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Análise de conteúdo em pesquisas que utilizam metodologia clínico-qualitativa: aplicação e perspectivas

Resumos

Análise de conteúdo abrange um conjunto de técnicas de organização de comunicações/informações - um procedimento frente a dados qualitativos para fazer emergir temas/tópicos e conceitos/conhecimentos. O conteúdo de uma comunicação, considerando o discurso humano falado ou escrito, é complexo e apresenta valiosa característica polissêmica. Com a difusão do método de pesquisa clínico-qualitativo dentre nós, a utilização da análise de conteúdo, importante ferramenta metodológica, traz questões teórico-práticas que necessitam ser bem apreciadas para a utilização academicamente precisa. Dessa forma, objetivou-se neste artigo enumerar elementos particulares da técnica de análise de conteúdo, discutindo sua adequação à metodologia clínico-qualitativa, que casa os genéricos métodos qualitativos, construídos nas Ciências do Homem e da Cultura, com o campo das Ciências da Saúde. Foram selecionados conceitos visando sua pertinência, emprego e eventuais adaptações para o citado método.

métodos; pesquisa qualitativa; pesquisa metodológica em enfermagem


Content analysis comprises a set of techniques for organizing communication/information - a procedure used with qualitative data to make themes/topics and concepts/knowledge emerge. Communication content, considering human written or spoken discourse, is complex and presents valuable polysemous characteristic. With the dissemination of the clinical-qualitative method, the use of content analysis, considered an important methodological tool, raises theoretical-practical issues that need to be taken into consideration for its academically precise use. Thus, this article aimed to enumerate specific elements of the content analysis technique and discuss its suitability for the clinical-qualitative method that combines generic qualitative methods from Human and Cultural Sciences with the area of Health Sciences. Concepts were selected due to their pertinence, use and eventual adaptation to the method focused on.

methods; qualitative research; nursing methodology research


El análisis de contenido incluye un conjunto de técnicas de organización de comunicaciones/informaciones - un procedimiento frente a datos cualitativos para hacer surgir temas/tópicos y conceptos/conocimientos. El contenido de una comunicación, considerando el discurso humano hablado y escrito, es complejo y presenta una valiosa característica polisémica. Con la difusión del método de investigación clínico-cualitativo en nuestro medio, la utilización del análisis de contenido, una importante herramienta metodológica, trae cuestiones teóricas y prácticas que necesitan ser bien observadas para obtener una utilización académicamente precisa. Así, nos proponemos, en este artículo, enumerar elementos particulares de la técnica de análisis de contenido, discutiendo su adecuación a la metodología Clínica-Cualitativa que une los métodos cualitativos genéricos, construidos en las Ciencias del Hombre y de la Cultura, con el campo de las Ciencias de la Salud. Fueron seleccionados conceptos tomando en cuenta su pertinencia, empleo y eventuales adaptaciones para el método citado.

métodos; investigación cualitativa; investigación metodológica en enfermería


ARTIGO DE REVISÃO

Análise de conteúdo em pesquisas que utilizam metodologia clínico-qualitativa: aplicação e perspectivas

Claudinei José Gomes CamposI; Egberto Ribeiro TuratoII

IEnfermeiro, Doutor em Ciências Médicas, Professor colaborador, e-mail: cjcampos@fcm.unicamp.br. Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas, Brasil

IIPsiquiatra, Livre-Docente, Docente e-mail: erturato@uol.com.br. Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas, Brasil

RESUMO

Análise de conteúdo abrange um conjunto de técnicas de organização de comunicações/informações - um procedimento frente a dados qualitativos para fazer emergir temas/tópicos e conceitos/conhecimentos. O conteúdo de uma comunicação, considerando o discurso humano falado ou escrito, é complexo e apresenta valiosa característica polissêmica. Com a difusão do método de pesquisa clínico-qualitativo dentre nós, a utilização da análise de conteúdo, importante ferramenta metodológica, traz questões teórico-práticas que necessitam ser bem apreciadas para a utilização academicamente precisa. Dessa forma, objetivou-se neste artigo enumerar elementos particulares da técnica de análise de conteúdo, discutindo sua adequação à metodologia clínico-qualitativa, que casa os genéricos métodos qualitativos, construídos nas Ciências do Homem e da Cultura, com o campo das Ciências da Saúde. Foram selecionados conceitos visando sua pertinência, emprego e eventuais adaptações para o citado método.

Descritores: métodos; pesquisa qualitativa; pesquisa metodológica em enfermagem

INTRODUÇÃO

A construção e o desenvolvimento do recurso de investigação científica, que se embasa em dois modelos metodológicos já consagrados -a abordagem compreensivo-interpretativa dos símbolos nas Ciências Humanas- e, de outro lado, as abordagens clínicas na saúde, estão, juntamente com a psicodinâmica, no entendimento das relações interpessoais, que se convenciou denominar metodologia clínico-qualitativa(1). Ela se funda sobre três pilares: na milenar atitude clínica de voltar o olhar a quem porta dor, na secular atitude psicanalítica de inclinar a escuta a quem vivencia conflitos emocionais e na clássica atitude existencialista de reflexão sobre as angústias humanas.

O método científico clínico-qualitativo de pesquisa pode ser entendido como: "... o estudo e a construção dos limites epistemológicos de certo método qualitativo, particularizado em settings de saúde, bem como abarca a discussão sobre um conjunto de técnicas e procedimentos adequados para descrever e compreender as relações de sentidos e significados dos fenômenos humanos referidos nesse campo"(1).

Deparar com as imbricações do método remete à reflexão sobre como aplicar as diversas técnicas de pesquisa nele embutidas e como fazer interlocução, por exemplo, com as características de settings onde transcorrem os fenômenos do processo saúde-doença, com concepções psicodinâmicas das relações ali estabelecidas, em um quadro amplo de referenciais teóricos para ancoragem e para cotejamento, dentre outras particularidades.

O uso de técnicas de análise dos dados, notadamente, reveste-se de importância à medida que, após a coleta das informações, necessita de leituras acuradas e discussões interpretativas criativas. Sabe-se que, no universo das pesquisas qualitativas, a escolha de um método e suas técnicas de coleta, bem como o tratamento de dados, deve obrigatoriamente ser feito sob olhar multifacetado sobre a totalidade dos resultados, consideradas as observações e as entrevistas - o corpus. Tal exigência se deve à multiplicidade de sentidos atribuídos pelos sujeitos que vivenciam os fenômenos sob estudo - o chamado caráter polissêmico da pesquisa(2).

Estratégia largamente utilizada no tratamento dos discursos em investigação qualitativa é propriamente a análise de conteúdo, abrangendo um conjunto de estratégias, cujo objetivo é a busca dos sentidos contidos sob documentos, material coletado através de entrevistas(2), ou notas de observação tomadas em diários de campo(3).

Almejou-se, com esta revisão, enumerar elementos particulares da técnica de análise de conteúdo, discutindo sua adequação à metodologia clínico-qualitativa, a qual traz os genéricos métodos qualitativos, construídos nas Ciências do Homem e da Cultura, para o campo das Ciências da Saúde.

Um pouco da história da construção do método de análise de conteúdo

Uma remota tentativa de buscar entender o significado de determinada mensagem aconteceu por meio da chamada exegese, minuciosa interpretação, sobretudo empregada em textos bíblicos, para o possível entendimento daquilo que é subjacente a metáforas e parábolas desses documentos(4).

Por outro lado, parece ter sido apenas em meados do século XX que a estratégia da análise apresentou-se de modo mais sistematizada, com real rigor de pesquisa para o conhecimento científico. Autores como Berelson, Lazarsfeld e Lasswell são considerados marcos criadores de instrumentos de análise de conteúdo enquanto tal(5), vindos, no entanto, fortemente influenciados pela corrente positivista.

Pode-se observar esse viés filosófico reducionista pelo conceito trazido por um de seus autores: "análise de conteúdo é uma técnica de pesquisa que visa uma descrição do conteúdo manifesto de comunicação de maneira objetiva, sistemática e quantitativa"(6). Na época, visava-se analisar materiais jornalísticos para investigação política - as ditas propagandas subversivas- em que se buscava sentidos escondidos, os quais, ao status quo, convinha desvendar.

Aprimoramento da técnica de análise de conteúdo para pesquisas clínico-qualitativas

Etapa das leituras flutuantes para impregnar-se do conteúdo

Leituras flutuantes, termo utilizado em analogia ao conceito psicanalítico de atenção (uniformemente) flutuante(1), é entendida aqui como um modo de escuta que não deve privilegiar, aprioristicamente, nenhum dos elementos discursivos. Implica num meio de funcionamento, no qual se deixa o mais livremente possível a sua própria atividade inconsciente e suspenda motivações que dirigem habitualmente a atenção(7).

O conjunto das entrevistas gravadas representará várias horas em fita e sua transcrição alcançará dezenas e dezenas de páginas. Para lidar com tal abundância de material, deve-se seguir alguns expedientes próprios, embora a princípio bastante simples, pois prescinde do emprego de qualquer meio, diga-se, extraordinário. Consiste simplesmente em não dirigir a observação para algo específico, mas apenas tangenciando, com uniforme atenção, tudo o que se escuta e/ou o que se lê. Assim, poupa-se de esforço mental para permanecer com tenacidade em aguda atenção, o que seria muito desgastante e improdutivo para a finalidade de se chegar ao latente da fala dos sujeitos.

Dos conteúdos "mudos" às interpretações "loquazes"

Trata-se aqui dos limites dos conteúdos manifestos e dos conteúdos latentes de uma mensagem. Em relação aos conteúdos manifestos (explícitos), é dele que se deve partir e não falar através dele, num exercício de mera projeção subjetiva(8). Frequentemente, aquilo que vem registrado na coleta não é o que, a fundo, o entrevistado quis dizer. Adentra-se pelo inicialmente enigmático nível do simbolismo, pertencente ao universo dos conteúdos latentes (implícitos).

Está aí um ponto crucial para o pesquisador clínico-qualitativista: atitudes para se evitar posturas talvez maniqueístas ou extremadas, de desconsiderar um conteúdo em detrimento do outro. Os cuidados são não negar a subjetividade humana ou não impor seus próprios valores em detrimento do princípio básico da pesquisa qualitativa de que os dados analisados levam em consideração os significados, que são atribuídos sempre pelo sujeito de pesquisa. Dessa maneira, a análise de conteúdo não deve ser perigosamente vinculada ao texto ou, rigidamente, à técnica, a ponto de prejudicar a criatividade do cientista, numa consideração lembrada pela fenomenologia. Nem perturbar a capacidade intuitiva peculiar de pesquisador, por conseguinte, não genuinamente subjetiva.

É lícita a ideia de que a análise de conteúdo, como ferramenta do empreendimento investigativo, deva colocar o pesquisador clínico-qualitativo para além da descrição dos resultados, ou seja, se por um lado os dados são mudos e inertes por outro lado é o cientista que lhes dará voz. E é através da atividade interpretativa, criando um modelo teórico e revelando uma ordem invisivelmente existente, ainda que repousando sobre um corpo teórico de referências já sedimentadas na literatura(1).

Inferência na análise de conteúdo

A análise de conteúdo é comumente feita a partir de registros e assim permite aquilo que metodologicamente chamamos de inferência, genericamente uma passagem das premissas em revisão através do texto até a conclusão do trabalho. Pontua-se que "o ato de inferir significa a realização de uma operação lógica, pela qual se admite uma proposição em virtude de sua ligação com outras proposições já aceitas como verdadeiras"(4).

Produzir inferências sobre um texto, tal como um conjunto de entrevistas, confere ao método relevância teórica, vinculando, por exemplo, o conjunto das falas a alguma forma de teoria a ser estabelecida(9). E, em certa peculiaridade, partindo do discurso dos sujeitos, estar-se-á respeitando o princípio êmico da pesquisa, ou seja, a interpretação é feita sob a perspectiva dos indivíduos sob estudo e não na cosmovisão do cientista.

Segundo essa concepção, produzir inferências em análise de conteúdo significa, principalmente, produzir conhecimentos subjacentes a determinada mensagem, e também ancorá-las a um quadro de referenciais teóricos, situando-se num paradigma acadêmico, situação concreta que é visualizada segundo o contexto histórico e social de sua produção.

A análise de conteúdo deve ser adaptada para o começo do uso intencional de símbolos e linguagem, fornecendo significados objetivos e sistemáticos, levando a inferências válidas a partir dos diversos tipos de dados obtidos, com a finalidade de demonstrar fenômenos específicos(10). Ainda, a mesma autora reforça a importância da contextualização e do meio ambiente onde se produziram os dados, aumentando a gama de informações e propiciando análise inferencial dos resultados no seu contexto de produção.

Para a pesquisa clínico-qualitativa, o setting, entendido aqui como o microambiente de relação interpessoal, é fortemente psicológico(1), traduzindo muito mais que o espaço físico utilizado, o que chamamos ambientes naturalísticos nas pesquisas qualitativas aplicadas ao enquadre de assistência à saúde.

Nessa contextualização, são coletados os dados desse tipo de pesquisa, assim sendo, no bojo das relações interpessoais, propiciadas pelas entrevistas face a face, produz-se muito mais que a somatória de informações escritas. Nessa composição, o pesquisador está interessado existencialmente nas angústias e ansiedades geradas, não só por essa relação humana, mas pelas diversos relatos sobre suas vivências no processo saúde-doença, o tratamento clínico, os desfechos, e relação com os profissionais da saúde em geral(11).

Como se pode depreender, o enfoque inferencial pode e deve começar a acontecer muito antes, muitas vezes na própria maneira de conduzir uma entrevista e nas observações, quando o pesquisador, através de conhecimento teórico prévio e intuição, percebe em determinado momento que pode enfocar situações que não estão objetivamente expostas, mas que certamente podem produzir um filão de discussão.

Se se levar em consideração que o ato inferencial/interpretativo leva à leitura subjetiva de conteúdos não manifestos, esse trabalho de discussão pode ser iniciado antes de o material ser coletado e posteriormente transcrito. O próprio contato transcorrido no ato da entrevista já fornece material para análise crescente. O que pode ser anotado, preferencialmente, logo após o término da entrevista em um diário de campo, tornando-se, assim, útil.

Na literatura, encontra-se assinalado o caráter concomitante entre a coleta dos dados e o próprio início da análise dos dados qualitativos, fornecendo ao pesquisador oportunidade de desenvolver conclusões incipientes, com refinamento de questões e busca de novas vias de indagação, agora com maior profundidade(12).

O processo de categorização pelo critério de relevância

O processo de categorização pode ser compreendido com um processo de apresentação didático-científica dos resultados e discussões, referentes à realização da análise dos dados. Didático, na medida em que procura dar certo ordenamento, a princípio, a uma aparentemente "massa caótica" de sentidos, de modo a tornar sua apresentação mais palatável e plausível para os padrões de compreensão do fenômeno pretendido pelo pesquisador. Científico, na medida em que, por ser embasado por conhecimentos teóricos e filosóficos, segue regras que já são universalmente consagradas pela comunidade científica.

Pode-se entender categoria como "grandes enunciados que abarcam um número variável de temas, segundo seu grau de intimidade ou proximidade, e que possam, através de sua análise, exprimir significados importantes que atendam aos objetivos de estudo e criem novos conhecimentos, proporcionando uma visão diferenciada sobre os temas propostos"(2).

Em relação à formação das categorias, realizada a partir dos tópicos emergentes nas releituras(1), ou unidades de análise ou temáticas(4), basicamente ela pode ser configurada segundo critérios de relevância. O termo relevância denota um tema importante que, embora não apresente repetição numérica dentre os relatos, sua importância para responder às hipóteses inicialmente formuladas mostra-se de grande potencial e riqueza para o desenvolvimento de conhecimentos novos, garantindo, por si só, material consistente para maior aprofundamento do fenômeno.

Utilizando raciocínios indutivos e dedutivos, sequencialmente, na análise

O raciocínio indutivo nas análises de dados, que seguem uma metodologia qualitativa, é vastamente conhecido e avalizado(1,3,13). A indução se configura em atitude mental por intermédio da qual, partindo-se de dados particulares, se infere uma verdade geral ou universal, não contida apenas nas partes examinadas, e cujo objetivo é apresentar conclusões generalizáveis. Indução é o salto audaz (e temerário) de onde estou para onde não estou, do momento em que vivo para momentos em que ainda não vivo, do enquadre de minha pesquisa para situações novas.

As abstrações teóricas se formam e se consolidam a partir da discussão dos resultados, desde quando já são colhidos, sendo que o pesquisador vai construindo sua teoria do particular para o geral. "Está-se a construir um quadro que vai ganhando forma à medida que se recolhem e examinam as partes" (14).

Por outro lado, num processo dedutivo de pesquisa, ocorreria o caminho inverso, sendo que as variáveis, conceitos, constructos e hipóteses são derivadas ou advêm das relações totais observadas no caminhar do processo de codificação dos dados(3). O pesquisador, nesse caso, parte de um universo geral já constituído para uma particularidade(1). Especula-se se o pensamento dedutivo seja realmente o caminho epistemológico do saber científico, na medida em que as teorias são concebidas pela genialidade de alguns cientistas, os quais, por sua vez, necessitam comprovar em situações práticas a concepção que tiveram para então satisfazer os cânones acadêmicos e ganhar aceitação por seus pares.

Forma interessante para a construção de conhecimentos na pesquisa clínico-qualitativa seria admitir e buscar a utilização de um processo dialético indutivo-dedutivo, compreendido em sua totalidade, abarcando também o seu caráter intuitivo relacionado(1,15).

Pode-se, no entanto, bem considerar, na perspectiva global das investigações em ciência, e examinando epistemologicamente o rigor dos percursos dos pesquisadores nas Ciências Naturais e nas Ciências Humanas, que o raciocínio dedutivo e raciocínio indutivo têm lugares que lhes são próprios. No quadro a seguir, os autores trazem uma abordagem panorâmica dos percursos metodológicos, nos quais a técnica do tratamento de dados, discutida no presente artigo, tem sua fase peculiar(16).

Validação dos resultados de análise como forte atributo do método

Pode-se dizer que os estudos qualitativos, considerando a pesquisa nas Ciências do Homem, têm sua maior força no rigor da validade, isto é, o que é estudado e apreendido pela consciência do pesquisador, espelhado e elaborado em seu mundo interno, estaria muito próximo do fenômeno diretamente sob exame no mundo externo(1). Isso se deve à peculiaridade de uma coleta de dados de grande respeito ao fluir natural do discurso e do comportamento dos sujeitos em investigação científica.

Tal como na elaboração do projeto de pesquisa, no processo de coleta de dados em campo também é necessáriaa validação do tratamento dos dados pelo pesquisador. Existem diversas formas de se realizar essa validação como, por exemplo, na triangulação de métodos e de teorias, na qual se utilizam recursos metodológicos diversos e se analisam os dados tomando por base várias teorias.

Recorre-se também à chamada validação externa, feita pela interação com juízes e pelos pares, isto é, pela supervisão feita pelo orientador e pesquisadores seniores, reconhecidos pela experiência com o uso do método e dos referenciais teóricos utilizados. Deve-se ainda aumentar a validação apresentando os resultados aos grupos de pesquisa, mostrando e debatendo os resultados preliminares em eventos e assim por diante(2).

Por fim, é pertinente frisar que há muitas possibilidades de construções teóricas por um mesmo pesquisador, e que também é real que achados podem ser interpretados de formas diferentes por outros pesquisadores, haja vista o citado caráter polissêmico em ciências humanas. O que se deve fazer na análise de conteúdo não é restringir ideias interpretativas, mas o cuidado deve ser apenas identificar os vieses presentes para removê-los, se possível, ou considerá-los no jogo da apreciação do material sob leitura, quando se trata de obliquidades irremovíveis.

CONCLUSÕES

Nesta breve discussão, fica-se com a instigante percepção de que outros elementos do método de análise de conteúdo poderiam ser abordados e discutidos à luz das necessidades do método clínico-qualitativo. No entanto, mostra-se, aqui, pontos de vista para utilização de um método em reconhecimento. Uma abordagem do método de análise de conteúdo significa demonstrar sua versatilidade como também seus limites de operacionalização. O desenvolvimento do método passa invariavelmente pela criatividade e pela capacidade do pesquisador qualitativista em lidar com situações inusitadas no estudo do fenômeno humano.

REFERÊNCIAS

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  • 16. Turato ER, Machado AC, Silva DF, Carvalho GM, Verderosi NR, Souza TF. Research publications in the field of health: omission of hypotheses and presentation of common-sense conclusions. Sao Paulo Med. J. [serial on the Internet] 2006 Aug [cited 2008 Sep 1]; 124(4):228-233. Available from: www.scielo.br/pdf/spmj/v124n4/32074.pdf
  • Content analysis in studies using the clinical-qualitative method: application and perspectives

    Claudinei José Gomes CamposI; Egberto Ribeiro TuratoII
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      15 Jun 2009
    • Data do Fascículo
      Abr 2009

    Histórico

    • Recebido
      12 Nov 2007
    • Aceito
      10 Fev 2009
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