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Adaptação e validação do instrumento posições sobre o processo de enfermagem

Resumos

OBJETIVO: estimar as propriedades psicométricas da adaptação do instrumento Posições frente ao Diagnóstico de Enfermagem, para avaliar as atitudes do pessoal de enfermagem com relação ao processo de enfermagem. MÉTODO: trata-se de estudo metodológico com amostra não probabilística de 973 auxiliares de enfermagem e 632 enfermeiros de 35 hospitais e ambulatórios vinculados à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. A validade do instrumento de 20 itens foi verificada por meio da análise fatorial confirmatória que identificou um fator mais geral no segundo nível, formado pelos três fatores clássicos de atitudes, sendo que a confiabilidade foi de 0,954 para o total do instrumento. RESULTADOS: o instrumento Posições sobre o Processo de Enfermagem tem validade e confiabilidade adequadas. CONCLUSÕES: recomenda-se verificar em estudos futuros se os itens apresentam comportamento diferencial, de acordo com a categoria profissional do respondente, e verificar o comportamento do instrumento com estudantes.

Processos de Enfermagem; Atitudes; Questionários


OBJECTIVE: estimate the psychometric properties in the adaptation of the instrument Positions on Nursing Diagnosis to assess nursing staff members' attitudes towards the nursing process. METHOD: methodological study with a non-probabilistic sample of 973 nursing assistants and 632 baccalaureate nurses from 35 hospitals and outpatient clinics affiliated with the São Paulo State Health Secretary. The validity of the 20-items instrument was checked through confirmatory factor analysis, which identified a more generally secondary-level factor, constituted by the three classical attitude factors. Reliability corresponded to 0.954 for the total instrument. RESULTS: the validity and reliability of the instrument Posições sobre o Processo de Enfermagem are appropriate . CONCLUSIONS: further research is needed to verify whether the items behave differently according to the respondent's professional category and to verify the instrument's behavior when applied to student samples.

Nursing Process; Attitudes; Questionnaires


OBJETIVO: estimar las propiedades psicométricas de la adaptación del instrumento Posições frente o diagnóstico de enfermagem para evaluar las actitudes del personal de enfermería respecto al proceso de enfermería. MÉTODO: estudio metodológico con muestra no probabilística de 973 auxiliares de enfermería y 632 enfermeros de 35 hospitales y ambulatorios vinculados a la Secretaría del Estado de la Salud de São Paulo. La validez del instrumento de 20 ítems fue verificada mediante el análisis factorial confirmatorio que identificó un factor más general en segundo nivel, formado por los tres factores clásicos de actitudes. La confiabilidad correspondió a 0,954 para el instrumento total. RESULTADOS: el instrumento Posições sobre o Processo de Enfermagem posee validez y confiabilidad adecuadas. CONCLUSIONES: se recomienda verificar en estudios futuros si los ítems presentan comportamiento diferencial según la categoría profesional del respondiente y verificar el comportamiento del instrumento con estudiantes.

Proceso de Enfermería; Actitudes; Cuestionarios


ARTIGO ORIGINAL

Adaptação e validação do instrumento Posições sobre o Processo de Enfermagem1

Erika de Souza GuedesI; Regina Marcia Cardoso de SousaII; Ruth Natalia Teresa TurriniIII; Valéria Troncoso BaltarIV; Diná de Almeida Lopes Monteiro da CruzII

IDoutoranda, Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil

IIPhD, Professor Titular, Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil

IIIPhD, Professor Doutor, Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil

IVPhD, Professor Adjunto, Departamento de Epidemiologia e Bioestatística, Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, Brasil

Endereço para correspondência

RESUMO

OBJETIVO: estimar as propriedades psicométricas da adaptação do instrumento Posições frente ao Diagnóstico de Enfermagem, para avaliar as atitudes do pessoal de enfermagem com relação ao processo de enfermagem.

MÉTODO: trata-se de estudo metodológico com amostra não probabilística de 973 auxiliares de enfermagem e 632 enfermeiros de 35 hospitais e ambulatórios vinculados à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. A validade do instrumento de 20 itens foi verificada por meio da análise fatorial confirmatória que identificou um fator mais geral no segundo nível, formado pelos três fatores clássicos de atitudes, sendo que a confiabilidade foi de 0,954 para o total do instrumento.

RESULTADOS: o instrumento Posições sobre o Processo de Enfermagem tem validade e confiabilidade adequadas.

CONCLUSÕES: recomenda-se verificar em estudos futuros se os itens apresentam comportamento diferencial, de acordo com a categoria profissional do respondente, e verificar o comportamento do instrumento com estudantes.

Descritores: Processos de Enfermagem; Atitudes; Questionários.

Introdução

Em decorrência da Resolução Cofen nº358/2009(1), muitas instituições de saúde se mobilizaram para a implantação da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE). Esse processo pode ser entendido como uma inovação, na medida em que são necessárias mudanças planejadas, cuja finalidade é melhorar sistemas de prestação da assistência e registro de enfermagem, e os indivíduos que participam da implantação da inovação percebem o processo como algo novo, ao qual devem se adaptar(2). A mudança envolve fatores relativos ao conhecimento, atitudes e comportamentos em relação à inovação pretendida(3).

As atitudes são disposições pessoais de aproximação ou afastamento frente a uma ideia ou conceito, envolvem afeto, predispõem à ação e, portanto, influenciam o comportamento(4). A disposição frente à SAE refere-se às atitudes favoráveis ou desfavoráveis ao processo de enfermagem (PE). É importante estudar fatores com potencial de interferência na implantação e manutenção da SAE na prática clínica, sejam os relativos ao ambiente institucional ou aos profissionais de enfermagem.

Na literatura de enfermagem ainda não há consenso sobre a definição de expressões como PE e SAE. A definição dos termos depende do referencial adotado, do objetivo e da área a que se destina(5). Neste estudo, o PE é definido como um instrumento que provê um guia sistematizado para o desenvolvimento de um estilo de pensamento que direciona os julgamentos clínicos necessários para o cuidado de enfermagem(6). Os termos PE e SAE serão usados como sinônimos.

Este estudo teve a finalidade de adaptar o instrumento Positions on Nursing Diagnosis(7), questionário originalmente desenvolvido com o objetivo de avaliar as atitudes de enfermeiros ou estudantes de enfermagem frente ao conceito de diagnóstico de enfermagem. A adaptação feita para este estudo foi a substituição do conceito de diagnóstico de enfermagem pelo conceito de PE. Embora não estejam disponíveis informações sobre o processo de seu desenvolvimento, o Positions on Nursing Diagnosis(7) foi apresentado na décima conferência da NANDA-I, em 1992(7). O instrumento tem 20 duplas de adjetivos; um dos adjetivos de cada dupla representa uma disposição favorável ao conceito e o outro representa a disposição desfavorável. Cada dupla é separada por sete pontos equidistantes e o respondente deve marcar um dos pontos de acordo com a maior ou menor proximidade da sua disposição com um dos adjetivos de cada dupla(8). O Positions on Nursing Diagnosis(7) foi submetido a processo de adaptação para a língua portuguesa(8). A confiabilidade estimada pelo alfa de Cronbach foi, em amostra de 400 enfermeiros e estudantes de enfermagem, de 0,94. A validade foi estimada pela comparação dos escores antes e depois de um curso sobre diagnóstico de enfermagem, em amostra de 100 enfermeiros, e pela análise de correlação com afirmação geral sobre o quanto o respondente era favorável ao conceito de diagnóstico de enfermagem. Houve melhora significativa dos escores após o curso e correlação positiva com a afirmação geral(8). Os resultados desse estudo mostraram que o instrumento Posições frente ao Diagnóstico de Enfermagem (PDE), designação atribuída à adaptação do Positions on Nursing Diagnosis para o Brasil, tinha boas propriedades psicométricas.

Considerando-se que o diagnóstico de enfermagem é parte do PE, admitiu-se que o PDE(8) poderia ser adaptado para avaliar as atitudes frente ao processo de enfermagem. A análise de face das 20 duplas de adjetivos do PDE, realizada em etapa anterior ao presente estudo, confirmou que as mesmas poderiam ser aplicadas para avaliar as atitudes em face do PE como um todo. Diante da inexistência de um instrumento para essa finalidade e em virtude da importância das atitudes diante do PE como variável nas pesquisas sobre o tema, este estudo teve o objetivo de estimar as propriedades psicométricas da adaptação do PDE(8) para avaliar as atitudes do pessoal de enfermagem com relação ao PE.

Método

O estudo, de caráter metodológico, é parte de um projeto mais amplo, ainda em andamento, para avaliar características do processo de enfermagem em instituições da Secretaria do Estado da Saúde de São Paulo (Projeto SAE/SES). Fizeram parte da amostra não probabilística 973 auxiliares de enfermagem e 632 enfermeiros de 35 hospitais e ambulatórios vinculados à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.

Os dados foram coletados por autorrelato, por meio de respostas dos participantes a um questionário com dados pessoais, de formação, trabalho, conhecimento e grau de contato com o PE e ao instrumento em estudo, que foi designado Posições sobre o Processo de Enfermagem (PPE).

No instrumento de caracterização dos respondentes investigaram-se os dados de conhecimento e contato com o PE; para tanto, optou-se por usar o a expressão SAE, por ser a forma mais comum de, no Brasil, os profissionais se referirem ao PE. O participante escolhia entre "nenhum", "pouco", "moderado", ou "muito", sobre o quanto conhecia sobre "SAE em geral", sobre "entrevista e exame físico", "diagnóstico de enfermagem", "prescrição de enfermagem", e sobre "evolução de enfermagem". O conhecimento sobre o PE foi avaliado por meio de 5 itens, cujos escores somados poderiam variar de 5 a 20. Os cinco itens apresentaram boa confiabilidade na amostra (n=1526; alfa de Cronbach=0,883). O grau de contato com o PE foi estimado pelo autorrelato do participante quanto ao grau de contato que ele havia tido nos últimos 3 anos com o tema 'SAE', considerando-se atividades de leitura sobre o assunto, participação em aulas ou cursos sobre o tema, participação em eventos específicos, uso na prática clínica e realização de pesquisa. Para cada um dos cinco itens a escala de respostas era "nada", "pouco", "moderado", "muito". O grau de contato com o PE foi, portanto, avaliado por meio de 5 itens, cujos escores somados poderiam variar de 5 a 20. Os cinco itens apresentaram boa confiabilidade na amostra (n=1543; alfa de Cronbach=0,822). Essas variáveis foram analisadas pela soma dos escores nos cinco itens e quanto maior o escore mais intenso o conhecimento ou o contato com o PE.

No PPE, foi solicitado ao respondente que pontuasse como se sentia em relação à SAE, nas mesmas 20 duplas de adjetivos usadas no instrumento para a atitude sobre os diagnósticos de enfermagem. Foi incluída uma afirmação geral sobre o quanto o respondente era favorável à SAE, para obter uma estimativa de validade da adaptação. As respostas de cada sujeito em cada um dos 20 itens do PPE poderiam variar de 1 a 7, a pontuação total no instrumento entre 20 e 140, e quanto maior, mais favorável a atitude. O PPE tem 11 itens apresentados invertidos, que foram corrigidos no banco de dados antes das análises. Todos os resultados serão apresentados com os itens no sentido de 1 a 7, ou seja, da posição mais desfavorável para a mais favorável. Em estudo(9), os autores propõem analisar os escores nos itens como: fortemente favoráveis os que apresentam escores de >5,5 e os que se aproximam de posições mais desfavoráveis aqueles que apresentam escore médio <4,5.

As respostas ao PPE foram computadas e submetidas à Análise Fatorial Confirmatória (AFC) e à obtenção de coeficientes de consistência interna.

A AFC foi realizada por meio de modelos de equações estruturais, com os 20 itens do PPE, com o intuito de confirmar a existência de três domínios para avaliação das atitudes frente ao PE, conforme foi evidenciado no estudo de validação da versão brasileira do PDE(8). A AFC é análoga à análise fatorial exploratória, porém, o pesquisador impõe as restrições de acordo com seu conhecimento sobre o que está estudando(10-12). O modelo gerado pelo conhecimento do pesquisador é confrontado com as evidências empíricas. Neste estudo, o modelo foi ajustado considerando-se que cada item é uma variável categórica ordinal. A obtenção de modelo adequado para interpretação confirma a validade da escala.

A estimativa de confiabilidade da PPE foi obtida por meio do coeficiente alfa de Cronbach sobre as respostas dos sujeitos que responderam cada um dos itens.

O projeto foi submetido ao Comitê de Ética da Escola de Enfermagem da USP para apreciação dos aspectos éticos (Processo nº856/2009) e à Coordenadoria de Serviços de Saúde da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (Ofício nº189/2009) para pedido de autorização, obtendo aprovação nos dois âmbitos. O termo de consentimento foi apresentado aos sujeitos, individual e pessoalmente, por um dos pesquisadores, ou assistentes de pesquisa, que estiveram disponíveis para qualquer esclarecimento. Todos os participantes assinaram o termo de consentimento após esclarecimento.

Resultados

Dos 1.605 participantes, 86,9% eram do sexo feminino, tinham idade média de 44,1 anos (DP=9,6), 52,3% trabalhavam em hospitais gerais e estavam nas instituições há 10 anos, em média. Cerca de 20% dos enfermeiros tinha cargo de chefia. Quanto à formação em enfermagem, 10,6% dos auxiliares tinham concluído a graduação e 4,4% a especialização. Dos 632 enfermeiros, 9,2% referiram nunca ter cursado especialização, 12 enfermeiras eram mestres e duas eram doutoras em enfermagem, 43 enfermeiras estavam cursando especialização, 15 enfermeiras estavam fazendo mestrado e quatro, o doutorado.

O conhecimento sobre o PE e o grau de contato com o assunto foi avaliado por cinco questões cada um. As respostas às questões poderiam variar de 1 (nenhum) a 4 (muito), e quanto mais próximo de 4, maior o conhecimento ou o grau de contato com o PE. Em todas as referências ao PE foi usada a expressão SAE, por ser essa a expressão usual em nosso meio. Quanto ao conhecimento sobre a SAE, o escore médio foi de 2,8 (DP=0,7) para a amostra dos auxiliares de enfermagem e de 3,2 (DP=0,5) para os enfermeiros. O escore médio para as cinco questões quanto ao grau de contato com a SAE foi de 2,1 (DP=0,7) para os auxiliares e 2,5 (DP=0,6) para os enfermeiros.

Alguns sujeitos deixaram de responder alguns itens do PPE e optou-se por não usar técnicas estatísticas para completar as respostas faltantes. Por isso, para cada resultado, será indicado o número de respostas válidas.

O escore total no PPE variou de 20 a 140 para a amostra total, auxiliares e enfermeiros. O escore total médio, considerando todos os respondentes (n=1489), foi de 112,37 (DP=22,28), para os auxiliares de enfermagem (n=889) o escore total médio foi de 111,04 (DP=23,15) e para os enfermeiros (n=600) foi de 114,34 (DP=20,80).

O escore médio nos itens do PPE foi mais baixo para o item rotineiro/criativo (3,98) e mais elevado para o item sem importância/importante (6,15) se se considerara amostra total. Para os auxiliares de enfermagem, o resultado foi semelhante ao da amostra total, o item rotineiro/criativo teve o escore mais baixo (3,96) e o item sem importância/importante apresentou o escore mais alto (6,07). Os enfermeiros também apresentaram o escore mais baixo para o item rotineiro/criativo (4,01); já o escore mais alto foi para o item negativo/positivo (6,32).

Os itens com escores fortemente favoráveis foram aqueles com escores de >5,5 e os que se aproximam de posições mais desfavoráveis aqueles com escore médio de <4,5(9). O item que apresentou escore médio <4,5 foi o dos adjetivos rotineiro/criativo e esse resultado foi observado na amostra total, no extrato dos auxiliares de enfermagem e no dos enfermeiros. Os itens que apresentaram escores médios >5,5 foram os dos adjetivos não significativo/significativo, sem valor/valioso, negativo/positivo, bobo/inteligente, dificultador/facilitador, inválido/válido, insignificante/significante, irrelevante/relevante, não recompensador/ recompensador, inconveniente/conveniente, inaceitável/aceitável, ruim/bom e sem importância e importante. Esses resultados foram observados nos três extratos de respondentes.

A Tabela 1 apresenta os resultados da AFC, com base no modelo teórico proposto. Foram identificados três fatores compostos por 13, 5 e 2 itens. Esses três fatores ainda formam um fator mais geral, que aqui chamamos de fator único (segundo nível).

Outra verificação da validade da escala PPE se deu por meio da correlação entre as médias dos escores nos 20 itens e as respostas à afirmação geral "Sou favorável à sistematização da assistência de enfermagem", que foi mensurada numa única escala de sete pontos. A hipótese era de que haveria correlação positiva entre os escores da escala e os das respostas à afirmação geral. A correlação da afirmação geral com cada um dos itens e com o total dos 20 itens foi positiva (Spearman rho=0,55) e estatisticamente significativa (p<0,001).

Quanto à confiabilidade da PPE, o coeficiente de alfa de Cronbach foi usado para medir a consistência interna da escala. Para a manutenção dos itens em uma escala, os critérios para retirada dos itens inconsistentes são: a correlação de cada item com o escore (quando a correlação for muito baixa ou negativa o item deve ser excluído) e o acréscimo no coeficiente alfa quando o item é retirado (somente quando esse acréscimo é importante)(13).

A confiabilidade do instrumento foi verificada por se tratar de uma adaptação e recomenda-se estimar a confiabilidade do instrumento sempre que for utilizado, porque a confiabilidade também depende da amostra em que o mesmo é aplicado(13).

O alfa de Cronbach do instrumento com os 20 itens considerando a amostra total (n=1489) foi de 0,954, para os auxiliares de enfermagem (n=889) foi de 0,957 e para os enfermeiros (n=600) 0,950, o que indica boa consistência interna.

O item rotineiro/criativo apresentou as menores correlações para amostra geral (0,374), auxiliares de enfermagem (0,350) e enfermeiros (0,416), assim como o item difícil/fácil apresentou correlação 0,373 para amostra geral, 0,437 para auxiliares de enfermagem e 0,293 para enfermeiros. A retirada desses itens representaria acréscimo muito pequeno no valor do alfa (Tabela 2) e dificultaria a comparação dos resultados com outros estudos. Desse modo, optou-se por manter todos os itens na escala.

Discussão

A suposição de coerência teórica entre as atitudes em face do diagnóstico de enfermagem e ao PE fundamentou a adaptação de um instrumento de atitudes frente ao diagnóstico de enfermagem para avaliar atitudes frente ao PE. O diagnóstico de enfermagem, entendido como componente do PE, é derivado da mesma perspectiva conceitual(14). Ainda assim, deve-se atentar para as particularidades apresentadas por cada etapa do PE.

O instrumento original contém adjetivos gerais que podem ser aplicados ao PE como um todo e não somente a uma de suas etapas(14). Desse modo, o PPE deveria manter as propriedades psicométricas observadas no Posições frente ao Diagnóstico de Enfermagem (PDE)(8).

Os resultados da aplicação do PPE a enfermeiros e auxiliares de enfermagem confirmaram a suposição da configuração de três fatores semelhantes aos fatores do PDE. O instrumento PPE adaptado neste estudo, para a avaliação do PE, manteve a estrutura fatorial da versão do PDE validada para a língua portuguesa do Brasil(8).

No estudo brasileiro do PDE(8), um fator explicou 50% da variância. Os autores optaram pela solução com três fatores que explicaram 61,3% da variância, porque esse resultado é compatível com observações clássicas sobre instrumentos de avaliação de atitudes(15). Essas observações indicaram que, independentemente dos conceitos estudados e dos sujeitos que tiveram as atitudes analisadas, 3 fatores ortogonais dominantes sempre apareciam: um fator "avaliativo" (representado por itens como bom-ruim), um fator de "potência" (representado por itens como forte-fraco) e um fator de "atividade" (representado por itens como facilitador-dificultador)(8). No presente estudo foram observados os três fatores previstos na teoria clássica das atitudes(15). Assim como no estudo de adaptação do instrumento para avaliar atitudes frente ao diagnóstico(8), o fator 1 corresponde ao fator "avaliativo"(15), o fator 2 ao fator de "atividade"(15) e o 3 ao de "potência"(15).

O estudo norte-americano do PDE(7) com amostra de 127 enfermeiros incluiu análise fatorial por diversos métodos e os autores definiram que o instrumento tinha apenas uma dimensão, com 80,8% da variância explicada; porém, na publicação, não apresentaram a tabela das cargas fatoriais, fato que impede comparação adequada com os estudos brasileiros(8). O pressuposto de que, em geral, as escalas de atitudes são unidimensionais, pode ter norteado a análise fatorial do estudo norte-americano, forçando-se a solução com apenas um fator(8).

O estudo que usou a escala PPE com gerentes de enfermagem identificou três fatores por meio da análise fatorial com rotação varimax(14). O autor interpretou que todos os itens possuíam um caráter avaliativo. O fator 1, que explicou a variância de 58,4%, foi caracterizado como "relevância", o fator 2, com variância de 6,4%, foi associado à "operacionalização do PE", o fator 3, com variância de 5,3%, caracterizou-se como "colaboração"(14).

Os achados do presente estudo coincidiram com os encontrados em outro estudo, realizado com enfermeiras gerentes(14), exceto para os itens: desagradável/agradável, fraco/forte, desconfortável/confortável, difícil/fácil, não realista/realista, rotineiro/criativo que foram mantidos em fatores diferentes.

Com o objetivo de explorar mais os achados e fomentar a discussão, serão detalhadas as cargas fatoriais encontradas. Os itens não recompensador/recompensador, inválido/válido, fraco/forte apresentaram carga fatorial maior para os auxiliares de enfermagem, quando comparados à carga dos enfermeiros. Já os itens não realista/realista, negativo/positivo, não significativo/significativo, ambíguo/claro, desagradável/agradável, desconfortável/confortável, difícil/fácil, rotineiro/criativo apresentaram carga fatorial maior para os enfermeiros, quando comparados aos valores encontrados nos instrumentos respondidos por auxiliares de enfermagem. Para estudos futuros seria necessário verificar se esses itens apresentam comportamento diferencial para enfermeiros e auxiliares de enfermagem, assim como identificar qual é o entendimento desses sujeitos sobre suas competências específicas, no que tange à aplicação do PE na prática clínica.

Outra medida de validade foi estimada por meio da correlação dos itens com a afirmação geral de ser favorável à SAE. Para este estudo, o valor da correlação da média dos itens com a afirmação geral (Spearman rho=0,55; p<0,001) foi um pouco menor que a correlação encontrada no estudo de adaptação do PDE(8) (Spearman rho= 0,64; p<0,001). Entende-se que esses valores falam a favor da validade do instrumento adaptado para o PE. A escala PDE original(7) não foi submetida a esse tipo de análise.

No presente estudo, os itens rotineiro/criativo e difícil/fácil foram os que apresentaram menor correlação com a afirmação geral. Segundo resultados de investigações, o PE é entendido na perspectiva dos enfermeiros como atividade rotineira e mecanizada(16-18). Discurso de técnico de enfermagem identifica a prescrição de enfermagem como uma rotina, uma coisa quase igual para todos(5). Para alguns sujeitos, a SAE apresenta-se, frequentemente, como algo mecanizado e rotineiro, fato agravado pelo número insuficiente de profissionais da enfermagem, pela divisão de tarefas, as informações discordantes, inconsistentes ou desencontradas, as descontinuidades e a excessiva burocratização(16-17).

Segundo relatos de técnicos de enfermagem, sua formação inicial não incluiu a SAE e a ênfase do aprendizado direcionou-se para os cuidados de enfermagem(5). A falta de conhecimento de enfermeiras é o motivo principal que leva essas profissionais a não o executarem em sua prática clínica(19). Estudo ressaltou que, apesar da maioria das enfermeiras terem aprendido e executado as fases do PE na graduação, as dificuldades relatadas na prática clínica foram expressivas(19). Depreende-se daí a insuficiência do preparo teórico e prático da enfermeira e demais membros da equipe de enfermagem para a realização da SAE quando concluem sua formação básica(19). Além dos aspectos relativos ao conhecimento que se tem do PE, características e condições organizacionais das instituições de saúde (modelo assistencial adotado, proporção paciente/enfermagem, expectativas sobre o papel do enfermeiro e da enfermagem, por exemplo) podem contribuir para a percepção de que o PE é difícil.

Os itens não significativo/significativo, negativo/positivo, inválido/válido foram os que apresentaram maior correlação com a afirmação geral. Embora estudos relatem dificuldades e resistência na implantação do PE nas instituições de saúde(17-18,20), desde 1986, com a Lei do Exercício Profissional de Enfermagem(21), o PE, na teoria, faz parte do papel do enfermeiro e talvez por isso apareça como um ideal a ser perseguido, com aspectos significativos, positivos e válidos, apesar do distanciamento entre o saber acadêmico, o saber-fazer e o legislar na enfermagem(22).

A confiabilidade da PPE no presente estudo foi avaliada por meio do alfa de Cronbach, cujo valor foi de 0,954 para a amostra geral, para os auxiliares de enfermagem foi de 0,957 e para os enfermeiros 0,950, o que indica boa consistência interna. No estudo brasileiro de validação do PDE, o alfa de Cronbach para a amostra de 400 enfermeiros e estudantes de graduação de enfermagem, com os 20 itens do instrumento foi de 0,94; para a subamostra de 100 enfermeiros foi de 0,89 antes de um curso sobre diagnóstico de enfermagem e de 0,93 depois do curso(8). No estudo de desenvolvimento da escala original(7), assim como no estudo que utilizou a PDE para mensurar as atitudes dos enfermeiros sobre o DE antes e depois do início do registro dos diagnósticos de enfermagem nos prontuários(12), o valor do alfa de Cronbach foi de 0,97. No estudo com enfermeiras gerentes(14) com o PPE, o alfa de Cronbach foi de 0,955 para o fator 1, 0,844 para o fator 2 e 0,807 para o fator 3.

No presente estudo, a escala adaptada manteve a confiabilidade próxima daquela observada na escala original e da relatada no estudo com as enfermeiras gerentes(14). Assim, a confiabilidade do PPE, neste estudo, foi muito boa para o conjunto de respostas dos enfermeiros e auxiliares de enfermagem (alfa=0,954) e não houve estimativa que apoiasse a retirada de algum item. Os 20 itens da escala foram mantidos. A análise fatorial com a presença de um fator mais geral no segundo nível, formado pelos três fatores clássicos de atitudes(15), e a confiabilidade de 0,954 para o total do instrumento, falam a favor do cálculo do escore geral do instrumento por meio da soma dos escores em cada item.

As limitações do estudo se devem ao fato da amostra ser não probabilística. Apesar de o instrumento tratar das atitudes dos enfermeiros e auxiliares de enfermagem frente ao PE e não de suas responsabilidades e atribuições na implementação do mesmo, são necessários estudos para identificar se há comportamento diferencial dos itens do instrumento, de acordo com a categoria profissional do respondente.

Conclusão

Com este estudo adaptou-se instrumento capaz de avaliar as atitudes de enfermeiros e auxiliares de enfermagem sobre o PE. Os resultados indicaram que o instrumento Posições sobre o Processo de Enfermagem tem validade e confiabilidade adequadas. A despeito disso, recomenda-se verificar em estudos futuros se os itens apresentam comportamento diferencial, de acordo com a categoria profissional do respondente e verificar o comportamento da PPE com estudantes de enfermagem.

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  • Corresponding Author:
    Erika de Souza Guedes
    Universidade de São Paulo. Escola de Enfermagem
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    Paper extracted from Master's Thesis "Atitudes do pessoal de enfermagem relacionadas ao processo de enfermagem" presented to Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brazil. Supported by Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) process # 2010/02985-6 and by Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), process # 481728/2009-0.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      28 Mar 2013
    • Data do Fascículo
      Fev 2013
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