou que o grupo instrução por vídeo com feedback de App de celular e prática de manequim obteve maiores pontuações e confiança na capacidade de agir39. Nesse sentido, o uso de aplicativos para ensino do SBV mediante dispositivos móveis justifica-se quando ele é aplicado como tecnologia complementar ao ensino tradicional ou quando é utilizado como instrumento de feedback de compressão.

Foram poucos os estudos que utilizaram material de impressão. Sendo que dois21^,24 adotaram cartões de tarefa e uma pesquisa investigou se a aprendizagem de SBV a partir do vídeo produzia resultados superiores às imagens. Como reportado, alguns kits de aprendizagem continham manuais, cartões de tarefa e folhetos instrucionais.

Acredita-se que, por meio do advento da tecnologia digital, materiais impressos estão sendo substituídos por tecnologias de alto custo e baixa dispersão. Entretanto, esta revisão apontou que nem tudo que é digital ou tecnológico é eficiente38^,53. Neste sentido, antes da escolha de uma tecnologia, deve-se avaliar sua necessidade, custo, efetividade e usabilidade.

As pesquisas que envolveram cartões de tarefa tiveram resultados antagônicos. No primeiro estudo envolvendo este material impresso, ao adotar o princípio da contiguidade espacial, identificou-se melhoras de aprendizagem sobre o volume e taxa de ventilação21. Pesquisadores apontam que a produção dessas ferramentas abre possibilidades, pois trata de recurso visual com informações claras e atrativas que podem ser facilmente visualizadas e capazes de proporcionar a assimilação do conteúdo61.

O segundo estudo, ao combinar os cartões de tarefa com outras tecnologias, porém sem fundamentação de teorias educacionais, identificou que os resultados das práticas revelaram menor volume de ventilação, profundidade e velocidade de RCP24. O Conselho Europeu de Ressuscitação esclarece que o ensino da ventilação é complexo e deve ser encorajado somente para pessoas treinadas neste procedimento62. Além da exclusão do ensino da ventilação para leigos, instituições como AHA não orientam a verificação de pulso central, uma vez que a tentativa frustrada desta aferição pode retardar manobras de RCP3.

Ao aferir os efeitos de ensino e aprendizagem das imagens em comparação com o vídeo, constatou-se que as imagens não são inferiores ao vídeo22. Esta revisão de escopo observou que, quando as tecnologias foram elaboradas de acordo com teorias educacionais, elas geraram bons resultados de aprendizagem21^-22. É válido ressaltar que, a abordagem do Conselho Europeu de Reanimação agrupa teorias educacionais como um dos princípios da ciência de ressuscitação62.

As tecnologias manufaturadas identificadas nesta pesquisa foram construídas com o intuito de constatar se equipamentos de baixo custo são efetivos para ensinar RCP. Os dois estudos que utilizaram estes artefatos convergiram ao apontar que, mesmo proporcionando elevação de conhecimento42 e retenção de aprendizagem em longo prazo24, são inferiores ao método tradicional de ensino24^,42.

Estes achados corroboram com os dados encontrados em uma pesquisa sobre programa Kids Save Lifes (KSL). O KSL objetiva disseminar, por meio de matérias de baixo custo, princípios da RCP entre crianças em idade escolar. Entretanto, os beneficiados apresentam baixo conhecimento, habilidades e retenção de conhecimento63.

Do mesmo modo, pesquisa realizada na Espanha evidenciou que as tecnologias de baixo custo foram capazes de aumentar o nível de conhecimento dos alunos sobre RCP porém, após dois meses de treinamento, houve queda do nível de conhecimento64. Neste contexto, surge a necessidade de identificar ou até mesmo elaborar novos estudos que possam revelar tecnológicas que gerem conhecimento e habilidade, mas que estejam associados a melhores índices de retenção de aprendizagem.

Outro dado que chama atenção diz respeito ao processo de construção e validação das tecnologias utilizadas. A maioria dos estudos não esclarece como e se foi realizada essa etapa. No mesmo sentido, apesar de terem a pretensão comum de aferir os benefícios da tecnologia sobre o conhecimento teórico e prático, inclusive sobre o mesmo tema, a maioria dos estudos não utiliza instrumentos comuns que permitam comparação válida e reprodutível entre as pesquisas. Assim, o que é considerado um bom conhecimento e/ou prática em RCP em determinado estudo, pode não ser para outro.

Por motivo semelhante, uma pesquisa do tipo revisão sistemática encontrou dificuldades para estabelecer qual o momento ideal para realização de intervenção em emergência. Dentre os motivos apontados, cita-se a baixa qualidade metodológica dos estudos que não adotavam variáveis generalizáveis passíveis de comparação interestudo65. Ao considerar que qualquer teste precisa ser reprodutível, sugere-se o desenvolvimento de instrumentos padronizados para aferição de conhecimento e prática em SBV.

CONCLUSÃO

Essa revisão de escopo possibilitou mapear as tecnologias educacionais sobre suporte básico de vida para adolescentes. Os estudos revelaram que este tema é publicado desde 1975, sobretudo por revistas médicas, cujo autores são, principalmente, europeus e norte-americanos. As pesquisas foram feitas por meio de ensaios experimentais e quase-experimentais, com qualidade metodológica variável, dirigidas predominantemente para estudantes de nível médio.

Dentre as tecnologias mapeadas, citam-se: vídeos, filmes, DVDs, imagens, músicas, narrativas audiovisuais, jogos, realidade virtual/avatar, web cursos, software computacional, aplicativos para computador e smartphone, cartões de tarefa e manequins (incluído os manufaturados). Embora haja inúmeras tecnologias educacionais sobre SBV para adolescentes, estas não têm proporcionado o alcance de bons níveis de habilidade práticas, principalmente quando se propõem a ensinar ventilação para leigos.

As lacunas dos estudos são o não detalhamento do processo de construção e validação das tecnologias e dos instrumentos que aferiram conhecimento e prática, a não adoção de embasamento teórico no processo de desenvolvimento, o baixo número de pesquisas na América Latina, a ausência de publicações desta temática no continente africano e a limitada quantidade de estudos que avaliaram tecnologias de baixo custo.

Sugere-se, portanto, que sejam elaborados novos estudos envolvendo tecnologias educacionais feitas com base em processo reprodutível de construção, validação e aferição da efetividade. Propõe-se também que, ao aplicar estas tecnologias, seja oportunizado o treinamento para o aumento de habilidades práticas para que este conhecimento seja traduzido de forma consistente em cuidados clínicos com pacientes reais.

AGRADECIMENTO

Agradecemos as professoras Ana Maria Ribeiro dos Santos, Márcia Teles de Oliveira Gouveia e Fernanda Valéria Silva Dantas Avelino pelo apoio intelectual dado na construção deste artigo.

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NOTAS

• ORIGEM DO ARTIGO

  Construído com base no protocolo de revisão de escopo - “Tecnologias educacionais sobre suporte básico de vida para adolescentes: protocolo de scoping review,” publicado na Open Science Framework: https://doi.org/10.17605/OSF.IO/P87SV.

Editado por

EDITORES

Editores Associados: Gisele Cristina Manfrini, Maria Lígia dos Reis Bellaguarda. Editor-chefe: Elisiane Lorenzini.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  05 Jun 2023
• Data do Fascículo
  2023

Histórico

• Recebido
  21 Dez 2022
• Aceito
  04 Abr 2023