Acessibilidade / Reportar erro

Apresentação

DOSSIÊ: EDUCAÇÃO E COMPLEXIDADE

Apresentação

Temos a satisfação de apresentar o dossiê Educação e Complexidade, iniciativa pioneira no âmbito do Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná. A temática é pertinente e contemporânea. Traz questões teóricas e metodológicas, estudadas pela Teoria da Complexidade, com vistas a um diálogo epistemológico com a área da educação.

A grande preocupação epistemológica do pensamento complexo é a construção de um conhecimento que efetivamente dê conta de explicar e compreender as multidimensionalidades dos fenômenos físicos, naturais e sociais, superando, como diz Morin (2005a), uma concepção fragmentada, disjuntiva, excludente e reducionista. Religam-se os saberes numa aventura que possibilita à ciência uma visão do todo e das partes e das partes em relação ao todo, numa dinâmica relacional.

O primeiro artigo, do antropólogo e professor Edgard de Assis Carvalho, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, intitulado "Saberes complexos e educação transdisciplinar" procura refletir a respeito da necessidade de uma nova postura do pesquisador, do docente, do estudante frente ao conhecimento. A religação dos saberes se torna uma atitude superadora das dicotomias trazidas pelo pensamento cartesiano. O autor aposta na transdisciplinaridade enquanto estratégia, caminho errático que perpassa os saberes. Conforme o texto, a transdisciplinaridade é tratada como um domínio cognitivo que se localiza além das disciplinas, numa ação teórico-conceitual-metodológica assemelhada a uma viagem sem porto estabelecido.

Em "Educação complexa para uma nova política de civilização", Petraglia, psicóloga, pedagoga e professora doutora do Centro Universitário Nove de Julho de São Paulo, exalta que a educação complexa tem sob sua perspectiva sistêmica o papel de instigar e praticar a reflexão e a ação permanentes em relação à existência transitória e finita do ser humano. É preciso conviver com a transitoriedade e com a incerteza, entendendo que o real é imprevisível. Com respeito à relação entre educação e complexidade, a autora ressalta algumas idéias-chave que professores e estudantes devem levar em consideração sob uma abordagem complexa. A educação deve estar comprometida com o devir, com o político e com o pedagógico. Deve incluir o respeito às diversidades étnicas, às religiosas, as de gênero e às culturais. A educação complexa deve valorizar as experiências estéticas e sensíveis; o equilíbrio entre a afetividade e a sexualidade; a emoção com a razão; a teoria com a prática; estimular sempre a convivência ética com o outro, com o diverso, com o diferente e com o entorno.

O terceiro artigo do dossiê foi escrito pela antropóloga da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, professora doutora Maria da Conceição Xavier de Almeida, mais conhecida como Ceiça Almeida. Seu texto, como tem sido os demais publicados ao longo de sua carreira acadêmica, é consistente, coerente e profundo teoricamente. Seu texto, intitulado "Educação como aprendizagem da vida", instiga-nos a pensar que a auto-formação se torna uma postura necessária e impostergável no enfrentamento das adversidades e da complexidade da vida, sobretudo no século XXI. Ninguém conhece no lugar do outro. Não há transformação senão a partir de si próprio, de suas próprias experiências e aprendizagens. A autora argumenta que o conhecimento não se transfere, se organiza tendo em vista e a partir da experiência do sujeito cognoscente, de sua curiosidade, de seu espanto interrogativo, de sua construção.

Em "Pedagogia e complexidade: diálogos preliminares", Sá, pedagogo e professor doutor da Universidade Federal do Paraná, procura iniciar um diálogo epistemológico entre a Pedagogia, enquanto ciência aplicada que estuda o fenômeno educativo (escolar e não-escolar), e a teoria da complexidade. Estabelece-se uma pequena síntese dos estudos realizados por pesquisadores e estudiosos a respeito das características do discurso pedagógico elaborado pela Pedagogia, evidenciando sua cientificidade, ao mesmo tempo que, no limite possível das páginas do texto, traz alguns pressupostos teóricos sistematizados por Edgar Morin, sobre o pensamento complexo. No terceiro momento do escrito o autor lança-se à construção de um diálogo preliminar entre a teoria pedagógica e a teoria da complexidade, começando pelo chamado princípio sistêmico-organizacional.

No quinto artigo, intitulado "A educação e o conhecimento: uma abordagem complexa", de Roberto Ramos, jornalista e professor doutor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, procura-se enfatizar, resumidamente, os princípios implícitos no pensar complexo. São identificados os seguintes princípios: sistêmico-organizacional; hologramático; anel retroativo; anel recursivo; auto-eco-organizativo; dialógico; e o da reintrodução. Enfatiza-se que o pensar complexo vê o fenômeno educativo como um processo dialógico e envolto em uma pluralidade de dimensões.

O sexto artigo pertencente a esse dossiê, escrito pela filósofa e professora doutora Zita Lago Rodrigues, intitulado "Paradigma da ciência, do saber e do conhecimento e a educação para a complexidade: pressupostos e possibilidades para a formação docente", questiona o paradigma cientificista-racionalista da modernidade. Apoiando-se em Habermas, argumenta-se que a racionalidade técnico-científica ocidental apresenta traços de profunda crise, tendo em vista a diversidade teórica e social contemporânea, bem como a celeridade e a imprevisibilidade proporcionadas pelos avanços científicos e tecnológicos inscritos nas últimas décadas do século XX. Para enfrentar essa crise paradigmática, a autora vai buscar na teoria da complexidade os elementos teóricos e metodológicos que possam subsidiar os diálogos epistemológicos pertinentes e necessários entre a ciência e a educação, entre a complexidade e a escola.

Por fim, o último artigo, dos professores Ariel Quezada e Enrique Canessa, intitulado: "La complejidad de los procesos educativos en el aula de clases", invoca o paradigma da complexidade para analisar e compreender o processo de aprendizagem que ocorre no processo de educação escolar, especificamente dentro de uma sala de aula. Para eles deve-se considerar que o fenômeno de aprendizagem é uma propriedade emergente tanto em nível individual (estudante) como em nível coletivo (conjunto da classe de estudantes). Entendem que os processos educativos demandam a superação do paradigma linear, de causa e efeito, para uma perspectiva que incorpore a complexidade implícita nas relações de aprendizagem numa sala de aula.

Curitiba, 30 de junho de 2008.

Prof. Dr. Ricardo Antunes de Sá

antunesdesa@gmail.com

Organizador do Dossiê

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Fev 2009
  • Data do Fascículo
    2008
Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná Educar em Revista, Setor de Educação - Campus Rebouças - UFPR, Rua Rockefeller, nº 57, 2.º andar - Sala 202 , Rebouças - Curitiba - Paraná - Brasil, CEP 80230-130 - Curitiba - PR - Brazil
E-mail: educar@ufpr.br