Acessibilidade / Reportar erro

Teatralidade, Performance e Educação

Este Dossiê “Teatralidade, Performance e Educação” emerge da necessidade de divulgar os campos da Teatralidade e da Performance, que estão, atualmente, em expansão na pesquisa em Educação no Brasil (ICLE, 2010ICLE, G. Para apresentar a Performance a Educação. Educação & Realidade. Porto Alegre: UFRGS, v. 35, n. 2, p. 11-22, maio/ago 2010.; PEREIRA, 2013PEREIRA, M. de A. (Org.). Performance e Educação: [des]territorializações pedagógicas. Santa Maria: UFSM, 2013. ; GONÇALVES, 2014GONÇALVES, J. C. Circo negro: o discurso teatral em perspectiva dialógica. In: BRAIT, B.; MAGALHÃES, A. S. (Org.). Dialogismo: teoria e(m) prática. São Paulo: Terracota, 2014.; 2017GONÇALVES, J. C. A Escola no Quintal da Cultura: teatralidades em perspectiva dialógica. Revista e-Curriculum , [S.l.], v. 15, n. 3, p. 594-614, set. 2017. ISSN 1809-3876. Disponível em: <Disponível em: http://dx.doi.org/10.23925/1809-3876.2017v15i3p594-614 >. Acesso em: 9 out. 2017.
http://dx.doi.org/10.23925/1809-3876.201...
; ICLE; BONATTO; PEREIRA, 2017ICLE, G.; BONATTO, M. T.; PEREIRA, M. de A. Performance e Escola. Cad. CEDES, Campinas, v. 37, n. 101, p. 1-4, abr. 2017. Disponível em: <Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-32622017000100001&lng=pt&nrm=iso >. Acesso em: 9 out. 2017.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
). Esses termos, polissêmicos e contraditórios, têm sido usados por muitos pesquisadores para catalisar problemáticas que vão muito além do campo das artes. Eles operam nas pesquisas aqui apresentadas muitas possibilidades para (re)pensarmos a escola, a formação de professores e o currículo, entre outros aspectos da Educação. Assim, mesclado e em constante tensão com o campo da arte e da linguagem, este dossiê produz reflexões de distintas ordens, apresentando contribuições para o campo da Educação, desde as intersecções temáticas que atravessam as discussões propostas pelos autores até o apontamento das urgências de pesquisa que se expõem quando estão em jogo as potencialidades poéticas das noções (expandidas e ampliadas) de Teatralidade e de Performance em uma perspectiva educacional.

Além disso, os textos aqui apresentados são fruto de pesquisas diversas, mas que têm em comum um cabedal interdisciplinar que transita entre a Filosofia, a Linguagem, as Artes, a Antropologia e a História para dessas ciências extrair ferramentas/procedimentos/teorias para a pesquisa em Educação. Como é próprio da Teatralidade e da Performance, elas se aproximam conceitualmente, entre outras coisas, por não se localizarem, entrementes, em nenhuma dessas disciplinas, mas nas fronteiras delas, no espaço de contato transversal no qual obram as discussões mais contemporâneas sobre os problemas que nos tocam.

Essa característica interdisciplinar é, com efeito, traço marcante da produção sobre e com o conceito de Performance, pois tais teorizações buscaram na Antropologia em especial, e em outras disciplinas de forma mais abrangente, a noção de limen como possibilidade por intermédio da qual se dá visibilidade a essas zonas indiferenciadas nas quais operam as pesquisas aqui apresentadas.

Da mesma forma, Teatralidade não diz respeito apenas ao evento teatral, mas confunde-se mesmo com uma gama de práticas e fenômenos - na vida social, na linguagem, nas artes, na literatura, na filosofia -, que circulam e se movimentam na indiferenciação ou naquilo que tratamos como interdisciplinar.

Teatralidade, ainda, aduz a um espaço ou a um olhar sobre determinadas práticas e/ou comportamentos. O caráter teatral, segundo Josette Féral, “[...] é fruto de uma disjunção espacial instaurada por uma operação cognitiva ou um ato performativo daquele que olha (o espectador) e daquele que faz (o ator)” (FERNANDES, 2010FERNANDES, S. Teatralidades Contemporâneas. São Paulo: Perspectiva, 2010., p. 123).

Isso significa dizer que, de um lado, Teatralidade não é necessariamente “teatro”, de outro, que Teatralidade não está nunca fora de seu marco cultural. Trata-se, portanto, de um efeito do olhar. Ao circunscrevê-la para além do campo artístico, Féral vai dizer que se trata de “[...] uma perspectiva particular que determina se uma situação tem ou não teatralidade” (FÉRAL, 2003FÉRAL, J. Acerca de la Teatralidad. Buenos Aires: Ediciones Nouva Generación, 2003., p. 35).

O conceito de “situação”, com efeito, é o anelo fundante entre Teatralidade e Educação, pois nele estão contidas as possibilidades de ver o fenômeno educacional na sua Teatralidade, na transmutação do olhar sobre o espaço. Teatralizada, a pesquisa em Educação oferece possibilidades de diagnóstico exemplares. Tal operação já havia sido, por exemplo, realizada, sob perspectiva diferente, no conceito de “espetáculo” de Gui Debord (1997DEBORD, G. A Sociedade do Espetáculo. São Paulo: Contraponto, 1997.).

Por fim, cabe lembrar que a “situação” pedagógica, educacional, didática (entre outras) não deixa de ser uma “situação” que opera nessa transmutação espacial. Olhar a Educação por esse viés é, também, olhá-la na sua singularidade, na sua posição de atualização, pois “[...] um evento, considerado como teatral hoje em dia, não o seria (e nem o será) em qualquer outra época - se admitirmos, em uma concepção contemporânea do termo, que é o olhar do espectador que faz emergir a Teatralidade (THOMAZ, 2016THOMAZ, S. Teatralidade, entre Teorias e Práticas: um olhar sobre a abordagem do Théâtre du Soleil. Revista Brasileira de Estudos da Presença , [S.l.], v. 6, n. 2, p. 309-330, abr. 2016. ISSN 2237-2660. Disponível em: <Disponível em: http://www.seer.ufrgs.br/index.php/presenca/article/view/61934/37191 >. Acesso em: 7 out. 2017.
http://www.seer.ufrgs.br/index.php/prese...
, p. 301-311).

Evidentemente, saltam aos olhos na leitura dos artigos aqui apresentados, temas que são caros à proposta deste Dossiê, mas também à presença da arte na Educação em geral, tal como o corpo, a cena, o discurso, a linguagem. Não obstante, o corpo é, com efeito, o centro de uma problemática que atinge o cerne da Educação, pois em torno dele são problematizados aspectos de uma pedagogia tradicional e de uma pedagogia contemporânea. É aí que o lugar da pesquisa em Educação ganha destaque, tanto como ponto de partida quanto como ponto de chegada; percurso que se constitui, pela ótica abordada neste Dossiê, como um arsenal de possibilidades de diálogo e construção de conhecimento em Educação pela perspectiva da Teatralidade e da Performance. Não se trata apenas da análise dos significados construídos pelas práticas pedagógicas ou pelas políticas de Educação, mas de um olhar mais abrangente, que se insinua por modos de compreender os fenômenos educativos que ultrapassam o plano semiótico: eles pretendem atingir a sensibilidade, o corpo, as materialidades, os afetos, as emoções. Mas corpo, por exemplo, “[...] compreende a inteireza, o sujeito em suas mais complexas relações com e no mundo, em interação, envolvido em processos concomitantes e indeléveis de fazer, pensar, sentir, agir e ser: no corpo e não com o corpo” (FERREIRA; HARTMANN; MACHADO, 2017FERREIRA, T.; HARTMANN, L.; MACHADO, M. M. Entre Escola e Universidade: dinossauros e caderninhos por uma dramaturgia encarnada. Revista Brasileira de Estudos da Presença, UFRGS, Porto Alegre, v. 7, n. 1, p. 45-70, dez. 2016. ISSN 2237-2660. Disponível em: <Disponível em: http://www.seer.ufrgs.br/index.php/presenca/article/view/63579/39647 >. Acesso em: 9 out. 2017.
http://www.seer.ufrgs.br/index.php/prese...
, p. 47).

Se o corpo constitui um eixo importante deste Dossiê, porquanto circunscreve sua própria natureza teatral e performativa, a palavra ocupa igualmente lugar de destaque. Não se trata, entretanto, de qualquer palavra, ou de sua dimensão apenas polissêmica, mas, sobretudo, da relação da palavra com o corpo, com a narração e com as poéticas e estéticas da enunciação.

Além de corpo e de palavra, os textos aqui reunidos profanam, em última análise, o recorte esperado da pesquisa em Educação, pois de distintas formas, eles são tentativas de ultrapassar o já conhecido, o já sabido, o costumeiro. Procura-se com isso novos modos de pensar e performar a palavra, no interior mesmo de seu plano de expressão e naquilo que a palavra uma vez performativa, pode fazer acontecer.

Acontecimento é, pois, outro elemento sem o qual os textos aqui oferecidos não poderiam existir. Por intermédio de diferentes acontecimentos, atos, fazeres, práticas, enunciados, os conceitos emergem e são explorados. Não há uma separação entre um pensar e um fazer, eles constituem o mesmo lado de um turbilhão por intermédio do qual a Teatralidade e a Performance encontram lugar e existência.

A importância da divulgação desse tipo de pesquisa é evidente. Amplia-se o leque do que sabemos no Brasil sobre a relação entre Educação e Teatralidade e/ou Educação e Performance. Além disso, trata-se, também, de tensionar os problemas comuns à Educação de novas formas, procedimentos, prismas e pressupostos. Ainda que essas novas fórmulas não sejam a resposta ou as soluções a esses problemas, elas ensejam, de fato, modos divergentes ou diferentes de perguntar, de problematizar e de trazer à tona novas compreensões sobre os objetos, métodos, teorias e práticas de pesquisa.

O presente Dossiê apresenta iniciativas de investigação que transitam entre abordagens teóricas e experienciais vinculadas a práticas artísticas e educativas que permitam ultrapassar os modos de aplicação de noções, conceitos e categorias (alicerçadas em construções pedagógicas de cunho histórico e político) no que tange ao enfrentamento dos temas propostos pelos autores para a pesquisa em Educação. Seus textos versam, para além da descrição e análise de práticas em contextos educacionais, sobre os sujeitos que efetivamente fazem/agem em processos de Educação nos mais diversos contextos e por diferentes óticas.

Se a problematização das questões relativas à Teatralidade e Performance nos estudos educacionais é, por si só, uma boa justificativa para a publicação deste Dossiê, não se pode esquecer que ele faz parte também de um movimento maior, o de reorganização e (re)construção da própria pesquisa em Educação, movimento que é próprio de toda a ciência e que se configura como necessidade e urgência em tempos de ávido interesse por informação e conhecimento.

Por fim, é preciso elencar algumas iniciativas pioneiras no Brasil.

Embora não se tenha notícia, até o momento, de um número ou dossiê específico sobre as relações entre Teatralidade e Educação publicado em periódico do campo da Educação, os diferentes aspectos abarcados pelas relações entre Teatro e Educação, discurso teatral e escola, teatro e linguagem, tem conquistado um lugar de destaque na produção científica da área, sendo possível verificar um aumento significativo de publicações que versam sobre esta temática em periódicos bem avaliados no Qualis da área de Educação no Brasil: E-Curriculum, Educação e Cultura Contemporânea, Bakhtiniana: Revista de Estudos do Discurso, Revista Brasileira de Estudos da Presença; e no exterior: Revista Lusófona de Educação e Revista Portuguesa de Educação, por exemplo.

É provável que o tema Performance e Educação tenha aparecido pela primeira vez nas revistas de Educação brasileiras pela publicação do Dossiê “Performance, Performatividade e Educação”, na Revista Educação & Realidade, em 2010. Depois disso, iniciativas esparsas de publicação de alguns artigos isolados podem ser encontradas em revistas do campo da Educação como: Pró-posições, Revista Brasileira de Educação, Revista Educação UFSM e Educação em Revista. Mais recentemente a Revista Brasileira de Estudos da Presença e os Cadernos CEDES publicaram Dossiês com temáticas semelhantes.

O presente Dossiê se constitui, assim, como um espaço de diálogo de caráter relativamente inaugural já que Teatralidade, Performance e Educação encontram-se, aqui, agrupados como conjunto ao mesmo tempo conexo e potencialmente divergente, em um periódico especializado em Educação, ou seja, a convergência temática se dá pelo cardume simbólico formado pelo que é próprio e singular da pesquisa educacional, sem negar toda a sua diversidade e pluralidade como escopo aglutinador.

Ressalta-se, ainda, que este dossiê parte do esforço de pesquisadores ligados a grupos de pesquisa, cadastrados pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e certificados por suas instituições; grupos que tem se dedicado com seriedade e comprometimento aos temas aqui expostos.

O ELiTe - Laboratório de estudos em Educação, Linguagem e Teatralidades (UFPR/CNPq) é formado por pesquisadores de Iniciação Científica, Mestrado e Doutorado, subdivididos em seis linhas de pesquisa: Teatralidades, Artes do Corpo e Estudos da Performance na Educação; Estudos discursivos (AD - Análise do Discurso de Linha Francesa e ADD - Análise Dialógica do Discurso); Pedagogia das Artes Cênicas; Letramentos: literatura, arte e estética; Corpos de Passagem e CARMEN Group - Centro de treinamento em Corpo, Arte, Movimento e Encenação. Os resultados das pesquisas do grupo têm sido apresentados à comunidade na forma de artigos científicos, capítulos de livro, comunicações de pesquisa, participação em eventos nacionais e internacionais, elaboração de dissertações e teses, jornadas de pesquisa, mostras de processos de treinamento corporal e espetáculos teatrais.

O FLOEMA - Núcleo de Estudos em Estética e Educação (UFSM/CNPq), por sua vez, atua em dois campos distintos de investigação: um teórico - no que tange às relações entre Performance e Educação, com foco na questão acerca da alteridade - , e outro de caráter mais aplicado, em vista da pesquisa sobre práticas performativas as mais diversas, entre elas: a dança-teatro - especialmente, de Pina Bausch - e o teatro pós-dramático - que tem como seu maior expoente o encenador norte-americano Robert Wilson.

O GETEPE - Grupo de pesquisa em Educação, Teatro e Performance (UFRGS/CNPq) tem se dedicado ao estudo das relações entre Performance e Educação, especialmente nas áreas do currículo e do trabalho docente, realizando pesquisas tanto sobre a escola como instituição e a formação como processo, quanto sobre o trabalho na Educação Básica em teatro e dança.

O diferencial desses grupos com relação a outros centros e núcleos de pesquisa é que sua dedicação ao estudo da Teatralidade e da Performance tem como centralidade o campo da Educação.

Vê-se, desse modo, a necessidade de ampliação dessa temática no Brasil, visto o interesse crescente dos leitores por informações qualificadas, a importância da colaboração que esse tipo de pesquisa pode fomentar no campo da Educação, além do crescimento exponencial de investigações na área, dedicadas aos temas em questão. Nesse sentido, os artigos aqui apresentados ampliam esse espectro de pesquisas, marcando o território ao mesmo tempo emergente e potente.

O primeiro texto, intitulado “Um pedagogo em viagem: SITI - Conservatory - formação e intercâmbio artístico em artes cênicas”, de Tiago Mora Porteiro (Universidade do Minho - Portugal), apresenta um percurso de formação em que seu autor (pedagogo e artista) esteve envolvido no SITI - Conservatory (New York - EUA), entre 2016 e 2017. O artigo contextualiza o programa de formação e intercâmbio artístico promovido pela conhecida companhia americana de artes performativas - SITI, colocando em diálogo as expectativas e a realidade concreta das experiências vivenciadas. Ao escolher o testemunho pessoal como narrativa, o autor utiliza conceitos e termos, nomeadamente das Ciências da Educação, espelhando seu ponto de vista e oferecendo ao leitor um mapeamento subjetivo do universo da companhia de artistas que o acolheu.

Em “Fabular um pueblo a través del arte”. Angela Maria Chaverra Brand (Universidade de Antioquia - Colômbia) retoma o conceito de fabulação, proposto por Henry Bergson e atualizado por Guilles Deleuze, a partir da descrição e análise do processo criativo “La fabulación: acción y conceptualización en la relación arte y pedagogia”, realizado pelo “Colectivo Artístico El Cuerpo Habla”. Ao apresentar o desdobramento do termo fabulação em sua relação com a possibilidade de fundar atos de fala na comunidade, a autora propõe, valendo-se da arte, a expansão da noção de estética, especialmente quando esta se encontra com a dimensão política; encontro que, para campo da pesquisa em Educação se efetiva como necessário e absolutamente conectado aos tempos atuais.

“O Ato, a performance e a formação: tempos e processos de si na docência”, de Andréa Maria Favilla Lobo (Universidade Federal do Acre), situa a relação do Ato como formação e as aproximações deste com a Performance e com a Educação, por meio da análise e discussão do processo artístico cênico denominado Ato Híbrido, desenvolvido no âmbito de um Curso de Formação de Professores de Teatro na Universidade. O texto destaca o caráter de invenção do processo formativo e o conceito de cuidado de si como dispositivo de reflexão no campo da formação de docentes.

O artigo de Luciana Hartmann (Universidade de Brasília), intitulado “Onça, veado, Maria: literatura infantil e performance em uma pesquisa sobre diversidade cultural em sala de aula” analisa os resultados do projeto “Pequenas Antropologias: uma proposta colaborativa de formação de educadores para o trabalho com a diversidade cultural no Ensino Fundamental”, desenvolvido entre 2014 e 2016 em escolas públicas do Distrito Federal. A autora propõe uma reflexão a respeito da operatividade do uso de pedagogias performativas na vivência e problematização da diversidade em sala de aula, discutindo temáticas urgentes para a escola e a Educação, como a radicalização dos contatos (físicos, emocionais) e os deslocamentos/reposicionamentos das relações que a performance provoca.

A seguir, o dossiê apresenta o artigo de Lucia Maria Salgado dos Santos Lombardi (Universidade Federal de São Carlos). Em “Performances da Pedagogia: uma narrativa estético-pedagógica”, a autora analisa três iniciativas performativas situadas no contexto da formação de professores em um curso de Pedagogia, pensando a linguagem performática em suas dimensões expressiva e formativa e ampliando os horizontes das reflexões sobre as culturas escolares, as relações pedagógicas e as intencionalidades do ato educativo.

Heloise Baurich Vidor (Universidade do Estado de Santa Catarina) assina o artigo nomeado “Literatura e process drama: (re)criando possibilidades”, propondo a interface entre o campo da leitura e do teatro, para, valendo-se das relações estudadas, pensar a presença da literatura em processos pedagógicos teatrais, especificamente sua abordagem no process drama. Por meio de experiências realizadas na disciplina Metodologia do Ensino do Teatro II - Escola, no curso de Licenciatura em Teatro da Universidade do Estado de Santa Catarina, a autora aponta possibilidades de transposição de textos literários para estruturas de drama.

Apresentamos, ainda, neste Dossiê, o artigo “Pedagogia Performativa e seus Não-lugares: reverberações da Khôra a partir de Platão, Derrida e Agamben”, de Marcelo de Andrade Pereira (Universidade Federal de Santa Maria) e Gilberto Icle (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), que retoma o conceito de pedagogia performativa, procurando ampliá-lo para além da noção de entrelugar, circunscrita em trabalhos anteriores na esteira do conceito de limen. Tal operação convoca a leitura filosófica do conceito de Khôra - a partir de Platão, Jacques Derrida e Giorgio Agamben -, para dela aduzir uma dimensão topo-poética de indeterminação e de comunicação do incomunicável; lugar que dá lugar àquilo que não tem lugar.

Por fim, o artigo “Teatralidade e Performance na pesquisa em Educação: do corpo e da escrita em perspectiva discursiva”, de Jean Carlos Gonçalves e Michelle Bocchi Gonçalves (Universidade Federal do Paraná) traz uma reflexão sobre a pesquisa em Educação, a partir nas noções de corpo performático (experimentação) e escrita performática (autoficção), dimensionando os conceitos de Teatralidade e Performance como dispositivos poético-discursivos para a compreensão de diferentes fenômenos que interessam à esfera educacional. Ao mesmo tempo em que abordam seu escopo temático, os autores aderem aos estudos do discurso e da linguagem abordando conceitos e noções da Análise do Discurso de linha Francesa (Pêcheux e Orlandi) e da Análise Dialógica do Discurso (Bakhtin e o Círculo), em uma postura de defesa quanto a não vinculação entre tais correntes e, sim, no intuito pensá-las como possibilidades teórico-metodológicas para a compreensão dos mais variados fenômenos educacionais.

O Dossiê contém, também, duas resenhas.

Thais Castilho Taiacol Candido (doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná) se debruça sobre a obra “O que me move, de Pina Baush e outros textos sobre dança-teatro”, organizada por Renata Tavares (Universidade Estadual do Paraná). O livro, publicado pela LiberArs (2017) aborda a dança-teatro sob diferentes pontos de vista, assumindo o legado de Pina Bausch, e constituindo-se como importante referência aos interessados em Teatralidade, Performance, Educação e suas vizinhanças teórico-práticas.

Reinaldo Kovalski de Araújo (doutorando no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná) e Michelle Bocchi Gonçalves (PPGE/UFPR) resenham o livro “O arquivo e o repertório: Performance e memória cultural nas Américas”, de Diana Taylor. Embora tenha sido publicado em português em 2013 (Editora UFMG), a obra ganha sua primeira resenha pelas lentes da Educação, dinamizando a forma como a autora estabelece conexões com distintas poéticas de pesquisa e diferentes modos de se compreender o outro e suas especificidades, incluídas aí as demandas relacionadas aos estudos sobre Corpo, Teatralidade e Performance.

Diante dessa diversidade de possibilidades, desejamos aos leitores uma leitura produtiva dos trabalhos que reunimos neste dossiê.

REFERÊNCIAS

  • DEBORD, G. A Sociedade do Espetáculo São Paulo: Contraponto, 1997.
  • FÉRAL, J. Acerca de la Teatralidad Buenos Aires: Ediciones Nouva Generación, 2003.
  • FERNANDES, S. Teatralidades Contemporâneas São Paulo: Perspectiva, 2010.
  • FERREIRA, T.; HARTMANN, L.; MACHADO, M. M. Entre Escola e Universidade: dinossauros e caderninhos por uma dramaturgia encarnada. Revista Brasileira de Estudos da Presença, UFRGS, Porto Alegre, v. 7, n. 1, p. 45-70, dez. 2016. ISSN 2237-2660. Disponível em: <Disponível em: http://www.seer.ufrgs.br/index.php/presenca/article/view/63579/39647 >. Acesso em: 9 out. 2017.
    » http://www.seer.ufrgs.br/index.php/presenca/article/view/63579/39647
  • GONÇALVES, J. C. Circo negro: o discurso teatral em perspectiva dialógica. In: BRAIT, B.; MAGALHÃES, A. S. (Org.). Dialogismo: teoria e(m) prática São Paulo: Terracota, 2014.
  • GONÇALVES, J. C. A Escola no Quintal da Cultura: teatralidades em perspectiva dialógica. Revista e-Curriculum , [S.l.], v. 15, n. 3, p. 594-614, set. 2017. ISSN 1809-3876. Disponível em: <Disponível em: http://dx.doi.org/10.23925/1809-3876.2017v15i3p594-614 >. Acesso em: 9 out. 2017.
    » http://dx.doi.org/10.23925/1809-3876.2017v15i3p594-614
  • ICLE, G. Para apresentar a Performance a Educação. Educação & Realidade Porto Alegre: UFRGS, v. 35, n. 2, p. 11-22, maio/ago 2010.
  • ICLE, G.; BONATTO, M. T.; PEREIRA, M. de A. Performance e Escola. Cad. CEDES, Campinas, v. 37, n. 101, p. 1-4, abr. 2017. Disponível em: <Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-32622017000100001&lng=pt&nrm=iso >. Acesso em: 9 out. 2017.
    » http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-32622017000100001&lng=pt&nrm=iso
  • PEREIRA, M. de A. (Org.). Performance e Educação: [des]territorializações pedagógicas. Santa Maria: UFSM, 2013.
  • THOMAZ, S. Teatralidade, entre Teorias e Práticas: um olhar sobre a abordagem do Théâtre du Soleil. Revista Brasileira de Estudos da Presença , [S.l.], v. 6, n. 2, p. 309-330, abr. 2016. ISSN 2237-2660. Disponível em: <Disponível em: http://www.seer.ufrgs.br/index.php/presenca/article/view/61934/37191 >. Acesso em: 7 out. 2017.
    » http://www.seer.ufrgs.br/index.php/presenca/article/view/61934/37191

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Feb 2018
Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná Educar em Revista, Setor de Educação - Campus Rebouças - UFPR, Rua Rockefeller, nº 57, 2.º andar - Sala 202 , Rebouças - Curitiba - Paraná - Brasil, CEP 80230-130 - Curitiba - PR - Brazil
E-mail: educar@ufpr.br