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Escola de homens de ciências: a Academia Científica do Rio de Janeiro, 1772-1779

School of science men: the Scientific Academy of Rio de Janeiro, 1772-1779

Resumos

O presente trabalho trata da Academia Científica do Rio de Janeiro como escola na qual formavam-se homens de ciências. Espaço de ensino e aprendizagem, caracterizava-se como um local no qual se observava a natureza, fazia-se experimentos, debatia-se achados, socializava-se informações e reflexões políticas, oportunizando formação teórico-prática aos seus partícipes. Funcionando como associação ligada ao vice-reinado, extrapolava o papel de subsidiar o Reino em temas atinentes à melhor exploração econômica da colônia, desempenhando também funções de cunho educativo ao possibilitar a circulação de uma cultura científica via aprendizado das ciências da natureza, denotando a chegada da ilustração em terras brasílicas.

escolas de ciência; academias setecentistas; natureza brasílica


This work focuses Scientific Academy of Rio de Janeiro as a school that graduated men of science. That was a teaching and learning place characterized by practices of nature observation, experiment making, discovering debate, information socialization and political thought, which gave opportunity of theoretic and practical formation to its participants. Working as an association linked to the Vice-Kingdom, the Academy extrapolated the role of producer of information related to the best economic exploration of the colony and developed functions of educative nature in a way it enabled circulation of a scientific culture related to natural sciences, denoting illustration arriving to Brazilian land.

Science school; XVII Century Academies; Brazilian nature


DOSSIÊ: EDUCAÇÃO-SAÚDE: DIFERENTES OLHARES

Escola de homens de ciências: a Academia Científica do Rio de Janeiro, 1772-1779

School of science men: the Scientific Academy of Rio de Janeiro, 1772-1779

Vera Regina Beltrão Marques

Doutora em história (Unicamp). Professora do Departamento de Teoria e Fundamentos da Educação da Universidade Federal do Paraná - UFPR. E-mail: verarbm@terra.com.br

RESUMO

O presente trabalho trata da Academia Científica do Rio de Janeiro como escola na qual formavam-se homens de ciências. Espaço de ensino e aprendizagem, caracterizava-se como um local no qual se observava a natureza, fazia-se experimentos, debatia-se achados, socializava-se informações e reflexões políticas, oportunizando formação teórico-prática aos seus partícipes. Funcionando como associação ligada ao vice-reinado, extrapolava o papel de subsidiar o Reino em temas atinentes à melhor exploração econômica da colônia, desempenhando também funções de cunho educativo ao possibilitar a circulação de uma cultura científica via aprendizado das ciências da natureza, denotando a chegada da ilustração em terras brasílicas.

Palavras-chave: escolas de ciência, academias setecentistas, natureza brasílica.

ABSTRACT

This work focuses Scientific Academy of Rio de Janeiro as a school that graduated men of science. That was a teaching and learning place characterized by practices of nature observation, experiment making, discovering debate, information socialization and political thought, which gave opportunity of theoretic and practical formation to its participants. Working as an association linked to the Vice-Kingdom, the Academy extrapolated the role of producer of information related to the best economic exploration of the colony and developed functions of educative nature in a way it enabled circulation of a scientific culture related to natural sciences, denoting illustration arriving to Brazilian land.

Key-words: Science school, XVII Century Academies, Brazilian nature.

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Texto recebido em 23 out. 2004

Texto aprovado em 27 nov. 2004

1 Embora considerado por muito tempo como "volta ao obscurantismo", o reinado de D. Maria manteve parte da administração após 1777 como bem demonstra a historiografia atual. O secretário da Marinha e Ultramar, Martinho de Melo e Castro, por exemplo, permaneceu mantendo os princípios fundamentais da política para a área. No que concerne à educação, estendeu-se consideravelmente o número de professores régios de leitura e escrita, ampliando a instrução. No que concerne as vicissitudes dessa ampliação ver: Carlota Boto em "Iluminismo e educação em Portugal", p. 169-191.

2 Nizza da Silva (1994) no verbete Academias explica que a Academia dos Esquecidos ao se propor a escrever a História brasílica pretendeu dividi-la em quatro partes: História Natural, História Militar, História Eclesiástica e História Política. Para discussão acerca da natureza brasílica e sua abordagem até a criação da Academia Científica ver Vera Regina Beltrão Marques: Natureza em boiões, cap. 1-2.

3 Ribeiro Sanches era médico, discípulo de Boerhaave em Leyde, depois se dirigiu para a Rússia onde se distinguiu como médico e administrador. Suas idéias tiveram repercussão na reforma da Universidade de Coimbra em 1772.

4 A cochonilha, o anil e o linho encontravam-se valorizados na época, pois eram empregados como matéria prima para a indústria. Pombal buscava o desenvolvimento destas culturas para obtê-las por menor custo, substituiu importações e abriu outras possibilidades de consumo. Ver Arno Wehling, 1977, p. 238.

5 O Marquês de Lavradio juntamente com José Henriques Ferreira e João Hopman (empresário holandês) tentavam substituir o linho de Riga pela guaxima, conforme Wehling, op. cit., p. 241. Hopman fora designado por Lavradio como "inspetor de novas plantações e fazendas" para promover culturas que ainda não faziam parte da agenda de produtos exportáveis para a Metrópole. Consultar Maxwell, 1996, p. 133.

6 A descrição do mucuná, designada Lavradio, pode também ser consultada em manuscrito: ACL, Manuscrito azul, n. 324.

7 Mencionam a Academia Científica do Rio de Janeiro: Francisco Adolfo de Varnhagen (História geral do Brasil, tomo IV); Lycurgo Santos Filho (História geral da medicina brasileira, vol. 1); Fernando de Azevedo (A cultura brasileira), Maria Odila da Silva Dias ("Aspectos da ilustração no Brasil"); Fernando Novais (Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial 1777-1808); Bella Herson ("Cristãos-novos e seus descendentes na medicina brasileira"); Maria Rachel Froés da Fonseca ("A única ciência é a pátria: o discurso científico na construção do Brasil e do México (1770-1815); dentre outros.

8 No Catálogo de livros e editores publicado em Lisboa em 1790, constam nada menos do que 47 livros, entre compostos, traduzidos ou mandados imprimir por Henriques de Paiva (ANTT/RMC, caixa 494, n. 9)

  • ACADEMIA DE CIÊNCIAS DE LISBOA. Manuscrito Azul, n. 374. Memória n. 30. História do descobrimento da cochonilha no Brasil, da sua natureza, geração, criação, colheitas e utilidades. Século XVIII
  • ARQUIVO NACIONAL DA TORRE DO TOMBO. Real Mesa Censória (RMC), caixa 494, documento 9.
  • ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA. Seção Colonial e Provincial. Coleção de ordens régias Maço 120, 1819, documento 339.
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Mar 2015
  • Data do Fascículo
    Jun 2005

Histórico

  • Recebido
    23 Out 2004
  • Aceito
    27 Nov 2004
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