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Causas de subnotificação de acidentes do trabalho entre trabalhadores de enfermagem

Notas e Informações

CAUSAS DE SUBNOTIFICAÇÃO DE ACIDENTES DO TRABALHO ENTRE TRABALHADORES DE ENFERMAGEM

Anamaria Alves Napoleão1 1 Enfermeira. Coordenadora de Enfermagem da Santa Casa de Pitangueiras. Mestre em Enfermagem Fundamental pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo; 2 Enfermeira. Professor Titular do Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo; 3 Enfermeira. Professor Associado do Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo; 4 Enfermeira. Doutor em Enfermagem. Especialista em laboratório da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo Maria Lúcia do Carmo Cruz Robazzi2 1 Enfermeira. Coordenadora de Enfermagem da Santa Casa de Pitangueiras. Mestre em Enfermagem Fundamental pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo; 2 Enfermeira. Professor Titular do Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo; 3 Enfermeira. Professor Associado do Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo; 4 Enfermeira. Doutor em Enfermagem. Especialista em laboratório da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo Maria Helena Palucci Marziale3 1 Enfermeira. Coordenadora de Enfermagem da Santa Casa de Pitangueiras. Mestre em Enfermagem Fundamental pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo; 2 Enfermeira. Professor Titular do Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo; 3 Enfermeira. Professor Associado do Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo; 4 Enfermeira. Doutor em Enfermagem. Especialista em laboratório da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo Miyeko Hayashida4 1 Enfermeira. Coordenadora de Enfermagem da Santa Casa de Pitangueiras. Mestre em Enfermagem Fundamental pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo; 2 Enfermeira. Professor Titular do Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo; 3 Enfermeira. Professor Associado do Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo; 4 Enfermeira. Doutor em Enfermagem. Especialista em laboratório da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo

Os trabalhadores de enfermagem estão expostos a uma série de riscos durante a execução de seu trabalho, quais sejam, físicos, químicos, ergonômicos, psicossociais e biológicos, os quais podem-lhes ocasionar acidentes e doenças ocupacionais.

O acidente de trabalho é aquele que "ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa" [...] "provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho" (OLIVEIRA, 1996).

A notificação dos acidentes do trabalho é uma exigência legal e através dela são fornecidos dados relativos ao número e distribuição dos acidentes e as características das ocorrências e das vítimas e a apresentação destes resultados através de estatísticas constituem base indispensável para a indicação, aplicação e controle de medidas prevencionistas (Bedricow apud AQUINO, 1996). Porém, a subnotificação destes acidentes podem ocorrer, constituindo fator limitante tanto do ponto de vista prevencionista quanto do ponto de vista jurídico.

Motivamo-nos então a conhecer as causas de subnotificação dos acidentes do trabalho entre trabalhadores de enfermagem, através de levantamento retrospectivo entre os trabalhadores de enfermagem de um hospital filantrópico de uma cidade do interior paulista. Não foram consideradas neste estudo as doenças profissionais e as doenças do trabalho, pela especificidade e complexidade que representam no âmbito da saúde dos trabalhadores.

A população-alvo foi definida com 51 sujeitos, a população de acesso com 49 e a amostra composta por 46 sujeitos. Fizeram parte do estudo trabalhadores de enfermagem de ambos os sexos, que exerciam atividades laborais no período determinado para a realização da coleta de dados (julho de 1996 a julho de 1998) e que aceitaram participar voluntariamente do estudo.

Foi solicitado à Comissão de Ética do hospital estudado deferimento para a realização da coleta de dados, que foi realizada através de aplicação de entrevistas estruturada contendo perguntas abertas e fechadas.

Dentre os resultados obtidos foi constatado que a principal causa atribuída pelos sujeitos acidentados e não notificaram, estava relacionada à justificativa de considerarem a lesão ocasionada pelo acidente como pequena e sem importância, indicada por 53,1% dos trabalhadores. A alegação relativa ao desconhecimento da necessidade da notificação do acidente foi citada por 38,8% dos trabalhadores. Dentre as outras causas apontadas estavam a falta de tempo, referida por 11% dos trabalhadores e o medo de ser demitido, referida por 2,0% dos sujeitos.

FIGUEIREDO (1992), em estudo realizado na cidade de Campinas-SP, SILVA (1996) em estudo realizado na cidade de São Paulo-SP, JANSEN (1997) em estudo realizado na cidade de Uberlândia-MG, constataram entre causas de subnotificação de acidentes do trabalho entre trabalhadores de enfermagem, o fato do trabalhador desconsiderar lesões julgadas por ele como pequena.

SILVA (1996) infere que esta causa é referida principalmente para acidentes que aparentemente sugerem pouca gravidade, como é o caso de picadas com agulhas e pequenos cortes.

O desconhecimento da necessidade de registro do acidente do trabalho sugere a desinformação dos trabalhadores de enfermagem em relação aos aspectos epidemiológicos e jurídicos envolvidos nesta preocupante situação.

A falta de tempo do trabalhador para notificar o acidente foi constatada também por FIGUEIREDO (1992); SILVA (1996); JANSEN (1997) e SILVA (1996) os quais apontam como causa decorrente do ritmo acelerado imposto para a execução das atividades, pressão exercida pela chefia, e da grande responsabilidade assumida pelos trabalhadores no trabalho.

Esta causa pode também estar relacionada às dificuldades burocráticas geralmente envolvidas no processo de notificação, identificadas como causa freqüente de subnotificação de acidentes do trabalho por BENATTI (1997); FIGUEIREDO (1992); JANSEN (1997) e LEME et al. (1994).

BENATTI (1997) constatou índice menor de notificação de acidentes do trabalho entre trabalhadores não concursados, o que também sugere a existência de receio dos trabalhadores de perderem seus empregos, questão séria que remete-nos à reflexão acerca de aspectos éticos e morais envolvidos nas relações de trabalho em nosso país.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As causas de subnotificação de acidentes do trabalho apontadas pelos trabalhadores de enfermagem evidenciam desinformação em relação aos riscos e aos aspectos epidemiológicos e jurídicos que envolvem este tipo de acidente no ambiente hospitalar, bem como a submissão dos trabalhadores às condições de trabalho impostas pelo empregador, quando exteriorizam a falta de tempo para notificar o acidente e o medo de perder o emprego se o fizer.

Estes dados nos fazem inferir que não existem exigências de se instituir uma política de informação por parte dos órgãos trabalhistas fiscalizadores junto às instituições e que a enfermagem se revela como uma classe que pouco questiona suas condições de trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

01. AQUINO, J.D. Considerações críticas sobre a metodologia de coleta e obtenção de dados de acidentes do trabalho no Brasil. São Paulo, 1996. 106p. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo.

02. BENATTI, M.C.C. Acidente do trabalho em um hospital universitário: um estudo sobre a ocorrência e os fatores de risco entre trabalhadores de enfermagem. São Paulo, 1997. 239p. Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo.

03. FIGUEIREDO, R.M. Opinião dos servidores de um hospital escola a respeito de acidentes com material perfuro-cortante na cidade de Campinas—SP. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v. 20, n. 76, p. 26-33, 1992.

04. JANSEN, A.C. Um novo olhar para os acidentes de trabalho na enfermagem: a questão do ensino. Ribeirão Preto, 1997. 175p. Dissertação (Mestrado) - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.

05. LEME, A.M.T. et al. Aspectos epidemiológicos dos acidentes de trabalho em um hospital geral. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional. v. 22, n. 84, p. 29-39, 1994.

06. OLIVEIRA, E.R.; LUÍS, M.A.V. Distúrbios relacionados ao álcool em um setor de urgências psiquiátricas. Cood. Saúde Pública. v. 2, n. 2, p. 171-9, 1996.

07. SILVA, V.E.F. O desgaste do trabalhador de enfermagem: relação trabalho de enfermagem e saúde do trabalhador. São Paulo, 1996. 236p. Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo.

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    Enfermeira. Coordenadora de Enfermagem da Santa Casa de Pitangueiras. Mestre em Enfermagem Fundamental pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo;
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    Enfermeira. Professor Titular do Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo;
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    Enfermeira. Professor Associado do Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo;
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    Enfermeira. Doutor em Enfermagem. Especialista em laboratório da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      09 Jun 2005
    • Data do Fascículo
      Jul 2000
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