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“A Bandeira e a Cruz”: caminhos da trajetória intelectual da educadora Maria Junqueira Schmidt * * Este texto é parte de uma pesquisa realizada no âmbito do Projeto Igreja católica e circulação de saberes pedagógicos: intelectuais, impressos e práticas educativas (1916-1970), aprovado pelo Edital Ciências Humanas e Sociais/CNPq 2014, Processo nº 471050/2014-8.

“The Flag and The Cross”: educator Maria Junqueira Schmidt’s paths of intellectual trajectory

RESUMO

Este artigo aborda a trajetória da intelectual e educadora católica Maria Junqueira Schmidt a partir do diálogo com Sirinelli e Bourdieu. O texto coloca em relevo não apenas as disputas e as tensões, mas também as alianças e as mediações em torno de projetos educacionais que vigoraram na sociedade brasileira entre os anos de 1920 e 1980. Isso nos instiga a pensar na presença feminina no campo educacional além das salas de aula do ensino primário. No caso da personagem estudada, sua trajetória nos deixa pistas de que sua construção como intelectual se deu por vários caminhos. Tendo transitado fluidamente entre a intelectualidade católica e laica, Maria Junqueira representou os interesses da Igreja em postos que ocupou junto ao Estado. Ao mesmo tempo esses espaços lhes serviram como dispositivos de empoderamento que referendavam cada vez mais sua atuação profissional como mulher e como representante de uma elite intelectual católica.

Palavras-chave:
Catolicismo; Estado; Mulheres intelectuais.

ABSTRACT

This article discusses the trajectory of Catholic intellectual and educator Maria Junqueira Schmidt, from the ideas by Sirinelli and Bourdieu. The text highlights not only the disputes and tensions, but also the alliances and mediations around educational projects that have been in course in Brazilian society between the years of 1920 and 1980, and instigate us to think about the feminine presence in the educational field beyond the classrooms. In the case of this particular character, her trajectory gives us clues that her construction as an intellectual came about several ways. Having moved fluidly between Catholic and secular intellectuality, Maria Junqueira represented the interests of the Church in positions she occupied in the State. At the same time, these spaces served as empowerment devices that increasingly supported her professional work as a woman and as a representative of a Catholic intellectual elite.

Keywords:
Catholicism; State; Intellectual women.

Introdução

Este texto tem como questão central a presença feminina no campo educacional brasileiro, a partir da trajetória da intelectual e educadora católica Maria Junqueira Schmidt, presença marcante em diferentes espaços relacionados à educação. Um olhar atento para a participação feminina nesse cenário político, não apenas na condição privilegiada de professora do magistério primário, mas também como intelectual engajada na problematização do papel do Estado no campo educacional, tem como objetivo iluminar e ampliar a compreensão acerca dos atores envolvidos e das estratégias utilizadas na composição de um quadro de políticas educacionais, intervindo diretamente por meio de proposições ou críticas em relação a essas políticas, configurando um forte engajamento na cena pública.

Contar essa história a partir da trajetória de uma mulher nesse cenário requer a lembrança de que

o método biográfico constitui-se como um campo ideal para verificação das brechas utilizadas pelos subalternos, entre eles, as mulheres, os quais mesmo se valendo de subterfúgios, compõem a rede de uma antidisciplina. Desta forma, buscam aproveitar as ocasiões, as possibilidades oferecidas para garantir o exercício de sua cidadania, inclusive em termos de gênero, no grau mais ampliado possível. (SOHIET, 2003SOHIET, R. Mulheres e Biografia. Significados para a História. Locus, Revista de História, v. 9, n. 1, p. 33-48, 2003., p. 43).

Apoiada em Certeau (2008CERTEAU, M. de. A invenção do cotidiano: artes de fazer. Petrópolis: Ed. Vozes, 2008. ), Sohiet reconhece as ambiguidades das biografias, especialmente as femininas, mas chama a atenção para o potencial que elas possuem para trazer à luz as táticas utilizadas que se inscrevem nas relações de força constituídas; também são reveladoras dos caminhos utilizados pelas mulheres na construção e no exercício de sua cidadania e dos muitos modos pelos quais estabeleceram relações com a cultura e o poder.

Tomamos as reflexões de Sirinelli para pensar no lugar que Maria Junqueira Schmidt ocupou como intelectual, “como ator do político”, a partir da produção e mediação cultural que exerceu, mas também de seu engajamento e das redes de sociabilidade que garantiram seu trânsito nesse campo. Para este autor,

Duas acepções do intelectual, uma ampla e sociocultural, englobando os criadores e os mediadores culturais, a outra mais estreita, baseada na noção de engajamento. No primeiro caso, estão abrangidos tanto o jornalista como o escritor, o professor secundário como o erudito. Nos degraus que levam a esse primeiro conjunto postam-se uma parte dos estudantes, criadores ou mediadores em potencial, e ainda outras categorias de receptores da cultura [...] A abordagem extensiva do feudo intelectual, de qualquer modo, constitui apenas uma faceta do estudo dos intelectuais. Estes últimos também podem ser reunidos em torno de uma segunda definição, mais estreita e baseada na noção de engajamento na vida da cidade como ator - mas segundo modalidades específicas, como por exemplo a assinatura de manifestos -, testemunha ou consciência. Uma tal acepção não é, no fundo, autônoma da anterior, já que são dois elementos de natureza sociocultural, sua notoriedade eventual ou sua ‘especialização’, reconhecida pela sociedade em que ele vive - especialização esta que legitima e mesmo privilegia sua intervenção no debate da cidade -, que o intelectual põe a serviço da causa que defende (SIRINELLI, 1996SIRINELLI, J. F. Os intelectuais. In: REMOND, R. (Org.) Por uma História política. Rio de Janeiro: UFRJ/Fundação Getúlio Vargas, 1996. p. 231-269., p. 242-243).

Também partimos do conceito de trajetória de Bourdieu para compreender, de forma não linear, a construção intelectual de uma mulher no âmbito da educação e da cultura. Trajetória, entendida aqui “como série de posições ocupadas por um mesmo agente (ou um mesmo grupo) em um espaço ele mesmo em devir e submetido a incessantes transformações”. (BOURDIEU, 2006BOURDIEU, P. A ilusão biográfica. In: AMADO, J.; FERREIRA, M. de M. Usos e abusos da história oral. 8. Edição. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. p. 183-191. , p. 71).

Maria Junqueira Schmidt foi uma mulher que, em seu tempo, mobilizou o capital cultural e social que possuía na construção de um espaço próprio no campo educacional brasileiro como intelectual. Suas ações revelam um movimento feminino de elite que buscava emancipação pela educação e, por diferentes caminhos, ocuparam espaços sociais pouco previsíveis para as mulheres. Os papéis destinados ao sexo feminino não incluíam sua presença em espaços políticos ou de gestão junto ao Estado, lugares tradicionalmente ocupados pelos homens. Os espaços que ocupou e suas ações são reveladoras da capacidade de invenção de determinados atores sociais - nesse caso, me refiro às mulheres - que subverteram normas estabelecidas e papéis prescritos a fim de assegurarem seu lugar na cena pública e no campo intelectual.

Tal como nos coloca Levy (2006LEVY, G. Usos da biografia. In: AMADO, J.; FERREIRA, M. de M. Usos e abusos da história oral . 8. Edição. Rio de Janeiro: Editora FGV , 2006. p. 167-182. ), através da biografia pode-se comprovar a existência de contradições nos sistemas normativos, tornando exequível a ação desses sujeitos. Não utilizamos a biografia neste trabalho como uma abordagem metodológica que pretende alcançar a totalidade de uma vida, mas como o estudo de uma trajetória, que pode ter uma ênfase maior ou menor em determinada área da vida de um sujeito, a partir da problemática de pesquisa. Esse tipo de estudo permite a oportunidade de perceber como cada sujeito vive ligado a redes de interdependência que colocam em relação indivíduo e sociedade na teia da configuração social (ELIAS, 1994ELIAS, N. A sociedade dos indivíduos. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1994.).

Pela Igreja, a serviço da pátria: o nascimento de uma intelectual na imprensa periódica

Maria Junqueira Schmidt, filha de uma família da elite paulistana, nasce em 1901; aos dez anos de idade, é enviada para concluir seus estudos na Europa, de onde retorna em 1920, versada em Pedagogia, Psicologia, Língua e Literatura Francesa. Ao retornar ao Brasil, empreendeu um conjunto de conferências dirigidas à sociedade em geral onde demonstraria seus dotes intelectuais como estratégia de reconhecimento de sua erudição e distinção social. Tais conferências, realizadas nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, foram amplamente divulgadas na imprensa periódica. O Jornal do BrasilJORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro (RJ), 1927-1970., Jornal do Comércio, Diário de Notícias DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro (RJ), 1927-1970.e Correio da Manhã CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro (RJ), 1927-1970. tornaram-se, entre os anos de 1920 e 1960, os principais difusores de suas ações e de suas obras. A revista Gil Blas, não apenas divulgou suas conferências iniciais, como também as publicou na íntegra em português e em francês.

Apesar de sua origem paulistana, em seu retorno ao Brasil, Maria Junqueira fixou residência na cidade do Rio de Janeiro. Não foi possível estabelecer até o momento o que levou a intelectual optar pelo Rio de Janeiro ao invés de São Paulo. Constatou-se, no entanto, a presença de familiares nas duas cidades, dessa forma, aventamos como hipótese privilegiada o fato de que no Rio de Janeiro contava com o suporte do tio Alcebíades Delamare, fundador e editor da revista Gil Blas, ao lado de Álvaro Bomilcar.

Apesar da revista não ter tido vida longa (1919-1923), foi um importante canal de legitimação intelectual de Maria Junqueira ao longo dos anos desse período, pois serviu para inseri-la em um dos grupos políticos imbricados com a causa nacionalista que se desenhava no final da década de 1910 e início dos anos de 1920. Em que pese a necessidade comum partilhada de se construir uma nação capaz de responder aos desafios de seu tempo, não havia consenso em relação à identificação e às soluções propostas para os problemas sociais do país, tornando este um espaço de disputas representativas dos diferentes grupos envolvidos com a organização da nação brasileira. A revista Gil Blas se constituiu como um canal pelo qual se propunham modelos e soluções para a nação, a partir da ótica de um determinado grupo, o qual podemos definir situado entre duas bandeiras - do catolicismo e da brasilidade -, tal como escreve Delamare (apud JESUS, 2012JESUS, C. G. N. de. Revista Gil Blas e o nacionalismo de combate (1919-1923). São Paulo: Cultura Acadêmica, 2012. (Coleção PROPG Digital - UNESP). ISBN 9788579833588. Disponível em: <Disponível em: http://hdl.handle.net/11449/109239 >. Acesso em: 5 maio 2017.
http://hdl.handle.net/11449/109239...
), em artigo na revista A Ordem (1924).

O engajamento em um grupo político que visava contribuir com os rumos da nação, tendo uma revista como porta de entrada, configura ocupar um lugar em um espaço que, segundo Sirinelli (1996SIRINELLI, J. F. Os intelectuais. In: REMOND, R. (Org.) Por uma História política. Rio de Janeiro: UFRJ/Fundação Getúlio Vargas, 1996. p. 231-269.), se constitui como polo de fermentação cultural e agregação em torno dos quais se compartilham políticas, ideológicas e/ou culturais. Rocha afirma que as revistas são

[...] um lugar de afirmação dum grupo - que pode constituir-se como geração, tendência ou mesmo vanguarda, mas não forçosamente. Isto é: como lugar de encontro de espíritos criadores mais significativos de um momento [...]; ou então daqueles que ainda desconhecidos do grande público, pretendem lançar-se no meio literário através dum órgão coletivo. (ROCHA, 1985ROCHA, C. Revistas literárias do século XX em Portugal. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1985. , p. 34-35).

Esse compartilhamento de um projeto político justifica, por exemplo, a conferência pronunciada no Rio de Janeiro, na Biblioteca Nacional, intitulada “A Bandeira e a Cruz”, em razão da instauração do monumento do Cristo Redentor, na qual começa e termina demarcando o seu lugar de fala:

Quando há poucos meses, voltava a minha querida Pátria, que apenas conhecia de longe atravéz da leitura e das informações pessoaes, fiquei sorprehendida, encantada mesmo, maravilhada até, pelo surto de progresso realizado em S. Paulo e no Rio, em menos de 10 annos. Entrando mais intimamente no exame da vida social, achei-me, súbito, em contacto com uma corrente empolgante, cujo ideal é aquelle que traz, gravado, inscripto e perpetuado em seu coração toda a alma nobre, ideal que pôde ser crystallizado neste lemma: - combater, até a morte, para a maior glória de Deus e da Pátria! Essa corrente, por ser eminentemente política e inetellectual, acorda e levanta o patriotismo, arrebata e dignifica os espíritos, une e amalgama as vontades, disciplina e encoraja as intelligencias, coordena e systematiza as aspirações nacionaes. Esse ideal, que é puro porque é desinteressado, incita-nos a luta, derruba com a força destruidora dos vendavaes, preconceitos abstrusos, calcados no frio pedestal de theorias errôneas, para jogal-os na arena fecunda do combate, da iniciativa e da edificação. Foi elle que, sentindo approximar-se a ocasião de provar à Pátria seu amor profundo, inquebratável, de denunciar seu enthusiasmo, cheio de orgulho, por vê-la feliz, projetou erigir uma obra material, grandiosa e soberba, a fim de perpetuar no bronze a memória de sua independência. [...] Mostrae, brazileiras e brazileiros, que a nossa gente e a nossa terra à sombra da cruz, entraram no concerto do mundo, e apoiados neste mesmo symbolo de amor, de redempção e de pureza, attingirão aos seus altos destinos históricos, sem óbices que entravem a sua marcha ascendente para o progresso material e para o aperfeiçoamento moral. O Brazil é catholico. O Brazil é democrático. O monumento a Christo será a expressão exacta e perfeita do nosso Catholicismo e da nossa Democracia. Deus e Pátria sejam para vós, o que são para mim: a meta de minhas aspirações de mulher e o ideal de meus sentimentos da patriota. (SCHMIDT, 1921SCHMIDT, M. J. A Bandeira e a Cruz. Gil Blas - Pamphleto Nacionalista, Rio de Janeiro (RJ), Ano III, n. 125, 30 jun. 1921. p. 3-5., p. 3-5).

Além do conteúdo da conferência, na qual declara abertamente seu posicionamento político nacionalista, ao lado do grupo católico, é digna de nota a composição da mesa: “A sessão será presidida pelo glorioso brasileiro Sr. Conde Affonso Celso, que terá ao seu lado direito o eminente Vigário Geral desta Archidiocese Monsenhor Maximiano Leite e ao esquerdo o brilhante intelectual e historiador dr. Jônathas Serrano” (GIL BLAS, 23 jun. 1921GIL BLAS - Pamphleto Nacionalista. A Bandeira e a Cruz. Conferência histórico-literária, Rio de Janeiro (RJ), Ano III, n. 124, 23 jun. 1921, p. 6., p. 6). Não obstante a estratégica escolha do tema e a competência intelectual da educadora, essa mesa se revelou fundamental em sua trajetória intelectual. Affonso Celso, apesar de não ter comparecido à conferência por motivos de força maior, segundo a revista, representou um capital social importante nesse processo de legitimação da educadora, pois era figura recorrente no Jornal do Brasil e Correio da Manhã (dois dos jornais que mais noticiaram as ações de Maria Junqueira Schmidt). Também é importante chamar a atenção para o fato do presidente do Jornal do Brasil ser membro do Conselho Fiscal da Gil Blas, o que o coloca em estreita relação com o grupo em torno da revista; Jônathas Serrano, além de escrever em coautoria com Maria Junqueira o livro História do Brasil, ocupou junto com a professora diversas comissões relacionadas à educação, das quais destaco a Campanha Nacional do Livro Didático e a Comissão de Ensino Secundário a frente da discussão da LDB nº 4.024/61.

Além disso, a apresentação da conferencista, destacada na Gil Blas, assim como em grandes jornais do país, como o Jornal do Brasil, Jornal do Comércio e o Estado de São Paulo, por exemplo, também reforçou o investimento da imprensa na produção de Maria Junqueira Schmidt como intelectual. A ênfase em sua formação no exterior e em sua erudição, cultura e domínio das Ciências da Educação, Literatura, História e outros idiomas adquiridos na Suíça e na França, referências singulares para a elite cultural e intelectual brasileira, foram estratégias mobilizadas para garantir sua entrada no campo e seu reconhecimento pela sociedade.

A talentosa conferencista é diplomada pela Universidade de Friburgo, na Suissa, e possue uma vastíssima e rara cultura histórica e literária. Conhecendo vários idiomas e, principalmente, manejando com elegância a língua brasileira, da qual é exímia cultora, Maria Junqueira Schmidt vai receber, por certo, hoje, do fino auditório que a ouvirá, numa verdadeira consagração ao seu talento e a sua capacidade. Versada em literatura, história, esthética e philosophia, terá ella oportunidade, na sua conferencia de pôr em foco a sua cultura conquistada no commércio dos livros, no estudo diuturno e metódico. (GIL BLAS, 23 jun. 1921GIL BLAS - Pamphleto Nacionalista. A Bandeira e a Cruz. Conferência histórico-literária, Rio de Janeiro (RJ), Ano III, n. 124, 23 jun. 1921, p. 6., p. 6).

A conquista desse lugar na cena pública revela um poder social que as mulheres foram conquistando nesse entrecruzamento da Igreja e da República, revestido de um caráter de “missão” traduzido em diversas formas de intervenção na sociedade como um prolongamento da fé e da moral católica, balizadoras de suas ações. Desse ponto de vista, as mulheres se tornariam excelentes auxiliares no projeto de recristianização da nação brasileira, pela (re)produção de uma cultura católica, como a própria revista publicou no número seguinte:

Revelou-se a jovem brilhante e escriptora patrícia uma eximia pensadora, capaz de vencer e impôr-se nas pugnas da intelligencia, já pela sua variada, já pela flexibilidade de seu espírito, já pelo seu profundo e sincero patriotismo, já finalmente pelas bellezas moraes do seu caracter e do seu coração, e principalmente pela sua coragem em ennunciar pensamentos que outros sentem e comprehendem, mas não têm o desassombro de expor à opinão pública. A hora literária do dia 24 de junho na Biblioteca Nacional serviu para uma revelação sensacional: - a senhorinha Junqueira Schmidt demonstrou eloquentemente que a mulher brazileira comprehende a alta missão social que lhes está reservada no Brazil e vae practicál-a, exercitál-a, cumpril-a, em que pesem todos os óbices. (GIL BLAS, 7 jul. 1921GIL BLAS - Pamphleto Nacionalista. A Bandeira e a Cruz. Rio de Janeiro (RJ), Ano III, n. 126, 7 jul. 1921, p. 10., p. 10).

Pode-se dizer que as revistas servem de palco para os seus atores que se movimentam em torno da disseminação de suas ideias, de seus projetos e posicionamentos políticos que caracterizam uma rede de sociabilidade que se constrói em torno de afetos e visões de mundo compartilhadas. De acordo com Gomes,

[...] se os espaços de sociabilidade são “geográficos”, são também “afetivos”, neles se podendo e devendo não só captar vínculos de amizade/cumplicidade e competição/hostilidade, como igualmente a marca de uma certa sensibilidade produzida e cimentada por eventos, personalidades e grupos especiais. Trata-se de pensar em uma espécie de “ecossistema”, onde amores, ódios, projetos, ideais e ilusões se chocam, fazendo parte da organização da vida relacional. (GOMES, 1999GOMES, Â. de C. Essa gente do Rio... modernismo e nacionalismo. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1999. , p. 20).

Na trajetória de Maria Junqueira Schmidt, a imprensa periódica teve um peso significativo. Em primeiro lugar, permitiu-lhe a inserção em uma rede, um grupo político articulado em torno de um projeto de nação; foi o primeiro lugar de difusão de suas ideias; depois, o principal canal de divulgação de suas obras e de sua entrada no circuito dos livros; noticiou cada uma de suas ações e seu trânsito no campo educacional, dando visibilidade aos espaços que ocupou na esfera pública, junto ao Estado. Definitivamente, a imprensa contribuiu de modo significativo para a legitimação de Maria Junqueira Shmidt no campo intelectual e foi onde anunciou, desde o princípio, o caminho e os pilares de sua trajetória: a Igreja e a pátria.

Produção de livros como vestígios de uma trajetória intelectual: um projeto que se constrói em rede

Compreender o lugar das mulheres na cena social, não se trata somente de voltar as lentes para a (re)composição dos espaços que ocupou ou de lhes atribuir poderes não reconhecidos. De fato, como afirma Perrot,

As relações das mulheres com o poder inscrevem-se primeiramente no jogo de palavras. “Poder”, como muitos outros, é um termo polissêmico. No singular, ele tem uma conotação política e designa basicamente a figura central, cardeal do Estado, que comumente se supõe masculina. No plural, ele se estilhaça em fragmentos múltiplos, equivalente a influências difusas e periféricas, onde as mulheres têm sua grande parcela. Se elas não têm o poder, as mulheres têm, diz-se, poderes. No Ocidente contemporâneo, elas investem no privado, no familiar e mesmo no social, na sociedade civil. (PERROT, 1988PERROT, M. Os excluídos da História: operários, mulheres e prisioneiros. Tradução Denise Bottmann. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988., p. 167).

Esse poder multifacetado se desdobra em táticas empreendidas que criam uma cultura feminina forjada no jogo da dominação masculina, a qual confere às mulheres um lugar fundamental como agentes de (re)produção cultural. “É preciso compreender como uma cultura feminina constrói-se no interior de um sistema de relações desiguais, como ela mascara as falhas, reativa os conflitos, baliza tempos e espaços, como enfim pensa suas particularidades e suas relações com a sociedade global”. (DAUPHIN et al., 2000DAUPHIN, C. et al. A história das mulheres. Cultura e poder das mulheres: ensaio de historiografia. GÊNERO. Revista do Núcleo Transdisciplinar de Estudos de Gênero - NUTEG, EdUFF, Niterói, v. 2, n. 1, p. 7-30, 2000., p. 10).

O investimento na produção escrita, como um selo de distinção e uma tática de afirmação no campo intelectual, foi um dos principais investimentos da personagem aqui estudada. Sua entrada no mundo das letras pelo domínio da cultura escrita, e, mais especificamente, pela via dos impressos, associada ao seu reconhecimento intelectual legitimado pela imprensa periódica lhe garantiram ocupar a cena pública. Segundo Bourdieu (1996BOURDIEU, P. As regras da arte: gênese e estrutura do campo literário. Lisboa: Presença, 1996., p. 156), “é a autonomia do campo intelectual que torna possível o acto inaugural de um escritor que, em nome das normas próprias do campo literário, intervém no campo político, constituindo-se desse modo como intelectual”.

O caminho escolhido nesse artigo para analisar a trajetória de Maria Junqueira Schmidt passa pelo conjunto de livros que publicou, buscando compreender o contexto de produção de suas obras, relacionando-os aos lugares que ocupou no campo educacional.

Do conjunto de 34 livros que publicou entre os anos de 1927 e 1970, desenhamos o quadro a seguir (Quadro 1), onde buscamos arrolar os títulos, na medida do possível, associados à sua primeira edição. Essa informação, apesar de ser fundamental para entender o contexto de produção, não foi possível ser identificada em todas as obras. Mas, de modo geral, é possível inferir aproximadamente pelas reedições e temáticas, no caso dos livros didáticos, por exemplo, essa relação.

Quadro 1
Títulos publicados por Maria Junqueira Schmidt

Acompanhando os títulos e os anos de publicação de cada obra, a cena que emerge coloca em relevo o envolvimento de uma intelectual católica, fortemente engajada em projetos que colocavam em relação direta pátria e Igreja na construção de uma cultura nacional e uma ordem social.

Seus primeiros livros, no entanto, são indicativos de um investimento inicial em um projeto de emancipação pessoal, a partir do mundo das letras. Por meio da Literatura e da História, Maria Junqueira recuperou figuras femininas pouco conhecidas na história do Brasil. Ao produzir-se como escritora, a autora trouxe a público o tema da invisibilidade feminina na historiografia. O forte investimento na língua e literatura francesa como símbolos de distinção e erudição, tanto em suas conferências quanto nos livros que produziu, pode ser entendido como uma tática de demarcar seu lugar no mundo das letras, na sociedade brasileira. Em 1929, sua biografia sobre a segunda imperatriz do Brasil - Amelia de Leuchtenberg - foi premiada pela Academia Brasileira de Letras (CORREIO PAULISTANO, 1929CORREIO PAULISTANO, São Paulo (SP), 05 jan. 1929., p. 1). Tal premiação aliada à sua entrada notória no circuito cultural colocou Maria Junqueira Schmidt em um lugar privilegiado entre as mulheres de sua época, reconhecida no circuito público da vida intelectual do Rio de Janeiro. (ORLANDO, 2015ORLANDO, E. de A. Quando o mundo cabe na bagagem: as experiências de formação e distinção de Maria Junqueira Schmidt. In: SILVA, A. L. da; ORLANDO, E. de A.; DANTAS, M. J. Mulheres em trânsito: intercâmbios, formação docente, circulação de saberes e práticas pedagógicas. Curitiba: Editora CRV, 2015. p. 209-225.).

Apesar do reconhecimento no campo literário, o endosso de um historiador do porte de Jônathas Serrano escrevendo em coautoria História do Brasil, significava um selo de distinção que contribuía para produzir uma representação de Maria Junqueira como uma escritora que ia além da literatura, lugar tradicional da escrita feminina, assegurando-lhe uma entrada autorizada no campo intelectual.

Nessa trajetória em que os caminhos foram sendo ampliados, a língua francesa teve um lugar fundamental, pois permitiu sua entrada no ensino secundário, considerado um dos circuitos privilegiados de ação dos intelectuais da educação. Embora não tenhamos conseguido levantar as primeiras edições dos quatro volumes do Cour de Français e Français Commercial, inferimos que sua produção tenha ocorrido a partir de sua entrada, como professora de francês, na Escola de Comércio Amaro Cavalcanti. O tema específico, produzido de maneira didática e sequencial, e o fato de em 1964 o Cour de Français estar em sua 49ª edição são indicativos de sua produção ao longo dos anos de 1930. É interessante pensar correlatamente que, nessa década, ao ocupar a direção da Escola de Comércio Amaro Cavalcanti, Maria Junqueira passou a compor diferentes comissões que lhe permitiam uma posição estratégica na definição do que deveria ser lido nas escolas públicas brasileiras. Produzir livros didáticos, quando se participa das instâncias que chancelam esses livros, reforça o capital cultural e social que a intelectual aqui analisada foi construindo ao longo de sua trajetória e, ao mobilizá-los, os espaços que passou a ocupar nas esferas de poder como membro da Comissão de Literatura Infantil do Ministério da Educação (1936), membro da Comissão para a Compra de Livros Escolares (1938), membro da Comissão Nacional do Livro Didático (1939), espaços privilegiados de censura e legitimação, sobretudo em um governo autoritário como o Estado Novo (ORLANDO, 2015ORLANDO, E. de A. Quando o mundo cabe na bagagem: as experiências de formação e distinção de Maria Junqueira Schmidt. In: SILVA, A. L. da; ORLANDO, E. de A.; DANTAS, M. J. Mulheres em trânsito: intercâmbios, formação docente, circulação de saberes e práticas pedagógicas. Curitiba: Editora CRV, 2015. p. 209-225.).

Esse capital social, no entanto, não estava restrito ao grupo católico exclusivamente. Em 1935 Maria Junqueira foi enviada, juntamente com outros educadores do Distrito Federal, em missão encampada por Anísio Teixeira aos Estados Unidos da América. Seu objetivo era estudar o método científico para o ensino de línguas, área em que vinha investindo em sua produção. Ao retornar da viagem, Maria Junqueira publicou dois livros que sintetizam a sua experiência nos EUA e o diálogo estabelecido com a cultura pedagógica norte-americana. Tal apropriação também a aproximou do grupo dos pioneiros, tradicionalmente representado na historiografia em oposição frontal aos católicos. Tal concepção precisa ser relativizada, assim como o diálogo que os educadores católicos estabeleceram com a pedagogia norte-americana. A causa educacional e o diálogo com as Ciências da Educação - tanto de vertente católica quanto americana - permitiu à Maria Junqueira o reconhecimento e o trânsito por diferentes grupos intelectuais, ampliando sua rede de sociabilidade que ia se consolidando em torno do campo educacional.

Nesse sentido, é também digno de nota o fato de todos os livros didáticos da professora terem sido publicados pela Companhia Editora Nacional, na Biblioteca de Educação, na gestão de Fernando de Azevedo2 2 A Biblioteca de Educação foi fundada por Fernando de Azevedo como uma coleção da Companhia Editora Nacional em 1932 e era composta de cinco séries: Literatura Infantil, Livros Didáticos, Atualidades Pedagógicas, Iniciação Científica e Brasiliana. Todas dirigidas por ele entre os anos de 1931 a 1946. (TOLEDO, 2013). , o que indica mais uma vez certa aproximação com este grupo. É igualmente digna de nota sua permanência, mesmo após a saída de Fernando de Azevedo da sua direção em 1946, quando a Biblioteca passou por uma revisão em sua fórmula editorial que mudou amplamente o seu desenho. A permanência nos quadros da CEN é indicativa da articulação dessa intelectual com os diferentes grupos organizados em torno de campo educacional e da eficácia de sua estratégia de se colocar, acima de tudo, a serviço da pátria pela educação, o que a manteve sempre junto aos grupos no poder.

A partir de 1945, Maria Junqueira Schmidt deixa a Escola de Comércio Amaro Cavalcanti, passa a trabalhar no Departamento de Educação Complementar da Prefeitura do Distrito Federal e faz outra viagem aos EUA, a fim de observar como o problema dos menores abandonados vem sendo enfrentado naquele país. A preocupação com os jovens e seu ajustamento social ganha peso em suas produções a partir desse momento, quando se volta mais detidamente para as questões da Orientação Educacional e da relação família-escola, embora na prática essa já fosse uma questão muito presente desde os tempos da Escola Amaro Cavalcanti, onde durante sua gestão, em uma iniciativa “pioneira”, implantou o Serviço dirigido por Aracy Muniz Freire e inspirado nos moldes norte-americanos. Seu livro sobre essa temática, no entanto, só foi lançado em 1963, depois de acumular larga experiência pessoal adquirida no trabalho desenvolvido como Orientadora Educacional no Instituto de Educação do Rio de Janeiro desde 1950, na CADES (Campanha de Aperfeiçoamento e Desenvolvimento do Ensino Secundário), como professora e conferencista, mas sobretudo depois do falecimento de Aracy Muniz Freire, principal referência nessa área e sua amiga pessoal.

Essa preocupação com a orientação do adolescente, a partir de sua posição como professora de ensino secundário, representante do grupo católico, rendeu-lhe a participação na Comissão de Ensino Secundário que discutiu a LDB nº 4024/ 61. Entre o final da década de 1950 e 1960, publicou livros voltados para a educação das famílias, tendo em vista o problema do ajustamento do adolescente na nova sociedade que se configurava. Ganhou relevo nesse cenário, como uma voz autorizada, e ocupou espaços em mídias, como rádio e TV, com programas voltados para a educação familiar.

Maria Junqueira foi uma intelectual que nunca representou ameaça para nenhum governo, tendo se colocado a serviço da pátria sempre; com isso, acompanhou diferentes governos, ocupando, em todos eles, espaços privilegiados de poder na própria estrutura do Estado, ou nas mídias, atuando de forma decisiva na formação da sociedade brasileira. A partir da década de 1970, volta a escrever livros didáticos para a disciplina de Educação Moral e Cívica, reforçando, mais uma vez, o seu serviço à pátria através da formação do cidadão brasileiro.

Em linhas gerais, o que se pretendeu buscar neste artigo foi a construção de uma intelectual que conduziu sua trajetória entre “ a bandeira e a cruz”, mobilizando diferentes tipos de capital e uma sólida rede de sociabilidade que reúne de um lado, figuras como Alceu Amoroso Lima, Pe. Leonel Franca, Jônathas Serrano, Stella de Faro; e, de outro, Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Cecília Meirelles, José Lins do Rego, como parceiros de trabalhos, representantes de projetos políticos e pedagógicos, os quais, cada um a seu modo, se colocam como construtores da nação. Como afirma Sirinelli (1996SIRINELLI, J. F. Os intelectuais. In: REMOND, R. (Org.) Por uma História política. Rio de Janeiro: UFRJ/Fundação Getúlio Vargas, 1996. p. 231-269.), o conceito de intelectual é, sem dúvida, polissêmico e suas representações contrastantes. Todavia, a partir das duas frentes abertas por esse autor para compreender a noção de intelectual: a produção e a mediação cultural e o engajamento permitem compreender a professora Maria Junqueira Schmidt nesse quadro mais ampliado, no qual se circunscreve pelo itinerário traçado em torno de um projeto, representativo de uma geração e consolidado por uma rede de sociabilidade.

Considerações finais

O que propusemos discutir neste artigo foi a presença feminina no campo educacional brasileiro e o poder, ou poderes, que exerceram na cultura e na educação, a partir dos diferentes lugares que ocuparam. A trajetória da personagem abordada, Maria Junqueira Schmidt, foi o caminho escolhido para iluminar os muitos modos pelos quais as mulheres se inseriram na vida pública e, como intelectuais, agiram como “atores do político”, como bem define Sirinelli (1996SIRINELLI, J. F. Os intelectuais. In: REMOND, R. (Org.) Por uma História política. Rio de Janeiro: UFRJ/Fundação Getúlio Vargas, 1996. p. 231-269.). Nesse caso, as trajetórias intelectuais podem ser entendidas por diferentes caminhos. No caso da intelectualidade feminina,

Pelo efeito da dominação masculina, as mulheres, em particular, na qualidade de agente da reprodução, são o objeto de uma manipulação particular no seio da arte de governar. Essas artes, nunca constantes, expressar-se-iam por variações dos discursos e das práticas, ligadas aos interesses da família, da sociedade civil e do Estado. O nível de opressão sobre elas varia segundo as épocas. Ao mesmo tempo, as mulheres tiram do sistema compensações de todas as ordens, dentre elas, um certo número de poderes que lhes permite compreender o grau de consentimento que conferem ao sistema, e sem o qual este não poderá funcionar”. (DAUPHIN et al., 2000DAUPHIN, C. et al. A história das mulheres. Cultura e poder das mulheres: ensaio de historiografia. GÊNERO. Revista do Núcleo Transdisciplinar de Estudos de Gênero - NUTEG, EdUFF, Niterói, v. 2, n. 1, p. 7-30, 2000., p. 15).

Por meio dos livros, da imprensa periódica e a partir dos lugares que ocupou, um olhar atento para Maria Junqueira Schmidt é revelador das táticas mobilizadas pelas mulheres, especialmente as burguesas, no sentido de assegurar seu reconhecimento intelectual e um lugar próprio na composição de um quadro de políticas educacionais, configurando um forte engajamento na cena pública. Ao se posicionar ao lado “da Bandeira e da Cruz” e construir um discurso que aliava tradição e modernidade, a professora abriu um caminho para tratar da necessidade da emancipação feminina pela educação, reconhecido e endossado pelos seus pares católicos. Sem jamais entrar nas questões polêmicas do feminismo, Maria Junqueira Schmidt negociou com o seu tempo e com o seu grupo. Ocupou posições privilegiadamente reservada aos homens e participou de tomadas de decisões fundamentais ao campo educacional. Nesses lugares, foi construindo sua emancipação como mulher e intelectual. Essa representação, no entanto, não se tornou a tônica de seus discursos. A educação feminina era propugnada sob o argumento de que as mulheres precisariam ser educadas para ocuparem com êxito o seu lugar social como esposa e mãe (embora ela mesma nunca tenha se casado), mas sobretudo para conseguir viver dignamente caso lhe faltasse o marido ou as condições financeiras da família viessem a mudar. A postura conservadora nesse aspecto a coloca como uma agente de (re)produção de determinados modelos e papéis sociais, embora ela mesma tenha rompido com esses papéis. O conservadorismo em relação ao papel social da mulher, de modo geral, revela-se no discurso de Maria Junqueira Schmidt um enfrentamento tácito, por meio do qual, se não alcança todas as mulheres, ao menos produz para si e para seu grupo - mulheres burguesas, católicas, solteiras e educadas - um lugar ao sol.

Deste modo, entender a presença e a atuação feminina no debate público passa por compreender que as relações na formação da sociedade só podem ser entendidas na rede de interdependência que se configuram, considerando os seus atores e os lugares que ocupam no campo, suas condições de possibilidade no jogo político, mas sobretudo as brechas e as táticas utilizadas como oportunidades de desvio de fórmulas ou "modelos" pré-estabelecidos em escalas variáveis, afinal, as mudanças nem sempre vêm acompanhadas de grandes rupturas e revoluções. Todavia, é nesse quadro mais ampliado que se encontram e se revelam as sutilezas da dinâmica vida social.

REFERÊNCIAS

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  • ELIAS, N. A sociedade dos indivíduos Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1994.
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    » http://hdl.handle.net/11449/109239
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  • ORLANDO, E. de A. Quando o mundo cabe na bagagem: as experiências de formação e distinção de Maria Junqueira Schmidt. In: SILVA, A. L. da; ORLANDO, E. de A.; DANTAS, M. J. Mulheres em trânsito: intercâmbios, formação docente, circulação de saberes e práticas pedagógicas. Curitiba: Editora CRV, 2015. p. 209-225.
  • PERROT, M. Os excluídos da História: operários, mulheres e prisioneiros. Tradução Denise Bottmann. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
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Documentos consultados

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  • DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro (RJ), 1927-1970.
  • GAZETA DO POVO, Curitiba, 1927-1970.
  • GIL BLAS - Pamphleto Nacionalista. A Bandeira e a Cruz. Conferência histórico-literária, Rio de Janeiro (RJ), Ano III, n. 124, 23 jun. 1921, p. 6.
  • GIL BLAS - Pamphleto Nacionalista. A Bandeira e a Cruz. Rio de Janeiro (RJ), Ano III, n. 126, 7 jul. 1921, p. 10.
  • JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro (RJ), 1927-1970.
  • O ESTADO DE SÃO PAULO, São Paulo (SP), 1927-1970.
  • SCHMIDT, M. J. A Bandeira e a Cruz. Gil Blas - Pamphleto Nacionalista, Rio de Janeiro (RJ), Ano III, n. 125, 30 jun. 1921. p. 3-5.
  • *
    Este texto é parte de uma pesquisa realizada no âmbito do Projeto Igreja católica e circulação de saberes pedagógicos: intelectuais, impressos e práticas educativas (1916-1970), aprovado pelo Edital Ciências Humanas e Sociais/CNPq 2014, Processo nº 471050/2014-8.
  • 2
    A Biblioteca de Educação foi fundada por Fernando de Azevedo como uma coleção da Companhia Editora Nacional em 1932 e era composta de cinco séries: Literatura Infantil, Livros Didáticos, Atualidades Pedagógicas, Iniciação Científica e Brasiliana. Todas dirigidas por ele entre os anos de 1931 a 1946. (TOLEDO, 2013TOLEDO, M. R. de A. Traduções culturais do livro Como Pensamos da Coleção Atualidades Pedagógicas (1933-1981). História da Educação, Porto Alegre, v. 17, n. 39, p. 57-78, jan./abr. 2013. ).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 2017

Histórico

  • Recebido
    19 Jun 2017
  • Aceito
    21 Jun 2017
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