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O ensino de enfermagem em saúde mental e psiquiátrica: visão do professor e do aluno na perspectiva da fenomenologia social

Teaching of nursing in mental and psychiatric health: the point-of-view of teachers and students in a social phenomenology perspective

La enseñanza de enfermería en salud mental y psiquiátrica: visión del profesor y del alumno en la perspectiva de la fenomenología social

Resumos

O objetivo deste estudo foi compreender o processo ensino-aprendizagem na perspectiva do professor e do aluno que vivenciaram a disciplina de enfermagem em saúde mental e psiquiátrica. Analisaram-se os dados coletados por meio de entrevistas com alunos e professores que vivenciaram o fenômeno, segundo o referencial da fenomenologia social. Emergiram categorias concretas de significado do vivido pelos professores : valorizando a comunicação e a relação entre as pessoas; aprendendo a considerar o outro como pessoa; valorizando o cuidado integral, desmitificando medos e pré-conceitos e atribuindo significado ao autoconhecimento. Pelos alunos: percebendo a relevância do conhecimento sobre comunicação e da relação entre as pessoas; aprendendo a ver o outro como pessoa; aplicando conhecimento adquirido para o cuidado integral; sentindo-se motivado a mudar de atitude; reconhecendo o significado do autoconhecimento. A tipificação foi descrita ao final. O processo ensino-aprendizagem nessa disciplina, desperta interesse pela especialidade, desenvolvimento pessoal e valorização da sua utilização na enfermagem geral.

educação em enfermagem; enfermagem psiquiátrica; saúde mental; comunicação; enfermagem


This study aimed to understand the teaching-learning process from the point-of-view of teachers and students who experienced the nursing practice in mental and psychiatric health. Data were collected through interviews with students and teachers who had experienced the phenomenon and analyzed according to a social phenomenology perspective. The teachers' experiences gave rise to the following concrete meaning categories: valuing communication and the relation between persons, learning to appreciate others as human beings, appreciating integral care; demythifying fears and prejudices and attaching meaning to self-knowledge. The following categories emerging from students' interviews: acknowledging the relevance of knowledge in communication and interpersonal relations; learning to appreciate others as human beings; applying acquired knowledge to integral care; feeling motivated to change attitudes; acknowledging the meaning of self-knowledge. Finally, the social types were described. In this subject, the teaching-learning process arouses interest in the specialty, personal development and valuation of its application in general nursing.

nursing education; psychiatric nursing; mental health; communication; nursing


El objetivo de este estudio fue comprender el proceso enseñanza-aprendizaje en la perspectiva del profesor y del alumno que vivenciaron la disciplina de enfermería en salud mental y psiquiátrica. Se analizaron los datos recopilados por medio de entrevistas, con alumnos y profesores que vivenciaron el fenómeno, según el referencial de la fenomenología social. Emergieron categorías concretas de significado de lo vivido por los profesores: valorizando la comunicación y la relación entre las personas; aprendiendo a considerar al otro como persona; valorizando el cuidado integral, desmitificando miedos y prejuicios y atribuyendo significado al autoconocimiento. Por los alumnos: percibiendo la relevancia del conocimiento sobre comunicación y de la relación entre las personas; aprendiendo a ver al otro como persona; aplicando conocimiento adquirido para el cuidado integral; sintiéndose motivado a cambiar de actitud; reconociendo el significado del autoconocimiento. La tipificación fue descrita al final. El proceso de enseñanza-aprendizaje en esa disciplina despierta interés por la especialidad, desarrollo personal y valorización de su utilización en la enfermería general.

educación en enfermería; enfermería psiquiátrica; salud mental; comunicación; enfermería


ARTIGO ORIGINAL

O ensino de enfermagem em saúde mental e psiquiátrica: visão do professor e do aluno na perspectiva da fenomenologia social1 1 Trabalho extraído da tese de doutorado apresentada à Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo

Teaching of nursing in mental and psychiatric health - the point-of-view of teachers and students in a social phenomenology perspective

La enseñanza de enfermería en salud mental y psiquiátrica: visión del profesor y del alumno en la perspectiva de la fenomenología social

Marcos Antonio CampoyI; Miriam Aparecida Barbosa MerighiII; Maguida Costa StefanelliIII

IDoutor em Enfermagem da Universidade de São Paulo, e-mail: campoy@usp.br

IICoorientador do trabalho, Doutor em Enfermagem, Professor Associado da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo

IIIOrientador do trabalho, Doutor em Enfermagem, Professor Titular da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, Assessora do Conselho Diretor do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

RESUMO

O objetivo deste estudo foi compreender o processo ensino-aprendizagem na perspectiva do professor e do aluno que vivenciaram a disciplina de enfermagem em saúde mental e psiquiátrica. Analisaram-se os dados coletados por meio de entrevistas com alunos e professores que vivenciaram o fenômeno, segundo o referencial da fenomenologia social. Emergiram categorias concretas de significado do vivido pelos professores : valorizando a comunicação e a relação entre as pessoas; aprendendo a considerar o outro como pessoa; valorizando o cuidado integral, desmitificando medos e pré-conceitos e atribuindo significado ao autoconhecimento. Pelos alunos: percebendo a relevância do conhecimento sobre comunicação e da relação entre as pessoas; aprendendo a ver o outro como pessoa; aplicando conhecimento adquirido para o cuidado integral; sentindo-se motivado a mudar de atitude; reconhecendo o significado do autoconhecimento. A tipificação foi descrita ao final. O processo ensino-aprendizagem nessa disciplina, desperta interesse pela especialidade, desenvolvimento pessoal e valorização da sua utilização na enfermagem geral.

Descritores: educação em enfermagem; enfermagem psiquiátrica; saúde mental; comunicação; enfermagem

ABSTRACT

This study aimed to understand the teaching-learning process from the point-of-view of teachers and students who experienced the nursing practice in mental and psychiatric health. Data were collected through interviews with students and teachers who had experienced the phenomenon and analyzed according to a social phenomenology perspective. The teachers' experiences gave rise to the following concrete meaning categories: valuing communication and the relation between persons, learning to appreciate others as human beings, appreciating integral care; demythifying fears and prejudices and attaching meaning to self-knowledge. The following categories emerging from students' interviews: acknowledging the relevance of knowledge in communication and interpersonal relations; learning to appreciate others as human beings; applying acquired knowledge to integral care; feeling motivated to change attitudes; acknowledging the meaning of self-knowledge. Finally, the social types were described. In this subject, the teaching-learning process arouses interest in the specialty, personal development and valuation of its application in general nursing.

Descriptors: nursing education; psychiatric nursing; mental health; communication; nursing

RESUMEN

El objetivo de este estudio fue comprender el proceso enseñanza-aprendizaje en la perspectiva del profesor y del alumno que vivenciaron la disciplina de enfermería en salud mental y psiquiátrica. Se analizaron los datos recopilados por medio de entrevistas, con alumnos y profesores que vivenciaron el fenómeno, según el referencial de la fenomenología social. Emergieron categorías concretas de significado de lo vivido por los profesores: valorizando la comunicación y la relación entre las personas; aprendiendo a considerar al otro como persona; valorizando el cuidado integral, desmitificando miedos y prejuicios y atribuyendo significado al autoconocimiento. Por los alumnos: percibiendo la relevancia del conocimiento sobre comunicación y de la relación entre las personas; aprendiendo a ver al otro como persona; aplicando conocimiento adquirido para el cuidado integral; sintiéndose motivado a cambiar de actitud; reconociendo el significado del autoconocimiento. La tipificación fue descrita al final. El proceso de enseñanza-aprendizaje en esa disciplina despierta interés por la especialidad, desarrollo personal y valorización de su utilización en la enfermería general.

Descriptores: educación en enfermería; enfermería psiquiátrica; salud mental; comunicación; enfermería

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Docentes de enfermagem, que somos, envolvidos, durante muitos anos, com o ensino e a aprendizagem de enfermagem em saúde mental e psiquiátrica, procuramos sempre oferecer um ensino de qualidade que possa contribuir com a formação geral dos alunos, preparando-os como enfermeiros, utilizando, para isso, os conhecimentos básicos da área de enfermagem psiquiátrica. Entendemos que os alunos de graduação de enfermagem precisam se perceber como pessoas importantes no processo educacional de formação pessoal e profissional e aproveitar as muitas possibilidades criadas durante o curso. É de fundamental importância aprender a mobilizar e integrar conhecimentos gerais de enfermagem e de enfermagem em saúde mental e psiquiátrica para assistirem as pessoas em situações emocionais difíceis ou, até mesmo, com transtornos mentais.

Estudos realizados por enfermeiras, tanto da área assistencial como do ensino de enfermagem psiquiátrica, nacionais e internacionais, apontam inúmeras dificuldades que alunos e enfermeiros têm para integrar conhecimentos que os habilitem a cuidar de pacientes com problemas emocionais e psiquiátricos(1-7).

É habitual ouvirmos dos alunos perguntas como "o que devo fazer nessa situação, professor?", "estou realmente preparado para atuar nessa dimensão?", ou ainda, "por que tenho de atuar nessa dimensão?".

Acreditamos que falta aos alunos perceberem, na prática, a necessidade de integração de conhecimentos aprendidos nas diversas especialidades que lhes são ofertadas nos cursos de graduação. Dessa forma, torna-se imperioso que nós, professores do ensino de graduação, auxiliemos nossos alunos no processo de integração do conhecimento.

Face às reflexões iniciais, descobertas científicas, políticas de saúde mental e às mudanças propostas pelas diretrizes curriculares nacionais, que estão ocorrendo no ensino teórico e prático da enfermagem e da enfermagem psiquiátrica, realizamos este estudo na perspectiva de compreender o processo ensino-aprendizagem segundo a visão dos próprios sujeitos, aluno e professor, que vivenciaram a disciplina de enfermagem em saúde mental e psiquiátrica.

CONSIDERAÇÕES SOBRE O REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

Procurando ampliar o olhar sobre o fenômeno do ensinar e do aprender, na perspectiva dos próprios atores que compartilham a experiência relacional, declarando seus motivos para agir na disciplina de enfermagem em saúde mental e psiquiátrica, fomos apropriando-nos da fenomenologia compreensiva e social de Alfred Schütz(8), com vistas a organizar e conhecer o vivido dessas pessoas no seu cotidiano como elementos que atuam, interagem e complementam-se dentro de um mundo chamado social.

Relendo o projeto intencional do professor que ensina e do aluno que vive o processo de aprendizado na disciplina enfermagem em saúde mental e psiquiátrica, buscamos compreender como são as experiências de ensinar e de receber ensino, não nos detendo exclusivamente na ação de um único indivíduo, mas naquilo que essa ação projetada significa para o grupo de indivíduos que estão envolvidos nesse fenômeno.

A fenomenologia social, dessa forma, possibilita investigar não os comportamentos individuais, mas, sim, conhecer como se constitui um grupo social que vive uma determinada situação típica.

A ação social é uma conduta dirigida para a realização de um determinado fim, e essa ação só pode ser interpretada pela subjetividade do ator, pois somente a própria pessoa pode definir seu projeto de ação, seu desempenho social. Nesse sentido, a compreensão do social volta-se para o comportamento do social em relação aos motivos, para as intenções que orientam a ação e para suas significações na perspectiva do ator da ação(9).

Por motivo, entende-se "um estado de coisas, o objetivo que se pretende alcançar com a ação". Assim, motivo para é a orientação para a ação futura, e motivo por que está relacionado às vivências passadas, com os conhecimentos disponíveis(10).

O motivo para é, portanto, um contexto de significado que é construído ou se constrói sobre o contexto de experiências disponíveis no momento da projeção (essa categoria é essencialmente subjetiva). O motivo por que refere-se a um projeto em função de ou construído com base nas vivências passadas e é uma categoria objetiva, acessível ao pesquisador. O contexto do significado do verdadeiro motivo por que é sempre uma explicação posterior ao acontecimento(11).

Para construir um modelo científico do mundo social, o sociólogo recorre à tipificação. O tipo vivido não corresponde a nenhuma pessoa em particular, trata-se de uma idealização. Os tipos idealizados são esquemas interpretativos do mundo social que fazem parte de nossa bagagem de conhecimentos sobre o mundo, têm valor de significação e sempre nos valemos deles na realização interpessoal(10).

Para a Fenomenologia Social, o que importa investigar não é o comportamento de cada indivíduo em particular, mas o que pode constituir-se em uma característica típica daquele grupo social que está vivendo aquela situação do comportamento vivido(8).

O tipo vivido emerge de descrição vivida do comportamento social que permite encontrar algo que tipifica (convergências nas intenções dos sujeitos, ou seja, motivos para e motivos por que) como uma estrutura vivenciada única, uniforme, contínua, que pode ser analisada e descrita porque tem um valor de significação e que pode ser transmitida pela comunicação e pela linguagem significativa, na relação interpessoal(10).

Diante dessas considerações sobre alguns conceitos básicos que fundamentam a Sociologia Fenomenológica, chegamos à compreensão da significação da ação social vivida pelo professor e aluno que, envolvidos no processo ensino-aprendizagem, na disciplina de enfermagem em saúde mental e psiquiátrica, desvelaram-se nos motivos evidenciados em um e no outro, por meio da reciprocidade de perspectivas.

CAMINHO METODOLÓGICO

Participaram desse estudo professores e alunos que vivenciaram experiências de ensino e aprendizagem na disciplina de enfermagem em saúde mental e psiquiátrica, em duas escolas de enfermagem, uma pública e outra privada, da Cidade de São Paulo. Escolhemos uma escola pública na qual um dos pesquisadores estava cursando o Doutorado e uma escola privada onde ele atuava como docente. Essa escolha deu-se em virtude da facilidade de contato com os professores e os alunos.

Após autorização para realização da pesquisa, por parte das autoridades competentes das Instituições que, no momento da coleta de dados, congregavam os professores e os alunos, iniciamos a obtenção dos dados. Para esclarecer sobre os propósitos da pesquisa, utilizamos como estratégia reunião com os alunos que já tinham cursado a disciplina Enfermagem em Saúde Mental e Psiquiátrica. Da mesma forma, agendamos reunião com os docentes da referida disciplina.

Todas as entrevistas foram agendadas nas escolas de enfermagem, obedecendo-se ao critério do horário mais conveniente para cada entrevistado. Obtivemos dez depoimentos de professores e dez de alunos. Utilizamos para análise final os depoimentos mais ricos de significados, ou seja, os dos sujeitos que responderam de forma clara às questões norteadoras sobre projetos de ensinar e aprender enfermagem em saúde mental e psiquiátrica vividas no cotidiano do processo ensino-aprendizagem. Trabalhamos, portanto, com seis depoimentos de professores e com dez de alunos.

As questões orientadoras apresentadas para o professor foram - Como se deu a opção pelo ensino na disciplina de enfermagem em saúde mental e psiquiátrica? e Qual sua motivação e seu desejo quando ensina enfermagem em saúde mental e psiquiátrica? Para o aluno - Como você vê o ensino da disciplina que cursou? e O que você desejava aprender quando começou a disciplina?

Para compreender o significado da ação vivenciada pelos sujeitos do estudo, por meio da tipologia do vivido, seguimos as indicações dos pesquisadores em fenomenologia social(9-11-12).

Os depoentes foram identificados por nomes fictícios, e seus depoimentos foram transcritos na íntegra para, posteriormente, serem lidos e relidos exaustivamente até que permitissem, primeiramente, identificar e apreender o sentido global da experiência vivida por cada um, posteriormente, criar agrupamentos concretos de informações que se destacavam e que tinham relação direta com o fenômeno a ser compreendido, terminando com a interpretação das vivências, estando atento para os significados essenciais e recorrentes contidos nos depoimentos de cada um dos sujeitos.

A coleta de dados transcorreu no segundo semestre do ano de 2001 e primeiro semestre de 2002. Todos os procedimentos para execução do estudo seguiram as normas exigidas pela Resolução nº196/96(13), respeitando, acima de tudo, a dignidade humana dos envolvidos. Os dados foram colhidos somente após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e a autorização para a gravação das entrevistas.

Assim sendo, lendo e relendo as entrevistas, emergiram as categorias concretas de significado do vivido pelos professores, contextualizadas a partir das falas, que reuniram, na totalidade, o invariante do fenômeno o ensino de enfermagem em saúde mental e psiquiátrica. Essas foram denominadas: valorizando a comunicação e a relação entre as pessoas; aprendendo a considerar o outro como pessoa; valorizando o cuidado integral, desmitificando medos e pré-conceitos e atribuindo significado ao autoconhecimento. Da mesma forma, as categorias concretas de significado do vivido pelos alunos foram: percebendo a relevância do conhecimento sobre comunicação da relação entre as pessoas; aprendendo a ver o outro como pessoa; aplicando conhecimento adquirido para o cuidado integral; sentindo-se motivado a mudar de atitude; reconhecendo o significado do autoconhecimento.

ANÁLISE COMPREENSIVA

Análise das categorias expressas do vivido extraídas dos discursos dos professores

A categoria valorizando a comunicação e a relação entre as pessoas destaca o estudo sobre observação, comunicação e relacionamento interpessoal terapêutico como ensino básico da especialidade, com vistas a uma assistência de enfermagem competente e humanitária.

Essa categoria possibilitou expressar a compreensão dos "motivos para" do professor que vive o ensino na disciplina de enfermagem em saúde mental e psiquiátrica.

Então, acho que o enfermeiro, antes de ser um técnico, ele tem que desenvolver comunicação, ele tem que desenvolver os instrumentos básicos da enfermagem, saber observar, comunicar-se com o paciente, interagir, escutar o paciente, estar ali, posicionar-se perante ele, então estar presente, assim, aceitar. Eu penso muito isso. (Professora Eni)

Assim, o professor projeta fazer do processo de ensino do cuidar um momento de aprendizado para o aluno que interage com outra pessoa, família ou comunidade, levando-o ao amadurecimento pessoal e profissional.

Aquilo que você sabe é só um recurso, é o instrumento para poder fazer o que a gente chama hoje de tecnologia fina, leve, que é a grande tecnologia da enfermagem em saúde mental e que é a relação. (Professora Antônia)

O professor utiliza-se do ensino da relação interpessoal enfermeiro-paciente para capacitar o aluno, ampliar sua base de conhecimento pessoal e profissional e tornar parte do cotidiano a utilização desse conhecimento na enfermagem geral, valoriza esse ensino e acredita que o relacionamento interpessoal é fundamental no cuidado de enfermagem, quer oferecer conhecimento para que o aluno adquira habilidade e competência, de forma significativa, para o seu processo de formação profissional no curso de graduação. Ele deseja também garantir ao seu aluno, futuro enfermeiro, a competência interpessoal para que ele possa lidar com comportamentos sadios ou menos sadios, estimulando nas pessoas que recebem seus cuidados os aspectos positivos e, ao mesmo tempo, transformar a experiência da doença em algo útil, por meio do desenvolvimento de novas atitudes, relacionamentos e cuidado de enfermagem.

A categoria aprendendo a considerar o outro como pessoa é outro "motivo para", do professor que ensina enfermagem saúde mental e psiquiátrica.

Todo processo é orientado pelo cuidado do ser humano completo e, para tanto, baseia-se em conteúdos conceituais e oportunidades experienciadas em momentos teóricos e práticos, proporcionando reflexões sobre a qualidade do cuidado prestado ao ser humano único, considerando-o como pessoa em sua multidimensionalidade, ancorado na compreensão das ações e reações emocionais presentes nesse ato de cuidar. Nesse processo, aprende a lidar com os pensamentos e sentimentos experimentados nessa experiência de cuidar.

Eu acho que a enfermagem psiquiátrica e de saúde mental vai enfocar isso, essa qualidade do psiquismo do ser humano, das suas reações emocionais, seus pensamentos, os seus sentimentos e, então, eu sempre digo: olha! vocês estão aprendendo a disciplina que vai ser um meio para a sua formação, visando, assim, ao atendimento do paciente como ser integral. E, em qualquer lugar em que você esteja, você vai estar utilizando essa disciplina. (Professora Eni)

A categoria valorizando o cuidado integral aparece como um "motivo para" ensinar para o professor.

Segundo o referencial teórico metodológico há um encaminhamento para uma abordagem que valoriza o sujeito, e isso, no ensino de enfermagem geral e enfermagem psiquiátrica, é fundamental, pois é necessário ao enfermeiro conhecer o outro e compreendê-lo para atender suas necessidades(8).

...que ele aprenda a lidar com o paciente de uma forma global, não se preocupando apenas com a parte física, mas se preocupando, também, com a parte mental, psicológica, psíquica do paciente. (Professora Helena)

O conceito de reciprocidade de perspectivas, nas quais os objetos do mundo são, em princípio, acessíveis ao conhecimento mútuo, meu e seu, podemos dizer que existe no aluno uma apreensão de conhecimento daquilo que é projetado enquanto ação do professor. Sendo assim, os conhecimentos e elementos relevantes do professor que ensina e do aluno que aprende passam a ser dos dois. Tal conhecimento fica concebido como algo objetivo e anônimo, independente da definição de ser docente ou discente, das circunstâncias biográficas, dos propósitos à mão, reais e potenciais, envolvidos no fenômeno(8).

O professor quer realizar um ensino que complemente a formação geral do futuro enfermeiro, oferecendo-lhe subsídio para mudança interna e externa, para que possa olhar para o outro ser humano, portador de transtorno mental, como alguém importante e não somente como um diagnóstico.

A minha preocupação enquanto professora de enfermagem psiquiátrica é assim: eu quero que o aluno desenvolva uma assistência, aprenda uma prática, partindo do princípio de que o ser humano é um ser biopsicossocial. E dentro da graduação eu tenho uma preocupação muito grande com o aluno para que ele tenha uma formação generalista. E a minha disciplina é uma disciplina que vai complementar a maioria das disciplinas. (Professora Eni)

A categoria desmistificando medos e preconceitos é outro "motivo para", do professor, expresso nas falas abaixo. Esse "motivo para" leva o professor a criar estratégias para propiciar a mudança da atitude do aluno.

Tomando como referência o conceito denominado "bagagem de conhecimento", extraído do referencial teórico metodológico, o professor introduz seu aluno, aos poucos, nas experiências de ensino-aprendizagem da área(8).

...fazer o aluno pensar nos preconceitos que ele traz, que é natural, todo mundo traz, e que são conhecimentos trazidos do senso comum. Que o louco é perigoso, que o louco é agressivo, que eu tenho que ficar longe do louco, porque ele tem que ficar confinado. Questões que podem ser mudadas, eu tento ensinar, não sei se é ensinar, mas tentar fazer com que os alunos pensem. (Professora Renata)

..eu acredito que ensinando eu vou quebrar preconceitos. Então, meu objetivo, além de ensinar psiquiatria, é a quebra de preconceitos. (Professora Roseli)

A categoria atribuindo significado ao autoconhecimento emergiu a partir da construção do conhecimento do relacionamento interpessoal terapêutico, considerado essencial para o aprendizado do aluno iniciante na disciplina.

Essa categoria é um forte "motivo para", do professor que ensina enfermagem em saúde mental e psiquiátrica. Para ele, o aluno necessita de um tempo para explorar e definir as muitas faces de sua personalidade e examinar as suas próprias experiências.

A categoria expressa os "motivos para" de o professor ensinar em intensa reciprocidade com os "motivos para" aprender do aluno, quando compartilham do processo comum vivido na disciplina de enfermagem em saúde mental e psiquiátrica.

Diante desse projeto de ação, o professor utiliza, também, as próprias experiências de relacionamento ocorridas entre ele e o aluno, para construir o conhecimento específico.

...eu quero, também, que o aluno aprenda a interagir com qualquer paciente, aprenda a se autoconhecer para poder, então, interagir ou comunicar-se com alguém, aprenda a tomar consciência de que existem medidas que devem ser utilizadas no cuidado de qualquer ser humano, psiquiátrico ou não. (Professora Helena)

...mas eu trabalho com o aluno primeiro, a vida dele, que é saúde mental e depois a gente vai indo para as questões psiquiátricas. (Professora Renata)

O desejo do professor quando ensina relacionamento interpessoal é possibilitar momentos de reflexão ao aluno, a fim de que exercite o autoconhecimento e possa fazer uma avaliação constante das suas atitudes como aluno e futuro profissional. Ele deseja alunos que analisem suas qualidades pessoais e profissionais, sua comunicação terapêutica e se suas ações e reações são refletidas com vistas ao cuidado de enfermagem que irá oferecer às pessoas que sofrem ou não transtornos mentais.

Para mim, o conteúdo básico acho que deve ser privilegiado ainda é a questão do relacionamento interpessoal, independente da instância de assistência, quer seja hospitalar ou extra-hospitalar. O enfermeiro deve ter habilidades interpessoais, isso dentro da área de psiquiatria e para o aluno de uma maneira geral. É por meio de um relacionamento interpessoal terapêutico que ele vai ser capaz não só de identificar as questões emocionais, como também poder ajudar o paciente a solucionar algumas questões dessa ordem. (Professora Noeli)

Da mesma forma, em consonância com o referencial adotado, apresentaremos a seguir a construção das categorias do vivido, extraídas dos discursos dos alunos que vivenciaram o fenômeno ensino-aprendizagem na disciplina enfermagem em saúde mental e psiquiátrica.

Podemos dizer que os "motivos para", dos alunos, existiram enquanto expectativas indeterminadas, e coexistiram com o projeto de ação dos professores, na medida em que os alunos adquiriram conhecimentos para desenvolverem-se como pessoas, agindo em reciprocidade de intenções com os professores.

Assim, as categorias do vivido emergidas dos discursos dos alunos foram construídas em reciprocidade com as do professor e assim nomeadas: percebendo a relevância do conhecimento sobre comunicação e da relação entre pessoas; aprendendo a ver o outro como pessoa; aplicando o conhecimento adquirido para o cuidado integral; sentindo-se motivado para mudar de atitude e reconhecendo o significado do autoconhecimento.

Análise das categorias expressas do vivido extraídas dos discursos dos alunos

A categoria "percebendo a relevância do conhecimento sobre comunicação e da relação entre pessoas" representa um projeto, um "motivo para" o aluno adquirir conhecimento e aprendizado na disciplina de enfermagem em saúde mental e psiquiátrica.

O aluno, ao vivenciar todo o processo de ensino-aprendizagem na disciplina, pode ficar frente-a-frente com o professor. Ao se colocarem em experiência direta uns com os outros, ultrapassaram a subjetividade de cada um em favor da intersubjetividade, proporcionando um conhecimento compartilhado(8).

Eu acho que isso foi o grande do curso, foi essa coisa da comunicação verbal e não verbal que eles passam para você. Eu achei muito bom fazer isso. (Aluno Márcio)

Quando você entra em contato com essas coisas, você começa a verificar que precisa de uma atenção especial para essa área. E você faz um estágio que eu acredito ter muito pouco tempo, mas quando você sai, a pessoa com quem você trabalhou, usuário no caso, olha você e fala: você me ajudou muito, por isso, isso e isso. Você sente que foi, assim, foi por isso que despertou meu interesse. Foi válido o meu trabalho. (Aluno Márcio)

Diante do ensino recebido na disciplina de enfermagem psiquiátrica e saúde mental, o aluno reconheceu, aos poucos, a importância de integrar o conhecimento apreendido e de utilizá-lo no desenvolvimento de um trabalho acadêmico, tanto na área específica, quanto em outras áreas como futuro enfermeiro.

...eu via que eu conseguia aplicar com a paciente por quem eu era responsável, eu conseguia aplicar o que eu ..(aprendi).. a abordagem que ela (professora) ensinou, a abordagem terapêutica, a comunicação terapêutica. (Aluna Maria)

O "motivo para", do professor, passou a ser o "motivo para", do aluno, já que ambos vivenciaram o mesmo contexto significativo em que a comunicação e a relação interpessoal é extremamente relevante.

A categoria aprendendo a ver o outro como pessoa emergiu a partir das relações interativas vividas na disciplina, do ato subjetivo e objetivo comunicado pelo professor que possibilitou experiências concretas de aprendizado para o aluno, levando-o a integrar e compreender conhecimentos específicos para cuidar de forma humanitária.

Podemos dizer que o professor comunicou-se com o aluno não apenas para transmitir conhecimento teórico-prático, desejou também que sua mensagem estimulasse a motivação do aluno como pessoa humana, para que assumisse uma atitude particular ou desenvolvesse algum tipo de conduta(8).

Ao desenvolver a disciplina no curso de graduação, o "motivo para", do professor, passa a ser significativo para o aluno que vive aquele processo teórico e prático na área de especialidade, pois ele apreende e incorpora tal conhecimento a sua bagagem de vida.

Os "motivos para" estar aprendendo a ver o outro como pessoa mostraram-se como projeto de ação dos alunos, quando iniciavam a disciplina, buscando integração de conhecimento.

...minha expectativa é poder entrar neste universo desconhecido, tentar entender o que passa por dentro de nós, conhecer cientificamente os processos que permeiam o raciocínio, memória, inteligência e, principalmente, as nossas emoções. (Aluno João)

A categoria aplicando o conhecimento adquirido para o cuidado integral mostrou a apreensão e integração de conhecimentos específicos e gerais adquiridos para a realização da assistência de enfermagem no cotidiano do aluno.

A integração de conhecimento é muito verbalizada para o aluno nos cursos de graduação em enfermagem, como algo indispensável para a qualidade da assistência. Com os conhecimentos adquiridos na disciplina enfermagem psiquiátrica, o aluno vislumbra mais caminhos para a integração das diferentes dimensões do ser humano para oferecer um cuidado integral, considerando o outro como uma pessoa.

...depois como nós que fizemos (a disciplina) adulto primeiro, para depois fazer psiquiatria ..a gente ficou pensando, imagina fazer isso tendo esse conteúdo de comunicação verbal e não verbal. (Aluno Márcio)

Não é possível ser enfermeiro, sem antes conhecer o lado interno do homem, como reagimos e como entendemos o mundo. Realmentemente, corpo e espírito estão unidos e não podemos tentar separá-los. (Aluno João)

Você começa a utilizar a comunicação verbal no dia-a-dia, então você está falando com pessoa você começa a utilizar a validação. Por exemplo, repetir o que a pessoa está falando e, sem perceber, você está fazendo isto. (Aluno Márcio)

A categoria sentindo-se motivado a mudar de atitude mostrou a viabilidade de transformação de comportamento do aluno, como pessoa hoje e profissional amanhã, quando experienciou essa disciplina. Existiu um intenso desejo do professor em realizar esse projeto de ação quando manifestou os seus "motivos para" ensinar, o que estabeleceu uma situação de reciprocidade de intenções com os "motivos para", do aluno.

É válido afirmar que esses alunos mudaram o "sistema de relevância" que edificou o estoque de "conhecimentos à mão" ou a "bagagem de conhecimentos" deles. Suas zonas de clareza de objetivos orientados pelos "motivos para" ampliaram-se quando realizaram de forma compartilhada com o professor a disciplina de enfermagem psiquiátrica e saúde mental. Ao mudarem o seu sistema de referência, permitiram redistribuir o conhecimento e elegeram alguns elementos pertencentes às zonas mais marginais que migraram para uma zona mais central, agora com maior clareza de definição(8-14).

Eu acho que eu vejo na escola toda, as pessoas que passam pela disciplina é como se tivesse um crescimento como pessoa muito grande. Então, você vê que o jeito de falar muda. (Aluno Márcio)

Para mim a vivência em estágio que eu tive nessa disciplina foi surpreendente, pois eu estava cheia de medos e preconceitos e não tinha a menor idéia do que eu poderia encontrar. Durante o estágio apareceram algumas dificuldades de relacionamento com as pacientes, mas depois me acostumei e fiquei mais segura, só que, quando isso aconteceu, o estágio já tinha acabado e eu fiquei com vontade de fazer o estágio novamente. (Aluno José)

Pretendo, também, esclarecer alguns mitos e medos que existem com relação a clientes com problemas psiquiátricos. (Aluna Amélia)

A categoria reconhecendo o significado do autoconhecimento mostra a importância dada à reflexão pessoal e profissional vivenciada pelo aluno.

O conhecimento de si mesmo como um recurso para habilitá-lo para cuidar do outro passa a ser um motivo objetivo para o aluno, pois sentiu-se motivado a mudar sua área de relevância intrínseca, pela ação do professor. À medida que o processo ensino-aprendizagem aconteceu, essa categoria ganhou importância, e o aluno percebeu o significado do autoconhecimento como um conhecimento fundamental, pois passou a usar sua própria personalidade como meio de melhorar seu cuidado profissional. O professor estimulou o autoconhecimento no aluno como um forte "motivo para" ensinar, e isso ganha significado para eles quando se sentem supervisionados nessa aprendizagem continuada, o que permitiu a incorporação desse conhecimento.

... eu acho que ele (ensino do relacionamento) tinha que ser mais aprofundado. Você usa isso em qualquer lugar, você usa isso no Hospital, você usa isso na vida, você usa trabalhando com saúde mental é claro. (Aluno Márcio)

Trabalhar com o subjetivo, sair do enfoque físico para adentrar o psíquico é muito difícil, pois a mente humana é um mistério e tentar relacionar-se com as pessoas que têm transtornos mentais é um desafio para o profissional como também um exercício, o encontro de nós mesmos, que nos permite desfrutar não só da conquista de novos conhecimentos, mas do autoconhecimento e do autocontrole e, diria mais, do crescimento pessoal sem dúvida alguma. (Aluna Mônica)

Hoje eu entendo um pouco melhor as pessoas, a mim mesma e aos clientes com transtornos mentais. Hoje sinto que estou mudando, que estou me tornando uma enfermeira mais completa e com capacidade de agir e interagir com as pessoas e percebo que o que elas precisam não é muito e sim um pouquinho de atenção. (Aluna Amélia)

CONSTRUÇÃO DO TIPO VIVIDO

As categorias concretas do vivido, constituídas a partir do sentido da ação subjetiva, permitiram descrever o tipo vivido que emergiu das descrições do comportamento da própria pessoa que relatou suas experiências particulares, exclusivamente suas enquanto "motivos para", considerando-se o contexto de significados, mas que, numa reorganização estrutural de segundo nível, estabelecida pelo pesquisador, poderão descrever o vivido do comportamento social que se mostrou como algo que tipifica, de forma convergente nas intenções das próprias pessoas como uma estrutura vivenciada única que permitiu análise, pois tem um valor de significação e pode ser transmitida pela comunicação e pela linguagem significativa presente na relação interpessoal.

Assim procedendo, pudemos descrever o tipo vivido do professor que ensina na disciplina de enfermagem em saúde mental e psiquiátrica como aquele que quer um aluno comprometido com o paciente, prestador de um cuidado individualizado e inserido na realidade, que veja o paciente como pessoa que tem dimensões biopsicossociais; que seja reflexivo sobre o cuidado que presta; que compreenda as próprias ações e reações emocionais quando cuida, transformando-se interna e externamente, examinando sempre suas qualidades pessoais e profissionais, que seja reflexivo sobre a utilização da comunicação terapêutica, ações e reações quando cuida de uma determinada pessoa que sofre ou não transtornos mentais e que, portanto, tenha competência interpessoal.

O tipo vivido do aluno que recebe ensino na disciplina de enfermagem em saúde mental e psiquiátrica é aquele que quer lidar com o paciente psiquiátrico, conhecer os determinantes do adoecer mental, lidar com os próprios medos, inseguranças e dúvidas sobre sua capacidade de cuidar do outro em situações psiquiátricas, conhecer o trabalho de enfermagem na área específica e satisfazer a curiosidade sobre como é ter transtornos mentais.

CONSIDERAÇÕES GERAIS

Ao encontrarmos os significados para as ações tipificadas, compartilhadas e apreendidas pelos sujeitos do processo, foi possível explorar, de uma forma especial, aspectos relativos ao ensino de enfermagem em saúde mental e psiquiátrica.

A identidade profissional do enfermeiro advém de uma formação muito centrada no modelo biomédico, o que faz, no nosso entender, o aluno concluir o curso de graduação com uma visão reduzida, acreditando que vai cuidar somente do corpo doente. Isto, pelo que já foi discutido aqui, começa a mudar na disciplina de enfermagem em saúde mental e psiquiátrica. Os sujeitos do estudo explicitaram a importância do aprendizado sobre observação, comunicação e relacionamento terapêutico, envolvimento emocional, empatia e o constante exercício do autoconhecimento. Tudo isso reforça a necessidade, segundo os depoimentos dos próprios alunos, do conhecimento básico sobre temas como comunicação, relacionamento enfermeiro-paciente, processo de crise, entre outros, e que os ajudariam em outras disciplinas do curso. Poder-se-ia, assim, dar maior ênfase aos conteúdos específicos durante o curso da disciplina foco deste estudo.

A realização desta pesquisa permitiu compreendermos que o ensino oferecido por docentes e o aprendizado adquirido pelos discentes, na disciplina enfermagem em saúde mental e psiquiátrica, em cursos de graduação, podem proporcionar uma formação que complete e contemple um cuidado ampliado, que valoriza, respeita, aceita a pessoa que recebe o cuidado de enfermagem como um ser complexo, humano e singular.

Outro aspecto compreendido, neste estudo, está situado na importância de oferecer uma prática de ensino de graduação, na disciplina específica, consistente e significativa para possibilitar que professor e aluno possam se descobrir em toda potencialidade e sensibilidade pessoal e profissional.

O professor e o aluno mostraram a amplitude de relações estabelecidas durante o processo vivido; puderam construir juntos conhecimentos para cuidar do outro quando consideraram relevante conhecer e aplicar a comunicação e o relacionamento interpessoal terapêutico como um conteúdo importante e significativo, além de outros também apreendidos pelo compartilhar mútuo do todo vivido.

Para o aluno de graduação, viver o ensino na disciplina, no cotidiano, foi importante e teve significado, possibilitou mudança de atitude, criou oportunidades de conhecer o outro e, principalmente, a si mesmo como alguém vital para desenvolver um trabalho terapêutico e, mais do que isso, pode refletir a todo o momento, sobre a prática que executava diariamente com a outra pessoa, melhorando o seu conhecimento, criando habilidades gerais, utilizando-se das específicas e gerando competência para ser futuramente um enfermeiro completo, preparando-se para que possa oferecer um cuidado multidimensional a qualquer indivíduo, família ou comunidade. A observação da pessoa em sua subjetividade foi valorizada pela ação dos sujeitos envolvidos no processo. A habilidade para agir com os problemas emocionais de outras pessoas, independentemente da causa geradora do quadro clínico e dos locais onde as pessoas são atendidas, mostrou-se como projeto de ação do professor e do aluno.

Frente a essa construção, usando a abordagem fenomenológica compreensiva da ação social, abriram-se novos horizontes para compreender o ensino da disciplina específica, oferecida nos cursos de graduação em enfermagem, com vistas a motivar os alunos para o significado e importância de o trabalho do enfermeiro estar ancorado em ações objetivas e subjetivas, assim como criar uma ponte para que eles mesmos procurem programas de aprimoramento profissional e de pós-graduação que permitam aprofundamento do conhecimento adquirido.

Finalizamos este trabalho não com o intuito de criar um modelo ou método eficaz de ensinar e aprender enfermagem em saúde mental e psiquiátrica, mas, simplesmente, quisemos olhar para as experiências vividas e referidas pelos próprios sujeitos da ação social, com profundidade qualitativa, visualizando novas perspectivas para a construção do conhecimento para o ensino desta disciplina e, porque não, da enfermagem em geral.

Recebido em: 12.5.2004

Aprovado em: 20.12.2004

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  • 1
    Trabalho extraído da tese de doutorado apresentada à Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      10 Jun 2005
    • Data do Fascículo
      Abr 2005

    Histórico

    • Aceito
      20 Dez 2004
    • Recebido
      12 Maio 2004
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