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La construcción del campo de la educación ambiental: análisis, biografías y futuros posibles

RESENHA

ORTEGA, Miguel Ángel Arias. La construcción del campo de la educación ambiental: análisis, biografías y futuros posibles. Guadalajara-Jalisco: Editorial Universitaria, 2012.

Ana Tereza Reis da Silva

Universidade de Brasília. Faculdade de Educação. Brasília, Distrito Federal, Brasil. Campus Darcy Ribeiro, Asa Norte. CEP: 70910-900

A datar de sua primeira aparição conceitual em 1972 na Declaração de Estocolmo, resultante da 1ª Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, o campo da Educação Ambiental (EA) tem sido atravessado por uma pluralidade de práticas, discursos e sujeitos.

Entre os autores que se ocupam de estudar esse aspecto, parece prevalecer o entendimento de que isso se deve, em boa medida, aos aportes teóricos que os educadores ambientais acionam, desde seus pertencimentos disciplinares, para analisar, prevenir e mitigar os problemas socioambientais de nosso tempo. Ademais, reconhecem que essa pluralidade não é apenas traço marcante de um campo teórico-prático relativamente jovem, mas sim uma de suas características fundamentais, constituindo, portanto, parte inerente de sua identidade e singularidade.

Essa questão é retomada no livro La construcción del campo de la educación ambiental: análisis, biografias y futuros posibles, cuja abordagem, como o próprio título sugere, resgata o caráter multifacetado e complexo que caracteriza a construção desse campo a partir de análises ancoradas nas trajetórias pessoais e profissionais e, em consequência, nas subjetividades de educadores ambientais.

Optando por um desenho antológico, por assim dizer, Miguel Ortega recupera a pergunta como "centro y como punto de partida para la expresión de la trayectoria personal que se traduce em elementos clave para alimentar el campo teórico y sócio profesional de la EA, como también para fecundar nuevas búsquedas y encuentros" (2012, p. 15). Assim, traz à cena contemporânea as acepções de educadores ambientais latino-americanos, canadenses e hispânicos – todos e todas com reconhecida e significativa produção na área – acerca do estado da arte, dos desafios e das perspectivas de futuro da EA.

Como que compondo um mosaico de múltiplos matizes que, a muitas vozes, geram inevitavelmente dissensões e complementaridades, Alicia de Alba, Édgar González, Enrique Leff, Javier Benayas, Javier Reyes, José Antonio Caride, José Gutiérrez, Lucie Sauvé, María Novo, Pablo Meira, Rafael Tonatiuh Ramírez e Salvador Morelos Ochoa são instigados a debruçarem-se diante de questões de fundo teórico e prático que exigem uma revisitação de suas próprias histórias de vida e, por sua vez, do engajamento que vêm construindo com, no e para o campo socioambiental.

Estas são as questões que animam a série de doze entrevistas que compõem a presente obra:

Qué nos há faltado generar en la educación ambiental para abordar la problemática actual con mayores possibilidades de transformación y esperanza? Qué significa que la educación ambiental sea un campo en construcción y en qué momento o etapa nos econtramos? Qué te seduce de la educación ambiental, por qué permaneces em ella? Cuáles son las preguntas que podríamos formular en el campo de la educación ambiental hoy em día? Cómo vislumbras el futuro de la educación ambiental? (ORTEGA, 2012, p. 15-16).

Ao formulá-las, o autor coloca em questão algumas premissas em torno das quais orbitam incertezas e desacordos, a saber: que o campo da EA encontra-se em construção e que daí decorre a fragilidade dos resultados alcançados; ou, em outra direção, que apesar do pouco tempo de existência, mais precisamente em apenas quatro décadas, produziram-se resultados e influências notáveis.

Esse primeiro desacordo conduz a outros: se de fato trata-se de um campo em construção, o que isso significa e em que etapa de desenvolvimento se encontra? Mas se, ao contrário, trata-se de um campo já consolidado, o que ainda falta realizar? Em ambos os contextos cabe, segundo o autor, questionar quais lacunas precisam ser preenchidas, quais questões ainda necessitam de respostas contundentes e qual futuro podemos vislumbrar para a EA considerando o cenário atual no qual as projeções são pouco otimistas.

Nesse contexto, o autor aponta para a importância de se compreender o porquê dos educadores ambientais permanecerem vinculados à EA, em que pesem as limitações e as adversidades que ela comporta. Mais ainda quando, muitas vezes, os educadores aí engajados tratam de transformar a Educação Ambiental em um campo de atuação profissional aliado a um projeto de vida. Embora envolva aspectos de ordem pessoal, essa questão mostra-se, ao longo da obra, como uma espécie de "fiel da balança" ou, dito de outro modo, como um elemento chave e indispensável para se pensar o futuro da Educação Ambiental posto que, ao manifestarem suas motivações, os entrevistados identificam igualmente as virtudes desse campo.

Assim, a partir das acepções oferecidas pelos educadores entrevistados, Ortega (2012) se esforça por compor, na última parte do livro, o que ele chama de "En la búsqueda de nuevas tonalidades". Isto é, inspirando-se na pluralidade dos discursos, o autor propõe uma síntese das dissensões manifestadas e, identificando os pontos em que as falas se encontram e se unificam, oferece-nos um importante mapa histórico, prático e conceitual da Educação Ambiental de antes e de hoje, permitindo-nos vislumbrar futuros possíveis.

Tendo em conta os pontos de encontro e de complementaridade dos discursos, Ortega (2012) propõe algumas inferências. Primeiro que a Educação Ambiental constitui um campo relativamente jovem do qual são demandadas respostas nem sempre condizentes com seu alcance. Ocorre que se a questão socioambiental – que se manifesta como crise das racionalidades hegemônicas – envolve problemas de ordem econômica, política, social e ética, a Educação Ambiental constitui uma resposta possível e limitada, devendo estar sempre associada a outras medidas e resoluções.

Nesse sentido, se os avanços da EA ainda são incipientes isso se deve sem dúvida as suas idiossincrasias, mas também à complexidade e ao alcance dos problemas socioambientais que se mostram incompatíveis com o reducionismo dos nossos esquemas mentais e da racionalidade com que operamos. Daí é imprescindível reconhecer os avanços ainda que tímidos desse campo, tanto quanto a necessidade de revisitação de nossas epistemologias, dos aportes teóricos que nos referenciam e dos sistemas educativos que se mostram incapazes de ensinar a pensar de forma complexa.

De outra feita, enquanto um campo reconhecidamente aberto, plural e interdisciplinar, cujo objeto é volátil e sujeito às dinâmicas sociais e aos interesses econômicos e políticos em jogo, a EA estará sempre em construção. Isso constitui sua originalidade, sua identidade e sua especificidade em relação aos demais campos diretamente ligados à crise socioambiental.

Todavia, nesse processo de construção que já perdura há quatro décadas há um importante cúmulo de experiências, vivências, elaborações teóricas e práticas que precisa ser reconhecido e tomado como fonte de inspiração para a contínua renovação desse campo.

Existem sérias lacunas à espera de respostas e uma delas diz respeito à transformação dos estilos de vida e à construção de outro modelo de mundo. Isso exige produzir mudanças substanciais no âmbito das condutas individuais e coletivas, bem como na esfera do privado e do público, de modo a alcançar tanto os sujeitos comuns quanto aqueles que estão estrategicamente posicionados nos espaços e nas instâncias de decisão.

La construcción del campo de la educación ambiental: análisis, biografias y futuros posibles avança precisamente por apresentar uma crítica rigorosa, madura e ao mesmo tempo otimista da Educação Ambiental. E o faz a partir de lugares de fala engajados, isto é, a partir das vozes de sujeitos cujos imaginários, ideários, práticas e elaborações teóricas floresceram e amadureceram junto com esse campo e por dentro dele. Ou, nos termos de Édgar González Gaudiano (2012), a quem coube a tarefa de elaborar o prefácio dessa obra e com quem estou inclinada a concordar:

Ésa es, según mi punto de vista, la mayor contribuición que hace este libro al permitir mostrar em una conversación fresca, coloquial, sin circunlóquios academicistas lo que piensan, pensamos, algunos educadores ambientales sobre los retos y las perspectivas de nuestro campo; cuáles son las preguntas de este momento y por dónde y con quién podemos ir construyendo las respuestas. En un marco global de nuevos y viejos desafios con una complejidad creciente, adquirir mayor claridad de los senderos por los que transitar con propuestas de educación ambiental es una tarea impostergable. Enhorabuena (p. 10-11).

Por isso, trata-se de um livro que traz importantes contribuições à reflexão e à prática de pesquisadores e educadores que se dedicam à Educação Ambiental como ferramenta estratégica para a compreensão, o enfrentamento e a mitigação dos problemas contemporâneos.

Nesse sentido, a obra pode contribuir sobremaneira para o estabelecimento de agendas de trabalho e pesquisa em Educação Ambiental, assim como para a orientação de políticas públicas destinadas à formação inicial e continuada de formadores e para a revisitação dos currículos escolares e não escolares direcionados à construção de uma cidadania socioambiental.

Texto recebido em 23 de outubro de 2014.

Texto aprovado em 28 de outubro de 2014.

Fechas de Publicación

  • Publicación en esta colección
    14 Ene 2015
  • Fecha del número
    2014
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