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Estudos de morbidade: usos e limites

APRESENTAÇÕES EM PAINÉIS E MESAS REDONDAS

Estudos de morbidade: usos e limites

Luana Carandina

Professora Doutora do Departamento de Saúde Pública da Faculdadede Medicina de Botucatu da UNESP

Entre os Estudos de Morbidade tentaremos enfocar os usos e limites dos Inquéritos Populacionais, procurando atender a proposta da discussão temática de hoje.

A princípio, os inquéritos de morbidade, de uma população ou de grupos populacionais, teriam a possibilidade de superar algumas limitações encontradas em registros existentes nos Serviços de Saúde, tais como a omissão de informações, a qualidade do registro, a restrição das informações existentes à demanda atendida. Isto porque o inquérito utiliza instrumentos, próprios de coletas das informações, "construídos" a partir dos objetivos estabelecidos, que são aplicados numa população determinada (ou numa amostra considerada representativa) abrangendo também a demanda reprimida.

Os inquéritos utilizam uma metodologia epidemiológica, já suficientemente estruturada, que permite e determina:

a) um planejamento cuidadoso de todas as etapas, a partir de uma clara definição dos objetivos;

b) um desenho amostral cuidadosamente traçado;

c) um cronograma criteriosos das fases de execução;

d) uma elaboração cuidadosa dos instrumentos de coleta das informações, com a prática do pré-teste para avaliar sua aplicabilidade e sua acurácia;

e) uma definição prévia das formas de processamento e análise das informações;

f) um processo conhecido de seleção, treinamento e supervisão dos recursos humanos necessários;

g) o conhecimento de normas básicas de organização e de condução do inquérito;

h) uma previsão detalhada dos custos e das formas de acesso a agências de financiamento.

Na prática, os inquéritos populacionais de morbidade apresentam limitações de intensidade variada.

Em primeiro lugar são caros e bastante trabalhosos. Geralmente atendem uma equipe multiprofissional de investigadores, cujo entrosamento pode representar, às vezes, um verdadeiro (embora válido) desafio.

A elaboração dos inquéritos tem ocorrido, com certa freqüência, sem a participação dos serviços aos quais, teoricamente, são destinados os resultados.

A metodologia utilizada não é adequada ao estudo de doenças de baixa prevalência na comunidade. Quando o objetivo é medir a "prevalência instantânea" a referência a algumas doenças que apresentem forte restrição social (como as doenças sexualmente transmissíveis, as doenças mentais, etc) e/ou legal (dependência a drogas, abortos, etc.), não oferece a necessária fidedignidade pois tais informações são freqüentemente omitidas pelo informante.

Ainda são objeto de questionamento conceitual e acadêmico a propriedade dos desenhos amostrais e da análise a partir da "morbidade referida". Nossa maior preocupação baseia-se, entretanto, em outras questões. Algumas de caráter operacional como o uso da Classificação Internacional de Doenças na codificação de informações de morbidade para as quais não foi elaborada e a não total adequação dos programas de processamento disponíveis para o volume e as características dos dados colhidos nos inquéritos.

Outras questões, de caráter mais conceitual, estão relacionadas com a relativa inadequação do instrumental epidemiológico para evidenciar e dimensionar os determinantes sociais do processo saúde-doença. Esta questão é relevante para todos os estudos de morbidade e não apenas para os inquéritos.

Não podemos deixar de mencionar, ainda, a limitação decorrente da falta de padronização na execução dos inquéritos de morbidade até hoje divulgados e que torna impossível, com certa freqüência, a comparação de seus resultados.

Todas as questões levantadas merecem a reflexão, em busca de soluções, seja da Academia seja dos Serviços.

A proposta do Sistema Único de Saúde e a sua implementação resgataram com ênfase a importância do planejamento em saúde que, por sua vez, não pode prescindir do diagnóstico das condições de saúde e da qualidade de vida da população, bem como da avaliação de programas e ações e conseqüente redefinição do processo de planejamento.

Neste sentido, acreditamos que os inquéritos populacionais de morbidade, realizados com periodicidade variável (de acordo com as características sócio-demográfica da população e da organização e grau de acesso aos serviços, específicas de cada região ou local), possam contribuir e complementar os estudos de morbidade realizados a partir de informações registradas.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Jun 2008
  • Data do Fascículo
    1995
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