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A educação estética dos trabalhadores nas páginas do jornal Il Grido del Popolo (Piemonte, Itália, 1892-1905).1 1 O artigo apresenta parte dos resultados do estágio pós-doutoral realizado junto à Università degli Studi di Torino, na Itália, em 2016. O estágio foi financiado com bolsa PDE pelo CNPq. Agradeço a leitura atenta e as observações de Paolo Bianchini.

The aesthetic education of workers in the pages of Il Grido del Popolo magazine (Piemonte, Itália, 1892-1905)

RESUMO

O artigo foca nas diferentes iniciativas para a educação estética dos trabalhadores do Piemonte entre o final do séc. XIX e os primeiros anos do séc. XX, tendo como fonte privilegiada a série do semanário Il Grido del Popolo, de orientação socialista, publicado pelos trabalhadores tipógrafos daquela região da Itália. No ideário ali expresso a educação estética era um dos fundamentos da “reforma moral e intelectual” dos trabalhadores no tocante às desejadas atividades escolares, mas sobretudo, em relação a um amplo conjunto de possibilidades de educação social, tais como o teatro, a literatura, as universidades populares, a música entre outras. A máxima da elevação moral e intelectual considerava a educação estética desde o conhecimento das obras de grandes nomes da literatura, da música e das artes em geral, até o estímulo à produção artística dos trabalhadores. Naquele âmbito de preocupações o acesso à e a produção cultural não eram apenas uma forma de luta política, mas o reconhecimento que a cultura é patrimônio comum, portanto um direito de todos, contrariando a premissa que a cultura seria prerrogativa das classes dominantes, corrente no período.

Palavras-chave:
História da educação dos trabalhadores; História da educação social; Educação estética; Sensibilidades; Imprensa operária

ABSTRACT

The focus of the article are the different perspectives for the aesthetic education of the Piemonte’s workers between the end of the 19th Century and the beginning of 20th Century. The privileged source was part of the series of the weekly socialist Il Grido del Popolo, published by typographers these Italian region. In the ideary there expressed, aesthetic education was one of the fundamentals of the “moral and intellectual reform” of workers. This activities in relation to claimed school dimension, but mainly in broad set of social education possibilities, such as theater, literature, popular university, music among others cultural practices. The maxima of moral and intellectual elevation considered the aesthetic education since the masterpiece knowledge of great authors of music, literature, theater, but also stimulated to artistic production of the workers. In that scope of concern the access to culture and cultural production were not only a politics fight, but recognizing culture as common heritage, therefore everybody’s right, contradicting the common sense that considered culture and the art would be a prerogative of dominators classes in the period.

Keywords:
History of worker’s education; History of social education; Aesthetic education; Sensibilities; Working press

Il Grido del Popolo : cultura impressa como parte das lutas dos trabalhadores.

Há muito se tem evidenciado a importância da imprensa periódica como veículo essencialmente moderno de debate sobre o e na definição do espaço público (Cruz, 2000CRUZ, H. São Paulo em papel e tinta: periodismo e vida urbana - 1890/1915. São Paulo: EDUC, 2000. ; Taborda de Oliveira e Oscar, 2014TABORDA DE OLIVEIRA, M. A.; OSCAR, L. Referenciais teórico-metodológicos nas pesquisas em história da educação: para uma história das relações entre sensibilidades, tempo livre e formação. Revista Esboços, Florianópolis, v. 21, n. 31, p. 171-193, ago. 2014. ; Vieira, 2007VIEIRA, C. E. Jornal diário como fonte e como tema para a pesquisa em História da Educação: um estudo da relação entre imprensa, intelectuais e modernidade nos anos de 1920. In: TABORDA DE OLIVEIRA, M. A. (Org.). Cinco estudos em história e historiografia da educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.). No entanto, quando consideramos as práticas educativas e a sua ocorrência na imprensa operária, ainda são tímidas as iniciativas de estudos no Brasil, e mesmo na Itália, no campo da História da Educação. Não se tratando de um tipo de imprensa especializada - pedagógica, educativa ou escolar - os periódicos operários tratam a educação como um tema entre tantos outros que dizem respeito à organização da vida dos trabalhadores, nas mais diversas orientações ideológicas. Seja no caso dos socialistas, anarquistas, católicos ou ainda, se consideramos a Itália, fascistas, a imprensa operária do final do século XIX e do início do século XX deu azo a um conjunto muito amplo de reflexões e proposições sobre o que deveria ser a educação destinada aos trabalhadores, ocupando de maneira intensa a cena pública em diversos países, movida pelos ventos reformadores ou contrarreformadores, revolucionários, conservadores ou reacionários, emanados dos grandes eventos do século XIX. Eventos que definitivamente colocaram os trabalhadores (e o povo em geral) como agentes ativos da vida em sociedade, como mostram os trabalhos de Barreira (2012BARREIRA, L. C. Educação libertária: a experiência da Escola Oficina No. 1 de Lisboa (1908/1909-1918). In: CARVALHO, M.; PINTASSILGO, J. (Orgs.). Modelos culturais, saberes pedagógicos, instituições educacionais. São Paulo: EDUSP/FAPESP, 2012. e 2018BARREIRA, L. C. Educar ou instruir? Narrativas anarcossindicalistas nos primeiros anos da República Portuguesa: Revista Lumen (Lisboa, 1911-1913). Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 17, n. 1, 2018. pp. 213-231. ), Bilhão (2008BILHÃO, I. Identidade e trabalho: uma história do operariado porto-alegrense (1898-1920). Pelotas: EUELE, 2008.), Cruz (2000CRUZ, H. São Paulo em papel e tinta: periodismo e vida urbana - 1890/1915. São Paulo: EDUC, 2000. ), Souza (2002SOUZA, J. J. V. Círculos operários: a Igreja Católica e o mundo do trabalho no Brasil. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2002.) e Nogueira (2012NOGUEIRA, V. L. A escola primária noturna em Minas Gerais (1891-1924). Belo Horizonte: Mazza Edições , 2012.), pelo menos quando se considera o que propalavam e reivindicavam as suas lideranças.

Justamente por não se caracterizar como um tipo de intervenção pedagógica ou didática, no sentido estrito, a imprensa operária permite captar ecos das muitas formas educativas que podem ser mobilizadas em um determinado tempo e lugar. Caracterizadas por mim como formas de educação social, permitem indagar sobre práticas e concepções educativas, escolares ou não, promovidas por diferentes agentes públicos ou privados, com o objetivo de propiciar a educação dos mais diversos grupos sociais. Diferentemente do que propôs Berrio (1999BERRIO, J. R. Introducción a la Historia de la Educación Social en España. Historia de la Educación. Revista InterUniversitaria, Ediciones Universidad de Salamanca, nº 18, 1999.), ao considerar o contexto espanhol, na pesquisa que deu origem a este artigo levo em conta essas práticas e concepções em relação aos usos do tempo livre dos trabalhadores e as iniciativas para a sua (auto)formação, configurando uma noção ampliada de educação social, tal como já foi proposta em outro trabalho (GOMES et alii, 2017GOMES, L. R.; MEURER, S. S.; TABORDA DE OLIVEIRA, M. A. A noção de Educação Social como possibilidade heurística para a pesquisa em História da Educação. In: DAROS, M. D.; PEREIRA, E. (Orgs.). Sentidos da educação e projetos de Brasil. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2017.). Aqui, especificamente, tenho como foco uma expressão da imprensa operária italiana do final do século XIX.

Assumindo desde os seus primeiros números a sua missão de garantir o acesso dos trabalhadores à cultura pela via da educação, de modo a qualificar a sua luta política, o jornal piemontês Il Grido del Popolo apresenta uma ampla gama de possibilidades para o estudo das relações entre o tempo livre e a formação geral dos trabalhadores. Neste artigo destaco iniciativas como a Universidade Popular, concertos musicais, apresentações teatrais, recitais de poesia ou a divulgação de livros e outros escritos presentes nas páginas do periódico. Isso tudo se combinava em uma ampla gama de atividades que faziam parte de um esforço educacional não necessariamente escolar, que pressupunha a elevação moral e intelectual dos trabalhadores para que eles pudessem compreender o desenvolvimento do mundo ao seu redor e nele agir, configurando o que entendo ser um tipo de educação estética, de acordo com o uso que faz deste conceito Pablo Pineau (2012PINEAU, P. Estética e historiografia de la educación: la construcción de um dispositivo temprano de intervención duradera. In: TABORDA DE OLIVEIRA, M. A. (Org.). Sentidos e sensibilidades: sua educação na história. Curitiba: Editora UFPR, 2012.) para pensar a educação. Portanto, a estética é aqui entendida não como expressão de um ideal de formação que se contrapunha à razão, mas como uma forma de, pela afetação dos sentidos dos trabalhadores, estimulá-los ao enfrentamento de todas as lutas que caracterizam a sua experiência/sensibilidade de classe, sempre em relação aos outros, ao contexto social no qual viviam.

Il Grido del Popolo foi um semanário italiano fundado em 24 de julho de 1892, por um grupo de operários tipógrafos torineses na região do Piemonte, ao norte do país. Entre os seus mentores encontramos Vittorio Chenal, que foi secretário da Unione Operaia Independente, que antecedeu a Confederazione delle Società Operaie di Torino e a Camera del Lavoro di Torino, que surgiria logo em seguida. O jornal apareceu com o dístico “publicado em benefício dos trabalhadores tipógrafos desempregados”, oferecendo aos mesmos “apoio moral e material”. Mas, ainda no seu primeiro ano, a partir do n.5, assume como subtítulo se tratar do periódico semanal do Partido dos Trabalhadores Italianos, deixando clara a pretensão dos seus diretores de não restringir a iniciativa aos interesses exclusivos dos trabalhadores da tipografia. Ao longo da sua série o seu subtítulo mudou várias vezes: foi Jornal Oficial do Partido dos Trabalhadores de Turim e Província, depois Órgão Regional Piemontês do Partido dos Trabalhadores Italianos, em seguida Órgão dos Socialistas Piemonteses, Periódico Socialista Semanal, Órgão dos Socialistas de Turim e Província e, finalmente, Órgão da Federação Provincial Socialista. Foi publicado por diferentes casas tipográficas, inclusive uma própria, sob os auspícios de associados acionistas que pagavam 5 liras anuais para a sua publicação. Ao longo de toda a sua série fazia propaganda para a expansão do seu quadro de assinantes. Além da frequente mudança no seu subtítulo, oscilava também o tamanho do seu formato tabloide, tendo de 42x30 a 62x47 cm, sendo o tamanho mais usual 44x30 cm. Saiu inicialmente com 4 páginas passando, em alguns momentos, a duas páginas. Teve de 4 a 7 colunas, e desde os seus primeiros números apresentava ilustrações.2 2 Entre os seus diretores ao longo da série encontram-se os nomes de Vittorio Chenal, Silvio Pampione, Giusto Calvi, Angelo Ferrari, Giuseppe Romita, Francesco Repaci e Armando Sessi. Os redatores eram Emanuele Alberti, Carlo Gozzelino, Erivaldo Bartolini, Vittorio Barge, Dante Alignani, Pietro Follis.

Entre os seus colaboradores assíduos ou eventuais encontramos personagens da cultura, da arte e da ciência italianas daquele período, tais como Edmondo De Amicis, Adolfo Zerboglio, Claudio Treves, Oddino Morgari, Batelli, Cagno, Ferrero, Norlenghi, Gustavo Balsamo-Crivelli, Dario Rossi, Cesare Lombroso e sua filha Paola Lombroso Carrara. A partir dos anos iniciais do século XX, o periódico passa a evidenciar as diferenças mais latentes no âmbito do socialismo italiano, dividido entre socialismo cristão, cientifico, revolucionário, reformador etc. Parte dessa polêmica é enfrentada, a partir de 1914, por Antonio Gramsci, que passa a publicar nas páginas do jornal, muitas vezes em franca oposição às ideias do seu amigo Angelo Tasca e de Palmiro Togliatti. Entre os vários pontos tratados em relação aos rumos do socialismo estavam em discussão a guerra de 1905 contra a Áustria, o imperialismo corrente, o comunismo e, evidentemente, a I Guerra Mundial. Este é um destaque necessário, uma vez que gradativamente temas relacionados à política vão tomando mais espaço no jornal, praticamente eclipsando os temas ligados à cultura, à educação e à arte conforme se intensificava o debate entre os socialistas, e destes com os anarquistas, os católicos e os liberais.3 3 Righi (2014), levanta a hipótese de alguns dos textos localizados em Il Grido del Popolo após 1915 não serem de autoria do pensador sardo. Mas isso não interfere nos propósitos deste artigo, seja pela sua demarcação temporal ou pela sua temática central, ainda que em 29 de janeiro de 1916 o autor tenha publicado um texto que se tornaria clássico, no que se refere ao debate sobre educação e cultura, chamado Socialismo e cultura. A reprodução in toto do referido artigo está disponível em <http://www.tempipostmoderni.it/antonio-gramsci-socialismo-e-cultura/> Acesso em: 30 abr. 2018.

Isso ajuda a explicar a opção por definir temporalmente este artigo entre os anos iniciais de Il Grido del Popolo, e 1905, quando a guerra contra a Áustria toma grande espaço do jornal que se ocupava do cotidiano dos trabalhadores do Piemonte. Em pouco mais de uma década analisada, observou-se que o jornal tratava de temas amplos referente à vida dos trabalhadores. Entre tantos, pode-se destacar o movimento operário e a necessidade de organização operária, a crise agrária e a falta de trabalho para os camponeses, as relações entre produção e consumo, o trabalho assalariado, a questão social, a elevação da posição das mulheres na sociedade, a crítica à monarquia e à Igreja Católica, acusada difundir um tipo de “comunismo de evangelho”.

A partir do seu n. 6, em novembro de 1892 assume o mote: “Trabalhadores, esperem tudo do socialismo, nada da burguesia”. A conclamação ajuda a compreender o seu caráter de intervenção na vida pública, atuando no interesse geral dos trabalhadores, motivo pelo qual a educação se tornaria parte da luta política. Para tanto, “elevar” a condição intelectual e cultural dos trabalhadores era parte de um esforço de expansão e qualificação do próprio socialismo: “Trabalhadores, vocês não são crianças, a menos que estejam de joelhos: levantem-se”, conforme lemos na edição de 7 de janeiro de 1893.4 4 “Lavoratori, dal socialismo sperate tutto, nulla dalla borghesia". “Lavoratori, voi non siete piccini se non perché state in ginocchio: alzatevi”. Todas as traduções livres para o português são da minha responsabilidade. Nesse sentido, o jornal se caracteriza por ser um tipo de porta-voz das necessidades cotidianas dos trabalhadores, se engajando nas suas lutas econômicas e sociais, ao mesmo tempo que procura contribuir para a sua formação geral. Por isso, além das seções destinadas a dar visibilidade aos grandes problemas detectados nas relações entre capital e trabalho, propõe seções tais como Saggio sul socialismo scientifico, um suplemento mensal denominado Per l’idea e, a partir de 1896, um suplemento quinzenal intitulado La Parola dei poveri. Com isso, o entendimento da política se alarga, uma vez que o reconhecimento da cultura e da educação como condições necessárias da luta política é constante nas páginas do periódico italiano. Daí a presença sistemática da poesia e da literatura, das discussões sobre o teatro, da divulgação da música, do estímulo à produção poética e teatral do povo, além de escritos sobre a necessária educação estética dos trabalhadores como parte da sua busca por um mundo melhor e uma vida mais digna.

A formação dos trabalhadores.

“O que você está fazendo aqui, seu imbecil? Eles são um insulto para suas roupas esfarrapadas, seus braços feridos pelo trabalho, para todo o seu pobre corpo marcado pelo sofrimento diário”!5 5 Che fai qui, imbecille? Esse sono un insulto alle tue vesti strappate, alle tue braccia affrante dalla fatica, a tutto il tuo povero corpo stritolato dai patimenti quotidiani!

Assim, uma mulher se dirigia a um trabalhador que assistia a um desfile de carroças no centro da cidade de Turim. A imagem foi produzida em um longo texto publicado no número 3 do jornal, o qual criticava a economia sob a produção capitalista, e o quanto ela contribuía para a “fadiga e a imbecilidade dos trabalhadores” (não aparecia a palavra alienação, ainda). Não parece ser casual que na pequena imagem criada pelo editor do periódico, uma mulher advertisse o trabalhador que olhava o espetáculo da via pública. O tema da emancipação da mulher é recorrente nas páginas do periódico, bem como o da criança como um vir a ser dos trabalhadores contra a tirania da ignorância, como se observa em um poema de quatro estrofes publicado em 25 de setembro de 1892, no número 9, por um autor identificado apenas como Micael:

Porque, oh querida criança Nos seus dias fugazes Negligencia os seus estudos? Você não entende os voos ousados O que o pensamento pode realizar? Ah você não sabe que a instrução É grande mestra do povo Que conduz a razão, que nos orienta nos eventos Que é a glória de saber? e é a vida do progresso que é o abraço dos irmãos que das pessoas é a vizinha e o amor de todos aqueles que têm piedade dos pobres? Se na sua cabeça, e com pensamento, voa, voa, no grande mundo estuda a beleza, estuda a verdade, e cada mal combate a fundo Faz triunfar a humanidade!6 6 Perchè, o caro fanciulletto/basi i giorni tuoi fugaci /negli studi si negletto?/Non comprendi i voli audaci/Che può compire il pensier?/Oh non sai che l'struzione/gran maestra è delle genti/che coltiva la ragione/che ci è guida negli eventi/Che la gloria del saper/Ch'è la vita del progresso/ch'è l'abbraccio dei fratelli/ch'è dei popoli l'impresso/e l'amor di tutti quelli/che del misero han pietà?/Se tu testa i col pensiero/vola, vola, sul grande mondo/studia il bello, studia il vero/e ogni mal combatti a fondo/Fa triunfar l'umanità!

Desde os seus primeiros números a educação está presente nas preocupações do jornal. Ela aparece em matérias que vão desde notícias sobre a ocorrência, a precariedade e a discriminação das escolas oficiais, passando pela divulgação de iniciativas escolares para as famílias dos trabalhadores, fossem crianças ou adultos, e fomentando inúmeras iniciativas de educação social. Il Grido del Popolo registra muitas ocorrências que podemos tomar como referências para a compreensão da história da educação dos trabalhadores, dos operários, do povo. Em muitos casos foram observados anúncios sobre escolas que ofereciam “ensinamentos práticos”, “educação superior”, “licenças técnicas” e possibilidade de certificação para a realização de certos exames de caráter oficial, já nas primeiras edições do jornal, em 1892. Normalmente eram iniciativas de associações ou mesmo de indivíduos que ofereciam a escola gratuitamente para os trabalhadores, ou mediante o pagamento de uma taxa anual. Eram muitas experiências diferentes: desde escolas dominicais (ou de fim de semana), passando por escolas com atendimento regular, até as escolas noturnas. Estavam destinadas tanto às mulheres quanto aos homens, sendo que as escolas noturnas funcionavam das 20h às 23h e as dominicais das 13h às 19h.

Normalmente os editoriais do jornal eram incisivos nos diagnósticos que faziam, e duros na proposição de possíveis remédios. Comentando, por exemplo, a relação entre miséria e prostituição, o editorialista do n. 11, de 16 de outubro de 1892, não se intimidava ao denunciar que a culpa era da desigualdade social. Segundo ele, istruzione e educazione seriam palavras suficientes para definir o programa de um jornal, pois a emancipação humana compreenderia as duas palavras. Com isso justificava o programa de Il Grido del Popolo para “desvelar o cérebro da ignorância”, atestando que o ignorante “... é incapaz de pensar por si, sempre dará razão a quem se lhe impõe, obedecerá cegamente”. Para ele o homem incivilizado não pode ser livre. “A educação é para nós a deusa do futuro, com ela e por ela nos sentimos firmemente prontos para lutar contra todas as batalhas que o futuro possa nos preparar” (Il Grido del Popolo, n. 11, 1892, p. 4)7 7 “L'istruzione è per noi la dea dell'avvenire, con essa e per essa noi ci sentiamo gagliardamente pronti a combattere tutte le battaglie che l’avvenire può prepararci”. . O autor denunciava as dificuldades para a educação formal dos trabalhadores. Entre elas, o fato de só poderem frequentar as poucas escolas disponíveis depois de aproximadamente 14 horas de trabalho diário, incluídos os sábados. Como poderiam, então, formar-se premidos pelo cansaço e a fadiga, ocupar as escolas e manter a sua frequência? Sem dúvida, concluía, era necessário muita coragem, perseverança e sacrifício por parte dos trabalhadores.

Há no diagnóstico do editor um reconhecimento que seria explorado poucos meses depois por Edmondo De Amicis: aos pobres era negado o direito à educação e o acesso à cultura. Em um artigo intitulado Ignoranza plebea e mezza cultura borghese, o autor de Cuore chamava de desonesta a “ignorância” das classes médias e da elite, que não estimulavam a educação de toda a população por considerarem-na problema de “cada um”, e não um problema social. Ao observar que classe média e elite criticavam a adesão popular ao socialismo como um desejo de “realizar-se com o dinheiro dos outros”, De Amicis destacava que a ignorância plebeia era aquela da “multidão inumerável”, que não estudara porque não teve condições para tal, e não se apercebia disso. Afirmava que era um tipo de ignorância “sem culpa”, diferentemente daquela das camadas médias e das elites, que frequentavam bons colégios, tinham acesso a todo tipo de produção cultural, conheciam as maiores realizações e os potenciais do gênero humano. Daí a desonestidade da sua negativa em relação à educação dos pobres, e os limites da sua “meia educação”, uma vez que bem sabiam os efeitos da cultura no processo de humanização de todos os indivíduos, até mesmo os mais pobres.

Embora não desse lustro ideológico à sua crítica, o trabalho de Edmondo De Amicis, que se negara três meses antes a ser candidato a deputado pelos socialistas em nome da sua liberdade para “pensar e escrever”, ecoa a crítica de Adolfo Pistoja, feita no mesmo número do jornal. O autor criticava os estudantes da Università di Torino, todos de famílias “com posses”, pois se ocupavam do “balé, das artes, e não da política ou da questão social” (El Grido del Popolo, anno 3, n. 4, p. 4). A ignorância de uns parecia ser alimentada com outro tipo de ignorância, aquele dos grupos sociais com maior acesso à cultura e, sobretudo, com condições econômicas favoráveis. Essa seria a tônica do jornal ao longo de toda a sua inserção no debate sobre a educação e o seu caráter público, a partir de um conjunto de denúncias, diagnósticos e propostas de solução. Aquela crítica mostrava que 55 em cada 100 habitantes da região norte da Itália, a mais rica, eram analfabetos (na Itália meridional a situação era ainda mais drástica). E questionava como a educação poderia ser uma condição básica de humanização, fundamental para a formação de todos os homens, se estava assentada em uma “educação de asnices, de velhacarias, de parasitismo, que não enfrentava os problemas sociais reais”. Claramente a solução seria uma educazione política para a qual a imprensa teria muito com o que contribuir. Il miglioramento dell’uomo, título do artigo de Guglielmo Ferrero, sintetizava bem essa premissa: “O homem é, em geral, uma horrível besta. Mas também é uma besta que se deixa domesticar”. (Il Grido del Popolo, anno II, n. 13, p. 4, 1893).8 8 “L’uomo è in generale una brutta bestia. Ma è anche una bestia che si lascia domesticare”.

A educação estética no processo de formação dos trabalhadores.

Das muitas iniciativas para a formação estética dos trabalhadores, uma delas eram as conferências públicas, as quais podiam versar sobre os mais diversos temas. Desde lições sobre a ciência positiva, passando por algumas grandes obras da literatura universal, até exortações sobre a importância da beleza na vida. A literatura era estimulada tanto como a capacidade do homem de imaginar outros mundos possíveis, como uma possibilidade de conhecer as experiências do passado. Praticamente todos os números do jornal no período aqui delimitado apresentavam comentários de obras, conclamavam os leitores a enviar sugestões de leitura e reivindicavam a construção de bibliotecas, inclusive itinerantes, de modo que se pudesse disseminar o hábito e o gosto pela literatura. Nesse esforço também se estimulava a produção literária dos trabalhadores, e em muitos casos foram publicados poemas ou piccole storie de autores anônimos - homens e mulheres - alguns que se identificam apenas pela sua profissão ou ocupação. Claro que esta poderia bem ser uma estratégia dos editores. Mas diante da escassez de informações sobre a origem de alguns trabalhos publicados no jornal, do fato de ser uma iniciativa de trabalhadores tipógrafos, logo, alfabetizados, e considerando que o periódico tinha uma preocupação com a vida cotidiana da gente comum, não temos porque ignorar que poderia ser iniciativa de alguns leitores a produção e publicação dos seus trabalhos a partir do estimulo dado pelo jornal.9 9 O jornal divulgava constantemente notícias sobre o cotidiano do Piemonte. Desde atritos entre vizinhos, brigas em bares ou nas ruas, roubos etc., sempre exortando os pobres a procurarem o entendimento e o respeito recíproco. Sobretudo, denunciando o alcoolismo. Se esse tipo de evento “miúdo” tinha espaço no jornal, não é difícil supor que as possibilidades criativas do povo também tivessem espaço nas suas páginas. Aliás, a capacidade criativa do gênero humano era um aspecto constantemente evocado.

Com frequência alguns dos trabalhos publicados pelo jornal retratavam as festividades populares. São inúmeros os registros sobre as mesmas, às vezes expressando efemérides mais amplas (muitas religiosas), outras se contrapondo ao que era considerado um calendário oficial de festas, normalmente patrocinadas pela monarquia Savóia. Aquelas festas populares normalmente duravam um fim de semana, e na sua programação constavam banquetes, discursos, apresentações artísticas (dança, recitais de música e poesia, teatro) e todo tipo de conclamação à causa operária. Como no caso da Festa Operaia a Casalborgone, em homenagem ao 40º Aniversário da fundação da sociedade operária e agrícola local (Il Grido del Popolo, n. 35, 8/9/1894, p. 4). Nesses eventos eram comuns a elocução de fatos edificantes a partir de fragmentos literários, bem como a divulgação de atividades artísticas como a dança e o teatro.

Um exemplo das exortações do jornal em relação ao direito ao prazer está expresso no editorial no n. 45, de 1895: “O que querem os socialistas e o que eles não querem”.10 10 “Cosa vogliono i socialisti e che cosa essi non vogliono” Seguem os argumentos do editor:

Muitos pensam e sustentam que nós socialistas queremos reduzir a humanidade a ter a vida de frades trapistas e abolir toda sorte de comodidade e prazer. Essa é uma suposição gratuita e desleal dos nossos adversários pouco espirituosos.

Nós cremos que o homem está no mundo para gozar e não para sofrer. Nós sabemos que o progresso humano consiste em uma soma crescente de prazer obtido de uma quantidade relativamente decrescente de esforço, e nos sorri como meta distante, a época vaticinada por Emile Zola, na qual todo trabalho material da produção será feito pelas máquinas e o homem “não terá outra coisa a fazer que não seja gozar as suas próprias criações” (Il Grido del Popolo, n. 45, 10/11/1894, p. 1).

O editorial, em tom quase pedagógico, quiçá moralista, concluía: “Mas antes de você gozar, você tem que pensar em viver”11 11 “Ma prima di godere bisogna pensare a vivere”. . Se por um lado, a título de debate com os críticos do socialismo, mobilizando uma citação do autor de Germinal, o autor do texto deixa em segundo plano o prazer, como uma promessa que seria conquistada com a resolução dos problemas materiais mais elementares da vida, por outro fica patente que não era negligenciada a fruição da vida como um direito dos trabalhadores. Mais, do que isso, a conquista do tempo livre parecia indicar que em algum lugar do futuro todos os homens poderiam, enfim, criar e fruir das suas criações, tal como na utopia de William Morris, publicada em Notícias de lugar nenhum (2002MORRIS, W. Notícias de lugar nenhum ou uma época de tranquilidade. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2002 [1892]. [1892]) apenas dois anos antes. Logo, o usufruto do tempo livre e a fruição estética deixariam de ser prerrogativa dos mais ricos e dos poderosos. O editorial não deixava dúvidas: “As belas artes, a instrução, a educação, o bem-estar, não são universais e estão destinados aos mais ricos, apenas”. Se o tempo libero era uma utopia, nem por isso ele deixou de estimular o senso estético dos trabalhadores no final do novecento italiano (MOTHÉ, 1998MOTHÉ, D. L’utopia del tempo libero. Torino: Bollati Boringhieri Editore, 1998 [1997].).

Ao tecer elogio às associações, às escolas, aos círculos, às “seratas”, às escolas-oficina, as conferências patrocinadas por diferentes grupos de trabalhadores que não dependiam dos outros, seja o Estado ou os ricos, Il Grido del Popolo observava a ambivalência com a qual os trabalhadores operários eram tratados conforme a conveniência dos jogos de poder. Em tempos de eleição normalmente eram considerados generosos, honestos, corretos na sua vida pública e privada. Porém, na maioria do tempo eram taxados de ignorantes, egoístas, bêbados, turbulentos, insensíveis etc. Não por outro motivo, podemos imaginar, Edmondo De Amicis contestava um admirado dramaturgo milanês, não identificado, que discordava do socialismo pela sua defesa da igualdade, pois ele, o dramaturgo, “odiava essa palavra”. Ironicamente De Amicis afirmava, após um longo arrazoado no qual desconstruía qualquer ideia de igualdade natural, que os burgueses “...negavam aos demais isso que consideram como direito. Os escritores, em particular, teriam um secreto ressentimento contra as massas incultas, as quais não compreendem a sua obra e ignoram a sua forma”. E seguia argumentando:

Mas quem tem coração de verdadeiro artista não deveria ser capaz deste ressentimento injusto, que tem raiz em um orgulho mesquinho; deveria, antes, em relação a essa situação que pode, de fato, angustiar, reconhece-la, mas ela não deveria ofendê-lo. Deveria reconhecer nela um argumento a favor da ideia socialista, a qual, trazendo em si um dos mais altos graus de instrução popular, elevando a multidão a um estado de vida mais intelectual, promete aos escritores e aos artistas um outro campo de glória em relação àquele que hoje lhe é conferido. (Il Grido del Popolo, anno V, n. 7, 15.2/1896, p. 7).

Considerava que: “A luz é o calor da instrução. Do campo às minas e às montanhas, onde esteja, há um coração que palpita e um rosto que sua. Como a sua alma não inflama de entusiasmo com essa ideia? Essa é a única razão humana...”. O autor concluía ironizando o seu interlocutor, argumentando que o papel dos artistas era fundamental para construir a sociedade futura, na qual a palavra desigualdade desapareceria e seria coisa do passado. A igualdade preconizada pelos socialistas, e atacada por muitas pessoas cultas, só poderia ser conquistada através de uma ampla reforma social que levasse em consideração a reforma dos costumes.

Contrariando a ideia disseminada pela Igreja e pela burguesia, em 7/2/1897 Il Grido del Popolo assim se manifestava sobre La questione dell`amore: “Existem inúmeras formas de tratar, definir e considerar o amor, desde as mais estranhas e bizarras, passando pelas formas brutas de instintiva satisfação, até chegar ao sentido moderno mais complexo. Como a sociedade capitalista trata essa grande e primeira necessidade humana? Com duas instituições que se completam: o matrimônio e a prostituição, que valem uma pela outra” (Il Grido del Popolo, anno VI, n. 6, 7/2/1897, p. 2). O texto considerava que o sexo é do domínio da liberdade e não deveria ser definido pela família, a qual obrigava os jovens a casarem com quem não se ama. Essas considerações apareciam no mesmo período no qual se divulgava o Congresso Femminile Internazionale, que aconteceria em agosto do mesmo ano, em Bruxelas.

Essa dimensão, aqui tratada como estética, amplia o seu entendimento para além da dimensão artística, embora seja notável como a jornal tinha a arte e os seus produtos como uma das dimensões mais importantes no processo de formação dos trabalhadores. Mas um conjunto de reflexões e práticas eram divulgadas com a intenção de dar um outro sentido à suas vidas, de modo a afetá-las positivamente, segundo os preceitos defendidos pelo jornal. Daí que campanhas contra o alcoolismo, de higienização, pela ampliação da escolarização, contra a religião nas escolas, pela liberdade de imprensa e a disseminação dos livros combinavam elementos de propaganda política com pautas reformadoras dos costumes. Esse esforço de construção ou redefinição cultural é claramente estético, na medida em que implica um esforço valorativo alternativo em relação aos valores de outros grupos sociais. Ou seja, é uma reposta não apenas às formas de organização do mundo material da vida, marcado pela economia e pelo trabalho, mas também passaria por uma nova “economia das emoções”, estimulando outras formas de ser, pensar e agir como respostas às formas consagradas pela tradição. Nesse sentido, a alusão à Vênus de Milo, às obras de Richard Wagner, à literatura de Zola, Goethe ou Hugo, como patrimônio humano que fora apropriado por alguns poucos, parece ser um claro esforço axiológico de dar aos trabalhadores alimentos que vão além do estômago, reconhecendo, no entanto, a dimensão histórica e social da desigual partição do poder. Era de cultura comum que se tratava. (WILLIAMS, 2003WILLIAMS, R. La larga revolución. Buenos Aires: Nueva Visión, 2003.).

Assim, constantemente o jornal precisava se defender dos ataques desferidos contra o socialismo no que se refere à arte e à cultura. Já em 1900, no n. 8, de 24 de fevereiro, o editorial do jornal se posicionava contra a “denúncia” de que o socialismo mataria a arte. “Arte é vida, e a vida é de todos!”, proclamava o autor, criticando a ideia de que só os ricos teriam direito ao seu usufruto. Na semana seguinte, em 3 de março, duas outras matérias se ocupam do tema. A primeira, relativamente objetiva, rebatia as críticas afirmando que Edmondo De Amicis e Richard Wagner seriam socialistas. Na sequência discutia os motivos pelos quais enormes teatros poderiam estar vazios durante uma apresentação. A conclusão era que, sendo caro, o teatro não era para todos, o que não significa que os trabalhadores não tivessem interesse pela arte. No mesmo número do jornal, um longo texto intitulado Interessamento dei socialisti per la scienza e per l’arte se questionava a acusação de que os socialistas desejavam apenas a satisfação material.

Nós socialistas, que frequente e artificialmente somos apresentados como interessados apenas nos interesses materiais, maliciosamente pintados como uma nova horda de bárbaros invasores, nos preocupamos muitíssimo, ao contrário, com as satisfações e as necessidades intelectuais, com as aspirações artísticas das massas; nos interessa que possamos coletar elementos de beleza para a alma popular.

Frente ao agitar-se crescente dos sentimentos e dos pensamentos na consciência do povo; frente às pesquisas de todos os dias que buscam ansiosamente o verdadeiro e o justo, nós queremos ver surgir sempre mais belos os tempos da ciência, que nos redime da ignorância, e da arte, que dá ao espírito os mais altos prazeres.

Portanto, nós sentimos verdadeiramente que temos o dever civil de conservar aqueles tesouros do pensamento e da arte os quais, uma vez perdidos, jamais serão substituídos; que nos foram confiados pelos nossos antepassados, e que tiveram e têm, todos, o caráter de uma verdadeira e benéfica propriedade coletiva (Il Grido del Popolo, n. 9, 1900, p. 2).

A reivindicação da arte como patrimônio de todos, uma dimensão importante da cultura comum, certamente questionava as formas de organização social baseadas na distinção e na estratificação social (THOMPSON, 1998THOMPSON, E. P. Costumes em comum. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.; WILLIAMS, 2003WILLIAMS, R. La larga revolución. Buenos Aires: Nueva Visión, 2003.). Nesse sentido, as manifestações artísticas e/ou culturais “bárbaras”, dos trabalhadores, não corresponderiam aos “elevados” anseios estéticos reivindicados pela burguesia e pela aristocracia. Isso parece justificar a necessidade permanente de muitos autores escreverem no jornal combatendo esse tipo de pressuposto. Daí a constante reivindicação do gênio humano como algo que é compartilhado por todos, homens e mulheres, independentemente da sua condição econômica e social. Daí, também, a denúncia que os pobres não fruíam a produção artística, primeiro, por terem sido convencidos que eram incapazes de fazê-lo, depois, por não possuírem as ferramentas para alcançá-la. Esse tipo de reconhecimento, no entanto, produziria uma cisão entre os socialistas, como demonstra o exemplo do debate sobre o teatro. Para alguns autores, o teatro como patrimônio comum deveria ser estimulado entre os trabalhadores, fossem eles espectadores, criadores ou atores. Por outro lado, havia os que defendiam que o teatro deveria ter um caráter instrutivo-utilitário, pois deveria preparar os trabalhadores para a luta política. Parecia haver uma tensão entre a dimensão estética por ela mesma e a arte como meio. No primeiro caso, a arte seria um potente meio de formação geral com todo o seu potencial de humanização, não servindo apenas à luta política. Mas havia quem defendesse a arte em sua dimensão utilitária, ou seja, como meio para preparar os trabalhadores para a luta política, defendendo o que seria um caráter pedagógico do teatro. Isso mostra como não havia consenso entre os líderes dos trabalhadores - os editores, autores de programas políticos, intelectuais - em relação ao pleno sentido da arte para os mais pobres, ou mesmo em relação ao alcance da dimensão estética na organização da sua vida.

Cabe, para finalizar, destacar que mesmo as tentativas de institucionalização das formas de educação consideravam a arte no seu escopo. No ano de 1900, em novembro, tiveram início as atividades da Università Popolare, fundada por Donato Bachi e Pio Foà, e presidida inicialmente pelo último.12 12 Pio Foà foi um médico lombardo de origem judia. Depois de passar por diversas centros de estudos e pesquisas na Itália e no exterior, tendo trabalhado inclusive com Cesare Lombroso, fixou-se em Turim. Ocupou-se da anatomia patológica, mas dedicou-se, entre tantos outros, aos estudos sobre as doenças que afetavam os pobres, à educação sexual, à higiene e ao alcoolismo. Muitos dos seus trabalhos foram publicados em Il Grido del Popolo. Era um claro defensor do “esclarecimento popular” e denunciava as condições de vida dos trabalhadores. Foi, ainda, senador, sendo, em 1917, relator do projeto de lei de reforma da Scuola Normale, além de apoiar o programa de reforma escolar de Benedetto Croce. Donato Bachi, também de origem judia, foi um político turinês ligado ao socialismo desde o princípio e destacou-se na luta antifascista. Amigo de Luigi Einaudi e Camillo Olivetti, trabalhou junto à fundição Nebiolo, que produzia caracteres tipográficos e máquinas em geral. Além da Università Popolare fundou o Istituto Case Populare e foi presidente do Istitutto Cesare Lombroso. No jornal escrevia sobre temas diversos, ligados à política e à cultura. Amedeo Herlitzka, médico fisiologista e cirurgião judeu, nasceu no Trieste mas viveu a maior parte do tempo em Turim, onde trabalhou junto a Angelo Mosso. Se ocupou da fisiologia da visão e dos músculos, tendo feito pesquisas sobre a respiração. Aperfeiçoou o plestimógrafo que teria sido inventado por Mosso, além de tê-lo substituído como professor na Università di Torino após a sua morte, em 1910. Dirigiu o Istituto Angelo Mosso. Tendo atuado como médico voluntário na Primeira Guerra, interessou-se pelos efeitos dos gases tóxicos no organismo. Com as leis raciais do fascismo exilou-se na Argentina. Disponível em <http://www.treccani.it/enciclopedia>. Acesso em: 22 mai. 2018. Um dos seus primeiros colaboradores foi Amedeo Herlitzka. Definindo que o dever do jornalismo era "oferecer oportunidade à grande massa de socialistas ou acesso a uma grande fonte de força moral e intelectual que é a ciência", como descrito em El Grido del Popolo no início de suas atividades no ano de 1900, seu programa oferecia palestras gratuitas sobre vários tópicos. Os professores eram voluntários, que trabalhavam na cidade. Entre eles ali ensinaram Edmondo De Amicis, Amedeo Herlitzka, Cesare Lombroso, Angelo Mosso, Luigi Einaudi, entre outros. Ou seja, alguns dos mais destacados intelectuais do seu tempo, que marcariam a história da política e da cultura italianas.13 13 Como exemplo basta lembrar que Luigi Einaudi, um liberal clássico, foi o primeiro presidente da república italiana, fundada em 1946. A primeira iniciativa obteve o registro de 700 alunos ouvintes, 605 homens e 95 mulheres, entre 16 e 75 anos de idade, mas com concentração entre 16 e 27 anos. Os alunos eram trabalhadores com diferentes níveis de educação, fossem eles estudantes universitários ou aqueles que tinham apenas a escola inicial. Havia também diversos perfis de origem profissional: técnicos, operários, trabalhadores domésticos ou aqueles sem nenhuma profissão. Entre tantas outras matérias ali oferecidas à comunidade estavam a Literatura e Parini e a poesia civil. Os cursos mais frequentados no primeiro ano foram os de Ciências. As mulheres assistiram principalmente ao curso de Literatura, enquanto os operários o curso de Economia Política.

Entre os muitos temas abordados nos anos 1900/1901 estiveram A evolução da economia do século XIX, A vida e os costumes dos animais, A história da propriedade, Higiene industrial, Eletricidade, Política econômica, Elementos do sistema nervoso, Elementos de Botânica, além dos já citados cursos de Literatura e Poesia. Aspecto importante para pensar a educação estética e a mobilização dos sentidos, além dos cursos havia "projeções luminosas de fotografia, demonstrações práticas e experiências". Os cursos tiveram uma média de 6 ou 12 semanas de aulas, sempre ocorrendo em um dia específico da semana. O jornal, um dos seus incentivadores, acompanhava o desenvolvimento da Universidade, publicando balanços, relatórios, listas de cursos, preços e também críticas. Por exemplo, o próprio diretor criticou os trabalhadores de Turim porque eles não queriam acorrer aos cursos, enquanto em Milão "4 ou 5 mil trabalhadores procuram a universidade". Mas também houve críticas sobre a natureza elitista da iniciativa, uma vez que as preocupações com o "estômago", segundo alguns, não permitiriam que os trabalhadores se dedicassem a lições e estudos gerais.

A Universidade Popular foi uma iniciativa de socialização que visava a formação de trabalhadores, tanto como forma de desenvolver seu potencial de luta política, quanto expressão do desejo de melhoria geral da sociedade. Foi profundamente criticada por Gamsci na década de 1920 por, segundo o autor, representar uma tentativa da burguesia de impor aos trabalhadores uma cultura alheia à sua.

Conclusões

Na segunda metade do século XIX, o tema “educação” estava na pauta de diferentes movimentos organizados pela Igreja, dos trabalhadores, das sociedades de socorro mútuo, entre outros, preocupados com as condições de vida dos trabalhadores pobres. Sendo a escola ainda uma promessa, muitas iniciativas de educação foram mobilizadas por essas organizações, caracterizando ou exibindo formas de educação social. Entre as formas observadas no jornal italiano aqui rapidamente tratado estavam os espaços recreativos, festivais, as artes (teatro, música, desenho), publicações educativas e palestras públicas. O exemplo aqui apresentado ajuda a atualizar as investigações de Thompson (1987THOMPSON, E. P. A formação da classe operária inglesa - a formação dos trabalhadores. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1987.; 1998THOMPSON, E. P. Costumes em comum. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.) sobre os usos do tempo livre pelos trabalhadores em geral e pelos operários, em particular. Um tempo que muitos usaram como possibilidade de desenvolvimento pessoal e de classe. Daqueles anos, temos indicações significativas de que os trabalhadores não esperavam passivamente pelo estado ou pelas condições das elites para suas práticas de formação.

Essa tentativa de fomentar a elevação moral e intelectual das massas, mote do movimento socialista desde fins do séc. XIX, não excluía a educação estética. Ainda que a ciência, coqueluche do momento, recebesse a maior atenção dos autores que publicavam em Il Grido del Popolo, é frequente a ocorrência de trabalhos que tratavam daquela dimensão da formação. Literatura, poesia, música, teatro, viagens, atividades junto à natureza compunham um amplo leque de práticas que eram consideradas fundamentais no processo de formação dos trabalhadores. Elas eram tanto divulgadas nas páginas do jornal, denotando um tipo de concepção educativa que não negligenciava a dimensão estética, quanto desenvolvidas em clubes, sociedades e em outros espaços considerados públicos, como demonstram as viagens à praia, às montanhas ou ao campo. Recitais de música e poesia, representações teatrais, leitura pública de obras literárias eram estimuladas, consideradas uma condição necessária do melhoramento geral da condição de vida dos trabalhadores. Estes eram, ainda, estimulados a produzir a suas formas de expressão autoral, e compartilhá-las com os seus companheiros, em um exercício de compartilhamento de experiências que tinha a cultura e a arte como herança e direito de usufruto de todos.

Por outro lado, é preciso considerar, recuperando Antonio Gramsci, que os promotores e divulgadores daquelas práticas eram pessoas pertencentes às camadas médias da população, ou trabalhadores militantes alfabetizados, ligados à corporação dos tipógrafos. Isso destoava da condição da maioria dos trabalhadores que não tinham oportunidades de educação formal, não eram alfabetizados e tinham limitadas possibilidades de acesso ao que viria a ser denominado de “bens culturais”, em um momento que a cultura de massa ainda não havia democratizado o acesso à cultura.14 14 Sobre as possibilidades e os limites da democratização cultural pela chamada cultura de massas é preciso reconhecer os inestimáveis trabalhos de Richard Hoggart (1957) e Raymond Williams (1961). Ambos os autores não deixam de reconhecer a sua potencialidade como ampliação das oportunidades de acesso à cultura. Mas diagnosticam que a sua promessa de levar à cultura a todos não apenas contribuiu para produzir um tipo de produto cultural descartável, de qualidade mais do que duvidosa, como também, politicamente representou a possibilidade dos seus promotores alardearem que a sociedade de classe estava superada, na medida em que a cultura teria se democratizado. Ainda assim, a mescla entre tradição popular - festas, jogos etc. - e as práticas da “alta cultura” pareciam compor um universo caracterizado por Raymond Williams como “cultura comum”, logo, que é do domínio de todo o gênero humano por sua condição inextricavelmente social. Algo que estava no horizonte dos trabalhadores como necessidade e direito, simultaneamente, e pela qual eles não cessaram de lutar.

REFERÊNCIAS

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  • WILLIAMS, R. La larga revolución Buenos Aires: Nueva Visión, 2003.
  • 1
    O artigo apresenta parte dos resultados do estágio pós-doutoral realizado junto à Università degli Studi di Torino, na Itália, em 2016. O estágio foi financiado com bolsa PDE pelo CNPq. Agradeço a leitura atenta e as observações de Paolo Bianchini.
  • 2
    Entre os seus diretores ao longo da série encontram-se os nomes de Vittorio Chenal, Silvio Pampione, Giusto Calvi, Angelo Ferrari, Giuseppe Romita, Francesco Repaci e Armando Sessi. Os redatores eram Emanuele Alberti, Carlo Gozzelino, Erivaldo Bartolini, Vittorio Barge, Dante Alignani, Pietro Follis.
  • 3
    Righi (2014RIGHI, M. L. G. Esordi di Gramsci al «Grido del popolo» e all'«Avanti!» (1915-1916). Studi storici, 3/2014, pp. 727-758.), levanta a hipótese de alguns dos textos localizados em Il Grido del Popolo após 1915 não serem de autoria do pensador sardo. Mas isso não interfere nos propósitos deste artigo, seja pela sua demarcação temporal ou pela sua temática central, ainda que em 29 de janeiro de 1916 o autor tenha publicado um texto que se tornaria clássico, no que se refere ao debate sobre educação e cultura, chamado Socialismo e cultura. A reprodução in toto do referido artigo está disponível em <http://www.tempipostmoderni.it/antonio-gramsci-socialismo-e-cultura/> Acesso em: 30 abr. 2018.
  • 4
    “Lavoratori, dal socialismo sperate tutto, nulla dalla borghesia". “Lavoratori, voi non siete piccini se non perché state in ginocchio: alzatevi”. Todas as traduções livres para o português são da minha responsabilidade.
  • 5
    Che fai qui, imbecille? Esse sono un insulto alle tue vesti strappate, alle tue braccia affrante dalla fatica, a tutto il tuo povero corpo stritolato dai patimenti quotidiani!
  • 6
    Perchè, o caro fanciulletto/basi i giorni tuoi fugaci /negli studi si negletto?/Non comprendi i voli audaci/Che può compire il pensier?/Oh non sai che l'struzione/gran maestra è delle genti/che coltiva la ragione/che ci è guida negli eventi/Che la gloria del saper/Ch'è la vita del progresso/ch'è l'abbraccio dei fratelli/ch'è dei popoli l'impresso/e l'amor di tutti quelli/che del misero han pietà?/Se tu testa i col pensiero/vola, vola, sul grande mondo/studia il bello, studia il vero/e ogni mal combatti a fondo/Fa triunfar l'umanità!
  • 7
    “L'istruzione è per noi la dea dell'avvenire, con essa e per essa noi ci sentiamo gagliardamente pronti a combattere tutte le battaglie che l’avvenire può prepararci”.
  • 8
    “L’uomo è in generale una brutta bestia. Ma è anche una bestia che si lascia domesticare”.
  • 9
    O jornal divulgava constantemente notícias sobre o cotidiano do Piemonte. Desde atritos entre vizinhos, brigas em bares ou nas ruas, roubos etc., sempre exortando os pobres a procurarem o entendimento e o respeito recíproco. Sobretudo, denunciando o alcoolismo. Se esse tipo de evento “miúdo” tinha espaço no jornal, não é difícil supor que as possibilidades criativas do povo também tivessem espaço nas suas páginas. Aliás, a capacidade criativa do gênero humano era um aspecto constantemente evocado.
  • 10
    “Cosa vogliono i socialisti e che cosa essi non vogliono”
  • 11
    “Ma prima di godere bisogna pensare a vivere”.
  • 12
    Pio Foà foi um médico lombardo de origem judia. Depois de passar por diversas centros de estudos e pesquisas na Itália e no exterior, tendo trabalhado inclusive com Cesare Lombroso, fixou-se em Turim. Ocupou-se da anatomia patológica, mas dedicou-se, entre tantos outros, aos estudos sobre as doenças que afetavam os pobres, à educação sexual, à higiene e ao alcoolismo. Muitos dos seus trabalhos foram publicados em Il Grido del Popolo. Era um claro defensor do “esclarecimento popular” e denunciava as condições de vida dos trabalhadores. Foi, ainda, senador, sendo, em 1917, relator do projeto de lei de reforma da Scuola Normale, além de apoiar o programa de reforma escolar de Benedetto Croce. Donato Bachi, também de origem judia, foi um político turinês ligado ao socialismo desde o princípio e destacou-se na luta antifascista. Amigo de Luigi Einaudi e Camillo Olivetti, trabalhou junto à fundição Nebiolo, que produzia caracteres tipográficos e máquinas em geral. Além da Università Popolare fundou o Istituto Case Populare e foi presidente do Istitutto Cesare Lombroso. No jornal escrevia sobre temas diversos, ligados à política e à cultura. Amedeo Herlitzka, médico fisiologista e cirurgião judeu, nasceu no Trieste mas viveu a maior parte do tempo em Turim, onde trabalhou junto a Angelo Mosso. Se ocupou da fisiologia da visão e dos músculos, tendo feito pesquisas sobre a respiração. Aperfeiçoou o plestimógrafo que teria sido inventado por Mosso, além de tê-lo substituído como professor na Università di Torino após a sua morte, em 1910. Dirigiu o Istituto Angelo Mosso. Tendo atuado como médico voluntário na Primeira Guerra, interessou-se pelos efeitos dos gases tóxicos no organismo. Com as leis raciais do fascismo exilou-se na Argentina. Disponível em <http://www.treccani.it/enciclopedia>. Acesso em: 22 mai. 2018.
  • 13
    Como exemplo basta lembrar que Luigi Einaudi, um liberal clássico, foi o primeiro presidente da república italiana, fundada em 1946.
  • 14
    Sobre as possibilidades e os limites da democratização cultural pela chamada cultura de massas é preciso reconhecer os inestimáveis trabalhos de Richard Hoggart (1957HOGGART, R. La cultura obrera en la sociedad de masas. Buenos Aires: Siglo Veintiuno Editores, 2013 [1957].) e Raymond Williams (1961). Ambos os autores não deixam de reconhecer a sua potencialidade como ampliação das oportunidades de acesso à cultura. Mas diagnosticam que a sua promessa de levar à cultura a todos não apenas contribuiu para produzir um tipo de produto cultural descartável, de qualidade mais do que duvidosa, como também, politicamente representou a possibilidade dos seus promotores alardearem que a sociedade de classe estava superada, na medida em que a cultura teria se democratizado.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Maio 2019
  • Data do Fascículo
    Jan-Feb 2019

Histórico

  • Recebido
    12 Nov 2018
  • Aceito
    14 Dez 2018
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