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Uso de drogas e fatores de risco entre estudantes de ensino médio

Resumos

A adolescência é fase em que os indivíduos ficam expostos a múltiplos fatores de risco que os tornam os vulneráveis para o uso de drogas e problemas associados. O objetivo deste trabalho foi identificar os fatores de risco e o uso de drogas entre os estudantes do Ensino Médio no Comonfort, Guanajuato, México. É estudo exploratório, transversal, e a coleta dos dados foi realizada por meio do DUSI, versão adaptada do português para o espanhol, de forma auto-aplicada, com prévio consentimento, por escrito, dos pais. A amostra foi composta por 695 adolescentes, 52,8% eram mulheres, média de idade de 13,03±0,99 anos, sendo que 20,3% dos adolescentes usam drogas, 38% referem que o uso é somente por curiosidade. Conclui-se que os fatores de risco identificados são: adolescentes do sexo masculino, idade maior que 13 anos, que cursavam o segundo e terceiro grau, viviam com familiares, tinham relacionamento ruim, usavam drogas movidos pela curiosidade, e mostraram enfrentar situações desagradáveis, com predomínio de uso experimental de álcool e tabaco, o uso de drogas ilícitas foi encontrado em menor porcentagem.

fatores de risco; detecção do abuso de substâncias; adolescente; alcoolismo; tabaco


Adolescence is a phase of exposure to several risk behaviors, especially the experimental use of drugs and its associated problems. The study aims to identify risk factors and drug use among secondary students in Comonfort, Guanajuato, Mexico. This is a cross-sectional study, using a version of the Drug User Screening Inventory (DUSI) adapted from Portuguese to Spanish. The sample was composed of 695 (42.9%) students, 52.8% women. Drug use was present in 20.3%, predominantly alcohol and tobacco. Risk factors are related to the male gender, older than 13 years, second and third grades, living with relatives, poor relationships, curiosity, family conflicts, peer pressure and solidarity. CONCLUSION: alcohol and tobacco are the most used drugs and are associated to curiosity and peer pressure.

risk factors; substance abuse detection; adolescent; alcoholism; tobacco


La adolescencia es una etapa de exposición a múltiples factores de riesgo, que hace los adolescentes vulnerables al uso de drogas y problemas asociados. OBJETIVO: identificar los factores de riesgo y el uso de drogas entre los estudiantes de educación secundaria en Comonfort, Guanajuato, México. MÉTODOS: Estudio exploratorio, transversal. La recolección de datos fue con el DUSI, versión adaptada del portugués para el español, de forma autoaplicada, con previo consentimiento escrito de los padres. La muestra fue integrada por 695 adolescentes. RESULTADOS: 52.8% era mujer, media de edad de 13.03±.99 años, 20.3% de los adolescentes usa drogas, 38% refiere que por curiosidad. CONCLUSIONES: Los factores de riesgo identificados son: sexo masculino, edad mayor de 13 años, estar en segundo y tercer grado, vivir con familiares, tener malas relaciones intrafamiliares, tener curiosidad y enfrentar situaciones desagradables. Predominó el uso experimental de alcohol y tabaco. Se encontró el uso de drogas ilícitas en menor porcentaje.

factores de riesgo; detección de uso de sustancias; adolescente; alcoholismo; tabaco


ARTIGO ORIGINAL

Uso de drogas e fatores de risco entre estudantes de ensino médio1

Ma. Lourdes Jordán JinezI; José Roberto Molina de SouzaII; Sandra Cristina PillonIII

IDoutoranda em Enfermagem na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, Brasil, Docente da Facultad de Enfermería y Obstetricia de Celaya, Universidad de Guanajuato, México, e-mail: jordanjinezl@yahoo.com.mx

IIMestrando, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Brasil, e-mail: molina.souza@gmail.com

IIIProfessor Doutor, Docente da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, Brasil, e-mail: pillon@eerp.usp.br

RESUMO

A adolescência é fase em que os indivíduos ficam expostos a múltiplos fatores de risco que os tornam os vulneráveis para o uso de drogas e problemas associados. O objetivo deste trabalho foi identificar os fatores de risco e o uso de drogas entre os estudantes do Ensino Médio no Comonfort, Guanajuato, México. É estudo exploratório, transversal, e a coleta dos dados foi realizada por meio do DUSI, versão adaptada do português para o espanhol, de forma auto-aplicada, com prévio consentimento, por escrito, dos pais. A amostra foi composta por 695 adolescentes, 52,8% eram mulheres, média de idade de 13,03±0,99 anos, sendo que 20,3% dos adolescentes usam drogas, 38% referem que o uso é somente por curiosidade. Conclui-se que os fatores de risco identificados são: adolescentes do sexo masculino, idade maior que 13 anos, que cursavam o segundo e terceiro grau, viviam com familiares, tinham relacionamento ruim, usavam drogas movidos pela curiosidade, e mostraram enfrentar situações desagradáveis, com predomínio de uso experimental de álcool e tabaco, o uso de drogas ilícitas foi encontrado em menor porcentagem.

Descritores: fatores de risco; detecção do abuso de substâncias; adolescente, alcoolismo, tabaco

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, o fenômeno do uso de drogas alcançou extraordinária importância por sua difusão, conseqüências sociais e sanitárias. Esse fato se evidencia pela evolução que existe nas diversas culturas com crescente desenvolvimento de uma sociedade industrial e de consumo(1), privilegiando o uso dessas substâncias como forma de favorecer a socialização e o bem-estar. O uso de drogas implica numa série de problemas físicos, psicológicos e sociais, além de gastos de recursos públicos frente às complicações a elas relacionadas, sobretudo em adolescentes(2), mesmo quando em uso experimental ou recreativo. O propósito do estudo foi explorar o consumo de drogas e identificar os fatores de risco entre os estudantes de ensino médio, partindo da premissa de que é importante estudar as características específicas do uso de sustâncias para o desenho de uma intervenção específica e adequada que permita inibir, ou diminuir, a probabilidade do uso de drogas entre os adolescentes(3).

JUSTIFICATIVA

Na República Mexicana, o consumo de drogas tem demonstrado variações importantes, desde o tradicional problema do uso de inalantes entre os menores até o consumo de maconha entre os mais jovens e adultos, somando-se, ainda, o aumento da cocaína e outras drogas como as metanfetaminas, além de que a idade de início é cada vez menor(4). De acordo com as duas últimas Pesquisas Nacionais em Drogas (1998 e 2002) e outros estudos, realizados na República Mexicana, verifica-se que houve aumento do uso experimental de drogas entre os adolescentes e o consumo entre as mulheres. O uso é maior nos Estados da Região Norte, seguido pela Região Central e, por último, a Região Sul, sobretudo nas grandes cidades(4). Assim, 3,57% dos homens e 0,6% das mulheres, entre 12 e 17 anos, haviam usado uma ou mais drogas ilícitas(1) demonstrando aumento do consumo de álcool na população adolescente de 27 a 35% para homens e de 18 a 25% para mulheres, de 1998 a 2002(5). As drogas ilícitas que os adolescentes mais freqüentemente consomem são a maconha (22%), os inalantes (25%), a cocaína (22%) e os estimulantes, como as anfetaminas (13%). A idade de início ficou entre 15, 14, 16 e entre 14 e 16 anos, respectivamente, para cada uma das drogas mencionadas(5). Ressalta-se aumento, em nível nacional, do uso de cocaína, de quase três vezes, entre 1993 e 1998, e 50% dos consumidores de crack com menos de 18 anos.

A adolescência é uma fase de procura, de conflitos, na qual os adolescentes dão muita importância aos seus grupos, seus relacionamentos, e entram em conflito consigo mesmos e com a família, isso os torna mais vulneráveis a situações externas, tais como o consumo de drogas, delinqüência e condutas sexuais de risco. Geralmente estão expostos a múltiplos fatores de risco, definidos como atributos, ou exposição de uma pessoa, ou população, associados à maior probabilidade do uso e abuso de drogas(2). Entre os fatores de risco conta-se com todas aquelas condições associadas às situações familiares, à sociedade, aos amigos e ao meio ambiente, quando não saudáveis. Seus efeitos para o uso de drogas variam de acordo com a personalidade e etapa de desenvolvimento do ambiente. Diversos estudos nacionais e internacionais identificaram associação de fatores de risco (psicológicos e socioculturais) dos adolescentes, usuários de drogas, com variáveis como gênero masculino, idade, trabalho, desintegração familiar e religião, e que estão relacionados ao maior uso de drogas pelos estudantes adolescentes, em diversos contextos socioculturais(3,6). Os adolescentes e as crianças em idade escolar não compõem a população mais afetada pelo consumo de drogas, freqüentemente, quando se envolvem com o consumo das mesmas, abandonam a escola, mas os estudosrealizados com essa população permitem conhecer os padrões de consumo e a efetividade dos programas de prevenção(1), reconhecendo que a implementação de programas preventivos em idade precoce tem melhor efetividade, nessa fase.

O objetivo do presente estudo foi identificar o padrão de uso de drogas e os fatores de risco presentes entre os estudantes de ensino médio.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi quantitativo, de tipo exploratório e transversal, realizado no ciclo escolar 2006-2007, em duas escolas de Ensino Médio de Comonfort, Guanajuato, México. Os aspectos éticos foram atendidos, tendo o projeto de pesquisa sido submetido ao Comitê de Bioética da Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia de Celaya, Guanajuato, México. Solicitou-se a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido aos pais e/ou familiares dos alunos de forma verbal para a coleta de dados. Foram convidados para participar do estudo 100% de estudantes de ambas as escolas, incluindo-se os alunos cujos pais assinaram o termo de consentimento livre esclarecido voluntariamente. O questionário foi auto-aplicado na sala de aula, os alunos estiveram somente com o aplicador, e, quando finalizaram o preenchimento, depositaram o questionário diretamente em uma urna, não houve identificação do aluno..

A coleta de dados foi realizada com o questionário denominado Drug Use Screening Inventory (DUSI), adaptado à população brasileira(6). Essa versão foi utilizada para este estudo por apresentar as 10 áreas completas, sendo que a versão em espanhol não as apresentava. Primeiramente, realizou-se uma tradução do português para o espanhol e vice-versa por dois profissionais especialistas e falantes das línguas espanhola e portuguesa. Também, foi avaliada a versão pré-finalizada em espanhol por uma especialista em drogas do México e, por fim, testado em um grupo de adolescentes com características semelhantes àquelas da amostra.

A média de tempo de resposta foi de 30 a 40 minutos, o vocabulário foi apresentado de forma simples, clara, de modo que poderia ser auto-aplicado de maneira grupal. Do item 1 ao 7, explorou-se as informações sociodemográficas, com perguntas sobre idade, sexo, história escolar, com quem vive o adolescente, escolaridade do chefe da família e relações dentro do lar; há, também, uma pergunta aberta, uma dicotômica e cinco questões de múltipla escolha. Do item oitavo item ao décimo, quantifica-se o consumo de drogas no último mês, incluindo perguntas com opção de múltipla escolha através das quais se avalia o tipo da droga e a freqüência do consumo, além dos motivos para o consumo e não consumo de drogas.

A segunda parte é composta por 149 itens, distribuídos em dez áreas, onde se avalia fatores de risco: uso de substâncias, padrão de conduta, estado de saúde, estado emocional, competência social, sistema familiar, situação acadêmica, situação de trabalho, relação com pares e lazer/recreação.

Obteve-se a média e o desvio de padrão da idade, assim como freqüência e a porcentagem das variáveis sexo, história escolar, com quem vivem, relações familiares, escolaridade do pai ou tutor, consumo das substâncias (tipo e freqüência) e motivos pelos quais usam ou não as drogas. Para determinar a significância estatística, calculou-se o qui-quadrado e, para isso, foi utilizado o pacote estatístico SPSS, versão 8. Para quantificar a associação entre as variáveis de estudantes entrevistados, com relação ao uso de drogas, foi proposto o modelo de regressão logística. Foram calculados odds ratios (OR) brutos (variável resposta cruzada com uma covariável) e também odds ratios ajustados por todas as co-variáveis. Ainda, utilizou-se o software SAS 9.0 para a execução de tal procedimento. Evidências de associação no nível de 0,05 de significância podem ser observadas se o valor 1 não estivesse contido nos intervalos de confiança. Para a estimativa do OR ajustados ainda foi utilizado, como controle, as variáveis grau, convivência e relacionamento.

RESULTADOS

A população de estudo foi composta por 1618 (100%) estudantes das duas escolas de Ensino Médio de Comofort, Guanajuato, México, aproveitadas as respostas de 695 (42,9%) adolescentes, devido ao fato de questionários não respondidos ou incompletos. Dos adolescentes, 325 (52,8%) eram do sexo feminino e 290 (47,2%) do masculino. Entre estudantes do sexo feminino, 62 (44%) haviam usado drogas, sendo que 79 (56%) do sexo masculino, com tendência estatística de p=0,011. A média de idade foi de 13,03 anos (DP=0,99 anos), com variação de 11 a 20 anos. A média de idade foi maior (13,41 anos) entre os estudantes que haviam usado drogas (p>0,005). De acordo com o grau que cursavam, 240 (34,6%) estavam na primeira série, 256 (36,9%) na segunda e 199 (28,5%) na terceira. Dos estudantes que usam droga, 72 (45,6%) estavam na segunda série e 60 (38%) na terceira, ambos os graus com maior porcentagem de uso de drogas (p=0,000, X2=30,01).

Os adolescentes que viviam com ambos os pais são 502 (76,9%) e só 87 (13,3%) viviam com outros familiares, 572 (83,9%) adolescentes avaliaram a relação familiar como boa e muito boa. Ao comparar as variáveis com quem vivem, os adolescentes e a relação familiar, entre os que usam e não usam drogas, maior porcentagem foi observada entre aqueles que não usavam drogas e viviam com ambos os pais (78,5%) e referiram ter uma relação familiar muito boa (60%), quando comparados com os que usam drogas e que viviam mais com os familiares (15,6%) ou só com a mãe ou só com o pai (12,3%) (p<0,005). Os estudantes que faziam uso de droga são 15 (10,2%), 36 (7,3%), que não usam drogas, já repetiram o ano escolar (p>0,005), dos quais 37 (72,5%) afirmaram ter repetido apenas uma vez. A respeito dos pais de família ou tutores, 270 (41,3%) têm o ensino primário completo ou incompleta, 209 (32%) possuem o secundário completo ou incompleto e 85 (13%), o curso de graduação. Os pais dos estudantes que não usam drogas possuíam predominantemente o ensino primário ou secundário, e os pais daqueles que usam drogas o nível de escolaridade é maior, preparatório ou profissional (p>0,005).

As drogas mais usadas foram: o álcool (94-13,5%) e o tabaco (92-13,2%), seguidos por analgésicos (11-1,6%), mas também se encontrou o uso de inalantes/solventes (10-1,4%), anabólicos, opiáceos e alucinógenos (9-1,3%), maconha (7-1%) e, em menor porcentagem, estimulantes, anfetaminas, cocaína e tranqüilizantes. Ressalta-se que a freqüência do uso ocorreu de modo experimental, maior número de adolescentes mencionou que só tem consumido a droga com a freqüência de uma a duas vezes ao mês. Entre os principais fatores identificados para o uso de drogas foi a curiosidade, não sabem o motivo, a influência dos amigos e o prazer (p<0,005).

A Tabela 1 apresenta associação estatística significativa para os adolescentes com idade maior que 13 anos, pertencentes ao sexo masculino, cursando o segundo ou terceiro grau, vivendo com algum familiar e tendo relação familiar ruim ou muito ruim e o uso de drogas.

A Tabela 2 apresenta associação estatística significativa entre os fatores que levaram os adolescentes ao uso de drogas como a curiosidade, o enfrentamento de situações desagradáveis, o prazer, os conflitos familiares, a influência dos amigos, a solidariedade, os indecisos e outras razões que não foram especificadas.

DISCUSSÃO

Esta é a primeira vez que se utiliza uma versão em espanhol, completa, do DUSI em estudantes, no México. Para sua utilização, foi necessário uma adaptação cultural do instrumento em algumas variáveis como "cabular aula" (irse de pinta) e "vira vira" (tomarse un hidalgo). O instrumento possibilitou a identificação do uso de drogas em 20,3% dos estudantes, como uso experimental.

No que se refere ao gênero, um pouco mais da metade da amostra pertence ao sexo feminino, tal fato coincide com o maior número de mulheres inscritas nessas escolas, ademais, no México, em Guanajuato e Comonfort, predomina o sexo feminino(7). Ainda, que o número de mulheres era maior, o uso de drogas predominou no sexo masculino (22,1%), resultados semelhantes a outras pesquisas realizadas no México(1,4-5,8-9), onde se destaca que o número de homens que têm usado drogas foi maior, já que, pertencer ao sexo masculino, é considerado fator de risco para o uso de drogas, aumentando três vezes as probabilidades de uso.

Em relação à idade, os estudantes possuem média de 13,03 anos (DP=0,99), ao comparar a diferença da média da idade entre os estudantes, que fazem ou não uso de drogas, encontrou-se que aqueles que usam drogas (13,41 anos) apresentam idade maior do que quem não a usa (12,93 anos), e os estudantes mais velhos apresentam três vezes mais probabilidade de uso de drogas. De acordo com a ENA(5), os adolescentes mexicanos que fazem uso de tabaco e álcool apresentaram idade de início um pouco mais tarde, entre 15 e 17 anos (47,6 e 50,5%), mas também foi identificado o uso aos 11 anos, principalmente no sexo masculino. Rojas menciona que, quando um adolescente inicia o uso de drogas, com pouca idade, tem maior risco de prejuízos psíquico, físico e social do que outro com mais idade(10).

Quanto ao grau escolar, a maior porcentagem de alunos que usam drogas foi encontrada no segundo e terceiro graus. Com o aumento da escolaridade (anos de estudo) aumenta a probabilidade em até três vezes mais para o uso de drogas, pois, se por um lado há a formação educativa, por outro podem estar se desvinculando dos familiares, associando-se a grupos de amigos, condições favoráveis para o envolvimento com fatores de risco como experimentar drogas. Esses resultados não diferem dos estudos realizados no Peru(11) e no México(8), onde o uso de algum tipo de droga aumenta quando os adolescentes cursam níveis maiores de escolaridade.

Ao se abordar a convivência e família, 53,5% dos estudantes vivem com ambos os pais ou familiares, e esse fato pode estar relacionado à cultura mexicana, em que a maioria dos adolescentes vive no lar paterno, só 26,6% saem dele(8,12). Os estudantes avaliaram as relações com quem vivem como boas e muito boas, condições que associadas ao viver com a família, principalmente com ambos os pais, constituem fatores de proteção, já que dispõem de apoio familiar aberto para a individualização do adolescente, permitindo desenvolvimento saudável. Estudo realizado no Peru, considerou os casos dos adolescentes, mostrando a influência que os pais podem exercer no reforço de valores, atitudes e condutas frente ao uso de drogas, mencionando, ainda, que o uso experimental entre adolescente geralmente ocorre como resultado de problemas familiares permanentes, ou pelo contexto social imediato ou mediato(10). Por outro lado, os adolescentes que vivem com familiares, que não são os pais e que manifestaram más relações familiares, apresentaram maior probabilidade para o uso de drogas, resultados semelhantes a outros estudos(1,3,5,11). As más relações familiares aumentam a probabilidade de uso de drogas. Os adolescentes, ao conviverem com familiares e não com seus pais, apresentaram probabilidade maior para a permissividade por ausência de limites claros, autoridade dividida, que não permitem normas e regras de comportamentos, há o risco de o adolescente não encontrar adequadas manifestações de afeto, e ainda receber ameaças, castigos e intromissões em sua vida privada, ou quando têm ignorados os problemas que apresentam, comportamentos relacionados à maior probabilidade para o uso de drogas(13-14). Complementando esses estudos, ampla é a discussão na literatura (3,13-15) identificando que os pais influenciam os filhos para o consumo de drogas ou não.

Sobre os aspectos relacionados à repetência escolar, foi encontrado índice relativamente baixo (6,3%), e a maioria ocorreu só uma vez. Ao comparar os estudantes que fazem uso ou não de drogas, existe relação estatisticamente significativa entre essas duas variáveis. Isso significa que os estudantes que usam drogas apresentaram porcentagens maiores de repetência, resultados semelhantes aos encontrados em um estudo realizado no sul do Brasil, onde os adolescentes que haviam repetido o ano escolar e que não assistiam as aulas apresentavam duas vezes mais probabilidade de uso de tabaco do que aqueles que não haviam repetido ano e que assistiam as aulas(16). Alguns estudos enfatizam que entre os prejuízos relacionados ao uso de drogas por adolescentes, ainda que em uso experimental e recreativo, estão os danos para o desenvolvimento cognitivo, fisiológico e psicológico, atraso no desenvolvimento e na aquisição de capacidades de autocontrole e auto-estima, maior suscetibilidade às influências de seus pares para se envolverem em comportamentos de risco, comprometendo o rendimento escolar, sobretudo se o início do uso de drogas é precoce(10,15). A repetência e o abandono escolar constituem fatores de risco para o uso de drogas, além da relação do adolescente com seu grupo de pares, as atitudes e os valores positivos dados à droga e à procura de sensações entre esse grupo que requer variedade e novidades (10).

Ao avaliar a escolaridade dos pais, encontrou-se níveis educacionais relativamente baixos, como primário completo ou incompleto e secundário completo ou incompleto (41,3 e 32%, respectivamente), resultados similares ao estudo(17), onde 51,1% só haviam terminado a primário e identificaram que tinham mais dificuldades para orientar seus filhos. Neste estudo, os pais dos adolescentes que não usam drogas possuem o ensino primário ou o secundário, e os pais daqueles que usavam drogas possuíam educação superior ou preparatória.

Com respeito à freqüência e aos tipos de drogas, as mais freqüentemente usadas foram o álcool e o tabaco, resultados semelhantes aos de estudo nacional, no México(5). O uso de drogas entre os estudantes ocorreu de forma experimental com freqüência de 1 a 2 vezes. O uso de só uma vez ao mês predominou, 33,8 e 30,8% para álcool e tabaco, respectivamente. Ressalta-se que são as drogas mais aceitas socialmente, sendo que a mídia vincula-os à beleza, à sedução do sexo oposto, ao êxito profissional, entre outros. Há de se destacar que o uso da droga lícita aumenta o risco de consumo de outras, consideradas de uso inicial, mostrando que quem já fez uso dessas drogas pode usar mais facilmente outras, dado que freqüentar ambientes onde se consome pode se tornar estímulo para experimentar, o que supõe uma escalada como produto de fatores psicológicos e sociais(5).

Ao identificar os fatores de risco, no presente estudo, a curiosidade foi o fator de risco mais freqüente manifestado pelos adolescentes para o primeiro uso de drogas (38%), o que aumenta até dez vezes a probabilidade de uso. Outros motivos que também aumentam, em até oito vezes, são o enfrentamento de situações desagradáveis e conflitos familiares presentes na vida cotidiana. Estudos realizados com adolescentes identificaram que a curiosidade os motiva a experimentar novas sensações de prazer como o uso de drogas que proporcionam prazer passivo e imediato(14). O prazer que as substâncias produzem durante o consumo, a influência dos amigos e a solidariedade são motivos que aumentam o risco para que os adolescentes façam uso de drogas (20, 13 e 14 vezes mais, respectivamente). Existem outros motivos que foram manifestados como "não sei" e reações não especificadas no estudo, fatores que aumentam fortemente as probabilidades de uso de dez a 32 vezes, respectivamente, todos são fatores de risco que, quando presentes, mostram o adolescente como usuário potencial. O uso experimental pode proporcionar aceitação social por parte dos pares e sensação de autonomia e maturidade. Para alguns adolescentes, que experimentam as drogas, pode ser parte do desenvolvimento da individualidade, e são classificados como experimentadores mais que consumidores, fazem uso de substâncias de maneira ocasional e não necessariamente desenvolvem a dependência, ainda, alguns adolescentes com múltiples fatores de risco são os mais susceptíveis para desenvolver problemas relacionados ao consumo de substâncias. É preciso enfatizar que conhecer os fatores de risco permite identificar os adolescentes que estão mais expostos a sofrer danos como acidentes, gravidez precoce, uso de drogas, doenças de transmissão sexual, suicídio e outros(13), e a melhor maneira de abordar esses problemas é a prevenção em idade precoce, sendo o ambiente escolar e familiar os melhores espaços para esse tipo de abordagem.

CONCLUSÕES

O uso do DUSI foi adequado para a identificação do grupo de adolescentes que usa drogas, apresentando mais fatores de risco que o grupo que não a usa: pertencer ao sexo masculino, cursar o segundo ou terceiro ano, viver com familiares, apresentar relações familiares ruins, ter curiosidade, conflitos familiares e enfrentar situações desagradáveis. As drogas mais freqüentemente usadas nessa população são o álcool e o tabaco, considerados como de uso experimental. Ademais, encontrou-se o uso de drogas ilícitas em menor porcentagem. Há que se considerar que, nessa etapa da adolescência, a forte vinculação ao grupo é um modelo de identificação com a aceitação pelos amigos, compartilhando valores comuns e promovendo um modo de cultura particular, junto ao sentimento de invulnerabilidade do adolescente, sentindo-se onipotente, constituindo importantes fatores de risco para o uso de drogas.

O estudo permitiu conhecer o uso de drogas e as características dos adolescentes para a elaboração de um programa de intervenção para diminuir os fatores de risco no âmbito escolar, centrado no aluno.

RECOMENDAÇÕES E LIMITES DO ESTUDO

Uma das limitações do presente estudo foi que não se avaliou a ocupação dos pais, nem os períodos da presença ou ausência do familiar no lar com o adolescente, que necessita de apoio, guia e orientação, facilitando seu desenvolvimento com capacidades para enfrentar, resistir e recuperar-se de situações de risco(8). Também é necessário avaliar o uso de drogas pelos pais e/ou tutores. Com todo o exposto, recomenda-se avaliar o uso de drogas em adolescentes com idade mais precoce e realizar intervenções preventivas mais cedo nas escolas, dado que confirma que os adolescentes estão em contato e usando drogas em idades cada vez mais cedo.

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  • 1
    Article extracted from Doctoral Dissertation
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      06 Jul 2009
    • Data do Fascículo
      Abr 2009

    Histórico

    • Recebido
      17 Out 2007
    • Aceito
      27 Out 2008
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