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Editorial

Os artigos deste número mostram que a revista Saúde e Sociedade firma seu compromisso editorial na divulgação de conhecimento científico em Saúde Pública/ Coletiva na interface com as ciências sociais e humanas.

Todos os artigos aqui publicados tomam o social - seus fenômenos, processos e relações - como base, cenário e matéria da produção dos processos em saúde e doença, da estruturação de políticas públicas para o setor, das estratégias assistenciais e de cuidado, da veiculação das questões de saúde nos meios de comunicação, da produção de saberes leigos e científicos etc. O social, nesse sentido, deixa de ser meio terreno, local sobre o qual a saúde se assenta - o que caracteriza uma perspectiva ainda predominante em relação ao social na saúde - para ganhar o lugar que lhe cabe, o do tecido social em suas dimensões políticas, econômicas, culturais, sobre o qual os demais fenômenos, relações e pro cessos se constroem, se produzem, se consolidam - incluindo a saúde.

Mesmo com relação às questões tidas como do mundo natural, relativas aos animais e ao meio am biente, os artigos publicados partem da configuração social, articulando saúde e ambiente ao domínio da ciência, do ordenamento jurídico, do econômico, do político e da justiça social. São artigos que se posicionam no campo contemporâneo da questão ambiental, afastados da visão de meio como uma natureza externa às determinações sociais.

Na dimensão política, o conceito de equidade é problematizado tendo em vista a perspectiva do direito à saúde e suas implicações para o Sistema Único de Saúde brasileiro. Nessa dimensão tam bém podem ser incluídos dois artigos que versam sobre formas comunicacionais e discutem a saúde bucal na mídia impressa e os materiais oficiais de divulgação e esclarecimento da política pública de saúde infantil. Em ambos a discussão se refere aos paradoxos discursivos que ora elogiam a ação do serviço público estatal, ora sugerem a migração do usuário ao sistema suplementar, ora olham a mulher como sujeito das políticas públicas, ora tratam-na de forma objetivada. São artigos que desvelam as contradições presentes na sociedade em decorrência da construção do ideário de acesso à saúde.

De certa forma, e também na dimensão da política, o saber médico científico é problematizado nos artigos que discutem suas bases epistemológicas e práticas: o meramente biológico como base das enfermidades, descuidando-se de definições sobre o adoecimento mais inclusivas, e a punição econômica pelo erro médico, o sistema no-fault como forma de compensação por danos causados. Esses artigos realimentam a discussão sempre presente no campo da Saúde Pública/Coletiva no Brasil sobre a dimensão social do saber científico.

O corpo, seus cuidados e as novas formas da sua reprodução são temas que ocupam grande parte deste número da Saúde e Sociedade .

A ideia de corpo periférico, os dilemas da auto terapeuticalização e as questões morais que atravessam a saúde reprodutiva são alguns dos temas tratados nesse conjunto de artigos. O cuidado e a produção social da doença consistem nos outros temas sobre os quais versa esse conjunto. O cuidado aparece na dimensão dos núcleos de sociabilidade primária, a família e os acompanhantes do parto natural. A saúde indígena aparece em dois artigos como tema e como denúncia de sua situação de vida, em que os esquemas interpretativos da saúde -doença e do cuidado não se descolam da dimensão dos feitiços, das contaminações ambientais, da desobediência aos mais velhos, dos saberes locais da busca pela cura.

O mundo do trabalho - tema classicamente sociológico - e saúde aparecem no modo borderline do adoecimento. A impulsividade, a fragilidade dos laços sociais e o narcisismo da cultura vigente produzem um sujeito trabalhador em busca de sucesso e realização, naufragado na obsessão pela produtividade e na solidão.

A juventude como objeto de políticas públicas e da ação em saúde ganha cada vez mais espaço no campo. Neste número, três artigos sobre as mas culinidades e a saúde sexual e reprodutiva e sobre o jovem "carente" e a doença renal crônica põem a categoria em pauta.

A dinamicidade e a complexidade do tecido social, no qual se incluem os fenômenos de saúde-doença, ficam evidentes nos vários temas e novos objetos aqui abordados, convidando-nos a sua leitura!

Aurea IanniEunice Nakamura

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2016
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