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A criança hospitalizada: as experiências de pais e enfermeiros

RESENHA DE LIVRO

A criança hospitalizada: as experiências de pais e enfermeiros

Maria Cecília Imori; Kelly Ap. da Silva Netto; Patrícia Torritesi

Bolsistas do Projeto Integrado: "A Enfermagem Profissional e a Assistência Integral à Criança e ao Adolescente" - CNPq/FAPESP. Coordenadora do Projeto Integrado: Profª Drª Semiramis Melani Melo Rocha

DARBYSHIRE, Philip. Living with a sick child in hospital: the experiences of parents and nurses. London: Chapman & Hall, 1994. 225p.

O envolvimento e a participação dos pais trouxeram transformações na assistência à criança hospitalizada, surgindo a necessidade de um melhor preparo da enfermagem para uma atuação conjunta com os pais nas enfermarias. A literatura recente em enfermagem pediátrica vem divulgando pesquisas e experiências objetivando uma maior eficácia e satisfação no cuidado à criança com a participação da família. A compreensão das relações de poder que se estabelecem entre pais e profissionais também tem sido objeto de investigação.

O livro de Philip Darbyshire, graduado pela Universidade de Glasgow Caledonian, Departamento de Estudos de Enfermagem, na Escócia, é baseado em recente pesquisa de doutorado do autor, realizada no Departamento de Estudos de Enfermagem da Universidade de Edinburgh, no período de 1986 a 1989, o qual examina com detalhes as experiências da relação vivida por pais e enfermeiros nos aspectos decisivos da hospitalização pediátrica.

O presente estudo teve como objetivos analisar as experiências e vivências dos pais que permaneciam junto aos seus filhos durante a hospitalização; conhecer as percepções dos enfermeiros diante deste contexto e explorar as relações entre eles e os pais, entendendo o seu significado.

O autor fundamenta-se em Heidegger, numa perspectiva fenomenológica para estudar as vivências dos pais e enfermeiros nas unidades de pediatria e utiliza-se de Foucault para interpretar as relações de poder que se estabelecem no relacionamento cotidiano entre o pessoal de enfermagem e os pais. Como estratégias de investigação utilizou-se da observação e entrevista em duas enfermeiras pediátricas. A primeira com 25 leitos de pediatria geral e a segunda com 22 em cirurgia plástica. Foram realizadas 32 entrevistas em um período de 10 meses, de outubro de 1987 à julho de 1988, totalizando 30 pais e 27 enfermeiros. As entrevistas foram realizadas de forma individual, em dupla ou em pequenos grupos.

Para Darbyshire, a humanização da assistência enfocando a participação e envolvimento dos pais, muitas vezes é vista pelos enfermeiros a partir de uma perspectiva instrumental e tecnológica do processo, ou seja, com valor essencialmente funcional. Partindo deste pressuposto, o autor argumenta que os pais tornam-se problemas que necessitam ser resolvidos ao invés de participantes e colaboradores no cuidado da criança.

Segundo o autor um dos fatores marcantes que dificulta o relacionamento entre pais e enfermeiros é a inexistência de uma demarcação entre o cuidado a ser desenvolvido pelos pais e pela equipe de enfermagem. As atividades de responsabilidade dos pais estão na dependência da gravidade da doença do filho e do poder de negociação estabelecido na relação entre profissionais e família.

O pesquisador argumenta que tem sido pouco compreendida e respeitada a temporalidade dos diferentes personagens presentes nas unidades pediátricas uma vez que os enfermeiros estão poucos habituados a considerar os fatores decorrentes da situação de estar com um filho doente em um ambiente que os inibe e os tornam incapazes de desenvolverem cuidados rotineiros tal qual os realizados em seus lares.

Este livro é recomendado para profissionais e pesquisadores envolvidos na assistência à saúde da criança e do adolescente, pois possibilita ampliar a compreensão da participação e envolvimento dos pais no cuidado a seu filho hospitalizado.

Finalizando, o autor comenta que "... nós necessitamos da humildade para ouvir pais antes de planejarmos a assistência e também aprender antes de pretendermos orientá-los. Somente através da troca de entendimentos pode um sistema de cuidados humanos se desenvolver".

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Jun 2006
  • Data do Fascículo
    Jul 1996
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