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Tendências da produção do conhecimento na educação em saúde no Brasil

Resumos

Trata-se de revisão de literatura cujo objetivo foi identificar o conceito de Educação em Saúde, utilizado por pesquisadores em Saúde Coletiva, apresentar as principais tendências e referenciais pedagógicos discutidos nessas pesquisas e exemplificar estudos construídos com o objetivo de promover a educação em saúde por meio de estratégias participativas com o envolvimento da comunidade. Após a leitura e análise de 22 artigos, levantados no Scientific Eletronic Library Online, que atendiam as questões norteadoras do estudo, foram construídas as seguintes categorias de análise: educação em saúde no Brasil - aspectos conceituais, práticas pedagógicas em educação e saúde, educação em saúde aplicada à prática profissional. A educação em saúde é um campo imprescindível ao desenvolvimento de uma sociedade e práticas educativas são espaços de aplicação dos saberes destinados ao crescimento social. Percebe-se a importância de propostas educacionais baseadas na reflexão, crítica, envolvimento e conscientização, e a importância da implementação de novos programas educativos que atendam toda população.

educação em saúde; saúde pública; enfermagem


This literature review aimed to identify the concept of Health Education used by researchers in Collective Health; to present the main trends and pedagogical references defended in these studies and to exemplify studies constructed with the objective to promote health education by means of participant strategies with the community's involvement. After reading and analyzing 22 articles searched in the Scientific Electronic Library Online that answered the study questions, the following categories of analysis were constructed: Health Education in Brazil - conceptual aspects; pedagogical practices in education and health; health education applied to professional practices. Health education is an essential field to the development of a society and educative practices are opportunities to apply knowledge directed to social growth. The importance of educational proposals based on the reflection, critique, involvement and awareness is perceived, as well as the importance of implementing new educative programs to meet the population's needs.

health education; public health; nursing


Se trata de una revisión de literatura cuyo objetivo fue identificar el concepto de Educación en Salud utilizado por investigadores en la Salud Colectiva; presentar las principales tendencias y referenciales pedagógicos discutidos en estas investigaciones y ejemplificar estudios construidos con el objetivo de promover la educación en salud a través de estrategias con la participación de la comunidad. Tras la lectura y análisis de 22 artículos encontrados en el Scientific Eletronic Library Online que atendían a los temas orientadores del estudio, han sido construidas las siguientes categorías de análisis: Educación en Salud en Brasil-aspectos conceptos conceptuales, prácticas pedagógicas en educación y salud; educación en salud aplicada a la práctica profesional. La educación es un campo imprescindible al desarrollo de una sociedad y las prácticas educativas son marcos de aplicación de los saberes destinados al crecimiento social. Se nota la importancia de las propuestas educacionales basadas en la reflexión, en la crítica, en el involucramiento y concientización, y la importancia de implantar nuevos programas educativos que atiendan a toda la población.

educación en salud; salud pública; enfermería


ARTIGOS DE REVISÃO

Tendências da produção do conhecimento na educação em saúde no Brasil

Ana Carolina Dias VilaI; Vanessa da Silva Carvalho VilaII

IEnfermeira, Mestre em Ciências Ambientais e Saúde, Professor da Universidade Salgado de Oliveira, Brasil, e-mail: carolvila@ibest.com.br

IIEnfermeira, Doutor em Enfermagem, Professor Assistente I da Universidade Católica de Goiás, Brasil

RESUMO

Trata-se de revisão de literatura cujo objetivo foi identificar o conceito de Educação em Saúde, utilizado por pesquisadores em Saúde Coletiva, apresentar as principais tendências e referenciais pedagógicos discutidos nessas pesquisas e exemplificar estudos construídos com o objetivo de promover a educação em saúde por meio de estratégias participativas com o envolvimento da comunidade. Após a leitura e análise de 22 artigos, levantados no Scientific Eletronic Library Online, que atendiam as questões norteadoras do estudo, foram construídas as seguintes categorias de análise: educação em saúde no Brasil - aspectos conceituais, práticas pedagógicas em educação e saúde, educação em saúde aplicada à prática profissional. A educação em saúde é um campo imprescindível ao desenvolvimento de uma sociedade e práticas educativas são espaços de aplicação dos saberes destinados ao crescimento social. Percebe-se a importância de propostas educacionais baseadas na reflexão, crítica, envolvimento e conscientização, e a importância da implementação de novos programas educativos que atendam toda população.

Descritores: educação em saúde; saúde pública; enfermagem

INTRODUÇÃO

A Saúde Coletiva pode ser considerada um campo do conhecimento científico de natureza interdisciplinar que "toma como objeto as necessidades sociais de saúde, como instrumentos de trabalho, distintos saberes, disciplinas, tecnologias materiais e não materiais, e, como atividades, intervenções centradas nos grupos sociais e no ambiente"(1). Consiste na "arte e ciência de prevenir a doença e a incapacidade, prolongar a vida e promover a saúde física e mental mediante os esforços organizados da comunidade"(2-3). No Brasil, esse campo do conhecimento tem como referência a promoção de saúde e a prevenção de agravos, visando melhor qualidade de vida à população.

Durante a supervisão do estágio curricular na disciplina Enfermagem em Saúde Coletiva, pôde-se observar a realidade do atendimento à clientela em uma unidade municipal de atenção integral à saúde, responsável pelo atendimento ambulatorial nas áreas clínica e pediátrica, bem como atendimentos de emergência a uma área geograficamente definida. Nesse período, observou-se a carência da clientela atendida nesse local, principalmente nos aspectos referentes às informações acerca do fluxograma de atendimento, dos cuidados necessários para sua saúde, bem como o distanciamento do enfermeiro e, até mesmo, sua ausência, não participando de atividades assistenciais de sua competência como consultas de enfermagem, grupos de orientações a pacientes diabéticos, hipertensos, gestantes, adolescentes e idosos. É importante ressaltar que a falta de informação gera má interpretação acerca do tratamento prescrito, dos cuidados necessários para reabilitação, enfim, promove não eficácia terapêutica.

Nesse sentido, constatou-se a demanda do atendimento referente à Educação em Saúde dos indivíduos dessa comunidade, denotando o despreparo, a falta de priorização da educação em saúde, enquanto estratégia de intervenção para a construção do conhecimento e, conseqüentemente, para a melhoria dos cuidados à saúde do indivíduo e da comunidade atendida nessa área de abrangência.

Dentre as atividades do enfermeiro, a Educação em Saúde deve ser prioridade, principalmente em local de atendimento tão próximo à comunidade. O profissional enfermeiro é habilitado e capacitado para cuidar do paciente e sua família, assisti-los em todas as suas dimensões existenciais, levando em consideração as necessidades curativas, preventivas e educativas de cuidados em saúde.

Sob essa perspectiva, desenvolveu-se este estudo com o objetivo de responder aos seguintes questionamentos: o que é educação em saúde? Quais referenciais pedagógicos em educação e saúde são discutidos por pesquisadores em Saúde Coletiva? Quais pesquisas poderão exemplificar tendências de práticas educativas em saúde na comunidade?

Este estudo objetiva contribuir para elucidar o conceito de Educação em Saúde bem como identificar os referenciais utilizados por essas pesquisas, que poderão colaborar para o planejamento e implementação de programas educativos que atendam, realmente, às necessidades da comunidade.

MÉTODO

Inicialmente, foi realizado o levantamento da produção científica com a temática Educação em Saúde Coletiva, existente em periódicos indexados, na biblioteca eletrônica do Scientific Eletronic Library Online (SciELO), que abrange a coleção selecionada de periódicos científicos brasileiros. Por meio do levantamento bibliográfico, constatou-se que das revistas indexadas no banco de dados, as que tiveram maior destaque na publicação dessa temática foram: Revista de Saúde Pública, Caderno de Saúde Pública, Ciência e Saúde Coletiva e a Revista Latino-Americana de Enfermagem.

Esses periódicos foram selecionados por serem de destaque em âmbito nacional e internacional, tendo classificação A, B e C internacional pelo sistema Qualis - Classificação de Periódicos, Anais, Jornais e Revistas. O sistema Qualis é o resultado do processo de classificação dos veículos utilizados por programas de pós-graduação para a divulgação da produção intelectual de seus docentes e alunos. Tal sistema foi concebido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para atender a necessidades específicas da avaliação da pós-graduação. Os periódicos científicos são enquadrados em categorias indicativas da qualidade - A, B ou C e do âmbito de circulação dos mesmos (internacional, nacional ou local).

Assim, o período definido para a busca relacionou-se à data de início de publicação do periódico na biblioteca eletrônica até o ano 2005. Foram selecionados os artigos que tinham como palavras-chave: educação em saúde, saúde coletiva, educação e saúde e educação em enfermagem. Inicialmente foram levantados 160 artigos científicos, como mostrado na Tabela 1.

A partir desse levantamento inicial, definiu-se como critérios de inclusão: estudos referentes à educação em Saúde Coletiva, tendências pedagógicas utilizadas por profissionais de saúde, estudos que denotam práticas pedagógicas em Educação e Saúde. Com isso, a partir da leitura dos resumos desses artigos, foram selecionados 75 para serem analisados na íntegra, resultando a seleção final de 22 artigos, que foram as referências norteadoras deste estudo, como descrito na Tabela 2.

Foram excluídos artigos que não abordavam educação em saúde enquanto referencial para Saúde Coletiva. A partir da leitura desses artigos foram construídas as categorias de análise bibliográfica referentes à produção do conhecimento sobre Educação em saúde enquanto referencial para Saúde Coletiva. Essas categorias são: educação em saúde no Brasil - aspectos conceituais práticas pedagógicas em educação e saúde educação em saúde aplicada à prática profissional, que serão apresentadas e discutidas a seguir.

EDUCAÇÃO EM SAÚDE NO BRASIL - ASPECTOS CONCEITUAIS

A partir da revisão crítica dos estudos levantados, constatou-se que a educação em saúde é compreendida como campo multifocado para o qual convergem diversas concepções, tanto na área de educação, quanto na área da saúde, as quais espelham diferentes compreensões do mundo, sobre o homem e a sociedade. É um instrumento que possibilita ao indivíduo compreender o que ocorre na sociedade, ampliando sua visão do mundo no qual está inserido. Por meio do incentivo à educação e à saúde será possível transformar, desenvolver idéias, criar meios e subsídios para o crescimento e desenvolvimento de uma sociedade(4-6).

A educação em saúde é compreendida como um meio de trocar informações e de desenvolver uma visão crítica dos problemas de saúde e não um processo limitado de transformação de informações(4); pode-se percebê-la como um fato social, que envolve fatores e aspectos subjetivos, pode-se considerá-la como prática social, porque é atitude, atuação, vivência, algo que ocorre a cada instante.

Educação em saúde objetiva suscitar o envolvimento da comunidade nos programas de saúde, incluir políticas públicas, promover transformações conceituais na compreensão de saúde, relacionar propostas libertadoras, comprometidas com o desenvolvimento da solidariedade e da cidadania, orientando-se para ações cuja essência está na melhoria da qualidade de vida. Educar configura-se pela exigência de que o educador tenha domínio dos saberes científico, técnico, pedagógico, investigativo, interdisciplinar e cultural(7). Praticar educação em saúde é praticar socialização, porque é algo produzido pelo social, por uma ação voltada à atividade humana.

No contexto da enfermagem, praticar educação em saúde é proporcionar ao indivíduo condições para que ele próprio busque, exponha, questione, viva, experimente, crie, contribua, resgate, conquiste seu lugar na sociedade, alcance seus objetivos e ideais e transforme seus sonhos em realidade; é reconhecer o homem como sujeito responsável por sua realidade(5). Essa não é uma tarefa muito fácil, pois exige dedicação, empenho e vontade por parte do educador e do educando, mas, certamente, é tarefa muito prazerosa.

A enfermagem deve ser vista como prática social voltada para o lado comunitário e humano; um elo que interliga indivíduo-sociedade-saúde-ambiente. O enfermeiro está intimamente ligado à prática e intervenções educativas, pois está cada vez mais preparado para desenvolver seu papel de educador.

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM EDUCAÇÃO E SAÚDE

Em relação às práticas educativas em saúde, os pesquisadores referem que são espaços de produção e aplicação de saberes destinados ao desenvolvimento humano e devem favorecer o processo de ensino-aprendizagem por meio da adoção de referenciais pedagógicos que promovam a reflexão crítica e participativa dos sujeitos(6).

Dentre as práticas pedagógicas discutidas na literatura, destacam-se a pedagogia tradicional, ou condicionada, e a pedagogia crítica ou renovada(6). Na pedagogia tradicional ou condicionada, as ações estão voltadas ao conhecimento do professor. O professor assume a função de vigiar os alunos, corrigir provas e ensinar a matéria. É visto como autoridade máxima em sala de aula, o único condutor do processo. Nessa prática pedagógica, o educando recebe passivamente os conhecimentos, tornando-se depósito de informações fornecidas pelo educador, também é denominada "educação bancária". Educa-se para arquivar o que se deposita, ou seja, "pensa-se que quanto mais se dá, mais se sabe"(8).

A pedagogia crítica, ou renovada, também conhecida como "pedagogia da problematização e/ou libertadora" tem suas origens nos movimentos de educação popular que ocorreram nos anos 50. Define educação como atividade em que professores e alunos são mediatizados pela realidade que apreendem e da qual extraem o conteúdo da aprendizagem, atingem um nível de consciência dessa realidade, possibilitando a transformação social. A educação libertadora questiona a realidade das relações do homem com a natureza e com outros homens, visando uma transformação(4,9-11).

A educação problematizadora trabalha a construção de conhecimentos a partir da vivência de experiências, apoiada nos processos de aprendizagem por descoberta, em oposição aos de recepção(12). A partir do autoconhecimento e auto-reflexão, o indivíduo torna-se mais consciente de suas responsabilidades e de seus atos, o que, certamente, facilita a aprendizagem(5). Nesse sentido, a aprendizagem ocorre por meio de ação motivada, o que é aprendido não decorre da imposição ou memorização, mas sim do nível crítico de conhecimento ao qual se chega pelo processo de compreensão, reflexão e crítica.

Os estudos analisados indicam que as práticas educativas, norteadas pela pedagogia problematizadora, são as mais adequadas à educação em saúde, pois além de valorizar o saber do educando, instrumentaliza-o para a transformação de sua realidade e de si mesmo, possibilita a efetivação do direito da clientela às informações de forma a estabelecer sua participação ativa nas ações de saúde(7).

A educação deve levar o educando à tomada de consciência e atitude crítica no sentido de haver mudança da realidade, deve ser considerada como parte da qualidade de vida e não pode ser segmentada: ou se obtém uma transformação total do homem e de seu projeto de vida ou nada se transforma.

Educar não significa simplesmente transferir conhecimentos, mas consiste no processo educativo que considera as representações da sociedade e do homem que quer se formar. Por meio da educação, as novas gerações adquirem outros valores culturais. A educação baseada na reflexão, no diálogo e na troca de experiências entre educador/educando e profissional/cliente possibilita que ambos aprendam juntos, por meio de processo emancipatório.

Como exemplo da necessidade de inserção da educação problematizadora na formação de profissionais de saúde, destaca-se o artigo intitulado - O curso de enfermagem da Universidade Estadual de Londrina na construção de uma nova proposta pedagógica(13). Esse estudo teve como objetivo levantar a história do Currículo de Enfermagem da Universidade Estadual de Londrina desde a implantação do curso, em 1972, até o currículo atual, implantado em 2000. A autora refere que o currículo de enfermagem dessa instituição passou por cinco mudanças ao longo de sua implantação, todas elas realizadas em virtude da melhoria da qualidade do ensino e da prestação de serviços de saúde à população.

No artigo é dado destaque ao currículo vigente na instituição caracterizado como "Currículo Integrado", baseado na concepção crítico-social e na pedagogia problematizadora. A autora enfatiza que a adoção desse referencial pedagógico veio romper com o ensino tradicional, baseado na reprodução de conceitos e atendeu à necessidade de formação de um novo perfil do enfermeiro com visão holística e não fragmentada do ser humano, capaz de atuar nas áreas assistencial, na gerência, no ensino e na pesquisa.

Destacou-se como resultado desse processo de mudança integrada, uma nova proposta pedagógica, fundamentada na certeza de que o aluno é sujeito ativo no processo de construção do conhecimento, cabendo ao professor a condução dos processos de ensino e aprendizagem pelo permanente desafio do raciocínio do aluno, pela integração de novos conhecimentos às experiências prévias.

Percebe-se que esse trabalho envolveu discussões sobre princípios, valores e crenças que norteiam a formação do enfermeiro para atender as exigências do mercado e trabalho, sem perder a capacidade de crítica, reflexão e ação(14).

Outros estudos também discutem as questões curriculares que envolvem a formação dos profissionais de saúde, utilizando o referencial da educação problematizadora, enquanto método de ensino, que propiciará a formação de profissionais críticos e reflexivos capazes de lidar com a realidade social que vivenciam(11).

EDUCAÇÃO EM SAÚDE APLICADA À PRÁTICA PROFISSIONAL

Foram selecionadas três pesquisas(4,14-15), tomadas como exemplos de possíveis Ações Educativas em Saúde que denotam a importância da busca de referenciais participativos, utilizando pedagogia que permite ao indivíduo/comunidade descrever sua consciência crítica, dialogada, reflexiva e construtora, baseada no trabalho educativo coletivo(8).

O primeiro estudo selecionado foi a Intervenção comunitária e redução da vulnerabilidade de mulheres às DST/AIDS em São Paulo(14). Trata-se de estudo-intervenção de base comunitária, com o objetivo de desenvolver e avaliar um conjunto de ações preventivas das DST e da AIDS voltadas para atingir a vulnerabilidade da população feminina de baixa renda.

O estudo foi realizado em São Paulo e foram desenvolvidas ações como treinamento de profissionais de saúde do ambulatório local, disponibilidade de recursos preservativos (masculino e feminino), realização de grupos educativos, distribuição de materiais educativos e realização de programas em rádio comunitária.

O estudo contou com a participação comunitária, envolvendo mulheres, homens, adolescentes e profissionais da saúde. Os autores destacaram como resultados maior procura por prevenção às DST e AIDS, grande possibilidade de desenvolver estratégias ligadas à saúde sexual e reprodutiva e a efetivação da educação em saúde coletiva por meio da participação comunitária.

As atividades educativas eram agendadas conforme disponibilidade da comunidade. Os temas discutidos durante a realização do trabalho foram sexualidade e DST, gravidez e contracepção. As autoras perceberam que as estratégias correspondentes às demandas e aos interesses específicos da cultura local, tiveram sucesso relacionado às ações educativas e preventivas e, a sobrecarga dos profissionais de saúde do ambulatório local mostrou-se limite para uma ação preventiva sustentada. Por meio desse estudo, a equipe de saúde e a comunidade envolvida perceberam o grande impacto de práticas educativas e participativas dentro da comunidade, e que, por meio da educação, da participação e do interesse de cada um, é possível transformar e educar a população.

O segundo estudo intitula-se Cartilha educativa para orientação materna sobre os cuidados com o bebê prematuro(4). Teve como objetivo desenvolver material didático-institucional, de fácil entendimento, dirigido ao treinamento materno para preparar a alta hospitalar do bebê prematuro.

As autoras utilizaram a metodologia participativa, que favoreceu a troca de experiências, questionamentos, informações e humanização no grupo. Participaram do estudo duas enfermeiras, dois auxiliares de enfermagem e quatro mães de bebês prematuros internados na unidade hospitalar.

Foram realizados quatro encontros com os participantes da pesquisa, nos quais foram discutidos a proposta da confecção de um material didático-informativo para as mães bem como sugestões sobre o material. Decidiu-se pela confecção da cartilha educativa ilustrada, de fácil entendimento, que pudesse ser levada para casa e que traziam assuntos como cuidados diários com o bebê, alimentação, higiene, cuidados especiais e relacionamento familiar.

A utilização da metodologia participativa e crítica possibilitou às participantes da pesquisa a troca de experiências, exposição de dúvidas existentes e compartilhamento dos problemas vivenciados em seu cotidiano. A versão final da cartilha educativa foi validada pelos participantes e constituiu instrumento criativo para auxiliar nas atividades de educação em saúde dirigida à clientela. Percebe-se que essa experiência oportuniza o desenvolvimento de atividades de educação em saúde, de maneira descontraída, criativa e coerente com as necessidades da comunidade(4).

O terceiro estudo selecionado foi Promoção do brincar no contexto da hospitalização infantil como ação de saúde(15). Teve como objetivo explorar os significados da promoção do brincar na hospitalização infantil para os profissionais de saúde que trabalham direta ou indiretamente com essa proposta.

Os autores consideram a hospitalização infantil experiência potencialmente traumática, que leva a criança ao afastamento da vida cotidiana, do ambiente familiar, confronto com a dor, limitação física, gerando sentimentos de culpa, punição e medo da morte.

O estudo foi realizado em três hospitais que realizam internação pediátrica, localizados em diferentes regiões brasileiras (Nordeste, Sudeste e Sul). Foram entrevistados 33 profissionais dessas instituições que estavam envolvidos com a atividade lúdica.

Em relação à organização do brincar, os três hospitais se preocupavam com a utilização do lúdico dois hospitais já utilizavam a ludoterapia como forma de intervenção terapêutica e, em uma instituição, não havia ações interligadas à promoção do brincar. Os profissionais mencionam que a instituição se encontrava num processo de ações voltadas ao brincar.

Quanto ao sentido da promoção do brincar, os autores relacionam o lúdico como algo prazeroso, que traz alegria e resgata a condição de ser criança identificam o brincar como um facilitador para a interação entre os profissionais de saúde, crianças e seus acompanhantes, analisam o brincar como um espaço mais democrático, em que ocorre a valorização das experiências individuais e a possibilidade de escolhas e a livre expressão da criança e vêem o brincar como terapia na medida em que se configura como possibilidade de elaboração de experiências relativas à hospitalização, permitindo a redução da angústia e a reorganização de sentimentos.

Os autores apontam para a possibilidade da promoção do brincar no espaço da hospitalização infantil como facilitador de uma dinâmica de interações que (re)significa o modelo tradicional de intervenção e cuidado de crianças hospitalizadas.

O estudo mostra o brincar como forma de recreação terapêutica, que traz benefícios à criança e atua como veículo de comunicação e educação que leva à informação, relativa à doença e ao tratamento, numa linguagem acessível ao paciente e à família e, também, identificou a promoção do brincar como facilitador de interação e vínculo entre profissional-criança-família.

Como enfermeiras, reconhece-se que estudos relacionados a práticas educativas em saúde são importantes, e que promover educação em saúde é possível, uma vez que os bons profissionais de saúde estão inseridos no mercado de trabalho, promovendo assistência humanizada e diferenciada. Estão se preparando e se capacitando para praticar educação.

Esses estudos contribuem para reflexões sobre as condutas práticas dos profissionais de enfermagem, repensar que tipo de profissional se é e qual o papel diante do cliente. Não se pode esquecer que promover educação em saúde exige conhecimento técnico-científico, compromisso, envolvimento, condições favoráveis de trabalho, tempo por parte do profissional e da comunidade e continuidade das ações, pois, lida-se com seres humanos, indivíduos capazes de enfrentar seus problemas e buscar soluções para os mesmos. No momento em que praticamos educação em saúde, todos (profissionais, família, comunidade e alunos) ganham.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio da realização deste estudo encontrou-se conceitos, pesquisas, referenciais pedagógicos, exemplos e propostas possíveis para a promoção da educação em saúde. Percebeu-se como a Educação em Saúde no Brasil e as práticas pedagógicas vêm sendo aplicadas à prática profissional e como o profissional de saúde está, cada vez mais, preparado e habilitado para praticar educação em saúde.

Com base nos referenciais teóricos analisados, ressalta-se a necessidade de novas propostas educacionais baseadas na percepção crítica, na análise reflexiva, no diálogo, no envolvimento, no respeito e na conscientização. Percebe-se que são imprescindíveis novos estudos como forma de contribuição à implementação de programas educativos que atendam toda a comunidade, propostas de mudanças curriculares que adotem o referencial participativo e problematizador, novas pesquisas relacionadas à educação em saúde, uma vez que, certamente, contribuirão para intermediar a relação entre teoria e prática dos profissionais de saúde.

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  • Trends of knowledge production in health education in Brazil

    Ana Carolina Dias VilaI; Vanessa da Silva Carvalho VilaII
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      24 Jan 2008
    • Data do Fascículo
      Dez 2007

    Histórico

    • Recebido
      08 Jun 2006
    • Aceito
      16 Ago 2007
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