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Projeto Araucária

ARTIGOS DE DEMANDA CONTÍNUA

Projeto Araucária

Denise Grein Santos

Mestre em Educação pela UFPR. Prof. Assistente do Departamento de Teoria e Fundamentos da Educação. Vice-Coordenadora Pedagógica do Projeto Araucária

É papel da Universidade implementar ensino, pesquisa e extensão. Face aos problemas e prioridades há um maior investimento nas duas primeiras funções.

Em 1985, quatro professores de Psicologia da Educação do Departamento de Teoria e Fundamentos da Educação - DTFE, do Setor de Educação da UFPR, avaliando seu desenvolvimento profissional resolveram ampliar seu encargos e ofertar aos alunos dos cursos de Licenciatura e de Pedagogia, a oportunidade de integrar teoria e prática.

O conhecimento adquirido na Universidade seria estendido à comunidade numa dupla e produtiva relação. O aluno poria em prática os conhecimentos recebidos sob a orientação de professores, e a comunidade teria a rotina escolar enriquecida com essa contribuição.

Procedeu-se levantamento de prioridades. Uma análise da realidade brasileira mostrou o grande desnível sócio-econômico, criando diferenças significativas entre crianças nascidas iguais.

Na tentativa de minimizar a distorção social as professoras elaboraram um projeto de atendimento ao pré-escolar, o Projeto Araucária. Solicitaram e obtiveram a aprovação da Fundação Bernard van Leer, instituição filantrópica, com sede em Haia, na Holanda que liberou recursos para a implantação.

Fase experimental do Projeto Araucária (1985-1988)

O Projeto Araucária realizou convênios com a Prefeitura Municipal de Curitiba, Rio Branco do Sul, SESI- Serviço Social de Indústria.

A equipe responsável realizou e adaptou a metodologia Costa Atlântida, desenvolvida na Colômbia, de fundamentação piagetiana. Organizou cursos de capacitação para os estudantes que desejavam trabalhar com as crianças.

Paralelamente se fez um sentido da comunidade a ser atendida.

Levantou-se o nível sócio-econômico e cultural, pesquisou-se os hábitos e atitudes, as expectativas dos pais com relação à creche.

Em janeiro de 1986, iniciou-se o Projeto. Participaram dessa etapa duas escolas da rede municipal de ensino, situadas no Boqueirão.

O Clube do Trabalhador do SESI, ocioso durante o dia, abrigou dez turma de pré-escola. Em Rio Branco do Sul o Projeto foi implantado inicialmente no Centro de Atendimento do SESI e no ano seguinte na Escola Vovó Brasília. Foram atendidas cerca de 2.000 (duas mil) crianças, a maioria de 05 a 06 anos.

Estudantes de Magistério de 2º grau e de Pedagogia, orientadas pelas supervisoras do Projeto, realizaram as atividades com as crianças.

Nessa etapa a Universidade Federal do Paraná se responsabilizou pelo treinamento de pessoal, supervisão técnica, avaliação e controle de execução, remuneração de pessoal e aquisição de equipamentos e materiais.

Avaliação da experiência

Houve uma avaliação contínua, dentro da linha iluminativa, visando identificar o Projeto como um todo; corrigir as falhas tão logo fossem detectadas; enriquecer as atividades propostas com as contribuições observadas.

Ressaltam-se entre os pontos positivos:

-qualificação pessoal;

-garantia de novos serviços à comunidade;

-implementação de propostas pedagógicas para as classes pré-escolares;

-conscientização dos pais sobre seu papel de primeiros educadores e a relevância de uma situação conjunta família/escola para desenvolvimento integral de seus filhos;

-integração interinstitucional. Alguns pontos negativos foram observados;

-dificuldade para o desenvolvimento de outros setores da UFPR nas sanções executadas;

-pouca participação da família e da comunidade.

A constatação da supremacia dos aspectos positivos levou a Universidade a solicitar à Fundação Bernard van Leer uma primeira etapa de extensão para 1989 e uma segunda de três anos (1990-1992).

Expansão do Projeto - Fase de Extensão

Na primeira etapa de extensão (1989-1992) várias modificações ocorreram. O Projeto Araucária, mediante convênio com a Secretaria Municipal da Criança passou a atuar em creches oficiais e de vizinhança. A proposta pedagógica foi implantada em 200 turmas- 5.000 crianças de 04 a 06 anos foram atendidas. A avaliação desse período delineou a nova etapa. Caberia à Universidade o assessoramento técnico-científico e a produção de conhecimentos. A execução das ações de atendimento a crianças seria função dos órgãos governamentais envolvidos. O Projeto Araucária tornou-se Centro de Apoio à Educação Pré-Escolar tendo como meta prioritária o aperfeiçoamento de recursos humanos para a educação infantil e implantação de políticas de atendimento à criança de 0 a 06 anos.

Observou-se a ampliação da cobertura. O Projeto Araucária se tornou responsável pela capacitação de cerca de 2.000 profissionais, com atendimento indireto a aproximadamente 15.000 crianças.

Em 1991 as ações foram estendidas a cinco cidades da região metropolitana: Campo Largo, Quatro Barras, Colombo e São José dos Pinhais. Aí, também, o Projeto realizou encontros e seminários. Seguindo-se supervisão de creches e aperfeiçoamento de pessoal envolvido.

Em 1992, a LBA, informada da situação do Projeto Araucária, tendo constatado por meio de suas supervisoras a qualidade de atendimento, solicitou sua colaboração propondo integração.

O Projeto Araucária organizou cursos de capacitação para os técnicos da LBA em Curitiba, Guarapuava, Foz do Iguaçu e Londrina. Desse modo atinge-se a meta inicial com um acréscimo significativo: os dirigentes da educação pré-escolar solicitam apoio do Projeto Araucária para, numa soma de esforços, garantir a qualidade da educação pré-escolar.

Centro de Apoio à Educação Pré-Escolar

Como Centro de Apoio ao Pré-Escolar o Projeto efetua duas ações distintas:

a) Produção de Materiais- com o objetivo de enriquecer os programas de capacitação e as ações de atendimento à criança, tais como:

-apostilas com os conteúdos básicos;

-sugestões de atividades;

-módulos sobre os temas propostos;

-cartilhas sobre desenvolvimento e alimentação infantil com informações para os pais;

-vídeos para concretizar e exemplificar as situações abordadas nos cursos;

-vídeos para divulgar o projeto;

-incentivo à pesquisa.

b) Promoção e participação de eventos.

Promover encontros, seminários ao nível estadual e municipal com a participação de especialistas nacionais que ministram conferências, elucidam dúvidas e trocam idéias e experiências sobre a importância dessa fase infantil.

O quadro abaixo apresenta os eventos efetuados:

1990- I Encontro Paranaense de Alfabetização (600 participantes).

1990- I Seminário Metropolitano de Educação Pré-Escolar. (300 Participantes).

1991- II Seminário Metropolitano de Educação Pré-Escolar. (300 Participantes).

1992- III Seminário Metropolitano de Educação Pré-Escolar. (300 Participantes).

A preocupação com a capacitação ocorre em todos os níveis. Especialistas internacionais foram convidados para proferir palestras, participar em grupos de estudos com os responsáveis pela educação pré-escolar. André Lapiere enfocou psicomotricidade, Emília Ferreiro alfabetização, e Joan Valsiner a contribuição de Vygotsky.

O Projeto participa de seminários, encontros e congressos ao nível nacional e internacional com o objetivo de divulgar seu trabalho, conhecer outras realidades e situações que possam enriquecer sua ação.

Centro de Apoio à Educação Pré-Escolar e suas variações

O aperfeiçoamento de profissionais de educação infantil nas creches e pré-escolas de Curitiba e região metropolitana, ocorre com a efetivação de cursos de treinamento (treinamento pré-serviço); acompanhamento do trabalho em campo (treinamento em serviço) responsabilidade das equipes técnicas das prefeituras e do Projeto, que fazem visitas semanais às creches e Pré-Escolas.

A temática dos cursos é definida pelos projetos e secretarias municipais após o levantamento de interesses e necessidades da clientela.

Os cursos são realizados nas dependências da Universidade e das prefeituras. A maioria dos instrutores pertence ao quadro dessas instituições. Se necessário especialistas da comunidade são convidados.

Avaliações são realizadas em três modalidades:

-Avaliação de reação: após cada curso o participante preenche uma ficha avaliando o docente, o conteúdo trabalhado, sua importância e a possibilidade de ser colocado em prática.

-Avaliação de desempenho: alguns locais são sorteados e observados periodicamente antes da realização do curso. Após sua ocorrência novas observações são efetuadas para verificar se houve mudança e melhoria de ação. A observação se orienta em critérios definidos por instrumentos elaborados pelos especialistas que ministraram os cursos.

-Avaliação de conteúdo: alguns participantes são sorteados. Antes do curso preenchem um teste, participam do curso e respondem ao pré-teste.

Esses passos visam uma uniformidade de procedimentos que levará à interferência positiva junta à criança: tratamento afetivo, respeito a sua individualidade, limitações e possibilidades propiciando-lhes condições plenas de desenvolvimento.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Mar 2015
  • Data do Fascículo
    Dez 1993
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