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As ciências básicas e a enfermagem

EDITORIAL

As ciências básicas e a enfermagem

Evelin Capellari Cárnio

Editor Associado da Revista Latino-Americana de Enfermagem, e Professor Associado da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o desenvolvimento da pesquisa em enfermagem, Brasil. E-mail: carnioec@eerp.usp.br

Ciências básicas é um termo que se refere aos estudos que alicerçam toda a formação profissional nas diferentes áreas de conhecimento.

A pesquisa básica, seja ela nas áreas biológicas, exatas ou humanas, constitui suporte para a prática profissional, bem como para a pesquisa aplicada, mesmo que em longo prazo. Se observarmos os ganhadores do Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia, nas últimas décadas, vários são os cientistas que receberam esse prêmio com descobertas básicas que, posteriormente, foram incorporadas à prática na clínica(1). A ciência pura traz, ainda, aspecto estético, espiritual e artístico para o ser humano, pois essa pesquisa nos oferece a possibilidade de pequenos avanços no conhecimento do nosso mundo interior e do mundo que nos cerca(1). Numa visão mais pragmática, ressalta-se a importância da ciência básica na formação ampla de estudantes de ensino superior. As pessoas envolvidas na formação desses alunos devem se engajar em problemas desafiadores, em contato com outros pesquisadores e com a mente aberta para receber e processar novas informações, para, assim, melhorar a qualidade do ensino. Nesse sentido, os alunos que se envolvem em projetos ligados às ciências básicas aprendem a empregar a metodologia científica, estimulados pelo simples prazer de produzir conhecimento, sem a preocupação com a sua aplicação direta. Dessa forma, a Universidade propicia a reunião de pessoas dispostas a aprender e ensinar, vinculando a educação à geração de conhecimento, o que leva à inevitável melhora na qualidade do ensino. Sendo

assim, a Enfermagem, profissão com área de atuação tão abrangente, não pode prescindir das ciências básicas.

Na enfermagem, desde a década de 60, os estudos oriundos de áreas como a sociologia, a antropologia e psicologia têm recebido ênfase, em relação às outras ciências básicas das áreas biológicas e exatas(2). Pode-se pressupor que tenha ocorrido um processo de legitimação científica da profissão, na tentativa de se distanciar da área médica e, consequentemente, envolvendo-se com outros modelos de pesquisa, como a exploratória, social, teórica e histórica. Entretanto, a natureza da prática de enfermagem, que muitas vezes requer intervenções com suporte no conhecimento biomédico, tem-nos remetido à busca pela transposição da pesquisa básica experimental, dentro da área assistencial(3), fazendo com que ocorra crescimento substancial na área prática, abrindo perspectivas para a profissão em múltiplas direções.

O enfermeiro habilitado no desenvolvimento da pesquisa experimental, fundamentada no conhecimento das ciências biomédicas e exatas, pode oferecer contribuições importantes em diferentes áreas de aplicação, favorecendo intersecção entre os estados fisiopatológicos e psicológicos do paciente.

Finalizo esse editorial lembrando que existem muitas pessoas, incluindo políticos, jornalistas e até cientistas, que acreditam que, em um país como o nosso, ou que em uma profissão como a nossa, não se deva incentivar a ciência pura, pois nem sempre uma aplicação direta acontece. Entretanto, acredito que se a enfermagem deseja aprimorar constantemente sua prática profissional, há necessidade de valorização dos trabalhos multidisciplinares, desenvolvidos com flexibilidade e em colaboração com cientistas e/ou profissionais de outras áreas, abrangendo, de forma ampla, a assistência, o ensino e a pesquisa.

Referências

  • 1. Ziman J. A força do conhecimento. Săo Paulo: Editora Itatiaia/EdUSP; 1981.
  • 2. Almeida MCP. A construçăo do saber na enfermagem: evoluçăo histórica. 3° Seminário Nacional de Pesquisa em Enfermagem; 1984 abril 3-6; Florianópolis, SC, Brasil. Florianópolis: UFSC; 1984. p. 58-77.
  • 3. D'Antonio P. Toward a history of research in nursing. Nurs Res 1997 Mar-Apr;46(2):105-10.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Out 2011
  • Data do Fascículo
    Out 2011
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