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Atividades desenvolvidas pelos enfermeiros nas unidades de internação de um hospital-escola

Tareas desempeñadas por enfermeros en las unidades de hospitalización de un hospital escuela

Tasks performed by nurses at inpatient units in a training hospital

Resumos

Este estudo teve por objetivos identificar e analisar as atividades realizadas pelos enfermeiros assistenciais nas unidades de internação de um hospital geral, de grande porte e de ensino do Distrito Federal. Trata-se de estudo quantitativo, do tipo exploratório e descritivo. Foram realizadas 612 horas de observação das atividades desenvolvidas por 18 enfermeiros das unidades de Clínica Médica, Cirúrgica, Pediátrica e Maternidade. As atividades observadas foram classificadas em: administrativas, assistenciais, educativas e relativas ao sistema de informação. Verificou-se que os enfermeiros dedicam grande parte do tempo às atividades administrativas, seguidas das atividades assistenciais e relacionadas ao sistema de informação e quase não desenvolvem atividades educativas.

enfermeiros; papel do profissional de enfermagem; cuidados de enfermagem


El objetivo de este estudio fue identificar y analizar las tareas desempeñadas por los enfermeros asistenciales en las unidades de hospitalización de un hospital general, de gran tamaño, que también es hospital escuela. Se trata de un estudio cuantitativo, de tipo exploratorio y descriptivo. Fueron realizadas 612 horas de observación de las tareas desempeñadas por 18 enfermeros de las unidades de Clínica Médica, Quirúrgica, Pediátrica y Maternidad. Las tareas observadas fueron clasificadas en administrativas, asistenciales, educativas y relativas al sistema de información. Se verificó que los enfermeros dedican una parte considerable de su tiempo a tareas administrativas, seguidas por las tareas asistenciales y las relacionadas al sistema de información, y que casi no desempeñan tareas educativas.

enfermeros; rol del profesional de enfermería; atención de enfermería


The purpose of this study was to identify and analyze tasks performed by nurses at inpatient units in a large general hospital in Brasilia, Federal District, which also functions as a training hospital. A quantitative, exploratory, descriptive study was carried out and involved a total of 612 hours of direct observation of the activities performed by 18 nurses at the General Medicine, Surgical, Pediatric and Maternity units. The tasks observed were classified as: administration, nursing care delivery, education and related to information system. Nurses dedicate a large part of their time to administrative tasks, followed by tasks related to nursing care delivery and information system, performing almost no educative tasks.

nurses; nurse's role; nursing care


ARTIGO ORIGINAL

Atividades desenvolvidas pelos enfermeiros nas unidades de internação de um hospital-escola11 Trabalho extraído de Pesquisa de Iniciação Científica (PIBIC) financiada pelo CNPq Trabalho extraído de Pesquisa de Iniciação Científica (PIBIC) financiada pelo CNPq

Tasks performed by nurses at inpatient units in a training hospital

Tareas desempeñadas por enfermeros en las unidades de hospitalización de un hospital escuela

Rita de Almeida CostaI; Helena Eri ShimizuII

IEnfermeira da UTI Cardio Pediátrica do InCor Brasília, e-mail: rita_costa@terra.com.br

IIEnfermeira, Doutor em Enfermagem, Professor Adjunto da Universidade de Brasília, e-mail: shimizu@unb.br

RESUMO

Este estudo teve por objetivos identificar e analisar as atividades realizadas pelos enfermeiros assistenciais nas unidades de internação de um hospital geral, de grande porte e de ensino do Distrito Federal. Trata-se de estudo quantitativo, do tipo exploratório e descritivo. Foram realizadas 612 horas de observação das atividades desenvolvidas por 18 enfermeiros das unidades de Clínica Médica, Cirúrgica, Pediátrica e Maternidade. As atividades observadas foram classificadas em: administrativas, assistenciais, educativas e relativas ao sistema de informação. Verificou-se que os enfermeiros dedicam grande parte do tempo às atividades administrativas, seguidas das atividades assistenciais e relacionadas ao sistema de informação e quase não desenvolvem atividades educativas.

Descritores: enfermeiros; papel do profissional de enfermagem; cuidados de enfermagem

ABSTRACT

The purpose of this study was to identify and analyze tasks performed by nurses at inpatient units in a large general hospital in Brasilia, Federal District, which also functions as a training hospital. A quantitative, exploratory, descriptive study was carried out and involved a total of 612 hours of direct observation of the activities performed by 18 nurses at the General Medicine, Surgical, Pediatric and Maternity units. The tasks observed were classified as: administration, nursing care delivery, education and related to information system. Nurses dedicate a large part of their time to administrative tasks, followed by tasks related to nursing care delivery and information system, performing almost no educative tasks.

Descriptors: nurses; nurse's role; nursing care

RESUMEN

El objetivo de este estudio fue identificar y analizar las tareas desempeñadas por los enfermeros asistenciales en las unidades de hospitalización de un hospital general, de gran tamaño, que también es hospital escuela. Se trata de un estudio cuantitativo, de tipo exploratorio y descriptivo. Fueron realizadas 612 horas de observación de las tareas desempeñadas por 18 enfermeros de las unidades de Clínica Médica, Quirúrgica, Pediátrica y Maternidad. Las tareas observadas fueron clasificadas en administrativas, asistenciales, educativas y relativas al sistema de información. Se verificó que los enfermeros dedican una parte considerable de su tiempo a tareas administrativas, seguidas por las tareas asistenciales y las relacionadas al sistema de información, y que casi no desempeñan tareas educativas.

Descriptores: enfermeros, rol del profesional de enfermería, atención de enfermería

INTRODUÇÃO

Os enfermeiros, durante todo o seu processo de formação, são introduzidos a um papel profissional idealizado, onde aprendem a valorizar o cuidado individualizado aos pacientes, com base em conhecimentos científicos, como a sua principal atividade profissional. No entanto, ao se inserirem no âmago de uma organização, deparam-se com a necessidade de assumir diversas tarefas e funções, além das assistenciais, principalmente aquelas de caráter administrativo.

Entretanto, o fato de os enfermeiros realizarem demasiadamente atividades administrativas no seu trabalho tem causado polêmica na profissão, sobretudo devido ao seu afastamento do cuidado direto aos pacientes(1-3). O processo de trabalho da enfermagem, no modelo clínico individual, abarca o processo de trabalho do cuidar e o processo de trabalho administrar. O primeiro tem sido desenvolvido, em grande parte, pelas categorias subordinadas ao enfermeiro e o segundo se refere às atividades mais desenvolvidas pelos enfermeiros com a finalidade de organizar o processo de trabalho do cuidar e a infra-estrutura necessária para a realização desse processo.

Os estudos realizados entre as décadas de 60 e 90 demonstraram que os enfermeiros têm se dedicado principalmente às tarefas de organização do serviço de enfermagem e de sua sintonia com os demais serviços hospitalares. Observou-se também que esses profissionais têm assumido postura de obediência e passividade aos critérios estabelecidos pelas instituições, conseqüentemente, seguindo, sem muitos questionamentos, as normas, rotinas e regulamentos impostos(1-5). É necessário destacar que esses estudos mostram, sobretudo, que o trabalho dos enfermeiros pouco se alterou nesse período, pois continuam realizando predominantemente atividades administrativas de caráter burocrático, sendo mais desenvolvidas aquelas que atendem às expectativas médicas, seguidas das expectativas da organização hospitalar e, por fim, as que emanam do próprio serviço de enfermagem(1-5). Nesse contexto, os profissionais realizam uma administração do serviço essencialmente voltada para a tecnoburocracia hospitalar(4).

Na realidade, tem-se verificado que o enfermeiro toma a posição de gerente do serviço de enfermagem e, até certo ponto, da organização institucional, segundo a lógica do controle técnico e social(4). É isso que a instituição espera dele, porque precisa de alguém que conheça a essência do trabalho de enfermagem e não para executá-lo, pois, dessa forma, haveria a necessidade de muitos enfermeiros, o que não convém, visto que se torna oneroso, ameaçando o lucro(6). Como conseqüência dessa situação, o processo de trabalho do cuidar tem sido delegado aos auxiliares e aos técnicos de enfermagem, sob a supervisão e o controle do enfermeiro(7). Cabe lembrar que, no Brasil, essa divisão de trabalho na enfermagem se fortalece a partir da expansão técnica e burocrática das instituições hospitalares e com a legitimação do pessoal auxiliar com a Lei nº 795/1949, que cria, oficialmente, os cursos de auxiliares de enfermagem encarregados do cuidado direto ao paciente(6).

A existência de várias categorias de enfermagem tem dificultado, na prática, a determinação do limite das funções para cada agente, o que tem gerado conflitos entre os elementos da equipe. Nas últimas décadas, os enfermeiros têm lutado pela definição e diferenciação de seu espaço e liderança do pessoal auxiliar, que tem defendido direitos a espaços definidos na prestação da assistência de enfermagem(8).

Dessa forma, o reconhecimento das atividades desenvolvidas pelos enfermeiros no cotidiano das instituições é de fundamental importância, visto que possibilita visualizar mais claramente as lacunas existentes no seu trabalho e, conseqüentemente, auxiliar na delimitação de suas funções. Além disso, pode trazer elementos que possam contribuir para um desempenho gerencial mais criativo, inovador, participativo, mais próximo do cliente e do trabalhador e que favoreça o conhecimento das reais necessidades da equipe e dos pacientes.

Não há dúvidas de que os estudos realizados sobre essa temática, como os que foram apresentados anteriormente, ajudam a esclarecer as atividades desempenhadas pelos enfermeiros, contudo, essas atividades precisam ser constantemente investigadas, pois a realidade é dinâmica, as crenças e valores da profissão sofrem mudanças ao longo do tempo, exigindo o redimensionamento das competências e responsabilidades profissionais.

Assim, este estudo tem como objetivos identificar e analisar as atividades desempenhadas pelos enfermeiros nas unidades de internação de um hospital-escola, a fim de proporcionar informações sobre o papel desempenhado por esse profissional que possam contribuir para a melhoria da organização dos serviços de enfermagem.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo do tipo exploratório e descritivo, realizado em um hospital geral, de grande porte e de ensino do Distrito Federal. Foram escolhidas as unidades de Clínica Médica, Clínica Cirúrgica, Clínica Pediátrica e Maternidade, por serem consideradas básicas de um hospital geral. Estabeleceu-se, como critério de inclusão, os enfermeiros que tivessem dedicação exclusiva à assistência. Não participaram do estudo os enfermeiros-chefe das unidades, visto que desenvolvem, além das atividades assistenciais, grande número de atividades administrativas e burocráticas. Esses profissionais estão presentes apenas durante o período diurno, assumindo a maior parte das atividades administrativas da unidade.

Dos 26 enfermeiros assistenciais lotados nas quatro unidades de internação, participaram deste estudo 18 enfermeiros (69,23%), sendo 5 da Clínica Médica, 4 da Clínica Cirúrgica, 4 da Clínica Pediátrica e 5 da Maternidade, de um total de, respectivamente, 6, 8, 6 e 6 enfermeiros. Com relação ao número de leitos nas unidades de internação, há 64 leitos na Clínica Médica, 54 na Clínica Cirúrgica, 26 na Clínica Pediátrica e 40 na Maternidade. A média de ocupação nas unidades de internação é de aproximadamente 85%.

Inicialmente, solicitou-se autorização ao Comitê de Ética e Pesquisa em Seres Humanos da instituição para a realização da pesquisa. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido serviu como sinal de aceite para o ingresso na pesquisa e foi assinado por todas as profissionais que se propuseram a participar do estudo.

A técnica utilizada para a coleta de dados constituiu-se na observação direta e sistematizada das atividades desenvolvidas pelos enfermeiros. Os dados provenientes da observação direta foram registrados em um formulário.

A coleta de dados foi realizada no período de outubro de 2001 a maio de 2002. O período de trabalho do plantão diurno é de 6 (seis) horas, sendo realizado das 7h às 13h e das 13h às 19h, e do plantão noturno é de 12 (doze) horas, sendo realizado das 19h às 7h.

Em cada unidade, foram observadas as atividades dos enfermeiros em 15 (quinze) plantões diurnos (90 horas) e em 7 plantões noturnos (84 horas), exceto na Clínica Cirúrgica, pois a única enfermeira que atuava nesse período não aceitou participar da pesquisa. Portanto, observou-se 60 plantões diurnos (360 horas) e 21 plantões noturnos (252 horas).

Logo, esta pesquisa teve como base 612 horas (81 plantões) de observação, realizados em dias e turnos alternados, perfazendo 174 horas em cada unidade, exceto na Clínica Cirúrgica que foi de 90 horas. Como critério de delimitação do número de horas de observação, teve-se a saturação, ou seja, a repetição dos dados, que permitiram demonstrar com maior fidedignidade o conteúdo das atividades desenvolvidas pelos enfermeiros da instituição.

As funções registradas foram, posteriormente, classificadas em atividades administrativas, assistenciais, relativas ao sistema de informação e atividades educativas. Para tanto, utilizou-se um instrumento baseado em outros estudos(2,9) e adaptado pelas pesquisadoras após treinamento para a coleta de dados no campo de estudo durante duas semanas. Nesse instrumento, as funções foram classificadas por categoria, segundo suas características, nas quais: atividades administrativas são aquelas referentes ao planejamento, organização, comando, coordenação e controle de atividades desenvolvidas nas unidades(2,9); atividades assistenciais constituem as funções desempenhadas diretamente com ou para o paciente, ou seja, os cuidados diretos prestados pelo enfermeiro ao cliente, como também os cuidados indiretos(2,9); atividades relativas ao sistema de informação são atividades que dizem respeito à forma como é processada a comunicação da equipe de enfermagem tanto no seu âmbito interno quanto na interação com os demais integrantes da equipe de saúde(2,9); atividades educativas são aquelas relacionadas com a aquisição de novos conhecimentos por parte do enfermeiro e do pessoal de enfermagem. Assim, essas ações seriam as atividades de pesquisa em trabalho realizadas pelo enfermeiro e a promoção e colaboração ao ensino de funcionários de enfermagem pela educação continuada(9).

Posteriormente, os dados obtidos por meio das observações foram codificados em tabelas demonstrativas, visando a melhor compreensão da dimensão e característica das ações. Quanto ao tratamento estatístico, no processamento dos dados, utilizou-se o programa Microsoft Excel 2003, permitindo realizar a análise estatística (análise de variância ANOVA) das variáveis do estudo: atividades administrativas e atividades assistenciais. O nível de significância foi de 0,05.

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Na Tabela 1 apresenta-se a distribuição das atividades desempenhadas pelos enfermeiros, nas 612 horas de observação, segundo as unidades de internação.

Pode ser observado na Tabela 1 que, do total de 4006 atividades observadas, 36,1% correspondem às atividades administrativas; 32,5% às atividades assistenciais; 27,3% às atividades relacionadas ao sistema de informação e 4,1% às atividades educativas. Resultados semelhantes foram encontrados em outros estudos desenvolvidos em outras realidades(2-3,6,9), demonstrando que os enfermeiros têm priorizado as atividades administrativas, principalmente as burocráticas, em detrimento das atividades voltadas para a assistência aos pacientes. Esses estudos demonstram também que o elemento da equipe de enfermagem que dispensa menos tempo junto ao cliente é o enfermeiro, por estar voltado para as atividades administrativas que poderiam ser delegadas ao pessoal auxiliar.

Apesar de as freqüências das atividades administrativas e assistenciais serem próximas, a análise de variância entre essas variáveis (Tabela 2) comprovou que a média das atividades não são iguais estatisticamente. O teste de comparação das médias forneceu o valor Fc = 4,261, que deve ser comparado com o valor crítico obtido da distribuição Fisher-Snedecor com 1 e 25 graus de liberdade. Considerando a = 5%, obteve-se Fobs = 4,242. Tendo em vista que Fobs > Fc, conclui-se que existe diferença nas médias das atividades administrativas e atividades assistenciais, confirmando as observações descritivas feitas anteriormente.

Verifica-se também que os enfermeiros dedicam tempo considerável às atividades relativas ao sistema de informação que são relevantes para a sistematização da assistência e funcionamento do serviço, bem como para a integração dos profissionais.

As atividades educativas não receberam a importância devida pelos enfermeiros, visto que, entre as quatro categorias de atividades estudadas, foram as menos desenvolvidas pelos enfermeiros. Esses dados evidenciam que esses enfermeiros não realizam estudos em serviço, de fundamental importância para se manterem atualizados e aprimorarem as condutas a serem estabelecidas no cuidado aos pacientes. É necessário destacar, portanto, que, por se tratar de um hospital-escola, a prática de estudo em serviço deve ser realizada com maior freqüência para estimular o aluno a reconhecer a relevância de desenvolver esse tipo de hábito.

Na Tabela 3 pode-se observar a freqüência das atividades categorizadas como administrativas, realizadas nas quatro unidades de internação. Foram observadas 1445 atividades administrativas. Pode ser verificado que organizar, preencher e tramitar papéis (OPT) foram as mais realizadas, representando 12,7% do total das administrativas. Esses dados mostram que os enfermeiros despendem boa parte do tempo realizando atividades administrativas burocráticas que poderiam ser delegadas ao pessoal auxiliar, como secretária ou escriturária(2,9-10).

A segunda atividade observada com maior constância é a previsão, requisição e provisão de medicação (PRM), representando 12,4%. Essas atividades realizadas pelos enfermeiros compreenderam desde a verificação das medicações dos clientes encaminhadas pela Farmácia, como também o controle de vacinas, psicotrópicos e medicações do carrinho de parada até a busca de medicação na Farmácia do Hospital.

Solicitar a execução de técnica ou cuidado de enfermagem a auxiliares de enfermagem (SEA) foi a terceira atividade administrativa mais desenvolvida pelos enfermeiros (11,8%). Por possuir um número elevado de leitos e apenas um ou dois enfermeiros por plantão, torna-se necessária a delegação de atividades assistenciais ao pessoal auxiliar.

Supervisionar os cuidados prestados aos pacientes (SCP) foi observada em 10,5% do total das atividades administrativas. Geralmente, a supervisão realizada pelo enfermeiro diz respeito ao controle da execução das atividades que são delegadas ao pessoal auxiliar.

Atividades como orientar e avaliar funcionários sobre normas, rotinas, atribuições (NRA) e controlar ausências, pontualidade e uniforme dos funcionários (CFU), que estão ligadas à avaliação, controle e orientação de funcionários, foram atividades administrativas menos realizadas pelos enfermeiros nas unidades de internação.

Esses dados demonstram que os enfermeiros, no gerenciamento do pessoal de enfermagem, enfatizam o controle da prática desenvolvida por outros agentes.

Participar de reunião de enfermagem (PRE) foi a atividade administrativa menos realizada pelos enfermeiros, totalizando apenas 0,3% do total de atividades administrativas observadas. Esse dado mostra que os enfermeiros não utilizam a reunião como estratégia para a promoção do trabalho em equipe. A ausência de reunião suprime um momento importante da equipe, quando poderiam ser articuladas propostas de ações conjuntas para a clientela(11-12).

Da análise dos dados da Tabela 3, deduz-se que os enfermeiros dedicam pouco tempo às atividades de planejamento e avaliação da assistência de enfermagem tais como supervisionar os cuidados prestados, trocar informações sobre problemas da unidade com superiores, solicitar providencias e responder a questões normativas de outros departamentos e participar de reunião de enfermagem (13,7%). Em contrapartida, despendem seu tempo na execução de atividades administrativas burocráticas, como organizar, preencher e tramitar papéis; realizar atividades burocráticas relativas à admissão, alta, licença e transferência de pacientes; verificar prontuário, exames e escalas de cirurgias; solicitar serviços de outros setores; testar, instalar e/ou providenciar reparo e manutenção de equipamentos e aparelhos; auxiliar médico na organização e preenchimento de papéis (37,8%), que podem ser delegadas ao pessoal auxiliar. Verificou-se também que o número reduzido de enfermeiros e a sua atuação limitada impedem um posicionamento mais efetivo, como líder e agente responsável pela promoção da própria equipe e da assistência de enfermagem(13).

Em síntese, os dados obtidos, relativos ao desenvolvimento das atividades administrativas, demonstram que os enfermeiros pautam-se pelos princípios de administração científica para o desenvolvimento do gerenciamento do serviço de enfermagem. Esses dados evidenciam a necessidade de transformação da prática gerencial que deve ter como centro o trabalho em equipe e o paciente.

Foram observadas 1302 atividades assistenciais desempenhadas pelos enfermeiros, demonstradas na Tabela 4.

A execução de técnicas de enfermagem (ETE) foi a atividade assistencial mais desenvolvida, 34,6%. Dentre as técnicas de enfermagem observadas estão a realização de curativos de pequeno a grande porte, exame físico, administração de medicação, sondagem vesical e nasogástrica, dentre outras. Os cuidados diretos relacionados à área emocional do paciente e familiares (CAE) somaram 27,1% das atividades assistenciais. Os cuidados com a área emocional compreenderam a conversa, apoio psicológico, orientações e esclarecimento de dúvidas dos pacientes e acompanhantes.

Os cuidados diretos relacionados à área física do paciente (CAF) totalizaram 14,4% das atividades assistenciais. Essas atividades visam promover o conforto físico do paciente, como: auxilio no banho, provisão de roupas e material de uso pessoal ao paciente e mudança de decúbito, entre outros cuidados.

Realizar visita de enfermagem representou 10,1% do total das atividades assistenciais. Essa atividade é relevante, visto que é parte integrante do processo de planejamento, permite aumentar o vínculo com os pacientes, detectar e prevenir problemas através de um exame físico direcionado e coletar dados individualizados, oferecendo principalmente subsídios para avaliar a assistência prestada ao cliente.

A realização da manutenção da limpeza e organização do ambiente (MLO) correspondeu a 7,2% das atividades assistenciais. O desempenho de atividades que subutilizam o preparo do enfermeiro como, por exemplo, lavar material, organizar posto de enfermagem, levar material ao expurgo, preencher pedidos de exames foram atividades observadas e que deveriam ser atividades delegadas ao pessoal auxiliar.

Na Tabela 5 é mostrada a distribuição das freqüências das atividades relacionadas ao sistema de informação desempenhadas pelos enfermeiros nas quatro unidades de internação. Foram observadas 1094 atividades. Dentre elas, a comunicação de informações para a equipe de enfermagem e/ou de saúde (IEE) foi a predominante (58%) em todas as unidades observadas. Foram considerados nessa atividade: o pedido, o recebimento e a transmissão de informações para os membros da equipe, relacionados à assistência ao paciente.

O enfermeiro é o membro da equipe que abarca o maior número de informações sobre o paciente e seu tratamento, por assumir a coordenação do pessoal de cuidado e do processo de cura, que abrange um agregado de ordens e diretivas isoladas(2). Sua mesa é o local onde o cuidado e a cura se encontram e onde as ordens médicas somam-se a uma corrente de tarefas que são distribuídas entre a equipe(2).

Dentre as atividades de comunicação do enfermeiro estão a anotação no relatório de enfermagem e/ou prontuário do paciente (24,7%) e a leitura do relatório de enfermagem, prontuário e/ou livro de escala (12,2%). Como não há passagens de plantão sistematizadas nas unidades de internação (4,0%), todos os elementos precisam despender grande parte do seu tempo recorrendo a esse tipo de informação para se inteirar acerca da assistência a ser prestada ao paciente ou para informar os membros da equipe de outros turnos. Sabe-se que a passagem de plantão na unidade de internação é imprescindível para dar continuidade às ações e garantir a segurança ao paciente, devendo contar com a participação de todo o pessoal de enfermagem, tanto daquele que deixa a unidade quanto do que está chegando para trabalhar. O enfermeiro deve coordenar essa atividade, aproveitando esse momento para esclarecimentos de dúvidas e enganos detectados no decorrer do turno de serviço, visando a orientação e aprimoramento técnico do pessoal de enfermagem.

Acompanhar a visita médica (AVM) correspondeu somente a 1% das atividades de informação, o que demonstra a necessidade de maior entrosamento entre a equipe de enfermagem e médica. As anotações do relatório de enfermagem poucas vezes são lidas pelos médicos e as evoluções médicas também raramente são lidas pela equipe de enfermagem. As visitas aos pacientes, realizadas conjuntamente pelas duas equipes, de enfermagem e médica, facilitariam a comunicação e interação entre os profissionais, bem como beneficiaria a assistência prestada ao paciente, como demonstram alguns estudos(11-12).

Na Tabela 6 demonstra-se a distribuição da freqüência das atividades educativas realizadas pelos enfermeiros nas unidades de internação observadas.

A orientação e esclarecimento de dúvidas (OEF) perfizeram o total de 97% das atividades educativas desempenhadas e o estudo em serviço (RES), 3%. Chama a atenção o fato de o enfermeiro desempenhar papel tão limitado na educação da equipe de enfermagem, visto que, compete a ele, como líder, atualizar-se e levar a equipe à atualização constante(13). É iminente a necessidade do enfermeiro atualizar-se, para assumir sua função, liderar a equipe de enfermagem e ter condições de impor-se como profissional, intervindo nas decisões que se referem à assistência de enfermagem(13).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi possível apreender, por meio das observações sistematizadas das atividades desenvolvidas nas unidades de internação, que os enfermeiros têm-se ocupado mais freqüentemente com as atividades administrativas, 36,1%, do total das atividades. Verificou-se que essas atividades visam contemplar predominantemente a organização do serviço de enfermagem, o que corrobora para que o enfermeiro tenda a negligenciar as atividades voltadas para o gerenciamento da assistência, orientada, principalmente, para atender as necessidades globais dos pacientes.

Os resultados encontrados mostram também que os enfermeiros têm se dedicado ao desenvolvimento das atividades administrativas burocráticas, que deveriam ser delegadas a outros profissionais, indicando tendência para a rotinização e impessoalidade da assistência de enfermagem prestada, o que a torna mecanizada, distanciada e fragmentada. Essa situação, ou seja, o fato de o enfermeiro voltar-se mais para o desenvolvimento de atividades administrativas burocráticas já vem se repetindo por longo tempo, conforme apontam vários estudos(1-3,6,9,14). O tipo de trabalho predominantemente desenvolvido pela maioria dos enfermeiros, aliado ao amplo emprego de rotinas e a delegação pura e simples de funções, tais como solicitar a execução de técnica ou cuidado de enfermagem a auxiliares de enfermagem, sem o devido acompanhamento, constitui-se em alguns dos principais impeditivos ao profissionalismo na enfermagem, favorecendo a ocorrência de deformações nas percepções da imagem profissional de enfermeiro(14). Isso se deve ao modelo utilizado por eles para administrar a assistência de enfermagem, embasado na Administração Científica. Esse modelo utiliza os métodos tayloristas na organização do trabalho que, apesar de apresentar aumento de produtividade individual de cada trabalhador mediante a busca do contínuo disciplinamento ao tempo e ao trabalho quantitativo(15), torna-se fragmentado, padronizado, alienante e bloqueador da iniciativa e da criatividade, por ser um modelo essencialmente prescritivo e normativo.

Quanto às atividades assistenciais, que representou 32,5% do total das atividades observadas, verificou-se que os enfermeiros, por terem pouco tempo para executar essas atividades, priorizam a execução de procedimentos técnicos de maior complexidade e cuidados físicos aos pacientes mais graves. Como conseqüência, apesar de o enfermeiro ser o profissional qualificado e capacitado legalmente para desenvolver uma assistência integral aos pacientes, observa-se que presta assistência sem sistematização e de forma fragmentada.

As atividades referentes ao sistema de informação corresponderam a 27,3% do total de atividades observadas. A comunicação da equipe de enfermagem, tanto no seu âmbito interno quanto na interação com os demais integrantes da equipe de saúde, permite melhor assistência ao paciente. Entretanto, os resultados deste estudo demonstram que importantes meios de comunicação entre a equipe de enfermagem quase inexistem, como as passagens de plantão, que foram substituídas, em parte, pelas anotações das intercorrências em relatório de enfermagem.

Também foi observado que os enfermeiros desempenharam papel limitado na educação, representando uma parcela insignificante das atividades realizadas (4,1%). O enfermeiro deve entender que a educação continuada é um processo de mudança imprescindível para que ele se atualize e se eduque constantemente. Além disso, deve estimular os funcionários sob sua liderança a participarem de programas de educação continuada, trazendo melhoria da qualidade da assistência, ocasionando vantagens para o paciente e para a instituição.

Os resultados do estudo demonstram que os enfermeiros devem prender-se à assunção da função administrativa centrada na assistência, que deve ter como foco o paciente e envolver o planejamento, a direção, a supervisão e a avaliação das atividades de enfermagem, visando a melhoria da qualidade de assistência(2-3,14). É evidente também a necessidade dos enfermeiros reverem o modelo de gerenciamento adotado a fim de incorporar no processo de gestão valores mais flexíveis, inovadores e humanos. Certamente são necessários outros estudos que aprofundem a análise dos fatores que têm dificultado aos enfermeiros modificarem o modo como vêm desenvolvendo o gerenciamento dos serviços de enfermagem.

Recebido em: 13.5.2004

Aprovado em: 14.7.2005

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  • 1 Trabalho extraído de Pesquisa de Iniciação Científica (PIBIC) financiada pelo CNPq
    Trabalho extraído de Pesquisa de Iniciação Científica (PIBIC) financiada pelo CNPq
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      22 Nov 2005
    • Data do Fascículo
      Out 2005

    Histórico

    • Aceito
      14 Jul 2005
    • Recebido
      13 Maio 2004
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