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Percepções da obesidade de adolescentes obesos, estudantes do 7º ao 9º grau residentes em Tamaulipas, México

Resumos

O objetivo foi explorar as percepções da obesidade de adolescentes obesos, estudantes do 7º ao 9º grau de uma instituição pública de Tamaulipas, México. É estudo qualitativo, do qual participaram 24 adolescentes que tinham índice de massa corporal superior ao percentil 95. Realizou-se entrevista semiestruturada até a saturação dos dados e comprensão do significado. Os adolescentes definiram obesidade de acordo com um padrão de medição, identificaram como causa principal o fator hereditário, com tendência para subestimar a obesidade e a ter baixa autoestima, apresentan problemas quando realizam atividade física e para conseguirem roupas para melhorar a própria imagen, são rejeitados pelos seus pares ou iguais, na escola. Identificou-se, também, que possuem mecanismos psicológicos de defesa ante a obesidade e alguns deles estão realizando ações para diminuir o peso. A obesidade tem implicações na saúde, no aspecto psicológico e social de quem a padece, recomenda-se, aqui, implementar intervenções.

Adolescente; Obesidade; Peso Corporal; Auto-imagem


The objective was to explore obese adolescents’ perceptions about obesity among students in the seventh to ninth grade of a public school in Tamaulipas, Mexico. This is a qualitative study. Participants were 24 adolescents with a body mass index equal to or greater than the 95th percentile. Semistructured interviews were conducted until data saturation was reached and the meaning was understood. The adolescents defined obesity according to standards of measurement. They identified the hereditary factor as the main obesity cause, tended to underestimate obesity and had low self-esteem. They reported problems to do physical exercise and get clothes in order to improve their image, and feel rejected by their peers in school. It was identified that these adolescents have psychological defense mechanisms against obesity and that some of them are making efforts to lose weight. Obesity entails social and psychological health implications for persons suffering from this problem. Interventions should be put in practice.

Adolescent; Obesity; Body Weight; Self Concept


El objetivo de esta investigación fue explorar las percepciones de la obesidad de adolescentes obesos estudiantes del 7º al 9º grado de una institución pública en Tamaulipas, México. Se trata de un estudio cualitativo en el cual participaron 24 adolescentes que tenían un índice de masa corporal superior al percentil 95. Se realizaron entrevistas semiestructuradas hasta obtener la saturación de los datos y la comprensión del significado. Los adolescentes definieron la obesidad de acuerdo a los estándares de medición, identificaron como causa principal el factor hereditario, tendieron a subestimar la obesidad y presentaron baja autoestima, relataron problemas cuando realizan actividad física y para conseguir ropa que pudiese mejorar su imagen, y se sienten rechazados por sus pares o iguales en la escuela. Se identificó que cuentan con mecanismos psicológicos de defensa ante la obesidad y algunos de ellos están realizando acciones para disminuir el peso. La obesidad tiene implicaciones en la salud, también en los aspectos psicológico y social de quienes la padecen. Se recomienda implementar intervenciones.

Adolescente; Obesidad; Peso Corporal; Autoimagem


ARTIGO ORIGINAL

Percepções da obesidade de adolescentes obesos, estudantes do 7º ao 9º grau, residentes em Tamaulipas, México

Ma. de la Luz Martínez-AguilarI; Yolanda Flores-PeñaII; Ma. de las Mercedes Rizo-BaezaIII; Rosa Ma. Aguilar-HernándezIV; Laura Vázquez-GalindoV; Gustavo Gutiérres-SánchezI

IProfessor, Unidad Académica Multidisciplinaria, Universidad Autónoma de Tamaulipas, México, e-mail: madelaluzmartinez@yahoo.com.mx, ggutierrez@uat.edu.mx

IIDoutor em Enfermagem, Professor Titular A, Facultad de Enfermería, Universidad Autónoma de Nuevo León, México, e-mail: flores_mx@yahoo.com.mx

IIIDoutor em Enfermagem, Professor, Universidad de Alicante, Espanha, e-mail: mercedes.rizo@ua.es

IVDoutor em Educação Internacional, Professor, Unidad Académica Multidisciplinaria, Universidad Autónoma de Tamaulipas, México, e-mail: raguilar@uat.edu.mx

VDoutor em Psicologia, Diretor, Unidad Académica Multidisciplinaria, Universidad Autónoma de Tamaulipas, México, e-mail: lvazquez@uat.edu.mx

Endereço para correspondência

RESUMO

O objetivo foi explorar as percepções da obesidade de adolescentes obesos, estudantes do 7º ao 9º grau de uma instituição pública de Tamaulipas, México. É estudo qualitativo, do qual participaram 24 adolescentes que tinham índice de massa corporal superior ao percentil 95. Realizou-se entrevista semiestruturada até a saturação dos dados e comprensão do significado. Os adolescentes definiram obesidade de acordo com um padrão de medição, identificaram como causa principal o fator hereditário, com tendência para subestimar a obesidade e a ter baixa autoestima, apresentan problemas quando realizam atividade física e para conseguirem roupas para melhorar a própria imagen, são rejeitados pelos seus pares ou iguais, na escola. Identificou-se, também, que possuem mecanismos psicológicos de defesa ante a obesidade e alguns deles estão realizando ações para diminuir o peso. A obesidade tem implicações na saúde, no aspecto psicológico e social de quem a padece, recomenda-se, aqui, implementar intervenções.

Descritores: Adolescente; Obesidade; Peso Corporal; Auto-imagem.

Introdução

A obesidade é doença crônica caracterizada pelo armazenamento em excesso de gordura no organismo e tem alcançado prevalências tão altas que, desde 1998, a Organização Mundial da Saúde a considerou epidemia de âmbito mundial, afetando tanto países desenvolvidos como aqueles que estão em vias de desenvolvimento. Essa doença apresenta-se quer na população adulta quer na população infantil(1-2).

Das crianças e adolescentes, 15% apresentam, atualmente, sobrepeso. No México, de acordo com informação do Censo Nacional de Saúde e Nutrição, em 2006, um em cada três homens ou mulheres adolescentes tem sobrepeso ou obesidade; o que representa perto de 5.757.400 adolescentes no país. Além disso, a obesidade está associada a fatores de risco como ataque do coração e outras doenças crônicas como hiperlipidemia, hiperinsulinemia e hipertensão(3-4).

A adolescência é período crítico da vida, caracterizado por importantes câmbios físicos e psicológicos. Durante esse período de crescimento acelerado, os câmbios corporais podem influir na percepção do peso, o que representa fator que determina os hábitos nutricionais e as ações para manter o peso entre os adolescentes.

A percepção do peso se refere à percepção da figura corporal de si mesmo como uma dimensão importante da imagem corporal, mostrando papel importante nas condutas sociais. Os efeitos psicológicos negativos de pobre imagem corporal e da percepção deformada do peso, tais como baixa autoestima, ansiedade e depressão, têm sido informados em alguns estudos(3-6). Os sujeitos que se percebem a si mesmos como obesos se sentem isolados ou discriminados em situações sociais(5).

Alguns estudos relacionam a percepção duma imagem corporal negativa, ou a insatisfação com o peso, com um pobre funcionamento psicológico, incluindo problemas familiares, na escola e com os professores. Um estudo, realizado na Finlândia, identificou que os adolescentes obesos sofrem ataques de burla e rejeição por parte dos seus companheiros, que os convertem em objeto de burlas e, com freqüência, são considerados como torpes. Essas manifestações de rejeição social geralmente têm maior impacto emocional nas meninas que nos meninos. Além disso, encontrou-se que somente 54% das adolescentes estavam satisfeitas com seu peso e, entre os que estiveram insatisfeitos com seu peso, 84,9% se percebeu com obesidade(6).

Outro estudo encontrou que as crianças obesas têm pobre imagem corporal de si mesmas e expressam sensações de inferioridade, rejeição e baixa autoestima(7). A respeito de como o público em geral percebe a obesidade infantil, foi realizado estudo no qual participaram 1.047 pessoas residentes nos Estados Unidos e aqueles que perceberam a obesidade infantil como um problema sério assinalaram a comida de má qualidade (77%), a comida tipo fast food (65%) e assistir televisão por mais de 2 horas por dia (57%) como os principais fatores que contribuem para a obesidade(8).

Mas, como percebem a obesidade os que a padecem? E no caso dos adolescentes, como vivem com essa situação? Para responder a essas perguntas realizou-se esta investigação com o objetivo de explorar as percepções da obesidade de adolescentes obesos, estudantes do 7º ao 9º grau duma instituição pública em Tamaulipas, México, aplicando métodos de investigação qualitativa, utilizados para explorar questões multifatoriais e complexas

Métodos

A metodologia qualitativa foi considerada apropriada para o desenvolvimento do presente estudo, já que permitiu conhecer as percepções da obesidade dum grupo de adolescentes com obesidade. Os participantes do estudo foram 24 adolescentes, estudantes do 7º ao 9º numa escola pública, residentes na cidade de Matamoros, Tamaulipas, México.

Mediante estudo realizado previamente, no qual se mensurou o peso e estatura, identificaram–se os participantes, os quais cumpriram a condição de apresentar índice de massa corporal (IMC) ≥95 percentil o que permitiu considerá-los como obesos(9).

A técnica para a coleta de dados foi a entrevista semiestruturada com duração aproximada de 30 minutos, aplicada até se obter a saturação dos dados e a compreensão do significado. Antes da entrevista, explicou-se aos participantes os objetivos da investigação e foi obtido o consentimento livre e informado dos adolescentes e de seus pais.

As entrevistas foram gravadas em fitas de áudio; as mesmas tinham por objetivo conhecer como o adolescente percebia seu peso corporal e a obesidade, permitindo aos sujeitos expressarem livremente suas opiniões, As entrevistas foram realizadas no prédio da escola, numa área designada para esse propósito que oferecia ambiente de confiança e cordialidade, permitindo aos adolescentes expressarem livremente suas opiniões.

O período de coleta dos dados foi de março a junho de 2008. Para a análise dos dados, utilizou-se a técnica da análise temática. A noção de tema está ligada a uma afirmação a respeito de determinado assunto, tentando descobrir os núcleos de sentido que integram uma comunicação, cuja presença, ou freqüência, significa alguma coisa para o objetivo proposto. Qualitativamente, a presença de determinados temas denota os valores de referência e os modelos de comportamento presentes(10).

Foram identificados seis temas: 1) definição da obesidade e etiologia, 2) percepção e sentimentos gerados pela obesidade, 3) limitações impostas pela obesidade, 4) rejeição pelos companheiros, 5) mecanismos psicológicos de defensa perante a obesidade e 6) manejo.

Esta investigação foi realizada de acordo com os preceitos éticos propostos no Regulamento da Lei Geral de Saúde em Matéria de Investigação para a Saúde do México e contou com a autorização da Comissão de Ética e Pesquisa da Unidade Acadêmica Multidisciplinar Matamoros, da Universidade Autônoma de Tamaulipas.

Resultados

Participaram 24 adolescentes com obesidade (IMC no percentil ≥95) de ambos,sexos, com idade entre 11 e 15 anos de idade, sendo 14 do sexo feminino.

Definição de obesidade e etiologia

Os adolescentes referiram ter obesidade, baseados no peso corporal.

Não estou no peso médio (E6).

Não estou conforme com meu peso (E13).

Ultimamente estou mais obeso, me pesei e estou pesando mais de 80 quilos e me assusto (E15).

Observou-se, porém, tendência para subestimar a situação.

O sábado me pesei e tenho somente dois quilos a mais (E8).

Estou um pouquinho pesada (E12).

A crença dominante é que o tamanho corporal e o padrão de crescimento estão fixados ou predeterminados e são atribuíveis à herança, inclusive os entrevistados relataram que essa crença foi confirmada pelo pessoal da saúde.

É normal que eu seja gorda, minha família é gorda (E16).

Tenho visitado médicos, mas eles dizem que porque minha família é assim, para mim me dá o mesmo, estou feliz (E21).

Outros participantes assinalaram como causa possível da obesidade os hábitos de alimentação, mas continua a crença predominante do fator hereditário.

Não sabes se é por não comer bem, ou porque tua família é gorda (E16).

Somente um dos participantes atribuiu a origem da obesidade a problemas emocionais.

Adoecidos nervos e comia sem controle (E22).

Percepção e sentimentos gerados pela obesidade

Observou-se tendência para subestimar o problema da obesidade.

Porque no sábado fui pesar-me e tenho somente dois quilos demais (E8).

Estou um pouquinho pesada (E12).

Identificou-se, porém, que os adolescentes percebem uma imagem corporal desvirtuada e sentimentos de inferioridade.

Uma pessoa pode ser gorda e olhar-se no espelho e diz estou bem feio. Quem vai gostar de mim? Os que têm obesidade caem numa depressão muito feia eu tenho presenciado em amigos que isso acontece (E10).

Tenho vontade de ser mais magra não tão cheia (E13).

Inclusive há aqueles que assinalaram ter se acostumado a viver com a obesidade.

Eu me sinto bem, bom, eu já estou acostumada a ver-me gorda (E16).

Outros participantes assinalaram estar cientes de que a obesidade lhes está causando dano, porém, referiram não se sentir com a capacidade para poder baixar de peso.

Me sinto mal, sinto que estou muito gorda, me sinto mal, sinto que se digo que vou diminuir, não vou poder, seria bom uma mudança em mim, tratar de , uma mudança em mim seria positivo, estou fazendo dano a mim mesma (E20).

Assim mesmo, é notório o fato de que, ao mencionarem a maneira como se sentem consigo mesmos, existe tendência para a ambiguidade (nem bem nem mal).

Não me sinto mal, nem me sinto bem (E5).

A contradição está em dizer bem ou mal, mas, no discurso seguinte, aparece a contrição, empregando adjetivação negativa de si mesmo, como maneira de definir sua pessoa, reduzindo-a, na maioria dos casos, à sua característica de obesidade.

Eu me sinto bem... penso às vezes que é ruim como estou... não é normal... dizem que sou gorda, feia... não possofazer muita coisa (E16).

Limitações impostas pela obesidade

Os participantes comentaram que a obesidade lhes gera problemas para realizar atividades físicas.

Pois não me sinto assim muito decaído, posso fazer de tudo, correr, brincar, pular; mas, às vezes, quando corro muito me canso facilmente, não tenho condição física devido à minha obesidade (E10).

Não posso fazer muitas coisas, porque corro e sinto que me canso muito rápido (E17).

Quando corro me canso, se fosse mais magra, poderia fazer mais coisas, teria mais vontade de caminhar e de correr (E18).

Devido ao fato de que para os adolescentes a aparência física e a imagem corporal são aspectos importantes, os participantes assinalaram dificuldades para conseguir roupa para seu tamanho, ou que lhes desse boa aparência, inclusive assinalaram que essa situação lhes gerava depressão.

Batalho para a roupa, mas não se encontra o que queria (E21).

Com meu peso a roupa não cai bem, alguma fica bem, mas outra não, a maioria das vezes a roupa não fica bem com meu peso (E23).

Às vezes fico deprimida porque não posso conseguir o que quero, por exemplo, uma roupa não fica bem com este tipo de corpo, fico chateada porque como estou gorda não posso conseguir a roupa com facilidade como qualquer outra pessoa (E24).

Rejeição dos companheiros

Uma das situações que mencionaram com maior frequência foi a de se sentirem rejeitados pelos seus pares ou iguais, referiram se sentir bem fisicamente, mas não na sua esfera emocional, já que são objeto de burlas pelos companheiros, ou se sentem marginalizados, inclusive teve quem assinalou o desejo de baixar de peso como mecanismo para ser aceito e ganhar o respeito de seus pares ou iguais.

Os companheiros tratam mal os obesos, os insultam, hei sai, tu não tens nada que fazer conosco; diminuindo uns quilos me sentiria melhor (E8).

Muitos dizem que eu estou gorda, feia (E16).

Me sinto bem, mas às vezes me dizem que estou gorda e feia, nessa forma me sinto mal, não me sinto mal no meu organismo, fisicamente não (E19).

Muitos se burlam de mim e não me sinto bem, com meus companheiros, às vezes a relação é muito ruim, porque fazem burla e fazem sentir-me menos que eles, me fazem sentir mal, porque estão burlando-se de mim, quero fazer um esforço para baixar de peso para me sentir melhor e para que meuscompanheiros me respeitem mais (E24).

Mecanismos psicológicos de defensa perante a obesidade

Ao analisar o sentido e significado profundo do discurso dos adolescentes entrevistados, constatou-se que é evidente a força e quantidade dos mecanismos psicológicos de defensa presentes para suportar a carga emocional que implica a experiência de ser uma pessoa obesa. Mecanismos esses que, paradoxalmente, constituem obstáculo para aceitar que existe um problema e atuar, consequentemente, para solucioná-lo, isto é constatado quando se referem ao futuro, empregando verbos numa conjugação condicional.

Se diminuísse uns quilos me sentiria melhor (E8).

Se trocasse minha alimentação ficaria magro e poderia fazer mais coisas, teria vontade de caminhar, de correr, seria boa uma mudança em mim, tratar de fazer uma mudança em mim seria positivo (E20).

Aludindo ao que se esperaria como correto, mas que não se tem ou não se é, conforme as falas a seguir.

Deveria ser mais magro para sentir-me muito melhor (E11).

Não devo sentir-me bem porque estou acima do peso (E12).

Somente em duas das pessoas entrevistadas encontrou-se nas respostas conotação de aceitação proativa.

Falta-me baixar de peso, sim o preciso (E14).

Preciso baixar de peso quero fazer um esforço para baixar de peso (E24).

Manejo

Somente em duas das 24 entrevistas encontrou-se a menção de expressões de aceitação e de já estar realizando ações concretas para solucionar o problema.

Sinto-me mal, ultimamente estou mais obeso, me pesei e estou pesando mais de 80 quilos e me assustei, estou tratando de comer coisas saudáveis (E15).

Outro adolescente mencionou estar realizando ações, mais direcionadas para a saúde do que para melhorar sua aparência física.

Já estou correndo, gostaria estar bem sempre, e as calças bem, estar bem vestido, mas com meu peso, não fica bem a roupa com meu peso, alguma fica bem, mas outras não, a maioria das vezes a roupa não fica bem com meu peso (E23).

Discussão

Os achados do presente estudo permitiram explorar a percepção do peso e da obesidade de adolescentes obesos, residentes em Matamoros, Tamaulipas. Os participantes definiram a obesidade baseados nos valores do peso, comentando que pesam mais do que deveriam, situação que difere da percepção das mães sobre o sobrepeso dos filhos, as que não aceitam as classificações proporcionadas pelo pessoal da saúde, baseadas em parâmetros de crescimento, e assinalam as limitações na atividade física como indicador de que o sobrepeso está começando no seu filho(11).

Os participantes identificaram como causa principal da obesidade a herança familiar, situação que inclusive o pessoal de saúde teria lhes assinalado. Esse achado é consistente com outros estudos que têm abordado a percepção das mães sobre a obesidade dos seus filhos, aquelas que assinalam a crença dominante de que o tamanho do filho e o padrão de crescimento são fixados ou predeterminados pela herança e que, por isso, é impossível que sejam alterados (11-12).

No presente estudo, identificou-se tendência a minimizar a obesidade com expressões que usam os diminutivos, considerando a obesidade como de pouca importância, o que coincide com os resultados de estudo, do qual participaram 2.032 adolescentes, estudantes do 9º ao 12º grau, quando ficou evidente que mais de 20% dos participantes com sobrepeso ou risco de sobrepeso se autoperceberam com baixo peso(13).

O anterior mostra coincidência com os achados num estudo realizado com o objetivo de explorar a disposição para mudança nos padrões de dieta e atividade física em descendentes de pais com diabetes tipo 2. Dos participantes, 17% apresentou sobrepeso e 68% obesidade, além disso, identificou-se que porcentagem importante dos participantes não tenta diminuir o consumo de gordura na dieta e outra parte importante não tem intenção ou tem tentado realizar algum exercício nos últimos 6 meses(14), o que pode estar associado ao fato de que os descendentes de pais com diabetes tipo 2 não se percebem em risco de desenvolver essa doença, ou não percebem que apresentam obesidade.

A percepção do peso corporal é determinante dos hábitos nutricionais e do manejo do peso entre os adolescentes. Os adolescentes que têm sobrepeso, mas não percebem essa situação, apresentam maior dificuldade para se integrar às práticas de controle de peso, tais como a dieta ou exercício, assim mesmo tem-se identificado que a percepção é o melhor fator de predição do peso atual e da integração dos adolescentes às práticas dietéticas ou de controle de peso(15).

A respeito dos sentimentos gerados pela obesidade, os adolescentes empregaram uma adjetivação negativa de si mesmos para definir a sua pessoa, na condição de obesidade. Esse autoconceito negativo se relaciona com uma pobre autoestima(6). Estudo realizado na China, do qual participaram 6.863 adolescentes, mostrou relação entre a percepção da obesidade e o estresse e a depressão nos homens e mulheres e a hostilidade entre os homens, ademais, a percepção do sobrepeso se relacionou com rendimento acadêmico baixo nas mulheres(16).

A respeito das limitações impostas pela obesidade, os adolescentes assinalaram que se agitam quando correm e que o fato de não conseguirem roupa para seu tamanho, ou não lograrem uma boa aparência com a roupa, lhes gerava depressão, o que coincide com a literatura da percepção da mãe sobre a obesidade dos seus filhos, aquelas que assinalam as limitações na atividade física realizadas por seus filhos, as mães não consideram que seu filho tem sobrepeso enquanto sejam ativos e assinalam as limitações na atividade física como indicador de que o sobrepeso estava iniciando no filho; assim como o fato de se preocuparem com o peso de seus filhos e da roupa desenhada para essa idade que eram pequenas ou simplesmente não conseguiam entrar nelas (11).

Assim mesmo, baseados nos achados do presente estudo, é possível afirmar que os adolescentes obesos experimentam rejeição por parte dos seus pares ou iguais no ambiente escolar, são objeto de burla, maus-tratos e desprezo por parte dos companheiros, levando-os a se sentirem inferiores. Isso é consistente com o assinalado pelas mães das crianças obesas, as que referem se preocupar pelos comentários negativos realizados por amigos ou familiares, porém, no caso dos adolescentes, esses se encontram submetidos à pressão social de seus pares, na escola(12).

Identificou-se, porém, mecanismos de defensa perante a obesidade como o fato de se estar considerando a possibilidade de baixar de peso para se sentir melhor, e alguns deles assinalaram estar realizando ações para baixar de peso, situação que requer maior análise para identificar as características ou fatores que permitam a esses adolescentes utilizar tais mecanismos ou realizar essas ações dirigidas para diminuir de peso.

Devido à percepção deformada do peso corporal estar associada a fatores psicológicos, como baixa autoestima, os achados do presente estudo podem contribuir para incrementar o conhecimento de como os adolescentes percebem a obesidade, o que pode apoiar o desenvolvimento de programas de intervenção efetivos.

Limitações do estudo: os achados do presente estudo somente podem ser generalizados para adolescentes com características similares aos daqueles que participaram do presente estudo.

Conclusões

Os adolescentes definiram a obesidade como o fato de pesarem mais do que deveriam, assinalaram como causa principal da obesidade o fator hereditário, tendem a subestimar o problema da obesidade e a ter baixa autoestima; como limitações principais assinalaram problemas quando realizam atividades físicas e problemas para conseguir roupa que melhore a imagem. Os participantes assinalaram ser objeto de burlas e serem rejeitados pelos seus pares ou iguais, na escola. Identificou-se que contam com mecanismos psicológicos de defensa perante a obesidade e que alguns deles estão realizando ações concretas para diminuir o peso.

Referências

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  • Corresponding Author:
    Yolanda Flores-Peña
    Facultad de Enfermería. Universidad Autónoma de Nuevo León.
    Ave. Gonzalitos 1500 Nte.
    Col. Mitras Centro
    66463 Monterrey, Nuevo León, México
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      26 Jul 2010
    • Data do Fascículo
      Fev 2010

    Histórico

    • Recebido
      04 Nov 2008
    • Aceito
      03 Set 2009
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