Acessibilidade / Reportar erro

Globalização e saúde: desafios para a enfermagem em saúde coletiva no limiar do terceiro milênio

Globalization and health: challenges for collective health nursing in the edge of the third millenium

Resumos

Sob a influência dos processos mundiais de globalização e internacionalização dos mercados, a expansão e a consolidação do modelo econômico neoliberal no Brasil expressa-se também na área da saúde. Os indicadores de morbimortalidade traduzem os processos de exclusão social que destituem a cidadania de 30 milhões de brasileiros, situados abaixo da linha de pobreza, em uma evidente demonstração de iniquidade. Alternativas para a construção e a proposição de estratégias que permitam a superação dessa realidade podem ser buscadas no arsenal teórico da Saúde Coletiva. Uma vez compreendido o conceito de saúde-doença que a embasa, sua ancoragem metodológica, os projetos de intervenção que dela resultam, bem como a amplitude e a dinâmica das mudanças que propõe, pode-se distingui-la da Saúde Pública. Para isso, impõe-se o resgate da historicidade da sua construção na década de 70, como um movimento eminentemente político que se insurgiu contra a situação social e política vigente na maioria dos países latino-americanos. Refazer esse movimento histórico, permite à Enfermagem melhor compreender a atual conjuntura para, assim, assumir seu papel social no processo de produção em saúde.

Enfermagem em Saúde Coletiva; globalização; processo de produção em saúde


Under the influence of the world processes of globalization and internationalization of markets, the expansion and consolidation of the neoliberal economic model are also expressed in Brazil in the health field. The morbidity and mortality indicators translate the processes of social exclusion that deprive the citizenship of at least 30 million Brazilians placed below the poverty line, in a clear expression of inequality. Alternatives for the construction and proposition of strategies that allow the overcoming of such reality can be searched for in the theoretical body of Collective Health. Once understood the concept of health-disease that underlies it, its methodological anchorage, the resulting intervention projects, as well as the width and the dynamics of the changes that it proposes, it can be distinguished from Public Health. This approach points out the need to re-build the history of Collective Health in the 70's, as a political movement against the social and political situation in most of the Latin American countries. The reconstruction of this historical movement allows Nursing to better understand the current conjuncture in order to assume social role in the health production process.

Collective Health Nursing; globalization; health production process


ARTIGOS

Globalização e saúde: desafios para a enfermagem em saúde coletiva no limiar do terceiro milênio

Globalization and health: challenges for collective health nursing in the edge of the third millenium

Maria Amélia de Campos OliveiraI; Maria Rita BertolozziI; Emiko Yoshikawa EgryII; Rosa Maria Godoy Serpa da FonsecaIII

IProfessora Doutora do Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo

IIProfessora Titular do Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo

IIIProfessora Associada do Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo - Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, s/n São Paulo-SP CEP 05403-000

RESUMO

Sob a influência dos processos mundiais de globalização e internacionalização dos mercados, a expansão e a consolidação do modelo econômico neoliberal no Brasil expressa-se também na área da saúde. Os indicadores de morbimortalidade traduzem os processos de exclusão social que destituem a cidadania de 30 milhões de brasileiros, situados abaixo da linha de pobreza, em uma evidente demonstração de iniquidade. Alternativas para a construção e a proposição de estratégias que permitam a superação dessa realidade podem ser buscadas no arsenal teórico da Saúde Coletiva. Uma vez compreendido o conceito de saúde-doença que a embasa, sua ancoragem metodológica, os projetos de intervenção que dela resultam, bem como a amplitude e a dinâmica das mudanças que propõe, pode-se distingui-la da Saúde Pública. Para isso, impõe-se o resgate da historicidade da sua construção na década de 70, como um movimento eminentemente político que se insurgiu contra a situação social e política vigente na maioria dos países latino-americanos. Refazer esse movimento histórico, permite à Enfermagem melhor compreender a atual conjuntura para, assim, assumir seu papel social no processo de produção em saúde.

Palavras-chave: Enfermagem em Saúde Coletiva, globalização, processo de produção em saúde

SUMMARY

Under the influence of the world processes of globalization and internationalization of markets, the expansion and consolidation of the neoliberal economic model are also expressed in Brazil in the health field. The morbidity and mortality indicators translate the processes of social exclusion that deprive the citizenship of at least 30 million Brazilians placed below the poverty line, in a clear expression of inequality. Alternatives for the construction and proposition of strategies that allow the overcoming of such reality can be searched for in the theoretical body of Collective Health. Once understood the concept of health-disease that underlies it, its methodological anchorage, the resulting intervention projects, as well as the width and the dynamics of the changes that it proposes, it can be distinguished from Public Health. This approach points out the need to re-build the history of Collective Health in the 70's, as a political movement against the social and political situation in most of the Latin American countries. The reconstruction of this historical movement allows Nursing to better understand the current conjuncture in order to assume social role in the health production process.

Key words: Collective Health Nursing; globalization; health production process

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Recebido em 31/08/98

Aprovado em 12/12/98

  • ABED, L.C. La enfermedad en la historia: una aproximación política, cultural e socioeconómica. Cordoba, Universidad Nacional de Córdoba, 1993.
  • ALMEIDA, M.C.P.de; ROCHA, J.S.Y. O saber da enfermagem e sua dimensão prática. São Paulo, Cortez, 1986.
  • ANDERY, M.A. et al. Para compreender a ciência: uma perspectiva histórica. Rio de Janeiro, EDUC-Espaço e Tempo, 1988.
  • BANTA, D.; DAHUCE, B.R. Health care technology and its assessment: an international perspective. Oxford, Oxford University Press, 1993. cap.2.
  • BARATA, C.B. A historicidade do conceito de causa. In: ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA. Epidemiologia 1: textos de apoio. 2 ed. Rio de Janeiro, ENSP/ABRASCO, 1990.
  • BREILH, J.; GRANDA, E. Investigação da saúde na sociedade: guia pedagógico sobre um novo enfoque do método epidemiológico, São Paulo, Instituto da Saúde/ ABRASCO, 1986.
  • CAMPOS, G. W. S. Considerações sobre a arte e a ciência da mudança: revolução das coisas e reforma das pessoas: o caso da saúde. In: CECÍLIO, L. C. de O. org. Inventando a mudança na saúde. São Paulo, Hucitec, 1994.
  • CANGUILHEM, G. O norrmal e o patológico. Rio de Janeiro, Forense-Universitária, 1978.
  • CASTELLANOS, B. E. P.; BERTOLOZZI, M. R. A questão das teorias interpretativas da "saúde" e da "doença". São Paulo, 1991. [mimeografado]
  • CASTELLANOS, P.L. As ciências sociais em saúde na Venezuela. In: NUNES, E.D., ed. As ciências sociais em saúde na América Latina: tendências e perspectivas. Brasília, OPAS, 1985. p. 137-54.
  • CZERESNIA, D. Do contágio à transmissão: ciência e cultura na gênese do conhecimento epidemiológico. Rio de Janeiro, FIOCRUZ, 1997.
  • EGRY, E.Y. Enfermagem em saúde coletiva: das categorias de análise e interpretação. São Paulo. Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, 1998. [mimeografado]
  • EGRY, E.Y. Saúde coletiva: construindo um novo método para a enfermagem. São Paulo. Ícone, 1996.
  • FACCHINI, L.A. Por que a doença?: a inferência causal e os marcos teóricos de análise. In: ROCHA, L.E.; RIGOTO, R.M.; BUSCHINELLI, J.T.P. org. Isto é trabalho de gente?: vida, doença e trabalho no Brasil. Petrópolis, Vozes, 1994.
  • FONSECA, R.M.G.S. da F. Mulheres e enfermagem: uma construção generificada do saber. São Paulo, 1996. [Tese de Livre-docência - Escola de Enfermagem da USP]
  • FONSECA, R.M.G.S. da F.; BERTOLOZZI, M. R. A epidemiologia social e a assistência à saúde da população. In: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENFERMAGEM. A classificação das práticas de enfermagem em saúde coletiva e o uso da epidemiologia social. Brasília, 1997. p. 1-59 (Série Didática: Enfermagem no SUS).
  • FONSECA, T.M.G. De mulher a enfermeira: conjugando trabalho e gênero. In: LOPES, M. J. et al. Gênero e saúde. Porto Alegre, Artes Médicas, 1996. p. 62-75.
  • FOUCAULT, M. O nascimento da clínica. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1997.
  • GERMANO, R. Educação e ideologia da enfermagem no Brasil. São Paulo, Cortez, 1983.
  • IANNI, O. A era do globalismo. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1996.
  • LAURELL, A C.; NORIEGA, M. Processo de produção em saúde: trabalho e desgaste operário. São Paulo, Hucitec, 1989.
  • LAURELL, A. C., org. Estado e políticas sociais no neoliberalismo. São Paulo, Cortez, 1995.
  • LUZ, M.T. As instituições médicas no Brasil: instituição e estratégia de hegemonia. Rio de Janeiro, Graal, 1979.
  • MACHADO, R. et al. Danação da norma: a medicina social e a constituição da psiquiatria no Brasil. Rio de Janeiro, Graal, 1978.
  • MELO, C. Divisão social do trabalho e enfermagem. São Paulo, Cortez, 1986. 94p.
  • NAJERA, E. Discussión In: BUCK, C. El desafio de Ia epidemiología: problemas y lecturas selecionadas. 2 ed. Washington, DC, OPAS/OMS, 1991. p.3-17. (Publicación Científica n.505).
  • NUNES, E.D., org. Ciencias sociales y salud en la America Latina: tendencias y perspectivas. Montevideo, OPS/CIESU, 1986.
  • ROSEN, G. Uma história da saúde pública. São Paulo, Hucitec, 1994.
  • SALUM, M. J. L ., BERTOLOZZI, M. R., OLIVEIRA, M. A. de C. O coletivo como objeto do conhecimento e da prática de enfermagem: as continuidades e descontinuidades da história. São Pauto, Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, 1998. [mimeografado]
  • SCHRAIBER, L.B.; MENDES-GONÇALVES, R.B. Necessidades de saúde e atenção primária. In: SCHRAIBER,L.B. et al., org. Saúde do adulto: programas e ações na unidade básica. São Paulo, Hucitec, 1996. p.29-46.
  • SILVA, G.R. As origens da medicina preventiva como disciplina do ensino médico. Rev. Hosp. Clin. Fac. Med. USP,.28:91-4,1979.
  • SENA-CHOMPRÉ, R.R.; EGRY, E.Y. A enfermagem no Projeto UNI: redefinindo um novo projeto político para a enfermagem brasileira. São Paulo, HUCITEC, 1998.
  • STOTZ, E.N. A saúde coletiva como projeto científico: teoria, problemas e valores na crise da modernidade. In: CANESQUI, A. M., org. Ciências sociais e saúde. São Paulo, Hucitec, 1997. p. 274-84.
  • TEIXEIRA, S. M. F. As ciências sociais em saúde no Brasil. In: NUNES, E.D. (ed.). As ciências sociais em saúde na América Latina: tendências e perspectivas. Brasília, OPAS, 1985. p. 87-109.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Jun 2008
  • Data do Fascículo
    Dez 1998

Histórico

  • Aceito
    12 Dez 1998
  • Recebido
    31 Ago 1998
Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo. Associação Paulista de Saúde Pública. Av. dr. Arnaldo, 715, Prédio da Biblioteca, 2º andar sala 2, 01246-904 São Paulo - SP - Brasil, Tel./Fax: +55 11 3061-7880 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: saudesoc@usp.br