Acessibilidade / Reportar erro

Fatores associados ao clima de segurança do paciente em um hospital de ensino1 1 Artigo extraído da dissertação de mestrado "A cultura de segurança do paciente em um hospital de ensino de Minas Gerais" apresentada à Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG, Brasil. Apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), Brasil, processo nº APQ-02222-12.

Resumos

Objetivos:

verificar a associação entre os escores do clima de segurança do paciente e as variáveis sociodemográficas e profissionais.

Métodos:

estudo observacional, seccional e quantitativo, realizado em um hospital público, de ensino e grande porte. Utilizou-se o instrumento Safety Attitudes Questionnaire, traduzido e validado para o Brasil. Para análise dos dados utilizou-se o software Statistical Package for the Social Sciences. Na análise bivariada utilizou-se o teste t de Student, análise de variância e correlação de Sperman ((=0,05). Para identificação dos preditores sobre os escores do clima de segurança utilizou-se a regressão linear múltipla, tendo-se como desfecho principal o domínio clima de segurança ((=0,01).

Resultados:

a maioria dos participantes era do sexo feminino, da equipe de enfermagem, atuavam na assistência direta com pacientes adultos, em áreas críticas, não possuíam pós-graduação e nem apresentavam outro vínculo empregatício. A média e a mediana do escore geral do instrumento foram de 61,8 (DP=13,7) e 63,3, respectivamente. Encontrou-se como fator associado ao clima de segurança a variável atuação profissional para o domínio percepção da gerência da unidade e do hospital (p=0,01).

Conclusão:

a identificação dos fatores associados ao clima de segurança permite a construção de estratégias para práticas seguras nas instituições hospitalares.

Segurança do Paciente; Gerenciamento de Segurança; Pessoal de Saúde


Objectives:

to investigate the association between the scores of the patient safety climate and socio-demographic and professional variables.

Methods:

an observational, sectional and quantitative study, conducted at a large public teaching hospital. The Safety Attitudes Questionnaire was used, translated and validated for Brazil. Data analysis used the software Statistical Package for Social Sciences. In the bivariate analysis, we used Student's t-test, analysis of variance and Spearman's correlation of (α=0.05). To identify predictors for the safety climate scores, multiple linear regression was used, having the safety climate domain as the main outcome (α=0.01).

Results:

most participants were women, nursing staff, who worked in direct care to adult patients in critical areas, without a graduate degree and without any other employment. The average and median total score of the instrument corresponded to 61.8 (SD=13.7) and 63.3, respectively. The variable professional performance was found as a factor associated with the safety environment for the domain perception of service management and hospital management (p=0.01).

Conclusion:

the identification of factors associated with the safety environment permits the construction of strategies for safe practices in the hospitals.

Patient Safety; Safety Management; Health Personal


Objetivos:

verificar la asociación entre los scores de seguridad del paciente y las variables sociodemográficas y profesionales.

Métodos:

estudio observacional, seccional y cuantitativo, desarrollado en un hospital público, de enseñanza y gran tamaño. Fue utilizado el instrumento Safety Attitudes Questionnaire, traducido y validado para Brasil. Para el análisis de los datos, fue utilizado el software Statistical Package for the Social Sciences. En el análisis bivariado, fue utilizada la prueba t de Student, análisis de variancia y correlación Spearman ((=0,05). Para identificar los predictores sobre los scores del de seguridad, fue utilizada la regresión linear múltiple, con el dominio clima de seguridad como desfecho principal (α=0,01).

Resultados:

la mayoría de los participantes eran mujeres, personal de enfermería, trabajaban en la atención directa a pacientes adultos en áreas críticas, no tenía graduado y no tenía otro empleo. La puntuación total media y la mediana del instrumento fueron 61,8 (DE=13,7) y 63,3, respectivamente. Se encontró como factor asociado con el clima de seguridad la variable desempeño profesional para el dominio percepción de la gestión de la unidad y del hospital (p=0,01).

Conclusión:

la identificación de los factores asociados con el entorno de seguridad permite la construcción de estrategias para las prácticas seguras en los hospitales.

Seguridad del Paciente; Administración de la Seguridad; Personal de Salud


Introdução

A ocorrência de eventos adversos acarreta inúmeros prejuízos relacionados ao paciente, como incapacidades, traumas físicos e psicológicos, aumento no tempo de permanência hospitalar e afastamento do convívio social e do trabalho. Estes prejuízos não se relacionam apenas ao paciente, mas aos profissionais, que sofrem danos éticos e morais, além de prejuízos na interação profissional-paciente( 1. Kho ME, Perri D, McDonald E, Waugh L, Orlicki C, Monaghan E, et al. The climate of patient safety in a Canadian intensive care unit. J Crit Care. 2009;24(3):7-13. ). Para as instituições de saúde, os Eventos Adversos (EAs) trazem aumento dos custos, perda da confiança na instituição, assim como, detrimentos morais e organizacionais( 1. Kho ME, Perri D, McDonald E, Waugh L, Orlicki C, Monaghan E, et al. The climate of patient safety in a Canadian intensive care unit. J Crit Care. 2009;24(3):7-13. ).

Todas estas implicações, causadas por práticas inseguras na saúde, faz com que a questão dos EAs torne-se um problema de saúde pública, indicando a necessidade de desenvolvimento de estratégias de monitoramento de erros e melhorias direcionadas à segurança do paciente( 2. Dias MAE, Martins M, Navarro N. Rastreamento de resultados adversos nas internações do Sistema Único de Saúde. Rev Saúde Pública. 2012;46(4):719-29. ). Para que sejam implantadas estratégias seguras, em prol da segurança do paciente, é necessário que as organizações de saúde adotem um modelo de cultura de segurança.

A cultura de segurança pode ser definida como o conjunto de valores, atitudes, percepções, tanto individuais, quanto de grupos, que determinam o compromisso e o estilo, referentes às questões voltadas para a segurança do paciente em uma organização de saúde( 3. Nieva VF, Sorra J. Safety culture assessment: a tool for improving patient safety in healthcare organizations. Qual Saf Health Care. 2003;2(Suppl 2):17-23. ).

Na literatura, alguns instrumentos têm sido desenvolvidos com objetivo de mensurar a cultura de segurança do paciente, por meio da percepção do clima de segurança pelos profissionais de saúde( 4. Lee WC, Wung HY, Liao HH, Lo CM, Chang FL, Wang PC, et al. Hospital safety culture in Taiwan: a nationwide survey using Chinese version safety attitude questionnaire. BMC Health Serv Res. 2010;10:1-8. ). O clima reflete a percepção dos profissionais sobre as questões de segurança, em um determinado momento, em seu local de trabalho( 5. Sexton JB, Helmreich RL, Neilands TB, Rowan K, Vella K, Boyden J, et al. The Safety Attitudes Questionnaire: psychometric properties, benchmarking data, and emerging research. BMC Health Serv Res. 2006;44(6):1-10. ). Entende-se como clima, a parte mensurável da cultura de segurança( 5. Sexton JB, Helmreich RL, Neilands TB, Rowan K, Vella K, Boyden J, et al. The Safety Attitudes Questionnaire: psychometric properties, benchmarking data, and emerging research. BMC Health Serv Res. 2006;44(6):1-10. ).

Estudos mostram que percepções positivas sobre o clima de segurança estão associadas à adoção de comportamentos seguros, melhoria na comunicação, realização de programas de treinamentos, redução de eventos adversos, entre outros, contribuindo para práticas seguras no cuidado ao paciente( 4. Lee WC, Wung HY, Liao HH, Lo CM, Chang FL, Wang PC, et al. Hospital safety culture in Taiwan: a nationwide survey using Chinese version safety attitude questionnaire. BMC Health Serv Res. 2010;10:1-8. , 6. Alahmadi HA. Assessment of patient safety culture in Saudi Arabian hospitals. Qual Saf Health Care. 2010;9(17):1-5. - 7. El-Jardali F, Dimassi H, Jamal D, Jaafar M, Hemadeh N. Predictors and outcomes of patient safety culture in hospitals. Qual Saf Health Care. 2011;11(45):4-12. ).

Outros fatores nos âmbitos institucional e ambiental podem estar relacionados à adoção do clima de segurança, tais como, estresse profissional, trabalho em equipe, satisfação com o trabalho, estrutura da gerência da instituição e condições de trabalho.

Pesquisadores citam pontos fracos e fortes que influenciam a implantação de um clima de segurança, a partir da percepção dos profissionais de enfermagem. Entre os fatores que contribuíram para esta implantação foram: mudança organizacional, formação e desenvolvimento profissional, relacionamento com os pacientes, investigação e planejamento estratégico. Como pontos fracos foram destacados: organização e infraestrutura da instituição, deficiências na comunicação e ineficiência da formação profissional voltada à segurança( 8. Ques AAM, Montoro CH, Gonzáles MG. Strengths and threats regarding the patient's safety:nursing professionals' opinion. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2010;18(3): 339-45. ).

Desta forma, a identificação dos fatores que se associam ao clima de segurança do paciente é uma importante ferramenta, capaz de diagnosticar fatores que precisam de aprimoramento dentro das instituições de saúde e entre os profissionais, garantindo uma assistência segura e de qualidade aos pacientes. Percebe-se, ainda, a escassez de estudos nacionais realizados com instrumentos de mensuração do clima de segurança de instituições hospitalares. Entre os instrumentos, oSafety Attitudes Questionnaire (SAQ), validado no Brasil, em 2012, tem sido pouco adotado em investigações nacionais, visto que é um instrumento válido e confiável, sendo considerado um dos mais sensíveis e capazes de avaliar atitudes de segurança( 9. Colla JB, Bracken AC, Kinney LM, Weeks WB. Measuring patient safety climate: a review of surveys. Qual Saf Health Care. 2005;14(5):364-6. ). Observam-se outros estudos no país que avaliaram o clima de segurança, contudo com a utilização de outros instrumentos, como o realizado no estado do Paraná, com aplicação da escala denominada "Clima de Segurança", traduzida e validada para o Brasil( 1010 . Ribeiro PHV, Brevidelli MM, Tipple AFV, Ribeiro RP, Gir E. Clima de segurança organizacional e a adesão às precações padrão entre dentistas. Acta Paul. Enferm. 2013;26(2):192-7. ).

Frente ao exposto, o objetivo da presente pesquisa foi verificar se há associação entre escores do clima de segurança do paciente, variáveis sociodemográficas e profissionais de saúde.

Método

Estudo observacional, seccional, com abordagem quantitativa, realizado em um hospital público, de ensino e grande porte, que atende pacientes de alta complexidade, localizado na região do Triângulo Mineiro, Minas Gerais, Brasil.

Realizou-se amostragem aleatória simples, para obtenção do tamanho amostral, por meio do aplicativo Power Analysis and Sample Size (PASS), que considerou um coeficiente de determinação R²=0,02 em um modelo de regressão linear múltipla com quatro preditores, tendo como nível de significância ou erro do tipo I de (=0,05 e erro do tipo II de (=0,2. A amostra foi constituída por 556 profissionais da saúde, incluindo a equipe de enfermagem (enfermeiro, técnicos de enfermagem e auxiliares de enfermagem), médicos, fisioterapeutas, assistentes sociais, fonoaudiólogos, técnicos de laboratório, farmácia e radiologia, nutricionistas, terapeutas ocupacionais, farmacêuticos, auxiliares de saúde e psicólogos. A coleta de dados ocorreu entre maio e julho de 2013. Participaram do estudo profissionais de saúde lotados em suas unidades de atuação há pelo menos um mês, com regime de trabalho de, no mínimo, 20 horas semanais e os que aceitaram participar do estudo, mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram excluídos os profissionais que estavam de licença médica, atestado ou afastados durante o período de coleta de dados e aqueles que não foram encontrados, após três tentativas.

Para obtenção dos dados, utilizou-se o instrumento denominado Questionário de Atitudes de Segurança (SAQ), validado para o idioma português do Brasil( 1111 . Carvalho REFL, Cassiani SHB. Cross-cultural adaptation of the Safety Attitudes Questionnaire - Short Form 2006 for Brazil. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2012; 20(3):575-82. ). O SAQ é dividido em duas partes. A primeira parte contém 41 itens e corresponde aos seis domínios divididos em: Clima de Trabalho em Equipe, Satisfação no Trabalho, Percepção da Gerência da Unidade e do Hospital, Clima de Segurança, Condições de Trabalho e Percepção do Estresse. A reposta de cada item segue a escala de cinco pontos de Likert: discorda totalmente (A), discorda parcialmente (B), neutro (C), concorda parcialmente (D), concorda totalmente (E) e não se aplica. O escore final da escala varia de 0 a 100, onde zero é a pior percepção do clima de segurança e 100 a melhor percepção. Segundo os autores do instrumento original, são considerados escores positivos, a pontuação igual ou maior a 75(12).

A segunda parte visa coletar dados sociodemográficos e profissionais (sexo, categoria profissional, tempo de atuação na especialidade e unidade de atuação). Além destas, foram acrescentadas outras variáveis profissionais (setor de atuação, atuação principal e profissional, tempo de formação e atuação na instituição, pós-graduação e outro vínculo empregatício). Os setores de atuação do profissional foram divididos conforme Portaria n° 930, de 27 de agosto de 1992( 1313 . Lei n° 9962, de 22 de Fevereiro de 2000 (BR). Resolve expedir normas para controle das infecções hospitalares. Diário Oficial da União, Brasília n. 38, Seção 1, p. 35, 23 fev. 2000. ), do Mistério da Saúde, que classifica as áreas hospitalares segundo o potencial de contaminação em críticas, semicríticas e não críticas.

O instrumento de coleta de dados foi entregue aos profissionais da equipe de saúde, para serem preenchidos e devolvidos posteriormente, com data de devolução preestabelecida, após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Os dados foram inseridos em uma planilha eletrônica do programaExcel (r) para Windows (r), validados por dupla digitação e exportados para o programaStatistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 19.0, para Windows (r) , para processamento e análise.

Para verificação do clima de segurança do paciente, inicialmente foi realizada a inversão dos itens reversos do instrumento e, posteriormente, utilizou-se a fórmula (m(q.1,q.2r,q.3,q.4,q.5,q.6,q.7,q.8,q.9,q.10,q.11r,...q.41))-1) x 25), onde m corresponde à média dos itens do instrumento como um todo. O escore de cada domínio foi calculado com base na fórmula (m-1)x25, onde m é a média dos itens do domínio em questão, variando no intervalo [0-100].

Na análise bivariada preliminar, utilizou-se o teste t de Student (categóricas dicotômicas), análise de variância (ANOVA) para três ou mais categorias e o teste de correlação de Spearman, para as variáveis ordinais. Foram consideradas associações estatisticamente significativas aquelas com p≤0,05.

Posteriormente, utilizou-se a regressão linear múltipla, para determinação dos preditores associados ao clima de segurança. O nível de significância estatística adotado foi de 0,05.

Este estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa para apreciação e aprovado sob parecer número 2306/2012, respeitando a Resolução nº 196/96 sobre pesquisa envolvendo seres humanos( 1414 . Conselho Nacional de Saúde (BR). Resolução 196, de 10 de outubro de 1996. Brasília: CNS; 1996. ).

Resultados

Características sociodemográficas e profissionais

Dos 556 profissionais participantes, a maioria era do sexo feminino (426, 76,6%); pertencente à equipe de enfermagem (401, 72,1%); atuação principal com pacientes adultos (300, 54,0%); ocupava cargos somente assistenciais (393, 70,7%); trabalhava na área crítica, segundo potencial de contaminação das áreas hospitalares (287, 51,5%); não possuía nenhum curso de pós-graduação (320, 57,6%); e sem outro vínculo empregatício (394, 70,9%), conforme a Tabela 1.

Quanto ao tempo na especialidade dos profissionais houve maior proporção entre 5 e 10 anos de atuação, (134, 24,1%). Em relação ao tempo de atuação profissional na instituição campo de estudo, prevaleceu de 11 a 20 anos, (161, 29,0%). Concernente ao tempo de formação houve maior número de profissionais entre 11 e 20 anos, (177, 31,8%), de acordo com a Tabela 1.

A Tabela 1 apresenta as características sociodemográficas e profissionais dos participantes (n=556) desta pesquisa.

Tabela 1
- Características sociodemográficas e profissionais dos participantes da pesquisa (n=556). Uberaba, MG, Brasil, 2013

Análise descritiva dos escores do Questionário de Atitudes de Segurança

A média e a mediana do escore geral do instrumento foram de 61,8 (DP=13,7) e 63,3, respectivamente. Quanto maior o escore do instrumento, melhor é a percepção dos profissionais em relação ao clima de segurança. Entretanto, segundo os autores originais do SAQ, são considerados valores positivos, quando o total do escore é igual ou maior a 75, indicando, no presente estudo, que a percepção geral do clima de segurança foi negativa.

Por domínios, a média (escore) variou entre 52,4 (DP=19,5) e 80,5 (DP=17,7) e mediana entre 50,0 e 85,0. Percebeu-se que, o domínio 5, percepção da gerência da unidade e do hospital, apresentou o pior escore (média 52,4; DP=19,5), enquanto o domínio 3, satisfação no trabalho, apresentou o maior escore (média 80,5; DP=17,7) entre os profissionais estudados, conforme a Tabela 2.

A Tabela 2 mostra o escore geral e por domínios e análise descritiva do SAQ.

Tabela 2
- Análise descritiva do escore geral e por domínios do SAQ (n=556). Uberaba, MG, Brasil, 2013

Fatores associados ao clima de segurança

Na análise bivariada preliminar, as variáveis que apresentaram associações estatisticamente significativas foram: atuação profissional, categoria profissional, tempo de atuação profissional, tempo de formação e tempo na instituição.

Para variável atuação profissional (assistencial e não assistencial) as associações foram significativas para o domínio percepção da gerência da unidade e do hospital (p=0,01), onde os profissionais não assistenciais obtiveram melhor escore, em relação aos assistenciais.

Quanto à variável categoria profissional, relações estatisticamente significativas foram encontradas para o escore geral (p=0,02), para o domínio percepção da gerência da unidade e do hospital (p=0,03) e domínio condições de trabalho (p=0,05). Percebeu-se que, a equipe médica apresentou melhor percepção comparada à categoria equipe de enfermagem, nestas três variáveis.

Em relação à variável tempo de atuação profissional foi encontrado p=0,01 para o domínio percepção do estresse, demonstrando que os profissionais com menos de seis meses de atuação possuíam melhor percepção em relação ao reconhecimento dos fatores estressantes.

Para variável tempo de formação, associações significativas foram evidenciadas para os domínios satisfação no trabalho (p=0,005) e percepção do estresse (p=0,005), sendo que os profissionais com menos de seis meses de formação também apresentaram melhores percepções para este domínio, em relação às outras categorias.

Para a variável tempo na instituição, a significância estatística foi encontrada no domínio satisfação no trabalho (p=0,01) e domínio percepção do estresse (p=0,03), sendo que os profissionais com 21 anos ou mais apesentaram melhores percepções, comparados aos demais.

Contudo, após análise multivariada, por meio da regressão linear múltipla, percebeu-se que a única variável preditora estatisticamente significativa (p=0,01) associada aos escores do SAQ foi atuação profissional, para o domínio percepção da gerência da unidade e do hospital. De fato, esta variável já apresentava associação significativa na análise bivariada preliminar. Tal resultado demonstra que os profissionais não assistenciais (média 58,0) apresentam melhor percepção da gerência, quando comparados aos profissionais assistenciais (média 53,1), segundo a Tabela 3.

A tabela 3 mostra a análise de regressão linear múltipla das variáveis estatisticamente significativas na análise bivariada associadas aos escores do SAQ.

Tabela 3
- Regressão linear múltipla dos fatores associados aos escores do SAQ dos profissionais participantes do estudo (n=556). Uberaba, MG, Brasil, 2013

Discussão

O escore do clima de segurança do paciente, no presente estudo, obteve média de 61,8 (DP=13,7) e mediana de 63,3. Na literatura foram encontradas investigações cujas médias também ficaram abaixo do valor aceitável, de 75( 1515 . Davenport DL, Henderson WG, Hogan S, Mentzer RM Jr, Zwischenberger JB. Surgery resident working conditions and job satisfaction. Surgery. 2008;144(2):332-8.

16 . Modak I, Sexton JB, Thomas RL, Helmreich RL, Thomas EJ. Measuring safety culture in the ambulatory settings: the safety attitudes questionnaire - ambulatory version. J Gen Intern Med. 2007;22(1):1-5.

17 . Raftopoulos V, Savva N, Papadopoulou M. Safety culture in the maternity units: a census survey using the safety attitudes questionnaire. BMC Health Serv Res. 2011; 11(Suppl. 1):1-10.
- 1818 . Relihan E, Glynn S, Daly D, Silke B, Ryder S. Measuring and benchmarking safety culture: application of the safety attitudes questionnaire to an acute medical admissions unit. Ir J Med Sci. 2009;178(4):433-9. ). Ressalta-se que, escores abaixo de 60 são considerados um sinal de alerta para as organizações de saúde, indicando urgência na promoção do clima de segurança na instituição( 1111 . Carvalho REFL, Cassiani SHB. Cross-cultural adaptation of the Safety Attitudes Questionnaire - Short Form 2006 for Brazil. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2012; 20(3):575-82. ).

Na presente investigação, a variável atuação profissional (assistencial e não assistencial), foi considerada preditora para o domínio percepção da gerência da unidade e do hospital (p=0,01). Corroborando com este achado, um estudo realizado com objetivo de identificar o clima de segurança em hospitais dos EUA, encontrou associações significativas entre profissionais assistenciais e profissionais da gerência, demonstrando que os profissionais ligados à gerência tiveram uma percepção mais positiva, quando comparados aos profissionais assistenciais( 1919 . Singer SJ, Fawell A, Gaba DM, Baker LC. Patient safety climate in US hospitals: variation by management level. Med Care. 2008;46(11):1149-56. ).

Uma pesquisa realizada com profissionais ambulatoriais do Texas, EUA, também encontrou diferenças significativas entre atuação profissional (assistencial e não assistencial) e domínios do SAQ. Tal estudo demonstrou que, para o domínio percepção da gerência da unidade e do hospital, os profissionais evolvidos com gerência (não assistenciais) obtiveram melhores escores, quando comparados aos profissionais médicos( 2020 . Thomas E J, Sexton JB, Helmreich EL. Discrepant attitudes about teamwork among critical care nurses and physicians. Crit Care Med. 2003;31(1):956-59. ), demostrando que os profissionais não assistenciais obtiveram melhor percepção em relação às ações da gerência, quanto às questões de segurança do paciente.

Os achados de um estudo, realizado com profissionais de saúde, em uma unidade de internação de um hospital de ensino da Irlanda, demonstraram que as enfermeiras gerenciais apresentaram para os domínios clima de trabalho em equipe (p<0,05) e clima de segurança (p<0,01), escores superiores em relação aos profissionais da saúde assistenciais( 1818 . Relihan E, Glynn S, Daly D, Silke B, Ryder S. Measuring and benchmarking safety culture: application of the safety attitudes questionnaire to an acute medical admissions unit. Ir J Med Sci. 2009;178(4):433-9. ).

Autores sugerem que, a melhor percepção da gerência em relação aos profissionais assistenciais pode ser explicada pelo senso de propriedade e responsabilidade dos gerentes, sobre seus papéis nas enfermarias hospitalares. Além disso, os profissionais assistenciais podem se sentir excluídos dos processos de decisões administrativas, assim como, a falta de participação na elaboração e implantação de estratégias, diminuindo sua autonomia e gerando insatisfação em relação às ações da gerência( 1818 . Relihan E, Glynn S, Daly D, Silke B, Ryder S. Measuring and benchmarking safety culture: application of the safety attitudes questionnaire to an acute medical admissions unit. Ir J Med Sci. 2009;178(4):433-9. ).

Outra explicação para estes achados pode relacionar-se à vivência dos profissionais assistenciais acerca dos riscos de segurança, fazendo-os apresentar piores percepções em relação à gerência, uma vez que estes profissionais têm menos contato com o cuidado direto ao paciente. Além disso, existe uma cultura de ocultação de informações negativas (ocorrência de erros, incidentes e eventos adversos) pelos profissionais, dificultando que os problemas relacionados à segurança cheguem a gerencia hospitalar. Outra questão apontada relaciona-se à vontade dos profissionais gerentes de serem visto como uma organização compromissada com a segurança, fazendo com que suas percepções sejam positivas( 1919 . Singer SJ, Fawell A, Gaba DM, Baker LC. Patient safety climate in US hospitals: variation by management level. Med Care. 2008;46(11):1149-56. ). Entretanto, tal situação pode apresentar-se como um problema, quando esta visão positiva não reflete a verdadeira realidade institucional( 2020 . Thomas E J, Sexton JB, Helmreich EL. Discrepant attitudes about teamwork among critical care nurses and physicians. Crit Care Med. 2003;31(1):956-59. ).

Entretanto, na literatura foram encontrados estudos que identificaram outros preditores para o clima de segurança do paciente. Dentre os mais citados estão a idade do profissional, sexo e categoria profissional( 1717 . Raftopoulos V, Savva N, Papadopoulou M. Safety culture in the maternity units: a census survey using the safety attitudes questionnaire. BMC Health Serv Res. 2011; 11(Suppl. 1):1-10. , 2121 . Carney BT, Mills PD, Bagian JP, Weeks WB. Sex differences in operating room care giver perceptions of patient safety: a pilot study from the Veterans Health Administration Medical Team Training Program. Qual Saf Health Care. 2010;19(2): 128-31. - 2222 . Lyndon A, Sexton JB, Simpson KR, Rosenstein A, Lee KA, Wachter RM. Predictors of likelihood of speaking up about safety concerns in labour and delivery. BMJ Qual Saf. 2011;22(2):791-9. ) .

Hospitais de Cyprus, Grécia, encontraram que as variáveis idade e relato de cansaço no trabalho foram consideradas preditoras para os domínios clima de trabalho em equipe, clima de segurança e condições de trabalho( 1717 . Raftopoulos V, Savva N, Papadopoulou M. Safety culture in the maternity units: a census survey using the safety attitudes questionnaire. BMC Health Serv Res. 2011; 11(Suppl. 1):1-10. ).

Uma investigação, com objetivo de verificar a relação entre sexo e percepções da cultura de segurança, encontrou que, profissionais mais velhos tiveram melhor percepção do clima de trabalho em equipe que os mais novos; e que o sexo masculino obteve melhores percepções quanto à satisfação e condições no ambiente de trabalho, comparado ao sexo feminino( 2121 . Carney BT, Mills PD, Bagian JP, Weeks WB. Sex differences in operating room care giver perceptions of patient safety: a pilot study from the Veterans Health Administration Medical Team Training Program. Qual Saf Health Care. 2010;19(2): 128-31. ).

Já um estudo realizado em centros obstétricos dos EUA encontrou associações estatisticamente significativas entre o domínio clima de trabalho em equipe e categoria profissional, sendo que os médicos apresentaram melhor escore, comparados aos enfermeiros( 2222 . Lyndon A, Sexton JB, Simpson KR, Rosenstein A, Lee KA, Wachter RM. Predictors of likelihood of speaking up about safety concerns in labour and delivery. BMJ Qual Saf. 2011;22(2):791-9. ). Tal estudo demonstrou que houve diferenças de pontos de vista e opiniões entre médicos e enfermeiros, relacionados às questões de segurança, sendo que o profissional médico apresentou maior consciência no relato de potenciais danos ao paciente, em relação aos enfermeiros( 2222 . Lyndon A, Sexton JB, Simpson KR, Rosenstein A, Lee KA, Wachter RM. Predictors of likelihood of speaking up about safety concerns in labour and delivery. BMJ Qual Saf. 2011;22(2):791-9. ).

Como limitação deste estudo, embora tenha sido utilizada amostragem aleatória simples para obtenção do tamanho amostral, o coorte transversal para obtenção dos dados pode limitar o espectro da análise, contudo, os objetivos propostos foram atingidos. Sugere-se, assim, que estudos longitudinais sejam realizados futuramente.

Conclusão

Observou-se que o escore geral do instrumento foi de 61,8 (DP=13,7) e mediana de 63,3, demonstrando uma percepção negativa dos profissionais do estudo, quanto ao clima de segurança do paciente.

A análise bivariada, as variáveis que apresentaram associações estatisticamente significativas foram: atuação profissional para o domínio percepção da gerência da unidade e do hospital (p=0,01); categoria profissional para o escore geral (p=0,02), para o domínio percepção da gerência da unidade e do hospital (p=0,03) e para o domínio condições de trabalho (p=0,05); variável tempo de atuação profissional para o domínio percepção do estresse (p=0,01); variável tempo de formação, para os domínios satisfação no trabalho (p=0,005) e percepção do estresse (p=0,005; e variável tempo na instituição para o domínio satisfação no trabalho (p=0,01) e percepção do estresse (p=0,03). Contudo, verificou-se que, a atuação do profissional foi a variável considerada preditora para o domínio percepção da gerência da unidade e do hospital, sendo que os profissionais não assistenciais apresentaram melhor percepção, comparados aos profissionais assistenciais.

A identificação de preditores sobre os escores de segurança do paciente é uma importante ferramenta, que aliada às ações organizacionais, permite diagnosticar, planejar, intervir e executar atividades, a partir dos domínios que precisam ser aprimorados (condições de trabalho e ações gerenciais) e dos fatores intrínsecos e extrínsecos dos profissionais que necessitam de atenção (estresse, trabalho em equipe e satisfação). Todos estes esforços contribuem para implementação do clima de segurança na instituição, tendo como resultado final a promoção à segurança do paciente.

References

  • 1
    Kho ME, Perri D, McDonald E, Waugh L, Orlicki C, Monaghan E, et al. The climate of patient safety in a Canadian intensive care unit. J Crit Care. 2009;24(3):7-13.
  • 2
    Dias MAE, Martins M, Navarro N. Rastreamento de resultados adversos nas internações do Sistema Único de Saúde. Rev Saúde Pública. 2012;46(4):719-29.
  • 3
    Nieva VF, Sorra J. Safety culture assessment: a tool for improving patient safety in healthcare organizations. Qual Saf Health Care. 2003;2(Suppl 2):17-23.
  • 4
    Lee WC, Wung HY, Liao HH, Lo CM, Chang FL, Wang PC, et al. Hospital safety culture in Taiwan: a nationwide survey using Chinese version safety attitude questionnaire. BMC Health Serv Res. 2010;10:1-8.
  • 5
    Sexton JB, Helmreich RL, Neilands TB, Rowan K, Vella K, Boyden J, et al. The Safety Attitudes Questionnaire: psychometric properties, benchmarking data, and emerging research. BMC Health Serv Res. 2006;44(6):1-10.
  • 6
    Alahmadi HA. Assessment of patient safety culture in Saudi Arabian hospitals. Qual Saf Health Care. 2010;9(17):1-5.
  • 7
    El-Jardali F, Dimassi H, Jamal D, Jaafar M, Hemadeh N. Predictors and outcomes of patient safety culture in hospitals. Qual Saf Health Care. 2011;11(45):4-12.
  • 8
    Ques AAM, Montoro CH, Gonzáles MG. Strengths and threats regarding the patient's safety:nursing professionals' opinion. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2010;18(3): 339-45.
  • 9
    Colla JB, Bracken AC, Kinney LM, Weeks WB. Measuring patient safety climate: a review of surveys. Qual Saf Health Care. 2005;14(5):364-6.
  • 10
    Ribeiro PHV, Brevidelli MM, Tipple AFV, Ribeiro RP, Gir E. Clima de segurança organizacional e a adesão às precações padrão entre dentistas. Acta Paul. Enferm. 2013;26(2):192-7.
  • 11
    Carvalho REFL, Cassiani SHB. Cross-cultural adaptation of the Safety Attitudes Questionnaire - Short Form 2006 for Brazil. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2012; 20(3):575-82.
  • 12
    Sexton JB, Thomas EJ, Grillo SP. The safety attitudes questionnaire (SAQ) Guidelines for administration. The University of Texas Center of Excellence for Patient Safety Research and Practice; 2003. Technical Report. Sponsored by the Agency for Healthcare Research and Quality.
  • 13
    Lei n° 9962, de 22 de Fevereiro de 2000 (BR). Resolve expedir normas para controle das infecções hospitalares. Diário Oficial da União, Brasília n. 38, Seção 1, p. 35, 23 fev. 2000.
  • 14
    Conselho Nacional de Saúde (BR). Resolução 196, de 10 de outubro de 1996. Brasília: CNS; 1996.
  • 15
    Davenport DL, Henderson WG, Hogan S, Mentzer RM Jr, Zwischenberger JB. Surgery resident working conditions and job satisfaction. Surgery. 2008;144(2):332-8.
  • 16
    Modak I, Sexton JB, Thomas RL, Helmreich RL, Thomas EJ. Measuring safety culture in the ambulatory settings: the safety attitudes questionnaire - ambulatory version. J Gen Intern Med. 2007;22(1):1-5.
  • 17
    Raftopoulos V, Savva N, Papadopoulou M. Safety culture in the maternity units: a census survey using the safety attitudes questionnaire. BMC Health Serv Res. 2011; 11(Suppl. 1):1-10.
  • 18
    Relihan E, Glynn S, Daly D, Silke B, Ryder S. Measuring and benchmarking safety culture: application of the safety attitudes questionnaire to an acute medical admissions unit. Ir J Med Sci. 2009;178(4):433-9.
  • 19
    Singer SJ, Fawell A, Gaba DM, Baker LC. Patient safety climate in US hospitals: variation by management level. Med Care. 2008;46(11):1149-56.
  • 20
    Thomas E J, Sexton JB, Helmreich EL. Discrepant attitudes about teamwork among critical care nurses and physicians. Crit Care Med. 2003;31(1):956-59.
  • 21
    Carney BT, Mills PD, Bagian JP, Weeks WB. Sex differences in operating room care giver perceptions of patient safety: a pilot study from the Veterans Health Administration Medical Team Training Program. Qual Saf Health Care. 2010;19(2): 128-31.
  • 22
    Lyndon A, Sexton JB, Simpson KR, Rosenstein A, Lee KA, Wachter RM. Predictors of likelihood of speaking up about safety concerns in labour and delivery. BMJ Qual Saf. 2011;22(2):791-9.
  • 1
    Artigo extraído da dissertação de mestrado "A cultura de segurança do paciente em um hospital de ensino de Minas Gerais" apresentada à Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG, Brasil. Apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), Brasil, processo nº APQ-02222-12.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep-Oct 2015

Histórico

  • Recebido
    06 Abr 2014
  • Aceito
    21 Fev 2015
Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto / Universidade de São Paulo Av. Bandeirantes, 3900, 14040-902 Ribeirão Preto SP Brazil, Tel.: +55 (16) 3315-3451 / 3315-4407 - Ribeirão Preto - SP - Brazil
E-mail: rlae@eerp.usp.br