A expressão da Saúde Coletiva a partir das instituições do Centro-Oeste: múltiplos olhares

A Saúde Coletiva, como um campo científico de saber e de prática, encontra-se estruturada em torno do conceito de determinantes sociais do processo saúde-doença. Por essa razão, transcende a questão organizativa de um sistema público de saúde e avança no estudo da saúde a partir de seus contextos sociais, culturais e econômicos (Loyola, 2012).

Nesse sentido, a Saúde Coletiva é um campo interdisciplinar, por excelência, que se relaciona com as Ciências Sociais e Humanas, utilizando suas práticas científica e técnicas para compreender as iniquidades e injustiças sociais, seus determinantes e as soluções para superá-las.

Os referenciais teóricos da Antropologia, Sociologia, Ciência Política, Economia, Direito, Comunicação, Geografia, entre outros, aliados à Epidemiologia, geraram novas formas e perspectivas de se compreender a saúde, direito humano fundamental, não só em seu aspecto biofísico, mas considerando que todas as propostas de ação e pesquisa devem ter como objetivo o princípio da integralidade e da equidade.

Não se pode desconsiderar, nesse processo de desenvolvimento e consolidação do campo, a propagação, para além da graduação em Saúde Coletiva, de programas de pós-graduação lato e stricto sensu na temática. Desde a criação do primeiro curso, em 1971, até 2020, o Brasil já soma um total de 94 programas em funcionamento, sendo 52 acadêmicos e 42 profissionalizantes, permanecendo, contudo, uma assimetria em relação à sua distribuição geográfica, com especial déficit nas regiões Norte e Centro-Oeste, tanto em número de ofertas de curso como na nota dos programas (Capes, 2020).

Nesse contexto, a Universidade de Brasília (UnB), por seu Programa de Pós-graduação stricto sensu em Saúde Coletiva (mestrado profissionalizante, acadêmico e doutorado) e a unidade da Fundação Oswaldo Cruz localizada em Brasília, por seu programa de pós-graduação stricto sensu em Políticas Públicas em Saúde (mestrado profissionalizante), alinharam-se em um esforço para tentar superar a disparidade regional em termos de ensino, pesquisa, extensão, mas especialmente de produção intelectual no campo da Saúde Coletiva.

Tal arranjo foi imensamente facilitado pela proximidade física entre as instituições, sendo que a universidade, há 10 anos, generosamente, cedeu terreno de seu campus para a construção da sede da Fiocruz em Brasília, atraindo para junto de si a centenária instituição.

A experiência de publicação conjunta em tão importante veículo, como o periódico Saúde e Sociedade, traz o desafio não apenas de dar publicidade aos trabalhos produzidos por professores e alunos das duas instituições, mas o de integrar também a equipe da Saúde Coletiva da Faculdade de Ceilândia, da UnB, com o propósito de conhecer os trabalhos de professores e alunos da distante cidade satélite de Brasília, mas, igualmente, incorporá-los nas pesquisas e produção científica do campus universitário principal, como também da Fiocruz.

Destarte, é que reconhecemos o grande mérito da revista Saúde e Sociedade, seu corpo editorial e editoras, não apenas para abrir um espaço para a divulgação científica de nosso grupo, mas por entender que tal fato ajuda, sobremaneira, a nos aproximar dos parâmetros das regiões Sudeste e Sul no quesito de produção científica. Assim, para além de agradecer a acolhida, reconhecemos o papel político imprescindível da revista Saúde e Sociedade para minorar as desigualdades históricas entre as regiões do país, em termos científicos e intelectuais, como reiteradamente demonstram os relatórios da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Este suplemento, portanto, é uma expressão da investigação de uma miríade de temas que refletem a interface da Saúde Coletiva, das Políticas Públicas em Saúde e as Ciências Sociais e Humanas, com base em múltiplos olhares, propiciados por instituições da árida região Centro-Oeste, e que buscou demonstrar que distintas abordagens interdisciplinares são importantes ferramentas para atuar positivamente no combate aos determinantes geradores de iniquidades em saúde.

Os textos que integram este suplemento abordam temas como: mobilidade urbana, comunicação na saúde, grupos vulneráveis, pobreza, habitação, meio ambiente, saúde planetária, entre tantos outros. Por isso, corrobora a necessidade de se pensar em ações e políticas integradas, aplicando o conceito de Saúde Única (One Health), de abordagem interdisciplinar e multisetorial e que propicia maior cooperação e integração entre campos distintos não apenas na identificação de desafios da gestão, mas especialmente na proteção da saúde.

Esses artigos refletem a importância da região Centro-Oeste como espaço de discussões científicas que transcendem as restrições geográficas, as pesquisas aqui realizadas, encontram-se no centro das discussões de transformação para uma superna Saúde Coletiva. Assim é que desejamos que os leitores da Saúde e Sociedade desfrutem dos trabalhos que ora publicamos, com muito orgulho e satisfação.

Referências

• CAPES. Documento de área. Área 22: Saúde Coletiva. Brasília, DF, 2020. Disponível em: <Disponível em: https://www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/saude-coletiva-pdf >. Acesso em 18 maio 2023.
  » https://www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/saude-coletiva-pdf
• LOYOLA, M. A. O lugar das Ciências Sociais na Saúde Coletiva. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 21, n. 1, p. 9-14, 2012. DOI: 10.1590/S0104-12902012000100002
  » https://doi.org/10.1590/S0104-12902012000100002

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  18 Dez 2023
• Data do Fascículo
  2023

Histórico

• Recebido
  31 Maio 2023
• Aceito
  14 Jun 2023