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Acompanhamento da vida escolar dos alunos ingressantes no curso de graduação em enfermagem numa escola brasileira: período 1984 a 1988

Completion of undergraduate nursing training at a Brazilian nursing college from 1984 to 1988: período 1984 a 1988

Acompañamiento de la vida escolar de los alumnos ingresantes en el curso de graduación en enfermería en una escuela brasileña

Resumos

Foi realizado um estudo da vida escolar dos alunos que se matriculavam na EERP-USP nos anos de 19840 1988, num total de 336 alunos, visando identificar a forma de ingresso, egressão e tempo deformação. Através de um levantamento identificou-se todos os que se matricularam em cada ano, procedendo a análise e acompanhamento de cada aluno, até sua saída da Escola. Durante o período estudado, 197 (58,6%) alunos concluíram o curso; 2 permaneceram cursando e 137 (40,7%) evadiram-se. Desses, 26 (7,7%,) se transferiram; 15 (4,4%,) trancaram a matrícula e 96 (28,5%) abandonaram o curso.

educação em enfermagem; recursos humanos em enfermagem; evasão


An investigation of professional nursing training was carried out by examining the time spent in nursing school of the 336 students registered at the Nursing College of Ribeirão Preto at University of São Paulo from 1984 to 1988. The data showed that during this time 197 (58.6%) students graduated, two students were still enrolled, 26 (7.7%) transferred to other schools, 15 (4.4%) officially interrupted their course of study, and 96 (28.5%) abandoned the school.

nursing education; nursing staff student; dropouts


Fue realizado un estudio de la vida escolar de los alumnos que se matriculaban en la EERP-USP en los años 1984 a 1988, en un total de 336 alumnos, procurando identificar informa de ingreso, egreso y tiempo de formación. A través de un levantamiento se identificó a todos los que se matricularon en cada año, procediendo a un análisis y acompañamiento de cada alumno, hasta su salida de la escuela. Durante el período estudiado, 197 (58,6%) alumnos concluyeron el curso; 2 permanecieron cursando y 137 (40,7%) se evadieron. De esos, 26 (7,7%) se transfirieron; 15 (4,4%,) palarizaron momentaneamente sus estudios y 96 (28,5%) abandonaron el curso.

educación en enfermería; recursos humanos en enfermería; evasión


ARTIGO ORIGINAL

Acompanhamento da vida escolar dos alunos ingressantes no curso de graduação em enfermagem numa escola brasileira - período 1984 a 19881 1 Projeto subvencionado pelo CNPq

Completion of undergraduate nursing training at a Brazilian nursing college from 1984 to 1988

Acompañamiento de la vida escolar de los alumnos ingresantes en el curso de graduación en enfermería en una escuela brasileña - período 1984 a 1988

Daisy Leslie Steagall GomesI; Emília Luigia Saporiti AngeramiII; Iranilde José Messias MendesIII

IProfessor Associado do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Brasil.

IIProfessor Titular do Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Brasil.

IIIProfessor Doutor do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Brasil - Membro do Grupo de Investigação em Recursos Humanos da EERP-USP, Brasil.

RESUMO

Foi realizado um estudo da vida escolar dos alunos que se matriculavam na EERP-USP nos anos de 19840 1988, num total de 336 alunos, visando identificar a forma de ingresso, egressão e tempo deformação. Através de um levantamento identificou-se todos os que se matricularam em cada ano, procedendo a análise e acompanhamento de cada aluno, até sua saída da Escola. Durante o período estudado, 197 (58,6%) alunos concluíram o curso; 2 permaneceram cursando e 137 (40,7%) evadiram-se. Desses, 26 (7,7%,) se transferiram; 15 (4,4%,) trancaram a matrícula e 96 (28,5%) abandonaram o curso.

Descritores: educação em enfermagem, recursos humanos em enfermagem, evasão

ABSTRACT

An investigation of professional nursing training was carried out by examining the time spent in nursing school of the 336 students registered at the Nursing College of Ribeirão Preto at University of São Paulo from 1984 to 1988. The data showed that during this time 197 (58.6%) students graduated, two students were still enrolled, 26 (7.7%) transferred to other schools, 15 (4.4%) officially interrupted their course of study, and 96 (28.5%) abandoned the school.

Descriptors: nursing education, nursing staff student, dropouts

RESUMEN

Fue realizado un estudio de la vida escolar de los alumnos que se matriculaban en la EERP-USP en los años 1984 a 1988, en un total de 336 alumnos, procurando identificar informa de ingreso, egreso y tiempo de formación. A través de un levantamiento se identificó a todos los que se matricularon en cada año, procediendo a un análisis y acompañamiento de cada alumno, hasta su salida de la escuela. Durante el período estudiado, 197 (58,6%) alumnos concluyeron el curso; 2 permanecieron cursando y 137 (40,7%) se evadieron. De esos, 26 (7,7%) se transfirieron; 15 (4,4%,) palarizaron momentaneamente sus estudios y 96 (28,5%) abandonaron el curso.

Descriptores: educación en enfermería, recursos humanos en enfermería, evasión

INTRODUÇÃO

O interesse pela dinâmica na formação de recursos humanos em enfermagem é reconhecido mundialmente. BERGMAN (1990), no seu estudo sobre evolução na investigação em enfermagem, localiza as primeiras pesquisas na área de recursos humanos no sentido de responder a questão: quantos somos?

Essa preocupação aparece no Brasil desde o ano de 1957, ocasião em que se realizou o Levantamento de Recursos Humanos em Enfermagem - ABEn (ABEn, 1980). Em 1963, ALCÂNTARA aprofunda esse conhecimento identificando os obstáculos à expansão da enfermagem moderna na sociedade brasileira.

Em 1985, o Conselho Federal de Enfermagem e a Associação Brasileira de Enfermagem (COFEn/ABEn, 1986), realizaram relevante investigação em nível nacional para dimensionar a força de trabalho em enfermagem. Esse estudo foi reproduzido em cinco países da América Latina compondo um banco de dados da maior importância para compreensão das questões da enfermagem (OPS, 1988).

Uma breve revisão dos documentos citados nos mostra que em 1957 a situação brasileira era de um reduzido número de candidatos não preenchendo, nas escolas, as vagas existentes. ALCÂNTARA (1963) conclui que, entre outros fatores, destaca-se o fato de ser a enfermagem uma profissão feminina e de pouco prestigio e a multiplicação de escolas de enfermagem como tentativa de solução não produziu o resultado esperado.

CARVALHO, em 1970, mostrava que havia no país trinta cursos de enfermagem, totalizando 3.195 vagas, tendo sido preenchidas 2.527 delas (79,1%).

O mesmo estudo aponta para outros aspectos do fenômeno da escassez profissional, e a evasão de estudantes. Segundo essa autora, houve, em 1969, a matrícula de 2.085 alunos, havendo 122 (5,9%) desistências, sendo o maior número no primeiro ano, e o menor no quarto ano. Os motivos relatados entre outros foram problemas de família, doenças e mudança da área de estudos.

Entendemos que a dinâmica na formação de Recursos Humanos deve ser estudada nos seus aspectos de formação (procura, permanência e evasão) e do mercado de trabalho (criação de cargos, salários, permanência e rotatividade); no entanto, para o seu aprofundamento e compreensão, é necessário realizar recortes que possibilitem a análise específica.

A evasão tem merecido uma atenção especial nestes últimos anos e parece não ser um fenômeno específico da enfermagem, assim é que a Universidade de São Paulo tem se preocupado com este fato. O então Reitor, LOBO E SILVA FILHO (1993b) expressou sua apreensão ao constatar uma evasão na Universidade de São Paulo de 30%, 40% de seus alunos de graduação, afirmando ser a evasão mais que um motivo burocrático e estatístico, mas causa de preocupação. Por esse motivo elaborou um projeto sobre evasão nesta Universidade para estudo e análise do problema em suas Unidades de ensino.

Especificamente na enfermagem, embora escassos, alguns pesquisadores têm procurado verificar como este fenômeno vem se comportando.

Em 1988, durante o Fórum de Debates "Ensino e Mercado de Trabalho em Enfermagem" NAKAMAE (1988) relata que em sua unidade no período de 1980 a 1987, houve 306 desligamentos por motivos distintos, desligamentos mais freqüentes no primeiro semestre (44%) e decrescendo no segundo semestre (20%), terceiro semestre (17%) e quarto semestre (8%). No mesmo encontro, estudos similares foram apresentados por GIMENES, CALDEIRA, DALMATURGO (1988), sendo que esta última autora introduz a chamada "evasão branca", caracterizada por ela corno sendo a dos alunos que freqüentam o curso, mas não querem exercer a profissão.

Outros estudos têm se preocupado em detectar as causas de evasão sem entretanto dimensioná-las. Nesse sentido encontramos o relatório do Encontro de Evasão do Curso de Graduação em Enfermagem Anna Nery realizado em 1988 (MURICY E CORTEZ , s.d.),o estudo da mesma escola realizado por BAPTISTA (1988) e o de RODRIGUES et al. (s.d.) que abordam o problema do ponto de vista dos estudantes.

Assim é que neste trabalho os autores abordam alguns aspectos da vida escolar de estudantes da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - USP, quanto a forma de ingresso, egressão e duração do curso.

OBJETIVO

Estudar a vida escolar de todos os alunos que se matricularam no curso de graduação em enfermagem da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo - EERP-USP, de fevereiro de 1984 a fevereiro de 1988; identificando as formas de ingresso ao curso, modalidade de saúde: trancamento, transferência, evasão, formatura; e situação dos alunos remanescentes após oito semestres do curso (tempo regulamentar de formação).

MATERIAL E MÉTODO

O trabalho foi realizado com alunos que fizeram sua matrícula no curso de graduação em Enfermagem na EERP-USP, no início dos anos, durante o período de 1984 a 1988, acompanhando-os durante os 4 anos de curso, estendendo essa observação até 1991, quando do período de conclusão da última turma matriculada no início de 1988.

A matrícula inicial para este estudo, foi considerada a de fevereiro de cada ano.

A escolha dessas turmas obedeceu a um critério administrativo e não atendeu a nenhuma condição especial.

O curso de graduação em enfermagem tem seu mínimo de duração estabelecido por lei em oito semestres letivos, ministrados em quatro anos, correspondendo a 180 dias anuais (BRASIL, 1968). As formas pelas quais os candidatos têm acesso à matrícula são: exame de seleção FUVEST (Fundação de Vestibular do Estado de São Paulo), transferências de outras escolas de enfermagem, convênio cultural com outros países*, porte de outros títulos universitários. Ainda encontram-se alunos que interromperam o curso em determinado momento e retomam para continuidade e enfermeiros que se matriculavam no 7º semestre para as habilitações em saúde pública ou médico-cirúrgica, situação que permaneceu até 1989 na EERP-USP.

As matrículas são feitas semestralmente, renovando-as durante os anos do curso, sendo uma em fevereiro e a outra no mês de julho de cada ano.

Aos alunos reprovados fica assegurado o direito de se matricularem novamente. A sua permanência na Universidade é permitida por um período de sete anos (14 semestres) (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 1988).

A saída do curso pelo aluno ocorre por abandono, trancamento total da matrícula (neste processo fica garantido o direito de voltar a rematricular-se), transferências para outras escolas de enfermagem e conclusão do curso pela integralização de créditos e conseqüente diplomação de enfermeiro.

Há ainda aqueles alunos que "caem" de turma e que permanecem fazendo o curso, e que neste trabalho recebem o nome de remanescentes.

Para esse trabalho procedeu-se a listagem de todos os alunos que se matricularam no período dos anos de 1984 a 1988, anotando de cada um deles, o ano e a forma de matrícula, fazendo um acompanhamento individual da sua passagem pelo curso, identificando a sua forma de egressão, se chegou a conclusão do curso e o tempo despendido para a conclusão do curso.

Assim sendo o estudo caminhou de fevereiro de 1984, a primeira turma, a 1988, quinta turma, finalizando as observações com o 8º semestre desta última turma, ou seja, 1991.

Os dados foram obtidos na Seção de Graduação da EERP-USP.

RESULTADOS

DISCUSSÃO

O estudo da vida escolar dos alunos que se matricularam no período de 1984 - 1988 na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto como mostra a Tabela 1, identificou 336 alunos ingressantes, através das diversas formas de matrícula, já descritas, prevalecendo a via de seleção FUVEST.

O número de vagas para matricula inicial em cada ano é de 80 alunos. Como pode ser observado nesta Tabela, quanto a ingresso nos anos de 1987 e 1988 preencheram-se apenas 33 e 31 vagas respectivamente o que significou 41,2% e 38,7% de ocupação e um saldo de 96 vagas ociosas de entrada por vestibular.

A baixa procura dos cursos de enfermagem é um problema discutido desde a implantação da enfermagem profissional no Brasil, em 1923, tendo como conseqüência um número insuficiente de profissionais para exercerem a prática (ABEn 1980, COFEn, ABEn 1985).

Na década de 70, com a institucionalização em nível nacional dos vestibulares unificados, parecia ter sido resolvida a questão do preenchimento de vagas nas Escolas de Enfermagem.

Em 1986, as Universidades Brasileiras são surpreendidas por um número crescente de vagas ociosas e entre os cursos que passavam por esta dificuldade, encontrava-se a enfermagem (RABINOVITCH et al., 1987).

A estratégia utilizada para superar essa crise foi o da abertura de novos vestibulares no mesmo ano para preenchimento das vagas. Na Universidade de São Paulo esse processo foi utilizado em 1936 e 1989. No ano de 1988 foi experimentada a chamada "reopção" significando que os alunos da mesma área - biológica, exata ou humana - que não haviam conseguido vagas nas carreiras escolhidas, mas tendo sido aprovados, poderiam escolher outra faculdade da mesma área onde houvesse vagas**.

Na EERP-USP, realizou-se no ano de 1986 uni segundo vestibular, permitindo a entrada de mais 68 alunos, completando, com os 12 do 1º exame, as 80 vagas.

No ano de 1988, foi realizado o processo da reopção, o que garantiu a entrada de mais 13 candidatos que, somados aos 13 que já haviam ingressado, totalizaram 31 ingressantes, como é mostrado na Tabela 1.

Além dessas estratégias de ingresso, persistindo a existência de vagas, seriam aceitos alunos transferidos de outras escolas de enfermagem ou que já tivessem um curso superior, além dos estudantes-convênios. Assim sendo, no período em estudo, tivemos 21 estudantes nessas condições.

Os alunos chamados "irregulares" *** *** Alunos "irregulares" são definidos na EERP-USP, aqueles que foram reprovados e voltaram a se matricular. correspondendo a 05 são os estudantes oriundos de períodos anteriores ao ano de 1984.

A habilitação, representada pelos alunos que procuram a escola no 7º semestre para as habilitações médico-cirúrgica e saúde pública, considerando que a revisão curricular extinguiu esta modalidade, teve uma pequena participação com 6 estudantes nessa categoria, durante todo o período estudado.

A Tabela 1, relativa a ingressos, mostra que neste período a Escola contou com uma entrada de 336 estudantes não preenchendo o planejamento da Unidade de obter 400 alunos para preencher todas as vagas.

Ainda na mesma tabela, quanto aos egressos identifica-se um total de 137 (40,7%) desligamentos. Destes, 96 alunos (70,0%) abandonaram o curso, sendo um dado altamente preocupante, superando os que se transferiram ou trancaram a matrícula.

O processo do trancamento por um período máximo de 7 anos, possibilita o retomo ao curso quando o interessado desejar, e ocorreu com 15 (10,9%). A transferência, que ocorreu com 26 alunos (19,0%), significa a sua mudança para outra unidade onde continuará o curso, o que leva a considerá-los com probabilidade de finalizarem seus estudos, o que não acontece com os que abandonaram.

Estes dados têm um significado importante se pensarmos que o aluno enfrentou um exame de seleção, matriculou-se num curso e até cursou alguns semestres para, em seguida, abandoná-lo dentro da maior Universidade do Pais, a Universidade de São Paulo.

Esta evasão representa grandes perdas não só de recursos humanos e materiais que foram despendidos ao longo desse processo, mas também a perda de um produto que já estava sendo trabalhado.

Ressaltamos que a evasão abrange uma faixa da população jovem que tem um potencial a ser desenvolvido e que muitas vezes fica à margem de um processo de escolarização.

Lembrando que a renda "per capita" do País fica em torno de 2000 dólares por ano e o estudante da Universidade de São Paulo custa em média 6000 dólares para um mesmo período (LOBO E SILVA FILHO, 1993a), dá para sentir o quanto significaram estas perdas de recursos e de potencial humano mantidos com recursos públicos, que representam a participação da sociedade através de seus impostos.

A evasão toma-se mais preocupante, quando paralelo a ela existe a baixa procura pelo curso, como já foi assinalado, significando baixa oferta de profissionais para o mercado de trabalho.

A última coluna mostra os 33 remanescentes, que por reprovações, permanecem na unidade e deverão cumprir o seu período de estudo em um tempo maior de 8 semestres.

Analisando esses fatos, quanto ao semestre de sua ocorrência, observa-se que a transferência de alunos, que é percentualmente pequena 26 (7,7%), foi significativa para o 3º e 4º semestres quando ocorreram 18 casos do total.

O estudo de SANTOS et al. (1992) refere que este é um fato constatado pelas Comissões de Graduação, ou seja, que os semestres iniciais do curso representam um período mais importante para a permanência ou não dos alunos. O citado "Choque do primeiro semestre" é aceito como decorrência do momento em que o aluno troca de ambiente de estudos, mudança de vida e desilusão com a escolha, além da troca de amigos, de cidade e o afastamento da família.

Quanto ao abandono, verifica-se um total de 96 estudantes, também concentrando-se nos primeiros semestres, só que destes casos, 52 (54,1%) ocorreram no segundo semestre, levando a questionar se os vestibulares duplos e os remanejamentos contribuíram para a solução do problema. O estudo de BAPTISTA (1988) e o de RODRIGUES et al. (s.d.) corroboram na explicação dessas ocorrências, ao manifestar sobre o quanto da insatisfação pela fritura profissão está presente nessas atitudes dos alunos frente ao curso.

É conhecido o problema da escolha da profissão pelos jovens e o desajustamento ao sair da família e o desconhecimento da profissão escolhida. Entretanto, o estudo de MISHIMA (1990) mostra que, pelo menos na área pesquisada, há uma rejeição pela enfermagem, destacando-se o desprestígio da profissão. Considerando que o ingresso é de baixa competitividade, é provável que os jovens tentem a profissão e, ao não adaptarem-se como mostra o estudo de MIRANDA, SAUTHIER (1989), busquem novos caminhos deixando vagas nas Universidades podendo haver repercussões no mercado de trabalho.

SANTOS et al. (1992) alertam que na USP, o fato de ser o horário diurno e noturno ou a localização da Unidade no interior ou capital não se constituíram fator de desligamento, mas sim o curso envolvido. Em 1985, a mediana de porcentagem de evasão na USP foi de 32,5% sendo que a EERP-USP teve 50,6% flutuando para 30,0% e 41,6% nos anos subseqüentes, segundo esses autores.

Em resumo, podemos dizer que houve uma perda de 26 estudantes por transferência, 15 por trancamento, 96 por abandono, perfazendo 137 (40,7%) estudantes perdidos no período de 1984 a 1988, dos 336 matriculados.

A egressão por trancamento total, foi de 15 alunos, (10,9%). Este tipo de saída, ocorreu com maior freqüência no segundo e terceiro semestres, como vem acontecendo nas outras modalidades de abandono, apresenta uma expectativa favorável cm relação às demais formas, pois permite pensar que o aluno está se afastando por algum motivo pessoal e que pretende retornar superada a dificuldade do momento.

Na Tabela 2 pode-se observar o resultado final, ou seja, o objetivo da instituição que é a formação do profissional. Neste período, 197 (58,6%) alunos concluíram o seu curso. Dos 139 (41,3%) que não concluíram, 137 foram egressos por abandono, transferência e trancamento de matrículas. Os outros dois, permaneceram após o período de estudo, podendo ter concluído o curso em outras turmas.

É permitido ainda fazer uma avaliação em relação aos programas especiais de ingresso de vestibular ocorridos em 1986 e 1988, quando houve uma queda muito grande de candidatos. No primeiro vestibular de 1986 ingressaram 12 estudantes, o que levou a realizar o segundo vestibular, obtendo-se mais 68 candidatos que, somados aos demais, totalizaram 80 alunos. No entanto, acompanhando este grupo por um período de 4 anos, observa-se que dos 12 (1º vestibular) 11 se diplomaram e dos 68 (2º vestibular) apenas 32 (47,0%) chegaram à diplomação. Os demais ficaram entre os que abandonaram (22), trancamento (5), transferência (5) e reprovados (10).

O ano de 1988 foi caracterizado novamente pela baixa procura, 18 candidatos. Houve a chamada reopção e 13 matrículas foram feitas totalizando 31 alunos. Acrescentando-se os que ingressaram por outras formas, obtiveram-se 41 alunos. No decorrer do período, 17 abandonaram, 01 trancou, 03 se transferiram e outros 02 foram reprovados. Este grupo foi o que apresentou a maior porcentagem de evasão: 37,7%.

Dentre os 31 que entraram pelo vestibular, 18 eram da primeira turma, desses se formaram 10 (52,6%) e dos 13 da reopção, 2 concluíram (15,3%).

Como se observa, no período estudado as tentativas de preenchimento de vagas através de formas alternativas, aumentaram o fenômeno da evasão, como se observou no grupo de 1988, que foi o maior índice 3 7,7% por abandono, não havendo aumento de concluintes. O que se verificou foi que os alunos de 1ª opção chegaram ao final em quase sua totalidade.

O tempo gasto pelos formandos para conclusão do curso, como foi apresentado na Tabela 3, variou de 8 semestres (mínimo permitido) como o maior número de pessoas 161 (81,7%) seguindo-se os que utilizaram 10 semestres 26 (13,3%), 12 semestres 4 (2,0%), e 2 permaneceram 14 semestres, ou seja, 7 anos (1,0%). Ainda temos 4 alunos que cursaram apenas habilitação. Vale ressaltar que até o ano de 1988 o aluno reprovado cursava novamente no semestre seguinte a disciplina, não havendo portanto perda do ano ou do semestre. A partir de 1989 essa legislação foi alterada, portanto o quadro futuro poderá ser alterado. Estudos de acompanhamento poderão comprovar essa hipótese.

Durante a coleta de dados, foi sentida a necessidade de se dispor de um sistema de registro da vida escolar, dos alunos, com as informações de acesso rápido e eficiente, facilitando levantamentos futuros.

CONCLUSÃO

O estudo da vida escolar de estudantes do curso de graduação em enfermagem dos alunos matriculados entre 1984 e 1988 na EERP/USP mostrou que:

- O número de alunos que concluíram o curso neste período foi de 197, 58,6% do total que ingressou.

- No período estudado houve uma evasão de 137 (40,7%) estudantes, que pode ser considerada elevada em comparação aos outros cursos da mesma Universidade.

- A evasão de alunos foi mais freqüente no 2º, 3º e 4º semestres do curso.

- A egressão representou: por abandono 96 (28,5%); por transferência 26 (7,7%); por trancamento 15 (4,4%).

- O tempo gasto para obtenção do título de enfermeiro variou de 8 a 14 semestres de curso.

- O número de matricula inicial não chegou a preencher o total de vagas em todos os anos, o que, no conjunto, representou um saldo de 64 (16,0%) vagas não preenchidas para os 5 anos estudados.

- As estratégias de preenchimentos de vagas por segundo vestibular e por reopção não asseguraram a permanência no curso e nem garantiram aumento considerável de concluintes.

Diante do que foi evidenciado e a consideração do grave problema social, econômico e educacional que representou a evasão identificada, é permitido sugerir que novos estudos sejam realizados a nível nacional e internacional o que viria permitir a generalização do fenômeno.

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  • 1
    Projeto subvencionado pelo CNPq
  • *
    Convênio Cultural feito diretamente entre a EERP-USP com outros países e Convênios firmados através do Itamarati - PEC
  • **
    Resolução 3398 de 12.02.88 do Reitor José Goldemberg da USP
  • ***
    Alunos "irregulares" são definidos na EERP-USP, aqueles que foram reprovados e voltaram a se matricular.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      30 Jun 2006
    • Data do Fascículo
      Jan 1995
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