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Qualidade de vida em mulheres climatéricas que trabalham no sistema sanitário e educativo

Resumos

O objetivo deste estudo foi determinar a associação entre a atividade profissional e a qualidade de vida percebida em mulheres climatéricas que trabalham nas áreas da saúde e educação. Realizou-se estudo descritivo e transversal, numa amostra de 203 mulheres climatéricas, juntamente com análise correlacional da influência dos fatores de trabalho na qualidade de vida, relacionada à saúde. Encontraram-se diferenças significativas entre a qualidade de vida das trabalhadoras e algumas variáveis laborais. A qualidade de vida percebida pelas mulheres perimenopáusicas que trabalham na área da educação é superior à daquelas que trabalham na área da saúde (p=0,004). Os profissionais de enfermagem podem elaborar programas de saúde que abordem as condições de trabalho que influenciam negativamente a qualidade de vida percebida pelas mulheres climatéricas.

Qualidade de Vida; Climatério; Saúde Ocupacional; Satisfação no Emprego


The objective of this study was to determine the association between the professional activity and the perceived quality of life in climacteric women who work in Health and Education. A descriptive and cross-sectional study was developed in a sample of 203 climacteric women, together with a correlation analysis of labor factors’ influence on health-related quality of life. Significant differences were found between working women’s quality of life and some labor conditions. The perceived quality of life in perimenopausal women who work in Education is higher than that of those working in Health (p=0.004). Nursing professionals can develop health programs that deal with the work conditions that negatively influence the perceived quality of life in climacteric women.

Quality of Life; Climacteric; Occupational Health; Job Satisfaction


El objetivo de este estudio fue determinar la asociación entre la actividad profesional y la calidad de vida percibida en mujeres climatéricas que trabajan en las áreas sanitaria y educativa. Se realizó un estudio descriptivo y transversal, en una muestra de 203 mujeres climatéricas, junto al análisis correlacional de la influencia de los factores laborales en la calidad de vida relacionada con la salud. Se encontraron diferencias significativas entre la calidad de vida de las trabajadoras y algunas condiciones laborales. La calidad de vida percibida por las mujeres perimenopáusicas que trabajan en educación es superior a la de las que trabajan en salud (p=0,004). Los profesionales de Enfermería pueden elaborar programas de salud, que aborden las condiciones de trabajo que influyen negativamente en la calidad de vida percibida por las mujeres climatéricas.

Calidad de Vida; Climaterio; Salud Ocupacional; Satisfacción en el Trabajo


ARTIGO ORIGINAL


Qualidade de vida em mulheres climatéricas que trabalham no sistema sanitário e educativo

Josefa Márquez MembriveI ; José Granero-MolinaII; Ma José Solvas SalmerónIII; Cayetano Fernández-SolaIV; Carmen Ma Rodríguez LópezV; Tesifón Parrón CarreñoVI

IEnfermeira, Mestre em Enfermagem, Professor Titular, Departamento de Enfermería y Fisioterapia, Universidad de Almería, Espanha. E-mail: jmarquez@ual.es

IIEnfermeiro, Doutor em Ciencias da Saúde, Professor Colaborador, Departamento de Enfermería y Fisioterapia, Universidad de Almería, Espanha. E-mail: jgranero@ual.es

IIIEnfermeira, Complejo Hospitalario Torrecárdenas, Almería, Espanha. E-mail: manuferrer78@hotmail.com

IVEnfermeiro, Mestre em Enfermagem, Professor Colaborador, Departamento de Enfermería y Fisioterapia, Universidad de Almería, Espanha. E-mail: cfernan@ual.es

VMédico, Doutor em Medicina, Professor Titular, Departamento de Neurociencia y Ciencias de la Salud , Universidad de Almería, Espanha. E-mail: cmrodrig@ual.es

VIMédico, Doutor em Medicina, Professor Associado, Departamento de Neurociencia y Ciencias de la Salud , Universidad de Almería, Espanha. E-mail: tpc468@ual.es

Endereço para correspondência

RESUMO

O objetivo deste estudo foi determinar a associação entre a atividade profissional e a qualidade de vida percebida em mulheres climatéricas que trabalham nas áreas da saúde e educação. Realizou-se estudo descritivo e transversal, numa amostra de 203 mulheres climatéricas, juntamente com análise correlacional da influência dos fatores de trabalho na qualidade de vida, relacionada à saúde. Encontraram-se diferenças significativas entre a qualidade de vida das trabalhadoras e algumas variáveis laborais. A qualidade de vida percebida pelas mulheres perimenopáusicas que trabalham na área da educação é superior à daquelas que trabalham na área da saúde (p=0,004). Os profissionais de enfermagem podem elaborar programas de saúde que abordem as condições de trabalho que influenciam negativamente a qualidade de vida percebida pelas mulheres climatéricas.

Descritores: Qualidade de Vida; Climatério; Saúde Ocupacional; Satisfação no Emprego.

Introdução

A qualidade de vida tem se tornado elemento de referência do "estado de bem-estar" nos países desenvolvidos. Trata-se de conceito amplo, influenciado de forma complexa por múltiplos fatores, entre eles: o estado psicológico, o nível de independência, as relações sociais, as características do ambiente e a saúde física.

A satisfação com a saúde é um dos componentes fundamentais da qualidade de vida percebida, motivo pelo qual foi proposto um termo para adequar sua denominação aos conteúdos do conceito de qualidade de vida: qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS).

Esse conceito inclui, entre outros fatores, a qualidade de vida relacionada ao trabalho(1) e à influência que as modificações endócrinas do fracasso ovariano pode exercer na qualidade de vida percebida pelas mulheres(2-4). Por esse motivo, as consequências do climatério devem ser contempladas a partir da perspectiva da QVRS como questão específica da mesma. O aumento da expectativa de vida da população geral e das mulheres em particular (na Espanha, durante este século, haverá mais de dez milhões de mulheres climatéricas) tem propiciado que a atenção à mulher, nessa etapa da vida, seja prioridade; porém, o modo como deve ser realizada representa uma das maiores fontes de debate na saúde pública. Apesar do consenso de que a abordagem do climatério deve ser prioritariamente educativo e preventivo(5-6), poder desenvolvê-la implica, de maneira inevitável, conhecer os fatores relacionados aos seus sintomas e determinar sua influência sobre a qualidade de vida. Vários estudos publicados, sobre ambas as questões(7-9), evidenciam que existem fatores sociodemográficos como o número de filhos, classe social, cultura ou o trabalho(10-13) que se mostraram variáveis relevantes na efervescência clínica do climatério e da menopausa.

A maioria dos artigos publicados analisa especificamente a atividade laboral, mas uma revisão sobre sua influência na qualidade de vida das mulheres menopáusicas revela resultados contraditórios. Enquanto alguns estudos não encontraram relação entre as variáveis trabalho, menopausa e qualidade de vida(2,14-15), outros mostram que as mulheres trabalhadoras têm menos sintomas específicos da menopausa que as donas de casa(16-17). Existem autores(18) que apontam que o grau de satisfação da mulher menopáusica com o trabalho se relaciona, de forma positiva, à menor apresentação de sintomas somáticos e psicológicos. Essa mesma relação foi encontrada também em outro estudo que contempla(19), também, a necessidade de incorporar a diversidade de variáveis relacionadas ao trabalho nas pesquisas sobre qualidade de vida durante o climatério.

O objetivo deste estudo é descrever e analisar a associação entre as condições laborais e a qualidade de vida de mulheres climatéricas que trabalham nas áreas sanitária e educativa.

Metodologia

Trata-se de estudo descritivo, de corte transversal, que incorpora análise correlativa das variáveis implicadas na busca da associação entre as mesmas. Os dados foram coletados entre os anos 2007 e 2008, em uma população de referência abrangendo mulheres climatéricas, com idade entre 45 e 65 anos, trabalhadoras dos setores sanitário e educativo, na província de Almería, Espanha. Essa faixa etária, previamente usada em processo de construção e validação de escalas específicas para a menopausa na mulher espanhola(20), capta o caráter variável do início, da manutenção e do desparecimento dos sintomas do climatério, coincidindo também com a última etapa da vida laboral da mulher que, na Espanha, se estende até os 65 anos. Grupo-1. Enfermeiras que trabalham em hospitais (Complejo Hospitalario Torrecárdenas) e na Assistência Primária à Saúde (Zonas Básicas de Salud do Distrito Sanitario Almería-Centro). Grupo-2. Professoras de Institutos de Educação Secundária e da Universidad de Almería. Ambas as áreas foram selecionadas porque são desempenhadas majoritariamente por mulheres, mostram seu carácter social e apresentam condições laborais que as tornam claramente distinguíveis.

Baseada em uma população de referência de 429 mulheres que atendiam aos critérios de inclusão, o tamanho amostral foi estimado através do programa Questa, estabelecendo o nível de confiança em 95%. Os critérios de inclusão foram: ser mulher, com idade entre 45 e 65 anos, que trabalhavam, naquele momento, nas áreas sanitária ou educativa da província de Almería, Espanha. A amostra definitiva compreendeu 203 mulheres profissionalmente ativas, 86 enfermeiras que trabalhavam no setor da saúde e 117 professoras, selecionadas a partir da lista original, por amostragem aleatória simples. Após obter permissão para o desenvolvimento da pesquisa, a investigadora principal contatou a direção dos centros de trabalho, que lhe proporcionaram os dados necessários para selecionar e contatar as participantes dos Institutos de Ensino Secundário, Departamentos da Universidade, Centros de Saúde e o Complexo Hospitalário. Três investigadores marcaram os horários por telefone com todas as trabalhadoras participantes deste estudo, para, posteriormente, coletar os dados nos diferentes centros de trabalho. A coleta de dados aconteceu durante as horas de descanso das professoras de Instituições e da Universidade, e também das trabalhadoras do Hospital e dos Centros de Saúde. Em salas de reunião específicas dos centros de trabalho, o pesquisador apresentou e explicou às mulheres participantes os objetivos do estudo e, após mostrar um compromisso de confidencialidade dos dados, as convidava para participar do estudo, entregava o levantamento e deixava alguns minutos de tempo para as respostas, mostrando disponibilidade para esclarecer qualquer dúvida. Nenhuma das mulheres convidadas se recusou, de forma que todas participaram do estudo. O tempo usado para a coleta dos dados foi de aproximadamente 10 meses, entre setembro de 2007 e junho de 2008. O questionário autoadministrado às participantes continha 73 perguntas, distribuídas em 3 partes, mostradas a seguir.

1ª Parte: coleta das características sociodemográficas e o perfil climatérico, medidas através de perguntas fechadas e distinguindo 3 subgrupos - pré-menopausa (>45 anos e menstruação normal), perimenopausa (>45 anos, irregularidades menstruais em número ou quantidade) e pós-menopausa (>45 anos, a partir de 12 meses sem menstruar).

2ª Parte: análise das condições laborais, através de 24 perguntas fechadas, distribuídas em dois blocos. Os 18 primeiros itens fazem parte do levantamento sobre qualidade de vida no trabalho (ECVT)(21) que, elaborada periodicamente pelo Ministério do Trabalho e Assuntos Sociais da Espanha, explora a qualidade de vida do trabalhador através de informação objetiva sobre as situações reais de atividades no ambiente do trabalho, além de informação subjetiva sobre as percepções pessoais dos trabalhadores sobre suas condições e relações laborais. Os 6 itens restantes, sobre condições de trabalho e tipo de exposição laboral das mulheres, foram obtidos do V Levantamento Nacional de Condições de Trabalho(22).

3ª Parte: formada por 31 itens, coleta informação sobre a qualidade de vida durante a menopausa, através do uso da escala Cervantes(20). Esse questionário, validado para o estudo da menopausa na mulher espanhola, mede a pontuação global de qualidade de vida, além das pontuações em diferentes áreas ou domínios (psíquico, relacionamento do casal, sintomas vasomotores, ou envelhecimento). Curta, de prática aplicação e correção fácil, essa escala utiliza pontuação de 0 a 5 para medir a presença de sintomas, em que 0 representa a ausência do sintoma e 5 a presença de um sintoma muito severo. Assim, a menor pontuação corresponde à melhor qualidade de vida.

Os cálculos foram efetuados no programa estatístico SPSS, versão 17.0. Primeiro foi elaborada uma análise descritiva dos dados: obtenção da média e do desvio padrão (variáveis quantitativas) e determinação de porcentagens (variáveis categóricas). Em segundo lugar, foi analisada a relação entre a qualidade de vida e as condições de trabalho e foi aplicado o teste de correlação de Pearson, o teste de Spearman e o teste de Tau-b de Kendal, para comparar as médias, o teste t de Student foi aplicado (naquelas variáveis em que n<30 foi utilizado o teste de Mann-Whitney); para comparar variáveis qualitativas foi utilizado o testo qui-quadrado.

Resultados

A média de idade da amostra das mulheres nesta pesquisa foi de 50,61 anos, sendo semelhante em ambos os setores. Aproximadamente 69% era casada ou vivia com parceiro fixo, com média de 1,92 filhos. Em geral, os dados obtidos mostram padrões climatéricos homogêneos em ambos os grupos (Tabela 1).

A pontuação global de qualidade de vida foi inferior entre as mulheres que trabalhavam no Sistema Educativo (36,56) do que entre aquelas que trabalhavam no Sistema de Saúde (42,34), o que significa melhor qualidade de vida percebida, apesar de que as diferenças somente foram significativas no grupo de mulheres perimenopáusicas (Tabela 2).

As pontuações de qualidade de vida obtidas pelas mulheres climatéricas, relacionadas à atividade laboral (Tabela 3), destacam que tanto o nível de estresse como o grau de satisfação com seu trabalho foram muito semelhantes nas trabalhadoras dos setores de saúde e educação ("gosto do trabalho" e "estabilidade profissional" são os motivos mais expressados). Por outro lado, foram encontradas diferenças significativas no nível de satisfação relacionado a variáveis do ambiente físico e à organização do trabalho; em ambos os casos, foi encontrado maior grau de satisfação entre as mulheres que trabalhavam no setor educativo. Em comparação com aquelas que trabalhavam em instituições de saúde, 90% das mulheres que trabalhavam na educação nunca realizavam esforço físico, com diferença significativa.

Com relação às condições de trabalho em ambos os setores estudados (Tabela 4), destaca-se que a exposição a contaminantes biológicos (61,6%), químicos (54,7%), vibrações (31,4%) e radiações (25,6%) é maior entre as mulheres que trabalham no Sistema de Saúde.

Os resultados da relação entre as variáveis laborais e a pontuação global de QVRS, em ambos os setores (Tabela 5), mostram que as enfermeiras mais satisfeitas com seu trabalho apresentavam melhor qualidade de vida (p=0,003), da mesma forma que aquelas que consideravam seu trabalho atrativo (p=0,003), contra pontuações piores para aquelas que o consideravam tedioso (p=0,008). Tanto o nível de estresse (p=0,030) como a exposição a ruído (p=0,012) foram determinantes para pior qualidade de vida, contrário ao que acontece com a exposição a temperatura confortável no local de trabalho, relacionada ao aumento da qualidade de vida percebida por essas trabalhadoras (p=0,019).

Com relação às trabalhadoras do sistema educativo, as professoras mais satisfeitas com seu trabalho (p=0,002) e com sua organização (p=0,002) mostravam melhores pontuações de qualidade de vida; o mesmo acontece com aquelas que consideravam seu trabalho atrativo (p=0,007), enquanto as profissionais que o consideravam tedioso obtinham pontuações piores (p=0,001). As professoras que obtiveram melhores escores de qualidade de vida referem menor nível de estresse e maior satisfação com o ambiente físico do seu local de trabalho (p<0,001). Da mesma forma, diferenças significativas foram encontradas em relação à qualidade de vida percebida entre as professoras que faziam esforço físico, durante sua jornada de trabalho, e aquelas que não o faziam (p=0,026), com menores níveis nas primeiras; o mesmo se estende à exposição a contaminantes químicos no local de trabalho, que diminui a qualidade de vida percebida por essas trabalhadoras (p=0,016). O grau de satisfação com o salário também foi revelado como determinante da QVRS percebida (p=0,024), sem diferenças estatisticamente significativas na comparação do escore global entre as mulheres que trabalhavam na saúde e na educação.

Discussão

A qualidade de vida é um conceito difícil, considerando seu caráter subjetivo, complexo e multidimensional, com vários fatores implicados. As condições de trabalho das enfermeiras, sejam elas docentes ou cuidadoras, são percebidas como determinantes da QVRS(1), ao que se junta a possível influência de mudanças fisiológicas inerentes à própria mulher, como no caso do climatério. A percepção da QVRS global na população estudada é superior à média espanhola encontrada em outros estudos que utilizaram a mesma escala(20). Isso pode ser devido ao fato de que essas investigações envolveram a população em geral, enquanto, no presente estudo, todas as mulheres são trabalhadores com formação universitária fator amplamente relacionado à qualidade de vida nas mulheres climatéricas. Os resultados deste estudo indicam que a QVRS é semelhante entre enfermeiras e professoras, exceto no grupo de mulheres no período perimenopáusico, em que as trabalhadoras do sistema educativo obtêm melhores escores. Essa questão deriva da menor prevalência de exposição dessas últimas a determinadas condições de trabalho que interferem negativamente na qualidade de vida percebida. Esses dados estão de acordo com outros estudos(23), nos quais fatores do chamado "domínio físico", tais como a conciliação da vida familiar/profissional, horários noturnos ou o trabalho em turnos, estão entre os piores avaliados nas trabalhadores da saúde. Sua pontuação reflete a menor satisfação das enfermeiras assistenciais com a organização do trabalho, o salário percebido, a realização de esforço físico e a exposição a contaminantes. Todos esses aspectos, junto com a submissão hierárquica e o desgaste emocional, derivado do cuidado do paciente, são os piores avaliados como determinantes da QVRS, em estudos mais recentes(24). O fato de que a qualidade de vida de ambos os grupos foi menor no período perimenopáusico coincide com outros estudos realizados na população geral(25), dado que se trata de um período que abrange as mulheres com irregularidades menstruais, tanto em termos de quantidade como número, e onde começam os primeiros sintomas do climatério.

Um dos fatores profissionais relacionados à melhor QVRS, em ambos os grupos, foi a consideração do trabalho como atrativo "sempre ou frequentemente". Apesar disso, os números encontrados são menores que aqueles publicados no Levantamento do Ministério do Trabalho e Assuntos Sociais(21), onde já se concluía que as profissionais universitárias consideravam o trabalho mais atrativo que o resto da população. Da mesma forma, a porcentagem de mulheres que nunca ou quase nunca considerava o trabalho tedioso foi maior do que a publicada naquele levantamento(21). O grau de satisfação com o trabalho desempenhado esteve claramente relacionado à melhora na percepção da QVRS, em ambos os grupos, fato que tem sido apontado em outros trabalhos publicados(18).

O estresse desenvolvido no local de trabalho também está relacionado à diminuição da QVRS percebida, tanto em professoras como em enfermeiras assistenciais, apesar de que as diferenças nos dados extraídos de ambos os grupos são menores de que aquelas informadas em outros estudos(21). As mulhres do grupo que trabalhava na saúde mencionaram fazer mais esforço físico no seu local de trabalho, resultado provavelmente relacionado ao maior esforço mental e psicológico desenvolvido pelas enfermeiras assistenciais, mas, apesar disso, a associação à qualidade de vida referida pelas enfermeiras não foi significativa.

Os dados deste estudo representam importante fonte de hipótese de trabalho para continuar investigando a relação entre a atividade profissional e a qualidade de vida durante o climatério. Os resultados obtidos indicam a necessidade de informar as instituições de referência para que os profissionais de Enfermagem do Trabalho dos Serviços de Prevenção de Riscos Ocupacionais elaborem programas de saúde específicos, dirigidos a essa população.

Conclusões

A QVRS da população estudada, apesar de diminuir no período perimenopáusico, é superior à média da população espanhola em geral. Os padrões climatéricos encontrados em mulheres que trabalham nos setores de saúde e educação são homogêneos, mas a QVRS é maior nas mulheres que trabalhavam nas áreas educativas do que naquelas que trabalhavam no sistema de saúde. Essas diferenças somente foram significativas no grupo de mulheres perimenopáusicas. Trabalhar na saúde está associado à menor qualidade de vida percebida, com associação entre a satisfação profissional e as variáveis relacionadas com o ambiente físico e a organização do trabalho. Os horários, a conciliação da vida familiar/profissional, o esforço físico e a exposição a contaminantes são os aspectos com piores avaliações.

Limitações

Os resultados deste estudo devem ser interpretados com precaução, pois, apesar de a mostra seguir critérios estritamente probabilísticos, a população de referência foi selecionada por conveniência, questão que deve ser considerada antes de se fazer qualquer inferência baseada nos resultados. A escala Cervantes utilizada é um instrumento de medida da QVRS específico para a menopausa na mulher espanhola, cuja versão original foi desenvolvida em espanhol e adaptada ao nosso meio, sendo necessária sua adaptação para uso em outros contextos.

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  • Corresponding Author:
    Josefa Márquez Membrive
    Universidad de Almería. Facultad Ciencias de la Salud.
    Carretera Sacramento s/n
    04120, Almería, España
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      16 Jan 2012
    • Data do Fascículo
      Dez 2011

    Histórico

    • Recebido
      29 Dez 2010
    • Aceito
      20 Set 2011
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