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Culturas juvenis dos anos 1980 nas páginas do periódico estudantil: "JB - O Jornal do Becker" (Colégio Estadual D. João Becker - 1985/1986)

1980's youth culture from the students' journal: "JB - O Jornal do Becker" (Public School D. João Becker - 1985/1986)

Resumo:

O estudo analisa o periódico estudantil "JB - O Jornal do Becker", produzido por um grupo de alunos do ensino secundário da Escola Estadual Dom João Becker, em Porto Alegre, RS, entre os anos 1985 e 1986. A pesquisa se inscreve nos domínios da História da Educação e segue os postulados teóricos da História Cultural, tendo como referências as concepções da cultura escrita enquanto produção discursiva de um determinado tempo e lugar. A diversidade de temas nas seções expressa criatividade do grupo de editores, que conseguem, com certo protagonismo na confecção do impresso, aliar o cotidiano a temas mais complexos. Por meio da análise documental, observa-se no periódico uma forte preocupação política, entretanto, também comparecem temas cotidianos, juvenis e escolares, o que configura uma produção de significados de vivências daqueles estudantes em tempos de mudanças na sociedade brasileira. Pela leitura e análise desses exemplares, percebe-se que os estudantes estavam afinados com as referências socioculturais de seu tempo, pois evidenciam uma autonomia na produção, decorrente do processo de abertura política do país. O "JB" denota como característica discursiva um cuidado com o coletivo, são jovens escreventes que, para além do interesse por esportes, surf e fofocas, revelam sensibilidade ao refletirem sobre outras questões, próprias do que se considera mundo adulto. Mostram o que pensam sobre assuntos de ordem política, mas também lhes interessa o microcosmos escolar, que se desdobra em diversas tematizações.

Palavras-chave:
impressos estudantis; escrituras escolares; memórias juvenis

Abstract:

The study analyzes the student newspaper, "JB - O Jornal do Becker", produced by a group of high school students of the Public School Dom João Becker, in Porto Alegre, RS, between the years 1985 and 1986. The research enrolls in the field of History of Education and follows the theoretical postulates of Cultural History, with the references of written culture conceptions as a discursive production of a particular time and place. The diversity of themes expressed in the sections shows the creativity of the group of editors, who can, with a certain protagonist role in the production of the journal, combine the everyday topics to more complex ones. Through documentary analysis, a strong political concern is observed in the student journal. However, daily, youth and school issues also appear, which sets a production of meanings of experiences of those students in times of change in the Brazilian society. By reading and analyzing these copies, it is noticed that the students were in harmony with the socio-cultural references of their time, since pointing autonomy in their production, due to the country's political opening process. The "JB" denotes as a discursive characteristic the concern for the collective, because the writers are young people who, in addition to the interest in sports, surf and gossips, reveal sensitivity to reflect on other issues, what is considered proper of the adult world. They show what they think about political issues, but they are also interested in the school microcosm, which unfolds in several thematizations.

Keywords:
student journals; school writing; youth memories

Introdução

Todos os dias quando acordo Não tenho mais o tempo que passou Mas tenho outro tempo Temos todo o tempo do mundo, [...] Somos tão jovens, tão jovens, tão jovens. ("Tempo Perdido", Legião Urbana, 1986)

A partir da letra da canção "Tempo Perdido", indagamos o que jovens estudantes faziam nos tempos de escola nos idos anos de 1980. Com o objetivo de adentrar em um microespaço - o Colégio Estadual Dom João Becker, de Porto Alegre, RS - este estudo analisa o periódico estudantil "JB - O Jornal do Becker", produzido por alunos do segundo grau de ensino. São escritos que permitem, em certa medida, observar as vivências de rapazes e moças, estudantes em uma escola pública, localizada em um bairro operário da cidade.

Nessa perspectiva, tomamos a premissa de Celéstin Freinet (1957FREINET, Célestin. Le journal scolaire. Vienne: Rossignol, 1957., p. 5), de que "[...] o jornal escolar seria um dos maiores elementos de uma pedagogia aberta sobre o mundo e sobre a vida, suscetível de dar um sentido novo à cultura em que a escola, em todos os seus graus, vai assentar-se e preparar a eclosão"1 1 Os jornais estudantis, que se constituíam das mais variadas formas, inserindo-se no cotidiano de escolas públicas e privadas, foram uma das instituições complementares à escola, estimuladas pelos protagonistas do escolanovismo, desde as primeiras décadas do século XX, destaca-se o jornal escolar elaborado pelos alunos, como atividade de sala de aula ou extraclasse. No entanto, podemos assinalar que, na segunda metade do século XIX, já se encontram vestígios de jornais infantis e escolares no Brasil. No século XX, a primeira experiência com jornal escolar data da década de 1910, no pós-guerra, na Escola Decroly (Bélgica), com o "Courrier de l'école". Mas foi com Celéstin Freinet, que iniciou suas experiências a partir de 1924, que se ampliou a divulgação e utilização do jornal escolar como texto livre, considerado "[...] a expressão natural, a base, da vida infantil em seu meio normal". (Freinet, 1957, p. 5). .

Entendemos que impressos de alunos, em diferentes níveis de ensino, em distintos suportes, finalidades e temporalidades, são documentos importantes para analisar, entre outros aspectos, culturas juvenis2 2 Sobre culturas juvenis, ver Feixas (2008) e Pais (2003), que discutem o conceito e suas implicações na contemporaneidade, a partir das décadas de 1950 e 1960. Para os autores, são imprecisas fronteiras das culturas juvenis, elas não são homogêneas, nem estáticas, portanto não devem ser analisadas como um sistema fechado, mas a partir das relações sociais que são estabelecidas. e escolares em suas múltiplas manifestações3 3 Jornais, boletins, revistas, magazines - feitos por professores para professores, feitos para alunos por seus pares ou professores, feitos pelo Estado ou outras instituições como sindicatos, partidos políticos, associações de classe, Igrejas - contêm e oferecem muitas perspectivas para a compreensão da história da educação e do ensino. Sua análise possibilita avaliar a política das organizações, as preocupações sociais, os antagonismos e filiações ideológicas, além das práticas educativas e escolares. A imprensa é um corpus documental de vastas dimensões, pois se constitui em um testemunho vivo dos métodos e concepções pedagógicas de uma época e da ideologia moral, política e social de um grupo profissional. É um excelente observatório, uma fotografia da ideologia que preside. Nessa perspectiva, é um guia prático do cotidiano educacional e escolar, permitindo ao pesquisador estudar o pensamento pedagógico de um determinado setor ou de um grupo social a partir da análise do discurso veiculado e da ressonância dos temas debatidos, dentro e fora do universo escolar. (Catani e Bastos, 1997). .

Seguindo os postulados teóricos da História Cultural, no contexto da expansão do conceito de documento, percebe-se que esses impressos vêm conquistando espaço na historiografia e ocupam "territórios abertos para a História" (Cunha, 2009CUNHA, M. T. S. Diários pessoais: territórios abertos para a História. In: PINSKY, C. B.; LUCA, T. R. O historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2009. p. 251-280., p. 254), especificamente considerando a História da Educação. Neste sentido, Pinski (2005PINSKI, Carla Bassanezi. Apresentação. In: PINSKI, Carla Bassanezi (Org.). Fontes Históricas., São Paulo: Contexto 2005. p. 7-8.) diz que documentos que tradicionalmente costumavam falar com os historiadores positivistas talvez hoje apenas murmurem, enquanto outros, que dormiam silenciosos querem se fazer ouvir. Assim, passam a interessar aos historiadores artefatos que, durante muito tempo, guardaram valor apenas como objetos memorialísticos. Estiveram, assim, negligenciados por um modo de entender a História que privilegiava as grandes estruturas e as metanarrativas. Atualmente, objetos "estrangeiros" constituem "[...] os novos territórios do historiador por meio da anexação dos territórios dos outros [...]". (Chartier, 2002CHARTIER, Roger. A beira da falésia: a história entre certezas e inquietude. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 2002., p. 62).

Perseguindo a metáfora do desejo de se fazer ouvir, faz-se aqui um convite para buscar conhecer o que esses sujeitos escolheram para escrever em um periódico estudantil. Segundo Cunha (2009CUNHA, M. T. S. Diários pessoais: territórios abertos para a História. In: PINSKY, C. B.; LUCA, T. R. O historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2009. p. 251-280., p. 251), "[...] escrever se constitui em uma forma de produção de memória e, por conseguinte, em instrumento de construção do passado", portanto, esse periódico estudantil carrega vestígios de um tempo não tão distante (Pesavento, 2008PESAVENTO, Sandra Jatahy. Fronteiras da História: uma leitura sensível do tempo. In: SCHULER, Fernando; GUNTER, Axt; SILVA, Juremir Machado da. (Orgs.). Fronteiras do Pensamento: retratos de um mundo complexo. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2008. p. 178-189. ), evidenciando traços da cultura juvenil dos anos 1980, representadas nas páginas do impresso. O que nos move na pesquisa é indagar esse passado de poucas décadas atrás para tentar chegar perto das sensibilidades que se deixam revelar a cada escrito, como "marcas visíveis objetivadas de um outro tempo". (Pesavento, 2008PESAVENTO, Sandra Jatahy. Fronteiras da História: uma leitura sensível do tempo. In: SCHULER, Fernando; GUNTER, Axt; SILVA, Juremir Machado da. (Orgs.). Fronteiras do Pensamento: retratos de um mundo complexo. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2008. p. 178-189. , p. 186). Como bem diz Arlette Farge (2009FARGE, Arlette. O Sabor do Arquivo. São Paulo: EDUSP, 2009., p. 15), "[...] o arquivo age como um desnudamento; encolhidos em algumas linhas, aparecem não apenas o inacessível como também o vivo [...], a descoberta do arquivo é um maná que se oferece".

Zita de Paula Rosa (2002ROSA, Zita de Paula. O Tico-Tico: meio século de ação recreativa e pedagógica. Bragança Paulista: EFUSF, 2002.), em sua pesquisa sobre o Tico-Tico, uma revista destinada às crianças, que circulou no Brasil por cinquenta anos, assim define sua riqueza e complexidade: "Suas histórias, ilustrações e editoriais falam da casa, da rua, da cidade, do quintal, da família, da escola, da fábrica, da comunidade, da pátria, entre outros temas e fornecem um instigante quadro de visões de mundo [...]". (Rosa, 2002ROSA, Zita de Paula. O Tico-Tico: meio século de ação recreativa e pedagógica. Bragança Paulista: EFUSF, 2002., p. 7). Desse modo, podemos vislumbrar o potencial historiográfico dos periódicos, pois, a partir de uma singularidade, permitem tecer conexões com as referências sociais e culturais que permeiam o objeto de estudo. Nas palavras de Chartier (2002CHARTIER, Roger. A beira da falésia: a história entre certezas e inquietude. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 2002., p. 84), a perspectiva da micro-história "[...] pretende reconstruir, a partir de uma situação particular, a maneira como os indivíduos produzem o mundo social, por meio de suas alianças e confrontos, através das dependências que os ligam ou dos conflitos que os opõem".

Nesse contexto de reconhecimento das escritas de pessoas comuns, especialmente aqui escritas de estudantes, nota-se que, desde a publicação do dossiê "Escritas Estudantis em periódicos escolares" (Bastos, 2013BASTOS, Maria Helena Camara. Apresentação do Dossiê Escritas estudantis em periódicos escolares. Revista História da Educação, v. 17, n. 40, maio/ago. 2013. ), tem havido uma maior valorização desses documentos, constatando-se uma tendência de incremento na produção de novos estudos nos domínios da historiografia da educação.

Entretanto, há uma questão crucial a enfrentar: como encontrar antigos periódicos estudantis? Materiais, via de regra da ordem do comum, muitos têm o descarte como destino e raros são aqueles salvaguardados como relíquias, como objetos memorialísticos. Por caminhos atravessados pelas redes de afeto, alguns exemplares do periódico estudantil "JB - O jornal do Becker", aqui tematizados, foram preservados nos arquivos pessoais de uma de suas escreventes, Carla Beatriz Meiners4 4 Doutora em Educação, Professora de Ensino de História da Faculdade de Educação/UFRGS. , que atuava como colaboradora em algumas edições. Carla guardou consigo dez exemplares, entre os números 1 a 12, produzidos entre os anos de 1985 e 1986. Generosamente, nos cedeu para que aqui adquirissem um novo lugar e constituíssem um objeto de estudo.

O lócus de produção do periódico, o Colégio Estadual "Dom João Becker", foi criado pelo Decreto-Lei nº 2143, de 1946, sob a denominação de "Departamento Noturno do Colégio Estadual Júlio de Castilhos". Mas, em virtude do Decreto-Lei nº 1382, de 12 de março de 1947, passou a chamar-se "Ginásio Estadual Noturno Dom João Becker"5 5 As atividades escolares tiveram início em março de 1947 no prédio do "Grupo Escolar Sousa Lobo". Em 1960, foi separado do Colégio Estadual Júlio de Castilhos (o Julinho) e tornou-se uma escola de segundo grau de ensino nos três turnos. . A denominação do estabelecimento foi uma homenagem prestada ao Arcebispo Metropolitano de Porto Alegre, Dom João Becker6 6 Dom João Becker nasceu em 1870, em Wintersbach, município de St. Wendel, na Alemanha. A família veio para o Brasil quando ele era ainda pequeno, instalando-se no Rio Grande do Sul, em São Vendelino. Aprendeu português e o latim com seu pai, pois ele era professor do ensino primário. Posteriormente, seguiu os estudos no Colégio Conceição, com os padres jesuítas, em São Leopoldo. Fez sua formação sacerdotal no Seminário Diocesano de Porto Alegre. Em 1896, foi ordenado sacerdote e nomeado vigário da paróquia do Menino Deus, também em Porto Alegre. Em 1906, foi designado cônego honorário da catedral de Porto Alegre. Em 1908, é nomeado bispo de Florianópolis. De 1912 a 1946 foi arcebispo na Arquidiocese de Porto Alegre. Teve atuação significativa em prol de "[...] universalizar a ação do clero e laicato rio-grandense, enquadrando-se à autoridade da Igreja e em caminhar ao lado do poder constituído, segundo as normas neo-cristandade". (Isaia, 1992, p. 74). . Trata-se de uma instituição que tem suas condições de emergência para atender uma demanda de alunos jovens e adultos que provavelmente precisavam trabalhar durante o dia e só poderiam ir à escola à noite.

É assim que a escola se constitui, oferecendo aulas diurnas e noturnas à população residente na zona norte de Porto Alegre, especificamente do bairro Passo D'Areia, lugar de moradia de trabalhadores industriários, região caracterizada pela expansão fabril. Importa destacar que a data de fundação do Colégio coincide com a construção do "Conjunto Residencial Passo D'Areia" ou "Vila do IAPI"7 7 Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (IAPI), que financiou projetos de habitação popular em grandes cidades do Brasil. , um projeto inovador na cidade, construído com o objetivo de atender à necessidade por habitação da classe operária. É bem provável que muitos alunos do D. João Becker fossem moradores desse conjunto habitacional.

A pesquisa analisa alguns exemplares do periódico estudantil cuja particularidade é ser uma iniciativa de um grupo de alunos da turma 203 do turno da manhã (segundo ano do segundo grau de ensino), em 1985, que, posteriormente, teve a adesão de outros colegas do Colégio. No editorial número 2 (30 set. 1985), podemos perceber sinais da aceitação e importância que teve a iniciativa da produção do jornal, que veio "preencher um vazio muito grande na comunicação entre os alunos". Outro indicativo é que circulava mais no turno da manhã, mas "também estava passando de mão em mão no turno da tarde". (Editorial n. 4, 28 out. 1985). Cabe ainda assinalar que o periódico foi divulgado pela Televisão Educativa do Estado - TVE Piratini, no Programa "Prá começo de conversa". Entende-se que essa publicação decorreu do comentário do aluno André Luis de Assis, publicado no "JB", em que chamou a atenção dos leitores afirmando que tal Programa: "[...] é o ponto alternativo da televisão no fim de tarde. É prá quem rejeita os alienantes ti-ti-ti globais. É prá quem curte uma programação de alto nível: informativa e cultural, sem tender para fórmulas massificantes". (n. 6, 27 nov. 1985).

Esses indícios denotam que o periódico, iniciativa de um grupo de alunos de uma determinada turma, construiu uma significativa rede de leitores. Avançou os limites da sala de aula, circulou entre outras turmas e outros turnos, extrapolou o espaço escolar, tendo sido objeto de divulgação em programa de televisão direcionado aos jovens

JB - O Jornal do Becker

[...] produzido de forma artesanal e amadorística, movido pela pura emoção, pelo puro prazer de ajudar na comunicação e integração dos beckerianos. [...] Uma trajetória fiel a uma linha de pensamento fixada na primeira edição. [...] Nós editores, colaboradores e eleitores estamos marcando a nossa trajetória pelo Becker. Estamos mais do que isso, estamos escrevendo a história do Becker. Estamos enfim traçando a nossa vida. (Editorial n. 7, 11 dez. 1985).

A epígrafe acima, referente ao editorial "1985 - O ANO EM QUE FIZEMOS CONTATO", faz uma retrospectiva do primeiro ano do impresso e o caracteriza. Assinala que foi "uma trajetória percorrida com muita seriedade e muita dedicação", em que os rapazes e moças envolvidos se constituíram como escreventes do jornal, "furando barreiras, superando problemas econômicos, solucionando dificuldades técnicas".

O editorial destaca a iniciativa de 11 alunos da turma 203, do turno da manhã, que, depois de sete edições, já contava com a participação e contribuição de mais de 40 alunos de diferentes turmas do segundo grau de ensino.

As palavras da vice-diretora do turno da manhã parabenizam a iniciativa dos alunos, o que evidencia um apoio institucional, em um momento de abertura política:

O QUE A VICE DO TURNO DA MANHÃ PENSA DO JB - Espero que o JB seja um veículo para transmitir bom humor, que através deste possam surgir novos talentos. O JB será muito útil para dinamizar ideias que possibilitem maior unificação e entrosamento na escola. (n. 1, 16 set. 1985, p. 2).

Como assinalaram, é uma produção "artesanal e amadorística", impressa em matriz à tinta, em preto e branco. Intercala textos datilografados e escritos à mão. O tamanho é de uma folha A4 dobrada ao meio, na horizontal (20 cm x 15 cm), com as folhas grampeadas, em formato "revistinha".

Segundo depoimento de uma de suas escreventes, o periódico era distribuído gratuitamente. Elaborado fora da escola, seus exemplares eram reproduzidos em uma máquina xerox, pois um dos alunos envolvidos era office boyem uma empresa e os tirava sem custo8 8 Informações prestadas por Carla Meiners, em entrevista em 11 de fevereiro de 2015. .

O espaço gráfico é ocupado com textos (em espaço um e/ou duplo) e com figuras geométricas, para destacar o que está escrito em seu interior (quadrados, retângulos, trapézios). Também há um número significativo de ilustrações produzidas pelos próprios alunos, a maioria de charges9 9 Giane Lange do Amaral (2002, p. 123) assinala que muitos jornais estudantis foram eliminados dos arquivos dos estabelecimentos por sua "[...] irreverência e crítica através, principalmente, de representações satíricas e caricaturizadas da sociedade, da escola de professores e de alunos". .

Dos dez exemplares do corpus documental, temos os numerados do um ao nove, e um isolado, número doze. A maioria tem doze páginas não numeradas, com exceção do número sete (11 de dezembro de 1985), intitulado "Retrospectiva", que tem 28 páginas.

Os números sempre trazem a data da publicação - dia, mês, ano -, o que configura uma intenção de publicação quinzenal.

Tabela 1:
Número dos exemplares e data de publicação

Em 1986, os alunos-editores já estão no terceiro ano do segundo grau de ensino e enfrentam a perspectiva de conclusão do curso e do exame vestibular para ingresso na universidade, o que provavelmente comprometia a dedicação a essa atividade. Podemos observar isso no Editorial número 8 (abril de 1986):

BECKERIANOS! Voltamos. Enfrentamos desafios que pela vida nos são impostos. Conversando, criticando, noticiando... estamos de volta. Iniciamos 86 retomando nossas atividades jornalísticas, agora na terceira série, o que reduz o nosso tempo para o JB pois é ano de vestibular visando a porta de entrada para a realização na vida - a Faculdade. Portanto, abrimos espaço em nosso grupo editorial para as primeiras e segundas séries pensando na continuidade do JB não só neste como nos próximos anos. Contamos com a sua colaboração.

Quanto à apresentação gráfica, o "JB" traz sempre o logotipo do periódico, na parte superior da página (à esquerda).

Figura 1
Capa Do Periódico "JB - O Jornal do Becker", n. 1, 16 SET. 1985

As manchetes trazem os títulos dos principais temas abordados, em letras garrafais e em negrito, conforme a importância do acontecimento focado. Por exemplo, o tema "Eleições do Diretor" da escola esteve presente em quatro edições (3, 5, 6, 8), o que denota um viés político do periódico. Outro elemento presente na capa é um pequeno sumário ou índice que destaca algumas seções.

O grupo de colegas que participa da confecção do periódico é identificado com o título "Expediente", detalhado no primeiro número, mas nos demais exemplares é bastante simplificado e em alguns nada consta.

Há seções que recorrentemente comparecem no "JB": editorial, humor, "ti-ti-ti", música, esporte, entrevista, publicação de contos, crônicas, poesias, cultura, cinema. Ocasionalmente, anúncios classificados, achados e perdidos, horóscopo.

Curioso o personagem "JB Palank", uma espécie de ícone representativo daqueles jovens estudantes da escola. Sua figura aparece nas quatro primeiras edições, nas capas e/ou nas páginas de humor. É a imagem de um rapaz, com cabelos que lembram o estilo "punk", sempre de óculos escuros, vestindo camiseta esportiva e calção, como se estivesse sempre em férias, na praia. Os desenhos, em estilo de charges, são seguidos de explicações, como "As aventuras de JB Palank, o calhorda", "JB Palank na praia". Percebe-se uma alusão à canção "Surfista Calhorda" (1986), do grupo gaúcho Replicantes10 10 Campos (2011) retoma o percurso do rock no Rio Grande do Sul desde os anos 1950. Percebe o distanciamento geográfico do Estado dos grandes centros do país como um dos fatores responsáveis pelas dificuldades do desenvolvimento artístico local. Faz referência a compositores rio-grandenses dos anos 1970 como Hermes Aquino, Kleiton e Kledir, dupla que fazia parte do grupo Almôndegas. Com relação aos anos 1980, destaca a importância da Rádio FM Ipanema como espaço de divulgação do rock local em Porto Alegre, ajudando a formar um mercado musical que foi crescendo também com o surgimento de estúdios de gravações. Sobre o grupo "Os Replicantes", Campos afirma que: "No boom do rock gaúcho nos anos 1980, o grupo 'Os Replicantes' tinha um destaque como banda Punk Rock no cenário nacional [...]. Seus integrantes contribuíram muito para o crescimento e destaque do cenário musical gaúcho criando em uma casa na Avenida Protásio Alves, em Porto Alegre, uma espécie de 'quartel general Replicante', onde funcionava um estúdio de ensaio e gravação, bar, loja de discos e fitas de bandas locais." (CAMPOS, 2011, p. 27). , que fez sucesso nos anos 1980 e aderia ao movimento "punk rock".

Figura 2
Imagem do personagem "JB Palank", n. 3, out. 1985

Como instrumentos de comunicação, as charges extrapolam meras ilustrações, se constituem, isto sim, em dispositivos discursivos, moldam um imaginário coletivo, procuram construir um sentido objetivo e persuasivo, sintetizando imagens e conteúdos simbólicos por meio do conteúdo veiculado. (Weizenmann, 2012WEIZENMANN, Tiago. O texto iconográfico: a revista Vida Policial e o imaginário nazista. In: FERNANDES, Rosane Marcia Neumann; WEBER, Roswithia (Orgs.). Imigração: diálogos e novas abordagens. São Leopoldo: Oikos, 2012. p. 231-221. ).

Naquele contexto, entende-se que a publicação de charges em um periódico estudantil expressa uma marca geracional, assim, a caricatura do personagem "Palank" representa uma espécie de modelo juvenil, distinto do padrão aluno, ele é surfista, adota um estilo punk em seus cabelos. Paralelamente ao texto escrito, as charges possuem um componente que procura seduzir a quem lê, permitem uma apreensão rápida, "[...] pois são percebidas como totalidades, enfocando as marcas da visualidade em um dado produto cultural" (Weizenmann, 2012WEIZENMANN, Tiago. O texto iconográfico: a revista Vida Policial e o imaginário nazista. In: FERNANDES, Rosane Marcia Neumann; WEBER, Roswithia (Orgs.). Imigração: diálogos e novas abordagens. São Leopoldo: Oikos, 2012. p. 231-221. , p. 218). Além disso, há o toque de humor, comumente presente que procura persuadir o leitor que se assujeita a determinados discursos, construindo novos significados para o que lê. Em suas sátiras e críticas, as charges e caricaturas invadem outras seções do "JB", especialmente se revelam nas temáticas que envolvem questões políticas.

Esse personagem parece representar cenicamente algumas referências juvenis dos anos 1980, que, para alguns, podem estar próximos, para muitos, foram tempos não vividos, portanto, distantes do mundo contemporâneo. Noll (1989NOLL, João Gilberto. Anos 1980. In: GONZALES, Sergio et al. Sombras e Luzes: um olhar sobre o século. Porto Alegre: Prol Ed. Gráfica Ltda., 1989. p. 77-83. ) procura definir aquela temporalidade, explicando:

Os cabelos são cortados rentes. As roupas são sombrias, quase solenes, com gravatas largas, camisas largas, paletós largos, calças largas. Os yuppies invadiram a década de 80 falando em cartões de crédito, carro do ano e dinheiro no banco [...]. A geração-saúde brinca nas praias, galga as ondas sobre pranchas de surf, escuta rock nas lanchonetes [...]. E os punks, nas periferias, erguem a bandeira do inconformismo e da insatisfação, mas é um inconformismo escuro, uma insatisfação sem esperança [...]. (Noll, 1989NOLL, João Gilberto. Anos 1980. In: GONZALES, Sergio et al. Sombras e Luzes: um olhar sobre o século. Porto Alegre: Prol Ed. Gráfica Ltda., 1989. p. 77-83. , p. 58).

Vivia-se uma conjuntura no país que contrastava com a década anterior. Um outro Brasil no caminho ainda frágil rumo à democracia. Os anos 1980, que gestaram o início do século XXI, trazem novos padrões de comportamento que afetavam, em especial, aos jovens, leitores e escreventes do "JB".

Prosseguindo a apresentação das temáticas abordadas no periódico, tem-se a seção "Ti-ti-ti" que comparece em todos os exemplares analisados, menos na edição de número 8 (abr. 1986), ocupando uma ou duas páginas inteiras. No número 1, publica-se sua intenção: "Se você tem fofocas e não sabe para quem contar, conte para nós. Festinhas, recados, aniversários também serão divulgados nesse espaço". Interessante que são pequenos textos de caráter afetivo, mas que às vezes assumem um tom mais erotizado, próprio da cultura juvenil. De modo geral, há poucas evidências desrespeitosas em relação a comentários de colegas. Algumas referências da época, como o grupo musical "Menudo", são frequentes, e o tema "namoros" é, em disparada, o que mais comparece nos recados publicados na seção.

O Ricardo está namorando firme, vai aos fins de semana almoçar com a sogra. (n. 1, 16 set. 1985).

O Renato da 205 é o meu tesão, o meu gato, o meu macho man. Cristina da tarde. (n. 7, 11 dez. 1985).

Quem é o moreno mais gostoso do colégio? Eu mesmo respondo, É o Breno. obs. que coxas tu tem, hein?. (n. 12, jul. 1986).

Em um desses recados, critica-se a evasão dos professores, questão que extrapola outras páginas e é satirizada no "Ti-ti-ti".

Epidemia no Becker. E é na sala dos professores. A peste que recebeu o nome de "Licencite Aguda", afeta as gargantas dos professores beckerianos. Cada semana é um saindo de licença. (n. 9, maio 1986).

Na primeira edição, os escreventes manifestam a intenção de ter um espaço para os alunos opinarem, oferecerem sugestões e "pedir ajuda". Esse espaço acabou não se mantendo, mas é interessante o que escrevem neste primeiro número, em letras manuscritas: "Pedimos aos professores que retribuam o apoio que nós alunos damos e não marquem provas e trabalhos no mesmo dia, assim evitaremos maiores transtornos".

A música é uma seção frequente em todo o período, ocupando lugar significativo do "JB", de uma ou duas páginas, com a chamada "A conferir ou para ver e ouvir". São notícias de shows, anúncios de lançamento de long play(LP), comentários de espetáculos, reprodução de letras de músicas - internacionais (U-2, Scorpions); nacionais (Ultraje a Rigor, Paralamas do Sucesso) e do rock gaúcho (Engenheiros do Havaí, Replicantes, Raiz da Pedra).

Dicas. Pra quem curte o novo rock brasileiro está chegando o Atlântida Rock Sul Concert, reunindo as maiores bandas nacionais do momento [...]. Para quem vai, um lembrete: não deixe para comprar os ingressos em última hora... (n. 2, 30 set. 1985).

Quanto aos comentários sobre shows e músicas da época, constata-se uma crítica ao rock brasileiro contrastando com a valorização do movimento musical gaúcho. Sobre o lançamento de novas bandas brasileiras e estrangeiras, Fernando Schondelmeyer argumenta:

Pena que a maioria se preocupa mais com o visual, roupas e posição no palco do que com a música [...]. Felizmente, aqui em Porto Alegre existem bandas mais velhas que ainda "salvam a pátria" [...]. Música não é brincadeira, nem tampouco moda passageira. É coisa séria e é eterna. (n. 7, 11 dez. 1985).

A seção Cultura traz poemas, poesias, pequenos contos, comentários sobre filmes, notícias sobre o Clube de Cultura da escola, do Coral e do Orfeão11 11 Segundo Carla Meiners, escrevente do impresso, o Coral, o Orfeão e o Grupo de Teatro eram atividades extraclasse oferecidas pela escola, de caráter optativo. Carla participava do Orfeão e narra que costumavam fazer apresentações em diferentes lugares da cidade. , do grupo de teatro. Destaca-se a posição política de Espartaco Dutra, intitulada "A cidade perde mais um espaço", sobre o fechamento de uma importante sala de cinema de Porto Alegre. O estudante chama a atenção dos leitores denunciando que "[...] diante da nossa passividade muitos espaços culturais já deixaram de existir e cabe a nós mesmos preservar a nossa cultura". (n. 8, abr. 1986).

Outra seção significativa é a de Esportes - futebol, automobilismo, voleibol, futebol de salão, basquete, surf, atividades realizadas na escola ou fora dela, que noticia os campeonatos de futebol de campo realizados na escola, entre turmas. Mas também critica a obrigatoriedade da frequência às aulas de Educação Física, especialmente no terceiro ano do segundo grau. Até então, afirmam que a escola não seguia à risca a lei federal, permitindo aos que trabalhavam ou faziam cursinho pré-vestibular serem dispensados. Em 1986, a situação se altera e os alunos escreventes questionam a posição da escola:

É por essas e outras que a cada dia que passa há menos jovens fazendo a Faculdade por falta de condições físicas e psicológicas de assistir aula normal, das 7h30 às 12h, depois o cursinho das 14h às 17h30 e, ainda, ter de praticar Educação Física das 18h às 19h. (Esporte, n. 8, abr. 1986, p. 11).

Com um perfil fortemente politizado, o "JB" marca todas as suas seções e, especialmente, os editoriais, que a seguir privilegiaremos como foco de análise.

Um jornal politizado

O editorial é uma presença constante no "JB", ocupa um espaço considerável das páginas do periódico, às vezes, integralmente. A maioria deles tem a identificação dos alunos escreventes: Alexandre Xavier (n. 3, 4, 5, 8, 12) e André Luiz de Assis (n. 6 e 7).

Pela leitura do primeiro editorial, infere-se que a produção é uma construção do grupo de editores, que explicitam a "linha de pensamento e ação" que pretendiam configurar no impresso:

[...] jornal totalmente liberal; sempre apoiando o aluno; não é subversivo; é a favor de todas as tendências culturais, esportivas e musicais; é totalmente a favor do tradicionalismo gaúcho, incentiva chimarrão bombacha na escola; tem como objetivo denunciar e ajudar a encontrar soluções para tudo que se encontra errado na escola; [...] estamos a fim de divulgar sua opinião, crítica, sugestão e realização artística. Fale conosco. (n. 1, 1985, p. 3).

Para entender a posição dos alunos editores, é importante contextualizar o Brasil dos anos 1980. O país vivia o processo de redemocratização política, depois de uma ditadura civil-militar implantada em 1964, que, entre outras ações coercitivas, proibiu qualquer manifestação estudantil, fato que redundou com o fechamento dos grêmios estudantis das escolas e diretórios acadêmicos das universidades, entidades essas que antes do golpe eram muito atuantes12 12 Decreto-Lei nº 477, de 26 de fevereiro de 1967. Define infrações disciplinares praticadas por professores, alunos, funcionários ou empregados de estabelecimentos de ensino público ou particulares, e dá outras providências (revogado pela Lei nº 6.680, de 1979). Medidas repressivas são tomadas: afastamento dos docentes considerados marxistas, a proibição dos órgãos de representação estudantil. (Durhan, 2005, p. 211). .

Em 1984, houve o movimento nacional pelas eleições diretas para Presidente da República, o "Diretas já"13 13 "Diretas Já" foi um movimento civil de reivindicação por eleições presidenciais diretas no Brasil ocorrido em 1983-1984. Segundo Mary del Priore (2010) e Boris Fausto (1995), a campanha pelas "Diretas Já" conseguiu ampla adesão popular, reunindo milhares de pessoas em comícios nas cidades mais populosas do país. Nas palavras de Priore (2010, p. 268), "[...] em 1984, a Emenda Dante de Oliveira - que reestabelece a eleição direta para Presidente - é proposta no Congresso. No entanto, por falta de quórum, não é votada. Embora não tenha atingido seu objetivo principal, a mobilização popular influencia os meios de comunicação de massas, gerando divisões nas elites e fazendo recuar setores radicais do Exército." A transição para o regime democrático acontece com a eleição para Presidente da República de Tancredo Neves, por um Colégio Eleitoral, em 1985. Sem conseguir tomar posse, Tancredo Neves acaba falecendo em 21 de abril do mesmo ano, assumindo o cargo de Presidente da República seu vice, José Sarney. (Fausto, 1995). . Apesar de mobilizar uma parte importante da sociedade brasileira, o movimento não alcançou plenamente seus objetivos. No ano seguinte, ocorreu a eleição indireta para Presidente, que marcou a saída dos militares do governo, sendo eleito Tancredo Neves, que faleceu antes de tomar posse, tendo assumido o seu vice, José Sarney. O primeiro era o representante do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e o vice representava o partido político atrelado à ditadura civil-militar, o Partido Democrático Social (PDS), herdeiro da Aliança Renovadora Nacional (ARENA).

Diante desse contexto, podemos entender as posições desses alunos-editores, pois o processo de redemocratização permitiu a reabertura dos grêmios estudantis, que assumiram forte polarização política, identificando-se com as tendências de esquerda. Ao afirmarem que o periódico "não é subversivo", expressavam o receio de não ir contra a ordem instituída, tanto no âmbito interno como externo da escola. Não podemos esquecer que esses rapazes e moças nasceram no início dos anos 1970, momento de maior recrudescimento da ação militar à oposição ao regime. Estamos falando de jovens que cresceram em um país marcado pela censura e vigilância constante. A afirmação de que o jornal "é totalmente liberal" reforça a direção apontada acima no sentido de não correrem riscos em expor o impresso e suas posições políticas. Não obstante, percebe-se que esses alunos escreventes, afetados pelo clima da redemocratização, ousaram expor suas posições, mantendo um certo cuidado com o uso das palavras, mas não se esquivando de abordarem e se colocarem frente a temas de interesse nacional, bem como diante de questões próprias do cotidiano escolar.

Nesse sentido, decorrente do movimento das "Diretas Já", no editorial do número 3 (16 out. 1985), intitulado DIRETAS CÁ?, o aluno Alexandre Xavier critica o processo de eleição dos diretores de escola. Obedecendo a legislação prevista pela Secretaria de Educação, cada escola deveria indicar uma lista tríplice. No processo eleitoral poderiam votar os professores, alguns pais e funcionários e os alunos representantes de turma. A escolha final do diretor caberia ao Secretário de Educação. O autor pergunta: "[...] a quem o Diretor de uma escola atinge mais? Aos 150 professores ou aos mil e poucos alunos desta Escola". Denunciando a disparidade, pergunta ao leitor: "[...] quando teremos o direito de iniciar nossa participação política na sociedade até pouco tempo tão repreendida?". E conclui, reforçando o pedido aos colegas para que colaborassem com o "JB", em suas palavras, é assim "[...] que faremos do Becker uma escola do aluno, para o aluno e pelo aluno".

A questão das eleições para diretor segue ocupando a pauta de outros editoriais. Os números 5, 6 e 8 também tratam do tema. André Luis de Assis, responsável pelo editorial do número 5 (12 nov. 1985), condena o fato de apenas 24 alunos estarem aptos a votar nas eleições para diretor da escola, mas procura suavizar o texto, admitindo que "[...] essa eleição possa mesmo trazer mudanças para a Escola, desde que os escolhidos tenham interesse e capacidade de trabalhar de forma positiva". Valoriza o periódico, por publicar entrevistas com os candidatos à direção, no sentido que "[...] realmente possam ajudar aos leitores a escolherem conscientes os seus candidatos". Adverte que as declarações dos candidatos nessas entrevistas "[...] servirão como documento para que lhes sejam cobradas a partir do ano que vem". O editorial termina com uma menção ao desejo da população brasileira pela retomada da democracia eleitoral: "Por isso leia, pense, compare e vote consciente. Aqueles que não votarem diretamente, também têm que exprimir sua opinião junto ao seu representante".

Seguindo esse editorial, são publicadas as entrevistas com os seis candidatos à direção. A reportagem inicia com a apresentação aos leitores das questões propostas individualmente. Entre elas, perguntavam os motivos da candidatura, as metas e objetivos, o acesso dos alunos às decisões da direção, possíveis formas de apoio ao Grêmio Estudantil. A pergunta "O diretor terá uma relação direta com o aluno em termos de relacionamento afetivo?" evidencia a preocupação com o diálogo aberto, que parece não ter sido a prática em gestões anteriores.

O número 6 do "JB" (27 nov. 1985) publica em manchete de capa, em letras grandes e em negrito, os nomes "Neide, Pedro, Renato", em um quadrinho ao lado, os editores registram: "[...] um desses três nomes será o novo diretor do Becker. Essa escolha de um modo geral não agradou aos alunos". O tema foi desdobrado no editorial, novamente escrito por Alexandre Xavier, que assinala que, dos três candidatos, que formaram a lista tríplice, nenhum deles foi votado pelos alunos, "[...] isto prova que o voto dos alunos quase que não influiu na escolha desta lista. Mais uma razão para que essa lei seja repensada pelo órgão responsável, que é a SEC".

Por fim, o número 8 (abr. 1986) apresenta na capa em letras garrafais "O novo diretor" e, em seguida, "A reprodução da entrevista com Pedro". No editorial, Alexandre Xavier aponta problemas vividos pelos discentes, como os horários das aulas de Educação Física para os terceiros anos, a proibição da entrada dos alunos pela porta da frente antes das 7h30, a mudança do método de avaliação. E questiona, entre parênteses, "[...] por que não saber a opinião dos alunos quanto a isso?". Por fim, expressa apoio ao novo diretor no exercício de sua função.

Ainda no número 9 (maio 1986), mais problemas são denunciados pelos editores na capa, sobre a questão da evasão de docentes. Condenam o afastamento da sala de aula para ocuparem cargos nas Delegacias de Ensino. Sugerem um levantamento que identifique "aqueles professores supérfluos ao setor" e os coloque "à disposição das escolas que têm essa evasão, como o Becker".

O editorial deste mesmo número concede à Direção o espaço para se posicionar frente às reivindicações dos alunos. O texto expressa um tom conciliador em suas argumentações, apresentando o amparo legal para as decisões tomadas. Pela leitura, depreende-se que o terceiro ano questiona as aulas de Educação Física no turno inverso, ao que a direção argumenta "[...] aos alunos que pretendem matricular-se em cursos pré-vestibulares ou já estejam frequentando, lembramos que a prioridade é a conclusão do segundo grau", entretanto, salienta que os professores da disciplina procuraram "[...] dentro de suas possibilidades atender as necessidades apresentadas". Sobre o método de avaliação, a Direção afirma ser este um "sistema eclético de várias propostas anteriores", destacando a solicitação aos professores para a realização de um amplo debate sobre o tema com a comunidade escolar. Com essa narrativa, a equipe diretiva buscava manter um diálogo com a comunidade escolar, mas mantendo uma atitude firme e legal em suas decisões.

Além das questões internas da escola, o "JB" discutia também temas de interesse nacional e regional. Por exemplo, a Reforma Agrária (n. 12, jul. 1986), especialmente o acampamento de um grupo de sem-terra em frente à Assembleia Legislativa do Estado, em 1986. O assunto é motivo de capa "Reforma Agrária o problema dos 'Sem Terras' na Assembleia e uma CAMPANHA para ajudá-los". No editorial, Alexandre Xavier ocupa um longo parágrafo explicando a situação aos leitores. Divulga o apoio do periódico à iniciativa de uma colega no sentido de arrecadar alimentos para esses colonos acampados "como forma de solidariedade e apoio a tão justa causa". Convoca a "comunidade beckeriana para uma resposta imediata", sublinhada para reforçar a importância do escrito.

Na sequência, o texto intitulado "Reforma Agrária, já!?", remete mais uma vez ao clima da redemocratização vivido na sociedade brasileira. Sem autoria, preocupa-se em defender a necessidade de divisão de terras no Brasil, tendo em vista a "[...] enorme quantidade de terras agrícolas que não são cultivadas: mais de 250 milhões de hectares". Conceitua latifúndio e reforma agrária, critica o governo pela política de desapropriação, efetivada nos anos 1980, e aproxima o problema para a situação enfrentada pelos colonos no Rio Grande do Sul. Em especial, refere-se aos 1.500 acampados na Fazenda Anoni, que "apoiados pela Igreja, pressionaram o governo de todas as formas". E conclui: "[...] é possível que as autoridades não atentem para o fato! Já está na hora de nossos políticos mostrarem por que foram eleitos. Sim, Reforma Agrária, já!".

Sendo este um periódico com viés político acentuado, o tema da Constituinte, convocada em 1986, não poderia estar de fora dos assuntos abordados no "JB", constando nos números 9 e 12 (maio/jul. 1986). No número 9, a seção "Cartilha" objetiva explicar o que era a "Constituinte", situando o leitor acerca da relevância da discussão. Escrito por Espártaco Dutra, filho de Olívio Dutra, membro do Partido dos Trabalhadores (PT) e deputado constituinte naquela ocasião, trazia um pouco do repertório político da família ao refletir sobre essa questão.

O texto está dividido em "Introdução" e "E a Constituinte", em que o autor compara o Brasil a um barco e os trabalhadores a remadores, "sem a força dos remadores, o barco não chega a lugar nenhum". Afirma que "[...] não foram os trabalhadores que criaram isto que aí está: fome, salários baixos, desemprego, carestia, falta de saúde, de educação para todos, violência generalizada, os crimes e os escândalos financeiros". Em "E a Constituinte?", questiona a indiferença da população diante do tema. Explica o significado de uma Constituição para o país e vale-se de frases emblemáticas, conclamando a todos a se envolverem: "Chegou a hora de nos mexermos, garantirmos nossos direitos". Critica a atual Constituição, elaborada pelos governos militares, e levanta questões polêmicas vividas pela sociedade brasileira, como a Reforma Agrária, o direito à educação e à saúde, "[...] o que se vê é que as coisas importantes para eles são bem outras, como se fosse possível construir uma nação forte, justa e soberana com um povo doente e sem instrução".

A escola parece ter oportunizado aos alunos outros momentos formativos a respeito da Constituinte. Na sequência do texto de Espártaco, publica-se o relato da palestra proferida pelo professor de Direito Constitucional e Desembargador de Justiça Rui Rucher, intitulada "Educação e Constituinte":

De início, o professor Rui Rucher deu uma introdução muito boa ao assunto, falando sobre os fundamentos de uma constituição, suas divisões e subdivisões e uma explicação sobre todas as constituições brasileiras, esclarecendo nossas dúvidas, expondo seus erros e seus acertos. Ele ressaltou a Constituição de 1967 falando de todos os seus defeitos, sua formação sob regime militar, a qual disse ser uma Constituição outorgada. Sobre a educação, ele só falou o principal. O que se poderia fazer na Constituição para melhorar o ensino e deu exemplos retirados da Constituição de Portugal que poderiam ser seguidos pela nossa futura Constituição. (n. 9, 1986, p. 5).

No número 12, prossegue a "cartilha", com o título "História e Ação". Valendo-se das ideias do "antes, durante e depois", Espártaco Dutra define tais etapas, explicando a necessidade de mobilização prévia da população e de sua participação, a importância do acompanhamento dos debates: "[...] vamos verificar se nossos representantes estão sabendo levar adiante as posições que nós discutimos antes". E a necessidade de discutir as questões votadas na Assembleia Constituinte, conclamando a luta organizada nos sindicatos, movimentos populares e partidos políticos.

Com os excertos destacados, pode-se perceber que o "JB" denota como característica discursiva um cuidado com o coletivo, em exercício de alteridade. Jovens escreventes que, para além do interesse por esportes, surfs e fofocas, revelam uma sensibilidade ao refletirem sobre outros temas próprios do que se considera mundo adulto. É assim que mostram o que pensam sobre as eleições diretas para Presidente da República, Reforma Agrária, Constituinte. Não abrem mão de discutir questões cruciais enfrentadas pelo país, como as desigualdades sociais, que produziam tantos outros problemas que se tornavam cada vez mais agudos naqueles anos. Para além desse olhar ampliado, aos escreventes também interessava trazer questões vividas no microcosmos escolar, assim, a eleição de diretores, as dificuldades de quem se preparava para deixar a escola e prestar o exame vestibular, a falta de professores na sala de aula, entre outros, são tematizados.

Finalizando

Pela leitura e análise desses exemplares do periódico estudantil "JB - O Jornal do Becker", percebe-se que aqueles jovens estudantes estavam afinados com as referências socioculturais de seu tempo, pois evidenciam uma autonomia na produção, decorrente do processo de abertura política do país.

Importa destacar que elegemos como objeto de estudo um periódico estudantil específico, produzido por um grupo de jovens da geração dos anos 1980, sujeitos marcados por determinadas clivagens, estudantes de uma instituição de ensino pública, residentes em uma zona periférica da cidade, provavelmente filhos e filhas daqueles que compunham setores menos abastados no conjunto da sociedade. Por distintas razões, alguns desses sujeitos escreventes tiveram em sua formação o desenvolvimento de um capital cultural, notadamente político que reverberou nas páginas do "JB: O Jornal do Becker". Defendemos que este é um diferencial, uma marca expressa na escrita daqueles rapazes e moças.

A escrita do periódico expressa um domínio dos códigos da Língua Portuguesa, nota-se uma riqueza no vocabulário empregado, bem como uma preocupação com a correção linguística, pois são raros os pequenos desvios. Entretanto, como marca geracional, não deixam de utilizar gírias dos anos 1980.

Ao lado da preocupação política, que é algo forte nos escritos, também comparecem temas cotidianos juvenis e escolares, o que configura uma produção de significados de suas vivências enquanto estudantes e cidadãos em tempos de grandes mudanças na sociedade brasileira. A diversidade e os modos de abordar diferentes temas nas seções expressa criatividade do grupo de editores, que conseguem, com certo protagonismo na confecção do impresso, aliar o cotidiano a temas mais complexos.

Ao encerrar o texto, não há como escapar de dizer o quanto também fomos afetadas pelo impresso como um todo. Sua constituição como produção artesanal, o estilo alegre da escrita e dos desenhos, dotado de um frescor juvenil, são evidências que comovem aquelas que leem o "JB" quase trinta anos depois de serem divulgados.

Os modos como tematizavam cada sessão evidenciam um processo de continuidade nas abordagens, intensificando a proposta lançada na primeira edição em setembro de 1986 por alguns alunos da turma 203 da escola. O que os movia a produzirem sentidos por meio da escrita de um periódico? Uma vontade de expressar publicamente o que pensavam, um anseio por serem lidos por outros, um desejo escondido, inconsciente, de produzirem algo perene, de constituírem um suporte que imortalizasse seus pensamentos em meados dos anos 1980.

Referências

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  • 1
    Os jornais estudantis, que se constituíam das mais variadas formas, inserindo-se no cotidiano de escolas públicas e privadas, foram uma das instituições complementares à escola, estimuladas pelos protagonistas do escolanovismo, desde as primeiras décadas do século XX, destaca-se o jornal escolar elaborado pelos alunos, como atividade de sala de aula ou extraclasse. No entanto, podemos assinalar que, na segunda metade do século XIX, já se encontram vestígios de jornais infantis e escolares no Brasil. No século XX, a primeira experiência com jornal escolar data da década de 1910, no pós-guerra, na Escola Decroly (Bélgica), com o "Courrier de l'école". Mas foi com Celéstin Freinet, que iniciou suas experiências a partir de 1924, que se ampliou a divulgação e utilização do jornal escolar como texto livre, considerado "[...] a expressão natural, a base, da vida infantil em seu meio normal". (Freinet, 1957FREINET, Célestin. Le journal scolaire. Vienne: Rossignol, 1957., p. 5).
  • 2
    Sobre culturas juvenis, ver Feixas (2008) e Pais (2003), que discutem o conceito e suas implicações na contemporaneidade, a partir das décadas de 1950 e 1960. Para os autores, são imprecisas fronteiras das culturas juvenis, elas não são homogêneas, nem estáticas, portanto não devem ser analisadas como um sistema fechado, mas a partir das relações sociais que são estabelecidas.
  • 3
    Jornais, boletins, revistas, magazines - feitos por professores para professores, feitos para alunos por seus pares ou professores, feitos pelo Estado ou outras instituições como sindicatos, partidos políticos, associações de classe, Igrejas - contêm e oferecem muitas perspectivas para a compreensão da história da educação e do ensino. Sua análise possibilita avaliar a política das organizações, as preocupações sociais, os antagonismos e filiações ideológicas, além das práticas educativas e escolares. A imprensa é um corpus documental de vastas dimensões, pois se constitui em um testemunho vivo dos métodos e concepções pedagógicas de uma época e da ideologia moral, política e social de um grupo profissional. É um excelente observatório, uma fotografia da ideologia que preside. Nessa perspectiva, é um guia prático do cotidiano educacional e escolar, permitindo ao pesquisador estudar o pensamento pedagógico de um determinado setor ou de um grupo social a partir da análise do discurso veiculado e da ressonância dos temas debatidos, dentro e fora do universo escolar. (Catani e BastosCATANI, Denice;. BASTOS, Maria Helena Camara Apresentação. In:; CATANI, Denice BASTOS, Maria Helena Camara (Org.). Educação em Revista. A imprensa periódica e a História da Educação. São Paulo: Escrituras, 1997. p. 5-10., 1997).
  • 4
    Doutora em Educação, Professora de Ensino de História da Faculdade de Educação/UFRGS.
  • 5
    As atividades escolares tiveram início em março de 1947 no prédio do "Grupo Escolar Sousa Lobo". Em 1960, foi separado do Colégio Estadual Júlio de Castilhos (o Julinho) e tornou-se uma escola de segundo grau de ensino nos três turnos.
  • 6
    Dom João Becker nasceu em 1870, em Wintersbach, município de St. Wendel, na Alemanha. A família veio para o Brasil quando ele era ainda pequeno, instalando-se no Rio Grande do Sul, em São Vendelino. Aprendeu português e o latim com seu pai, pois ele era professor do ensino primário. Posteriormente, seguiu os estudos no Colégio Conceição, com os padres jesuítas, em São Leopoldo. Fez sua formação sacerdotal no Seminário Diocesano de Porto Alegre. Em 1896, foi ordenado sacerdote e nomeado vigário da paróquia do Menino Deus, também em Porto Alegre. Em 1906, foi designado cônego honorário da catedral de Porto Alegre. Em 1908, é nomeado bispo de Florianópolis. De 1912 a 1946 foi arcebispo na Arquidiocese de Porto Alegre. Teve atuação significativa em prol de "[...] universalizar a ação do clero e laicato rio-grandense, enquadrando-se à autoridade da Igreja e em caminhar ao lado do poder constituído, segundo as normas neo-cristandade". (Isaia, 1992ISAIA, Cesar Artur. O Cajado da Ordem - Catolicismo e Projeto Político no Rio Grande do sul: D. João Becker e o Autoritarismo. Tese (Doutorado) - Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1992., p. 74).
  • 7
    Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (IAPI), que financiou projetos de habitação popular em grandes cidades do Brasil.
  • 8
    Informações prestadas por Carla Meiners, em entrevista em 11 de fevereiro de 2015.
  • 9
    Giane Lange do Amaral (2002, p. 123) assinala que muitos jornais estudantis foram eliminados dos arquivos dos estabelecimentos por sua "[...] irreverência e crítica através, principalmente, de representações satíricas e caricaturizadas da sociedade, da escola de professores e de alunos".
  • 10
    Campos (2011) retoma o percurso do rock no Rio Grande do Sul desde os anos 1950. Percebe o distanciamento geográfico do Estado dos grandes centros do país como um dos fatores responsáveis pelas dificuldades do desenvolvimento artístico local. Faz referência a compositores rio-grandenses dos anos 1970 como Hermes Aquino, Kleiton e Kledir, dupla que fazia parte do grupo Almôndegas. Com relação aos anos 1980, destaca a importância da Rádio FM Ipanema como espaço de divulgação do rock local em Porto Alegre, ajudando a formar um mercado musical que foi crescendo também com o surgimento de estúdios de gravações. Sobre o grupo "Os Replicantes", Campos afirma que: "No boom do rock gaúcho nos anos 1980, o grupo 'Os Replicantes' tinha um destaque como banda Punk Rock no cenário nacional [...]. Seus integrantes contribuíram muito para o crescimento e destaque do cenário musical gaúcho criando em uma casa na Avenida Protásio Alves, em Porto Alegre, uma espécie de 'quartel general Replicante', onde funcionava um estúdio de ensaio e gravação, bar, loja de discos e fitas de bandas locais." (CAMPOS, 2011, p. 27).
  • 11
    Segundo Carla Meiners, escrevente do impresso, o Coral, o Orfeão e o Grupo de Teatro eram atividades extraclasse oferecidas pela escola, de caráter optativo. Carla participava do Orfeão e narra que costumavam fazer apresentações em diferentes lugares da cidade.
  • 12
    Decreto-Lei nº 477, de 26 de fevereiro de 1967. Define infrações disciplinares praticadas por professores, alunos, funcionários ou empregados de estabelecimentos de ensino público ou particulares, e dá outras providências (revogado pela Lei nº 6.680, de 1979). Medidas repressivas são tomadas: afastamento dos docentes considerados marxistas, a proibição dos órgãos de representação estudantil. (Durhan, 2005DURHAN, Eunice. Educação Superior, pública e privada (1808-2000). In: BROCK, Colin; SCHWARTZMAN, Simon (Org.). Os desafios da educação no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005. p. 197-240. , p. 211).
  • 13
    "Diretas Já" foi um movimento civil de reivindicação por eleições presidenciais diretas no Brasil ocorrido em 1983-1984. Segundo Mary del Priore (2010) e Boris Fausto (1995), a campanha pelas "Diretas Já" conseguiu ampla adesão popular, reunindo milhares de pessoas em comícios nas cidades mais populosas do país. Nas palavras de Priore (2010PRIORE, Mary del. Uma breve História do Brasil. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2010. , p. 268), "[...] em 1984, a Emenda Dante de Oliveira - que reestabelece a eleição direta para Presidente - é proposta no Congresso. No entanto, por falta de quórum, não é votada. Embora não tenha atingido seu objetivo principal, a mobilização popular influencia os meios de comunicação de massas, gerando divisões nas elites e fazendo recuar setores radicais do Exército." A transição para o regime democrático acontece com a eleição para Presidente da República de Tancredo Neves, por um Colégio Eleitoral, em 1985. Sem conseguir tomar posse, Tancredo Neves acaba falecendo em 21 de abril do mesmo ano, assumindo o cargo de Presidente da República seu vice, José Sarney. (Fausto, 1995FAUSTO, Boris. História do Brasil., São Paulo: EDUSP 1995.).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Set 2015

Histórico

  • Recebido
    26 Mar 2015
  • Aceito
    25 Ago 2015
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