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Na trilha da educação norte-rio-grandense: a emergência das práticas escoteiras na cidade do Natal no início do século XX

RESUMO

Este artigo tem por objetivo analisar a emergência do escotismo na cidade do Natal-RN no início do século XX, problematizando como este tipo de educação, pensada por Baden-Powell para a realidade de jovens ingleses, foi recepcionada pela elite e autoridades políticas locais. Para percorrer a trilha deixada pela educação escoteira no estado do Rio Grande do Norte, nos apropriamos dos pressupostos teórico-metodológicos da Nova História Cultural e privilegiamos como fontes leis, mensagens de governos, jornais, correspondências e fotografias, ancorados nas considerações teóricas de Sirinelli (2003) sobre o conceito de intelectual, que nos possibilitou pensar as figuras dos fundadores do escotismo natalense e suas redes de sociabilidades. O trabalho constatou que a emergência do escotismo na cidade do Natal foi fruto da iniciativa de intelectuais, cujas redes de sociabilidades foram determinantes para a implantação e consolidação desse modelo de educação no estado.

Palavras-chave:
Educação; Escotismo; Natal; Intelectuais; Redes de sociabilidades

ABSTRACT

This article aims to analyze the emergence of scouting, in the city of Natal- RN, at the beginning of the 20th century, problematizing how this type of education, which was thought by Baden-Powell, for the reality of young English people, was received by the elite and local political authorities. To follow the path left by the scout education in the State of Rio Grande do Norte, we adapted information from the theoretical and methodological hypotheses of the New Cultural History, choosing as sources laws, government messages, newspapers, correspondence, and photographs, based in the theoretical considerations of Sirinelli (2003) about the intellectual concept, which enabled us to think about the founders of the Scouting in the city of Natal, and their network of sociability. The work showed that the emergence of Scouting in the city of Natal was a result of the initiative of intellectuals, whose social networks were determinant to implement and consolidate this model of education in the State.

Keywords:
Education; Scouting; Natal; Intellectuals; Social networks

Introdução

No início do século XX, os centros urbanos brasileiros estavam vivenciando as reformas urbanas, inspiradas pelos modelos de modernização europeia e norte-americana. As transformações urbanas que não ficavam restritas aos aspectos técnicos eram acompanhadas por tentativas de modificar os costumes e hábitos dos habitantes dessas cidades. Uma das preocupações de parte dos grupos dirigentes dos estados brasileiros consistia em adotar comportamentos cosmopolitas, tidos como exemplo de civilização e progresso, e, dessa forma, considerados adequados para uma “urbe” que se encontrava em processo de modernização (SIQUEIRA, 2014SIQUEIRA, Gabriela Fernandes de. Por uma “Cidade Nova”: apropriação e uso do solo urbano no terceiro bairro de Natal (1901-1929). 2014. Dissertação (Mestrado em História) − Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2014.).

As reformas urbanísticas realizadas na cidade do Natal, capital potiguar, no início do século XX, almejavam além do aspecto da salubridade, o embelezamento e modernização da cidade, assim como o disciplinamento dos usos desse espaço urbano, pois, na ótica da elite administrativa republicana, a “urbe” representaria a materialização de toda uma era de progresso e civilidade que emergia após a proclamação da República:

No alvorecer do século XX, Natal era uma cidade caracterizada como provinciana e atrasada, com dois bairros, Ribeira e Cidade Alta, que apresentavam ruas estreitas e sinuosas, cuja configuração espacial consubstanciava funções diversas (SIQUEIRA, 2014SIQUEIRA, Gabriela Fernandes de. Por uma “Cidade Nova”: apropriação e uso do solo urbano no terceiro bairro de Natal (1901-1929). 2014. Dissertação (Mestrado em História) − Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2014.). Destarte, urgia inserir a cidade no caminho do progresso, não só através dos aparatos e aparelhos urbanos, mas também da mudança de hábitos e costumes dos seus habitantes para que Natal se tornasse um centro urbano civilizado, seguindo o modelo europeu.

Para alcançar o tão sonhado progresso desejado pela elite natalense e pela administração republicana, o então governador Alberto Maranhão fez investimentos para reestruturar o espaço público da cidade. Tendo governado o estado norte-rio-grandense durante dois mandatos (1900-1904/ 1908-1913), ele dedicou-se a transformar a capital do estado em uma cidade moderna e civilizada aos moldes dos grandes centros urbanos europeus. Para tanto, realizou diversas obras públicas, a saber: a projeção do terceiro bairro de Natal, denominado “Cidade Nova”; a construção do Teatro Carlos Gomes, que foi concluído em 1904; a iluminação a gás acetileno, em 1905; a implantação do bonde a burro, em 1909; a iluminação elétrica, em 1911; a implantação do bonde elétrico e a construção de jardins públicos. Embora a cidade do Natal não tenha passado por uma intervenção urbana radical, nota-se que os investimentos realizados em prol do reordenamento do espaço público, durante o citado governo, contribuíram para transformá-la, ainda que de forma lenta, dando-lhe contornos e ares de uma cidade que caminhava para o progresso (MARINHO, 2008MARINHO, Márcia Maria Fonseca. Natal também civiliza-se: sociabilidade, lazer e esporte na Belle Epóque natalense (1900-1930). 2008. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2008.).

O padrão de civilidade e progresso que as elites locais almejavam para Natal ia muito além das mudanças estruturais, implicava em uma mudança de comportamento, pois a “população não podia estar presa a hábitos vistos pelas elites como arcaicos, anti-higiênicos ou imorais. Portanto, era preciso enquadrar a população natalense dentro de padrões de civilidades adotados pelos grupos de elite” (MARINHO, 2008MARINHO, Márcia Maria Fonseca. Natal também civiliza-se: sociabilidade, lazer e esporte na Belle Epóque natalense (1900-1930). 2008. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2008., p. 57). Todavia, essa modernização e a ressignificação dos usos dos espaços urbanos não ocorreu de forma imediata, os hábitos e costumes considerados arcaicos coexistiam com práticas e condutas que, segundo o discurso dessa elite, não eram condizentes com uma cidade moderna. É justamente esse discurso que dará respaldo para a implantação do escotismo na cidade do Natal, concebido pelas elites como uma instituição capaz de instruir física e moralmente os seus jovens membros.

O presente artigo tem por objetivo analisar a emergência do escotismo na cidade do Natal-RN, no início do século XX, problematizando como este modelo educacional, idealizado por um general inglês, foi recepcionado pela elite e autoridades política e educacional natalenses. Para tanto, nos apropriamos dos pressupostos teóricos-metodológicos da Nova História Cultural, elegendo como fontes as leis, decretos, mensagens de governo, ofícios, correspondências, jornais, revistas e fotografias; e dialogamos com Sirinelli (2003SIRINELLI, Jean-François. Os intelectuais. In: RÉMOND, Réne(org.). Por uma história política. Tradução de Dora Rocha. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2003. p. 231-269.), cujas considerações sobre o conceito de intelectual foram de suma importância para pensar as figuras dos fundadores do escotismo natalense e suas redes de sociabilidades.

Apontando o caráter polissêmico da palavra intelectual, Sirinelli (2003SIRINELLI, Jean-François. Os intelectuais. In: RÉMOND, Réne(org.). Por uma história política. Tradução de Dora Rocha. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2003. p. 231-269.) apresenta duas acepções para o termo: a primeira, mais ampla e sociocultural, abarca os criadores e mediadores culturais, a exemplo do escritor, jornalista e professor; e a segunda acepção assume um caráter mais restrito e baseia-se na noção de engajamento social. “Tal acepção não é, no fundo, autônoma da anterior, já que são dois elementos de natureza sociocultural” (SIRINELLI, 2003SIRINELLI, Jean-François. Os intelectuais. In: RÉMOND, Réne(org.). Por uma história política. Tradução de Dora Rocha. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2003. p. 231-269., p. 243). Sendo assim, nos apropriamos das duas acepções para pensar os fundadores do escotismo natalense enquanto intelectuais tendo em vista as suas atuações profissionais e os seus engajamentos na vida da cidade do Natal por meio dos seus envolvimentos com a causa da educação e do escotismo.

A emergência do escotismo natalense: uma iniciativa de intelectuais

Prezado amigo Henrique Castriciano. Venho lembrar e pedir à sua bela alma de brasileiro um grande serviço: a criação no Rio Grande do Norte de batalhões de escoteiros. Em São Paulo já temos 8.000 escoteiros; no Rio Grande do Sul, 2.000; na Bahia, em Minas Gerais, no Paraná, em Santa Catarina a organização está encetada. Agite, levante, sustente no Rio Grande do Norte a ideia. Fale ao ilustre Dr. Ponciano Barbosa, a todos os seus amigos, inflame e entusiasme a imprensa, os poetas, todos os homens de fé; promova conferências e artigos de jornais; e seja o diretor e fundador da instituição. Peço-lhe entretanto, que, na propaganda, cale minha sugestão e o meu nome, porque é preciso que a ideia parta, ao mesmo tempo, de várias almas e de várias energias. É indispensável que, no Rio em 7 de setembro de 1922, centenário da Independência, haja uma parada de 10.000 escoteiros brasileiros, de todos os Estados. Abraços fraternais do seu velho admirador e amigo Olavo Bilac (MELO, 1977MELO, Veríssimo de. Os pioneiros do escotismo potiguar. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, Natal, v. 69, p. 117-120, 1977., p. 117).

A carta que transcrevemos aqui, enviada por Olavo Bilac, em 21 de junho de 1916, impulsionou a implantação do escotismo na cidade do Natal. Entretanto, ao invés de se dirigir diretamente ao chefe do Poder Estadual, Bilac faz o seu apelo a Henrique Castriciano, provavelmente, pelo fato de os dois serem velhos conhecidos e cultivarem o amor pela poesia1 1 Olavo Bilac prefaciou o livro “Mãe”, escrito por Henrique Castriciano, publicado em 1899. Outrossim, no ano de 1900, atendendo ao pedido do amigo, Bilac prefacia o livro “Horto”, de autoria de sua irmã Auta de Souza. , ou seja, por fazerem parte das mesmas redes de sociabilidade. Ademais, ele acreditava que os intelectuais eram “responsáveis pela defesa da pátria e pela modernização das estruturas”, inclusive conclamava em suas palestras para que estes “se engajassem na causa nacionalista” (ENGEL, 2012ENGEL, Magali Gouveia. Os intelectuais e a Liga de Defesa Nacional: entre a eugenia e o sanitarismo? (RJ, 1916-1933). Intellèctus, Rio de Janeiro, v. 11, p. 1-30, 2012. Disponível em: Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/intellectus/article/view/27557 . Acesso em:01 jul. 2020.
https://www.e-publicacoes.uerj.br/index....
, p. 3).

Natural do munícipio de Macaíba/RN, Henrique Castriciano nasceu no ano de 1874,

[...] Filho de tradicional elite agrária, foi renomado intelectual, poeta, escritor e político. Destacou-se como grande colunista em jornais da época e personagem atuante na política potiguar, exercendo os cargos de Secretário Administrativo (1900-1910), Procurador Geral do Estado (1908-1914), Vice-Governador do Estado do Rio Grande do Norte (1915- 1923). Foi, no entanto, na cadeira de Secretário Administrativo do governo Alberto Maranhão (1908-1913) que Castriciano conseguiu maior apoio político e econômico para a realização dos seus projetos no campo da educação (RODRIGUES, 2007RODRIGUES, Andréa Gabriel Francelino. Educar para o lar educar para a vida: cultura escolar e modernidade educacional na Escola Doméstica de Natal (1914-1945). 2007. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2007., p. 47).

Como membro da elite local, Castriciano estava inserido no ideário de modernização da cidade e do estado potiguar. Entretanto, para ele, a tão almejada modernização da cidade do Natal, assim como a de todo país, não podia estar limitada apenas aos aspectos físicos e estruturais. Ele defendia que esta modernização deveria vir acompanhada de uma reforma política que difundisse a educação, principalmente aquela voltada à mulher, pois, somente assim, o Brasil teria condições de se igualar as nações desenvolvidas (OLIVEIRA; MARQUES NETO, 2015OLIVEIRA, Iranilson Buriti de; MARQUES NETO, Cosme Ferreira. “Um ninho de cozinheiras?”: Henrique Castriciano de Souza e a “modernidade pedagógica da escola domestica de Natal. Humanidades, Fortaleza, v. 30, n. 2, p. 304-332, jul./dez. 2015.). A visão que Castriciano tinha de modernização, conforme explica Rodrigues (2007RODRIGUES, Andréa Gabriel Francelino. Educar para o lar educar para a vida: cultura escolar e modernidade educacional na Escola Doméstica de Natal (1914-1945). 2007. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2007.), advinha de sua visão de mundo formada pelos autores a que teve acesso e do contato com outras culturas, vivenciadas através da realização de diversas viagens ao exterior, principalmente para tratar da saúde, pois desenvolvera um quadro de tuberculose.

Segundo Oliveira e Marques Neto (2015OLIVEIRA, Iranilson Buriti de; MARQUES NETO, Cosme Ferreira. “Um ninho de cozinheiras?”: Henrique Castriciano de Souza e a “modernidade pedagógica da escola domestica de Natal. Humanidades, Fortaleza, v. 30, n. 2, p. 304-332, jul./dez. 2015.), foi em uma dessas viagens para a Europa, realizada no ano de 1909, para tratar da saúde, que Castriciano aproveitou para conhecer a estrutura do ensino europeu e alargar as pesquisas, que há alguns anos, vinha desenvolvendo sobre a educação feminina. Todavia, foi, sobretudo, quando esteve na Suíça, em visita à École Ménagère de Fribourg, que ele pôde constatar de perto a relevância da educação feminina. Para ele, a Suíça era um modelo a ser seguido pelos brasileiros, pois defendia que a posição socioeconômica que esse país ocupava no cenário mundial era um reflexo do incentivo dispensado à educação feminina.

Imbuído desses ideais, ao retornar da Europa, Henrique Castriciano se articula com outros intelectuais norte-rio-grandenses e funda, em 23 de julho de 1911, a Liga de Ensino do Rio Grande do Norte, instituição que forneceu subsídios para que em 1914 ele fundasse a Escola Doméstica de Natal, uma instituição educacional voltada para o público feminino, inspirada no modelo de Escola Doméstica suíço, para “formar um novo tipo de mulher civilizada para uma nova sociedade que despontava com os primeiros indícios de desenvolvimento social e econômico” (RODRIGUES, 2007RODRIGUES, Andréa Gabriel Francelino. Educar para o lar educar para a vida: cultura escolar e modernidade educacional na Escola Doméstica de Natal (1914-1945). 2007. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2007., p. 83). A inauguração da Escola Doméstica, considerada símbolo de modernização da cidade, representou uma inovação na prática pedagógica local, visto que o ideário pedagógico da instituição estava assentado no modelo pedagógico ativista.

Assim como parte da intelectualidade brasileira, Castriciano acreditava em uma modernização do país via educação, contudo, ele defendia uma educação que também alcançasse o sexo feminino, pois, conforme pregava o ideário republicano, a mulher deveria ser instruída para produzir os cidadãos brasileiros que conduziriam o desenvolvimento da nação. Era preciso deixar para trás os costumes e hábitos do velho regime escravista e incutir na população novas práticas e hábitos condizentes com um país republicano que se modernizava.

É nesse momento de transformação e modernização que o escotismo é introduzido na capital do estado norte-rio-grandense, para intensificar a atenção que era dispensada à formação do futuro cidadão republicano. Dialogando com os ideais de disciplina e saúde dos corpos difundidos pelos esportes, o escotismo era percebido pelas elites nacionais e locais como uma solução para os vícios e mazelas que acometia a sociedade moderna. Destarte, o escotismo vinha “proporcionar aos membros mais jovens das elites uma educação moral, física e cívica” (MARINHO, 2008MARINHO, Márcia Maria Fonseca. Natal também civiliza-se: sociabilidade, lazer e esporte na Belle Epóque natalense (1900-1930). 2008. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2008., p. 97). O estímulo das práticas esportistas e escoteiras refletem a preocupação das elites e dos Poderes Públicos com a educação física e moral da juventude nesse período:

Há nesta capital, desde algum tempo, coincidindo com o renascimento cívico operado em todo paiz, uma tendência bem acentuada da juventude para agrupar-se em associações de caracter sportivo. Julgo merecedor de estimulo esse salutar movimento, pelo muito que representa de iniciativa e sua feição educadora. Apesar de recente fundação de todas ellas, vão prestando real serviço ao desenvolvimento physico dos moços. Tenho- lhes dado modesto apoio, na esperança de que bem adaptadas ao meio, adquiram organização mais complexa visando, além da robustez muscular dos associados, o desenvolvimento moral, à semelhança do que sucede na Europa e na América do Norte com a maioria das associações congêneres. Obedece a esta sabia orientação, o escotismo, a admirável instituição de Baden-Powell, em que os sócios se educam ao mesmo tempo physica e moralmente. Por tal motivo tenho procurado amparar a Associação de Escoteiros norte-rio-grandenses, que já conta com 123 sócios effectivos [sic] (RIO GRANDE DO NORTE, 1918RIO GRANDE DO NORTE. Mensagem apresentada ao Congresso Legislativo na abertura da primeira sessão da décima legislatura, em 1º de novembro de 1918, pelo governador Joaquim Ferreira Chaves. Imprensa Oficial, Natal, 1918., p. 11-12).

Natal refletia a tendência nacional republicana de formar o novo cidadão para a nova sociedade que se edificava. Influenciado pelo discurso médico em voga na época, os intelectuais potiguares almejavam o melhoramento da raça por meio da educação física e moral, tomando como espelho as nações e povos civilizados, a exemplo dos “ingleses, em cujo collegios as horas do recreio constam exclusivamente de jogos hygienicos”, pois “[...] a formação social do inglez tem sua base nos exercícios physicos” [sic] (CASTRICIANO, 1916 apudALBUQUERQUE, 1993ALBUQUERQUE, José Geraldo de(org.). Henrique Castriciano: seleta (textos e poesias). Natal: Liga de Ensino do Rio Grande do Norte, 1993. 1 v., p. 325). Para tanto, urgia mudar os hábitos do povo através da escola pública, dos esportes e do escotismo, moldando os comportamentos desde a mais tenra idade.

É importante destacar que os médicos exerceram uma influência marcante tanto no pensamento quanto na prática educacional brasileira, que foi acentuando-se ao longo de todo o século XIX e tornou-se determinante nas primeiras décadas do século XX. Os médicos se uniram em torno de um projeto nacional que tinha por objetivo higienizar a população brasileira. Era preciso normalizar o corpo de homens e mulheres desde a infância, para isso, o saber médico assumiu um caráter pedagógico e adentrou as escolas para divulgar saberes sobre a saúde e a higiene, pois este é “o lugar da mudança de hábitos, principalmente no setor higiênico e alimentício, de incentivo de exercícios físicos e atividade mental, de controle emotivo, asseio de cuidado com o vestuário, de prevenção de doenças e acidentes” (SOARES JÚNIOR, 2015SOARES J JÚNIOR, Azemar dos Santos. Physicamente vigorosos: medicalização escolar e modelação dos corpos na Paraíba (1913-1914). 2015. Tese (Doutorado em Educação) − Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2015., p. 49). A influência do discurso médico também estava presente na educação escoteira, conforme evidencia a citação abaixo:

A escola dos escoteiros, uma das células primárias do organismo da educação cívica e da defesa nacional, tem um objetivo que se resume em breve linhas [...]. Esta admirável escola ao ar livre abrange todos os pontos que se contém no programma da moderna pedagogia: primeiro a instrucção physica; a conservação ou o restabelecimento da saúde pela hygiene e medicina, e o desenvolvimento normal e progressivo de todas as funções do corpo, pela gymnastica e pelos jogos escolares [sic] (BILAC, 1920BILAC, Olavo. Escotismo como escola. Revista O Tico-Tico. Rio de Janeiro, ano 21, n. 1225, mar. 1920, p. 27-29. Seção: Escoteirismo., p. 29).

Além de reiterar o discurso nacionalista, o escotismo também reiterava as prescrições recomendadas pelo discurso médico que era propagado nesse período. Dessa forma, a prática escoteira estava atrelada à higiene e ao controle do corpo, que era fortificado através dos exercícios físicos da ginástica e dos jogos. Para Bilac (1920BILAC, Olavo. Escotismo como escola. Revista O Tico-Tico. Rio de Janeiro, ano 21, n. 1225, mar. 1920, p. 27-29. Seção: Escoteirismo.), o escotismo se constituía em um método inovador, visto que congregava em suas bases as inovações da pedagogia moderna e da medicina, oferecendo, assim, uma educação completa para as crianças e jovens. Vieira (2008VIEIRA, Enoque Gonçalves. A construção da natureza saudável em Natal (1900-1930). 2008. Dissertação (Mestrado em História) − Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2008.) argumenta que, como humanista e educador, tinha consciência de seu papel de cidadão formador e construtor da nova ordem burguesa no Brasil, Henrique Castriciano defendia o ensino público irrestrito em salas de aulas mistas e incentivava a prática de esportes e do escotismo, para estimular a formação moral e cívica dos jovens, uma vez que ambos poderiam ser realizados junto à natureza, proporcionando uma melhor saúde física e mental para aqueles que seriam os futuros construtores da nova Pátria. Sendo um dos principais interlocutores da discussão acerca do progresso e da civilidade do povo, Castriciano dizia-se entristecido quando observava que o brasileiro, principalmente o natalense, pouca importância dava a essas questões e a essas práticas, que, para ele, eram tidas como civilizadas.

A preocupação com o atraso cultural, econômico e social, na capital potiguar no início do século XX, era uma constante na fala de muitos intelectuais natalenses, da imprensa, dos políticos e da elite como um todo. Na opinião desses sujeitos, a culpa desse atraso era dos hábitos pouco civilizados da população natalense. Esses hábitos, tido como ultrapassados, eram herança de um passado que deveria ser deixado para trás em nome do progresso e da civilização (VIEIRA, 2008VIEIRA, Enoque Gonçalves. A construção da natureza saudável em Natal (1900-1930). 2008. Dissertação (Mestrado em História) − Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2008.). Essa preocupação justifica o entusiasmo de Henrique Castriciano diante do “apelo patriótico” de Olavo Bilac e a sua urgência em “inserir a mocidade norte-rio-grandense no seio de tão útil instituição” (20 ANOS..., 193720 ANOS de Escotismo no Rio Grande do Norte. A República, Natal, 23 jun. 1937, p. 4., p. 4).

O escotismo, concebido como o que havia de mais moderno no que concerne à educação dos jovens ingleses, vai ser muito bem recepcionado na cidade do Natal não só pelos intelectuais, mas também pelo Poder Público Estadual, que o apoiará financeiramente. O entusiasmo de Castriciano logo contagiou o professor Luiz Soares e o Comandante Monteiro Chaves, que se comprometeram a ajudá-lo nos preparativos necessários para criar o primeiro núcleo de escoteiros da cidade, pois, conforme aponta Sirinelli (2003SIRINELLI, Jean-François. Os intelectuais. In: RÉMOND, Réne(org.). Por uma história política. Tradução de Dora Rocha. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2003. p. 231-269., p. 246), “todo grupo de intelectuais organiza-se a partir de uma sensibilidade ideológica ou cultural comum e de afinidades, que alimentam o desejo e o gosto de conviver”.

Contando com a colaboração do Comandante Monteiro Chaves e do professor Luiz Soares, Henrique Castriciano organizou uma reunião realizada no Natal-Club, espaço de sociabilidades da elite natalense, na qual foi eleita a diretoria da nova instituição, composta pelos intelectuais Antônio de Souza, Manoel Dantas, Moysés Soares, Sebastião Fernandes, Nestor Lima e coronéis Pedro Soares e Francisco Cascudo (MELO, 1977MELO, Veríssimo de. Os pioneiros do escotismo potiguar. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, Natal, v. 69, p. 117-120, 1977., p. 118), que atuavam na capital potiguar como mediadores culturais por meio de suas profissões e do seus engajamentos sociais. Assim, Henrique Castriciano soube “levantar” e “sustentar” a ideia do escotismo na capital potiguar, conforme Bilac recomendara. Antes da solenidade oficial de inauguração do escotismo foi realizada uma intensa propaganda no Jornal A República, com o fito de divulgar o escotismo para a sociedade natalense. Publicada sempre na primeira página do jornal, a coluna intitulada, Propaganda do Escotismo, transcrevia partes do “Manual do Escoteiro”, escrito por Baden-Powell. Essa coluna começou a ser publicada em 01 de junho de 1917 e continuou a ser publicada durante o mês de julho. Vale destacar ainda que Castriciano foi redator do Jornal A República, jornal que “apesar de ser porta voz do governo do estado, pertencia a família Albuquerque Maranhão, que dominava o cenário político potiguar na época” (CUNHA, 2014CUNHA, Carlos Henrique Pessoa. Nos tempos do Backout: cena musical, práticas urbanas e a ressignificação da Rua Chile, Natal-RN. 2014. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2014., p. 53). Assim, o jornal se constituía um espaço privilegiado para a divulgação de suas ideias.

Dois dias antes da solenidade oficial, o Jornal A República anunciava a “grande festa dos escoteiros”:

Domingo, Natal, irá assistir a uma dessas festas que ficam para sempre gravadas na memória de um povo. Mais de 80 escoteiros correctamente fardados, jurarão bandeira, isto é, a grande parte da fina flor da juventude natalense, comovida e mais cheia do mais santo alvoroço patriótico, irá afirmar na praça pública o seu grande amor a esta grande terra que é o Brasil! A festa de depois de amanhã, pelo seu desinteresse, pela sua elevação, fala muito alto em favor do nosso civismo. Conseguimos, dentro de pouco tempo, graças ao estimulo do Exmo. Governador do Estado, à competência do capitão Monteiro Chaves e ao perseverante esforço de todos os membros do Conselho Superior da Associação, o que muitos dos grandes Estados da federação não puderam conseguir, porque lhes falta talvez a coesão patriótica que os nossos dirigentes souberam formar em nosso meio social. Orgulhemo-nos da nossa obra e continuemos a trabalhar com o mais sincero dos enthusiasmos pela pátria imortal. O juramento terá logar no domingo, 24 do corrente, na Praça 7 de setembro, onde serão effectuados pelos escoteiros diversos exercícios. A Associação resolveu não fazer convites especiais, pedindo, entretanto, o comparecimento da família natalense para maior realce da grande festa cívica, que começará às 16 horas [sic] (A GRANDE..., 1917A GRANDE festa dos escoteiros no próximo domingo. A República, Natal, 22 jun. 1917, p. 1., p. 1).

“A grande festa”, realizada no dia 24 de junho, tratava-se de uma solenidade para marcar oficialmente a implantação do escotismo no estado, no entanto, certamente, antes dessa data houve toda uma preparação para que fosse apresentado aos membros escoteiros os ensinamentos de Baden-Powell e os valores morais explícitos no Código do Escoteiro, ou seja, bem antes do dia 24 de junho de 1917, o escotismo já tinha sido introduzido no estado potiguar e era praticado na cidade do Natal. Prova disso, é que os escoteiros tomaram parte das homenagens ao centenário da morte de Frei Miguelinho, realizadas na capital, no dia 12 de junho de 19172 2 Natural da cidade do Natal, Frei Miguelinho foi executado em 12 de junho de 1817, na cidade de Salvador, acusado do crime de lesa-majestade por ter participado da Revolução Pernambucana, também conhecida como Revolução de 1817, um movimento de caráter liberal e republicano, que eclodiu em 06 de março de 1817. No centenário da sua morte, foram organizadas várias homenagens na capital potiguar, a exemplo de missa campal, préstito cívico e inauguração de um monumento na Praça André de Albuquerque. As homenagens mobilizaram vários setores da população natalense, como autoridades, oficiais da Guarda Nacional, representantes de imprensa, escolares, escoteiros, associações e populares. .

Com os seus uniformes caquis, calças curtas e meias quase aos joelhos, bastões de madeiras presos aos ombros, nas costas carregavam suas mochilas com os equipamentos escoteiros. Os que já tinham realizado a Promessa, ostentavam orgulhosos os lenços vermelhos envoltos aos pescoços, enquanto os aspirantes usavam o lenço verde, assim os escoteiros se apresentaram aos natalenses, no momento em que “toda a cidade vibrava do mais sadio patriotismo e as festas desenrolavam-se sob o mais intenso entusiasmo” (MARANHÃO, 1950MARANHÃO, Djalma. Associação de Escoteiros do Alecrim, forja de civismo e brasilidade. Diário de Natal, Natal, 02 jul. 1950, p. 3., p. 3). Ao escolherem o momento cívico dos festejos em homenagem ao Frei Miguelinho para a primeira aparição dos escoteiros, os organizadores do escotismo esperavam atrair a atenção da população para que assim ela comparecesse à “Grande Festa”, que logo se realizaria.

Após meses de preparativos, finalmente chegara o dia 24 de junho, data escolhida para oficializar o escotismo na capital potiguar. A solenidade foi realizada doze dias após a aparição pública dos escoteiros, em um domingo, estrategicamente escolhido por ser considerado um dia de descanso, sem aulas nem trabalho, para que, dessa forma, as famílias natalenses pudessem se reunir e comparecer à Praça 7 de Setembro para abrilhantar a “Grande Festa de Civismo”:

Raramente tem Natal assistido a uma festa tão empolgante como a de hontem. Era de ver o enthusiasmo com que a nossa população occorrera à Praça Sete de Setembro para apreciar, pela primeira vez, o acto comovedor do juramento à bandeira por num grupo de jovens que apenas se emplumam e já prontos se oferecem para servir a Pátria. Felizmente para a nossa glória de brasileiros que estremecemos a terra que nos viu nascer, podemos constatar exuberantemente que há de ser uma realidade entre nós essa creação extraordinária do escotismo que é a educação completa dos adolescentes, no dizer de Olavo Bilac, o magnifico poeta a quem devemos incontestavelmente, esse passo agigantado em benefício da regeneração do caracter nacional. N’uma hora feliz e abençoada, comprehenderam todos, os dirigentes, os homens públicos, os homens de responsabilidade, os que ainda não descreram de melhores dias para o Brasil, que a causa do escotismo não era para desprezar porque, sendo como realmente é, “a escola de força, destreza e de patriotismo e principalmente uma escola de honra”, devia ser tomada a peito e abraçada com fervor para que pudesse produzir os melhores fructos que teremos de colher em um futuro próximo [sic] (A GRANDE...,1917FESTA FESTA da maioridade do escotismo no estado. A Ordem, Natal24 jun. 1938, p. 12., p. 1).

O Jornal A República do dia 25 de junho de 1917 publica, em primeira página, uma reportagem intitulada “A grande festa dos escoteiros”, na qual descreve detalhadamente a solenidade escoteira realizada no dia anterior. Na referida reportagem, o escotismo é apresentado como uma solução para sanar os males da nação, como uma causa a que todos brasileiros deveriam abraçar, visto que ele se constitui em uma verdadeira escola de caráter, na qual se forjarão os jovens norte-rio-grandenses e toda a juventude brasileira. O apelo cívico à juventude fica evidente na preleção cívica, denominada de Salve Mocidade, pronunciada por Moysés Soares, no dia da solenidade de fundação:

Salve mocidade! Fonte de fé e energia! A vós bradamos os degredados filhos de Pedro Álvares! A vós recorremos, vibrando e sentindo, neste rincão brasileiro. Eis pois defensora nossa, os vossos olhos solícitos volvei ao Brasil, e depois destes dias de lutas e incertezas, nos mostrai a glória bendito fruto dos nossos esforços, ó generosa, ó altiva e sempre forte mocidade! Velai por nós alma em flôr da Pátria para que sejamos dignos dêsse imenso território, das tradições gloriosas, do nome e do fruto do nosso caro Brasil. Salvé! [sic] (FESTA...,1938FESTA FESTA da maioridade do escotismo no estado. A Ordem, Natal24 jun. 1938, p. 12., p.12).

Se apropriando da oração da Salve Rainha, Moysés Soares evoca a mocidade, cuja alma seria formada pelos valores da honra, altruísmo, força, disciplina e patriotismo, considerados essenciais para a regeneração do caráter nacional e para a grandeza da Pátria. O escotismo poderia:

Formar o caracter da criança, “regar na sua alma as boas ações que florescerão na mocidade e fructificarão na edade madura”, incutir-lhe no espirito os sentimentos nobres, despertar-lhe no coração o amor da pátria, do bello e do bem; aguçar-lhe a ideia de altruísmo; e cuidar de tantas outras cousas que todas constituem o fim principal dessa instituição e se conteem no seu código, são deveres imprescindíveis de quantos se preocupam com os destinos públicos [sic] (A GRANDE..., 1917A GRANDE festa dos escoteiros no próximo domingo. A República, Natal, 22 jun. 1917, p. 1., p. 1).

Tido como o maior expoente do civismo da época, Olavo Bilac defendia que o escotismo era um meio de iniciar a criança no ritual de obediência e da valorização da pátria. Estando a prática escoteira associada ao ritual cívico- militar, ela constituía-se em uma educação perfeita para introduzir desde a tenra idade a relação militar-povo, pois, para Bilac, os males da nação estavam associados à falta de patriotismo dos brasileiros, fruto de uma educação malconduzida, e a solução para este problema estava na educação e no quartel.

Seguindo o exemplo de Bilac, alguns educadores argumentavam que a educação militar possuía finalidades que englobavam “o sentimento de patriotismo, o desenvolvimento das virtudes cívicas, a moralização dos hábitos, a eugenia e a disciplina corporal” (SOUZA, 2000SOUZA, Rosa Fátima de. A militarização da infância: expressões do nacionalismo na cultura brasileira. Cadernos cedes, Campinas, ano XX, n. 52, nov. 2000., p. 109), e o escotismo aproximava-se desse tipo de educação. Assim, ele foi inserido nesse ideal pedagógico, passando a ser identificado “como mais uma expressão do militarismo e do nacionalismo na educação brasileira” (SOUZA, 2000SOUZA, Rosa Fátima de. A militarização da infância: expressões do nacionalismo na cultura brasileira. Cadernos cedes, Campinas, ano XX, n. 52, nov. 2000., p.105). Faz-se necessário ressaltar que os militares, de um modo geral, eram entusiastas do escotismo. Alguns deles viam no movimento de Baden-Powell um tipo de preparação para o serviço militar, ou seja, uma maneira de ampliar a influência do exército sobre as crianças e jovens. Ademais, no Brasil, o escotismo, desde os seus primórdios, manteve uma estreita relação com os militares. Após terem contato com o movimento de Baden-Powell durante o tempo que estiveram na Inglaterra, para o programa de construção naval, os militares decidiram, ao retornar para o Brasil, organizarem o Centro de Boys Scouts do Brasil, criado nos moldes do que tinham visto na Inglaterra. Dentre esses militares, destacamos o tenente Eduardo Weaver, que estudou e produziu um artigo sobre o escotismo, intitulado Scouts e a Arte de Scrutar, publicado pela Revista Ilustração Brazileira, em 1º de dezembro de 1909 (CENTRO CULTURAL DO MOVIMENTO ESCOTEIRO, 2000CENTRO CULTURAL DO MOVIMENTO ESCOTEIRO. 90 anos do Escotismo no Brasil. Memória Escoteira, Rio de Janeiro, Ano 6, n. 38, mar./nov. 2000.). Distribuído em três páginas e ilustrado por sete fotografias, através das quais o tenente Weaver retratava as atividades desenvolvidas pelos Boys Scouts ingleses, o artigo tinha o intuito de apresentar aos brasileiros os benefícios do método de Baden-Powell, sobretudo, a forma de educar brincando, que articulava jogos com atividades físicas praticadas ao ar livre, uma solução eficiente para sanar os problemas universais relacionados à formação dos jovens.

Provavelmente, as inovações educacionais3 3 Inspirado, sobretudo, nos pressupostos ativistas, Baden-Powell buscava uma forma de educar que afastasse a criança do ambiente artificial da cidade, através de atividades ao ar livre, que ao mesmo tempo manipulassem e respeitassem o aprendizado global, juntando atividades intelectuais e práticas. que estavam no cerne do método proposto por Baden-Powell contribuíram para atrair a atenção do tenente Weaver e da Armada da Marinha, que se encontrava em missão na Inglaterra. Entretanto, não podemos ser ingênuos ao ponto de achar que o aspecto militarista tenha passado despercebido a esses oficiais e marinheiros brasileiros, pois não podemos esquecer que o escotismo foi idealizado por um general do exército britânico, e embora o seu fundador negue o viés militarista, os Boys Scouts apresentavam várias características militares, a começar pelo nome, que remete a técnicas utilizadas pelo exército:

O escotismo abrange tarefas um tanto diversas. Em poucas palavras, é a arte ou a ciência de conseguir-se informação. Antes ou durante uma guerra informar-se sobre os preparativos do inimigo, sobre sua força, suas intenções, seu terreno, suas circunstâncias e seus movimentos, é essencial e vital para que um comandante ganhe a batalha (BADEN-POWELL, 1986BADEN-POWELL, Robert. Lições da Escola da vida: autobiografia de Baden-Powell. Brasília: Editora Escoteira da UEB, 1986., p. 15).

O uso do uniforme é outra característica que aproxima o escotismo do militarismo, conforme explica o próprio Baden-Powell (2006BADEN-POWELL, Robert. Escotismo para Rapazes. Curitiba: Escritório Nacional da UEB, 2006. (Edição Comemorativa ao centenário do Escotismo- 1ª edição 1908)., p. 50), a respeito da vestimenta dos escoteiros:

O uniforme escoteiro é muito semelhante ao usado pelos meus soldados da Policia da África do Sul, quando eu comandava. Eles sabiam o que era confortável, útil e capaz de oferecer proteção contra o mau tempo. Por isso, os escoteiros têm uniforme quase igual ao deles.

Embora, Baden-Powell, conforme citou Herold Júnior e Vaz (2015HEROLD JÚNIOR, Carlos; VAZ, Alexandre Fernandes. Educação corporal, escotismo e militarismo. Movimento, Porto Alegre, v. 21, n. 4, p. 1011-1023, out./dez. de 2015. Disponível em:Disponível em:https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/53323 . Acesso em:07 jul. 2020.
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), explicasse que o escotismo se fundamentava nas mesmas bases das modernas teorias pedagógicas, ele não negava que seu movimento fizesse uso de práticas coletivas, a exemplo das marchas, desfiles, entre outras. Todavia, não via isso como uma contradição, pois alegava, por exemplo, que “a marcha não era utilizada por ser considerada uma atividade disciplinadora, tal como ela era vista no exército. Ele defendia sua utilização, apenas, para realizar a movimentação do agrupamento de maneira mais organizada” (HEROLD JÚNIOR; VAZ, 2015HEROLD JÚNIOR, Carlos; VAZ, Alexandre Fernandes. Educação corporal, escotismo e militarismo. Movimento, Porto Alegre, v. 21, n. 4, p. 1011-1023, out./dez. de 2015. Disponível em:Disponível em:https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/53323 . Acesso em:07 jul. 2020.
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, p. 1016).

É evidente que o escotismo está imbuído da experiência militar de seu fundador. Acreditamos que foram essas características militares, pelo menos inicialmente, que tenham chamado a atenção dos oficiais e marinheiros da Armada da Marinha Brasileira para o escotismo. Ademais, o aspecto militar sempre foi algo marcante nos agrupamentos escoteiros brasileiros, isso é um reflexo da maneira que o escotismo foi absorvido e praticado no Brasil, ou seja, na tênue linha entre a pedagogia e o militarismo (HEROLD JÚNIOR; VAZ, 2015HEROLD JÚNIOR, Carlos; VAZ, Alexandre Fernandes. Educação corporal, escotismo e militarismo. Movimento, Porto Alegre, v. 21, n. 4, p. 1011-1023, out./dez. de 2015. Disponível em:Disponível em:https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/53323 . Acesso em:07 jul. 2020.
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). As características militares também foram observadas, no escotismo praticado na cidade do Natal:

Às onze horas, em frente à residência do Dr. Manoel Dantas, formaram em parada 128 escoteiros, trajando o primeiro uniforme, rigorosamente equipados, sob o comando do capitão Eider Ribeiro e direção do instructor provisório professor Luiz Soares. Feitas as continências a bandeira com todas as formalidades, desceram os escoteiros, em marcha correcta, do mais bello efeito, ao bairro da Ribeira, subindo pela Avenida Junqueira Ayres, e até a Praça 7 de Setembro, onde se postaram para fazer continência ao desembargador Ferreira Chaves, governador do Estado. Foi correcta e solene a atitude dos escoteiros em frente ao Palácio, dando as festas do 7 de setembro um brilho excepcional. O desembargador Ferreira Chaves, de uma das varandas do Palácio recebeu as continências e assistiu ao desfile dos escoteiros, que foram muito aclamados. Depois eles desceram ao quartel do Batalhão de Segurança, onde fizeram com todas as formalidades, a entrega da bandeira que lhes fora confiada [sic] (O 7 DE SETEMBRO, 1917O 7 DE SETEMBRO - as festas deste ano foram uma grande manifestação patriótica. A República, Natal, 09 set.1917, p. 1., p. 1).

Assim como acontecera em todo o país, o escotismo natalense também apresentava algumas características análogas ao militarismo. Isso fica perceptível na citação acima, que trata de uma reportagem sobre as comemorações do Sete de Setembro, realizada na cidade do Natal no ano de 1917. A referida reportagem ressalta que a participação dos escoteiros deu um “brilho excepcional” ao desfile. Tal qual os militares, os escoteiros apresentaram-se devidamente uniformizados, prestando continência à Bandeira Nacional e ao governador do estado, o desembargador Joaquim Ferreira Chaves. Sinônimo de ordem, disciplina, civismo e patriotismo, os escoteiros eram a materialização dos valores propagados pelo discurso da época, que buscavam nesses conceitos a regeneração da nação.

A reportagem sugere ainda, que havia uma estreita relação entre escoteiros e militares. Corrobora para isso, o fato de os escoteiros estarem sob o “comando” do capitão Eider Ribeiro e usarem a bandeira emprestada do quartel do Batalhão de Segurança. Seguindo uma tendência nacional, o escotismo natalense, principalmente, durante os primeiros anos, teve alguns militares em seu quadro de instrutores escoteiros, responsáveis por acentuar algumas características militares do Movimento de Baden-Powell.

Outrossim, nos chamou atenção o número de escoteiros que participaram do desfile de Sete de Setembro, segundo a reportagem, um total de 128 escoteiros. O que nos leva a deduzir que o escotismo natalense ganhou um considerável número de adeptos em um curto intervalo de tempo. Para sermos mais precisos, em dois meses e quatorze dias, teve um aumento de aproximadamente 60%, pois, considerando-se o número de escoteiros presentes na solenidade de inauguração, realizada em 24 de junho, o efetivo passou de 80 para 128 membros em menos de três meses. Esse fato nos levou à seguinte indagação: quem eram esses membros escoteiros?

As fontes analisadas não nos dão maiores detalhes de quem eram esses membros, contudo, sugerem que os primeiros escoteiros constituíam um grupo de origens sociais diversificadas, sendo composto por filhos de membros da elite local, como ressaltou Marinho (2008MARINHO, Márcia Maria Fonseca. Natal também civiliza-se: sociabilidade, lazer e esporte na Belle Epóque natalense (1900-1930). 2008. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2008.), filhos de militares, de operários e de pedreiros. Parte dos membros escoteiros eram alunos do Grupo Escolar Frei Miguelinho, haja vista que “[...] na posição de diretor dessa instituição escolar, o professor Luiz Soares, inscreveu vinte dos seus alunos para o escotismo” (NA MARINHA..., 1944NA MARINHA, no Exército, no sacerdócio e em todos os setores da vida sei que existem corações que aqui se formaram e continuam bendizendo a sua antiga escola (Fala a nossa reportagem o professor Luiz Soares). A República, Natal, 14 jul. 1944, p. 4-8., p. 4). Esses alunos, conforme explicou Pinto (2015PINTO, Amanda Thaise Emerenciano. A presença do professor Luiz Soares Correia de Araújo no Grupo escolar Frei Miguelinho (1912-1967). 2015. Dissertação (Mestrado em Educação) − Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2015., p. 50), “eram geralmente filhos de operários, pedreiros, agricultores, dentre outros”. Destarte, foram esses jovens de origens sociais distintas que se tornaram membros do primeiro núcleo de escoteiros natalense, a Associação Brasileira de Escoteiros do Rio Grande do Norte.

Os uniformes e equipamentos utilizados pelos primeiros escoteiros foram importados de Londres por determinação do governador do Estado, o então desembargador Joaquim Ferreira Chaves, por meio do comerciante Coronel Francisco Justino de Oliveira Cascudo. A importação dos uniformes e equipamentos sugere que, desde os seus primórdios, a prática escoteira contou com o apoio das autoridades políticas do Estado. O apoio financeiro dado por essas autoridades possibilitou aos jovens de origem humilde, a exemplo dos alunos oriundos do Grupo Escolar Frei Miguelinho, tornarem-se membros escoteiros, visto que seus pais não teriam condições financeiras para arcarem com os custos da aquisição do uniforme.

No que concerne à associação da prática escoteira ao militarismo, acreditamos que o fato de a implantação e consolidação do escotismo ter sido conduzida na cidade do Natal, sobretudo, por intelectuais, fez com que o escotismo desenvolvido na capital potiguar se diferenciasse do escotismo praticado em outros estados, pois ainda que figure um nome de um comandante da Marinha na base do tripé da organização do escotismo natalense, devemos levar em consideração que o comandante Monteiro Chaves também transitava pela esfera educativa, embora esta educação assumisse um viés militarista, já que exercia a função de diretor da Escola de Aprendizes Marinheiro do Rio Grande do Norte e também circulava pelos mesmos espaços de sociabilidades dos intelectuais4 4 A análise das fontes bem como a bibliografia pesquisada não permitiu afirmar que o Comandante Monteiro Chaves era um intelectual, no entanto tudo indica que ele circulava pelos mesmos espaços de sociabilidades de Henrique Castriciano e do professor Luiz Soares. . Outrossim, é oportuno destacar que sua participação frente às atividades escoteiras foi efêmera, conforme a notícia publicada no Jornal A República, em 06 de julho de 1917, o comandante Monteiro Chaves afastou-se das atividades escoteiras doze dias após a realização da “Grande Festa” que oficializou a prática do escotismo no estado potiguar, devido a sua transferência para o sul do país.

Isso significa que a Associação Brasileira de Escoteiros do Rio Grande do Norte, como foi chamado o núcleo de escoteiro instalado na cidade do Natal, ficou sob a direção de Henrique Castriciano, diretor da instituição, e do professor Luiz Soares, que além de instrutor era membro do Conselho Diretor. O primeiro não era educador de profissão, mas sim por convicção, e o segundo era um “autentico professor de moral e de civismo, ele admiravelmente em todos os dias e a todas as horas, prezava pela palavra e pelo exemplo” (MELO, 1968MELO, Severino Bezerra. Pequena história de uma grande vida. Poliantéia: professor Luiz Correia Soares de Araújo. Associação dos Professores do Rio Grande do Norte- APRN, p. 3-8, 1968., p. 3). Posteriormente, Henrique Castriciano também se afasta das atividades escoteiras, deixando ao encargo do professor Luiz Soares a condução do escotismo natalense. É nesse contexto que é fundada a Associação de Escoteiros do Alecrim (A.E.A).

O professor Luiz Soares e a consolidação do escotismo natalense

Estando a história da A.E.A entrelaçada à do seu fundador, faz-se necessário refletir sobre a trajetória do professor Luiz Soares, que, segundo Alves (2012ALVES, Cláudia. Jean-François Sirinelli e o político como terreno da história cultural. In: LOPES, Elaine Marta Teixeira; FARIA FILHO, Luciano Mendes (org.). Pensadores sociais e a história da educação II. Belo Horizonte: Autêntica, 2012. p. 111-133., p. 116), deve considerar a família, o meio social de origem, o grupo de pertencimento e as adesões temporárias ou duradouras, visto que tudo isso compõe o processo de tornar-se intelectual, pois são as “vivências cotidianas que marcam a sensibilidade, as escolhas, as afinidades, as aproximações e os deslocamentos que conformam o desenho da trajetória intelectual. Nessa trajetória ele é tomado como indivíduo inserido em múltiplas dimensões espaço-temporais”.

Filho do tenente-coronel da Guarda Nacional Pedro Soares de Araújo, político influente, e de Ana Senhorinha Soares de Araújo, ambos membros de famílias tradicionais no estado norte-rio-grandense, Luiz Soares Correia de Araújo nasceu em 18 de janeiro de 1888, na cidade de Assú-RN. Em Natal, fez o curso primário na escola D. Nila Câmara e o curso de humanidades no Atheneu Norte-Rio-Grandense. Foi diplomado pela Escola Normal de Natal em 04 de dezembro de 1910, sendo nomeado em 20 março de 1911 para dirigir o Grupo Escolar Almino Afonso, localizado na cidade de Martins-RN.

No ano seguinte, foi transferido para Assú, para organizar e dirigir o Grupo Escolar Coronel José Correia, inaugurado em 07 de setembro de 1911. Em 1912, atendendo ao convite do então governador, Alberto Maranhão, o professor é removido para Natal para assumir, em 21 de abril de 1913, a direção do Grupo Escolar Frei Miguelinho. Para Melo (1977MELO, Veríssimo de. Os pioneiros do escotismo potiguar. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, Natal, v. 69, p. 117-120, 1977., p. 118), o professor Luiz Soares “conseguiu também realizar uma coisa muito rara no mundo: dirigir por 54 anos (1913-1967) o mesmo estabelecimento de ensino oficial, no bairro do Alecrim”, o Grupo Escolar Frei Miguelinho.

Também integrou o grupo de idealizadores da Associação de Professores do Rio Grande do Norte (APRN), fundada no ano de 1920, que tinha por objetivo a criação de escolas, a defesa do ensino público gratuito, leigo e misto relacionado à vida e ao trabalho; além da defesa dos direitos da categoria. Ele também fez parte da direção da Revista Pedagogium, formulada em julho de 1921 para divulgar as ideias pedagógicas dos docentes, dividindo, entre os anos de 1921 a 1927, a sua direção com os professores Amphilóquio Câmara e Francisco Veras. Exerceu essa função em mais dois momentos: no ano de 1940 e durante a sua gestão como presidente da Associação de Professores do Rio Grande do Norte, entre os anos de 1946-1951 (ALVES, 2016ALVES, Amanda Vitória Barbosa. Associação de Professores do Rio Grande do Norte: a escrita de uma história (1920-1989). 2016. Trabalho de conclusão de curso (Licenciatura em Pedagogia) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2016.). O referido educador ainda esteve à frente da edição da Revista de Ensino, em que o objetivo era a publicação de orientações sobre a instrução (PINTO, 2015PINTO, Amanda Thaise Emerenciano. A presença do professor Luiz Soares Correia de Araújo no Grupo escolar Frei Miguelinho (1912-1967). 2015. Dissertação (Mestrado em Educação) − Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2015.). A edição de junho de 1917 da Revista de Ensino publicou um artigo sobre o escotismo escrito pelo professor Luiz Soares, que incentivou seus colegas professores a “amparar essa instituição”, pois, como bem observou Sirinelli (2003SIRINELLI, Jean-François. Os intelectuais. In: RÉMOND, Réne(org.). Por uma história política. Tradução de Dora Rocha. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2003. p. 231-269., p. 249), “a revista, antes de tudo, é lugar de fermentação intelectual e de relação afetiva, ao mesmo tempo viveiro e espaço de sociabilidades”.

Como intelectual, o professor Luiz Soares circulava por diversas esferas: educativas, políticas, militares, dentre outras, estabelecendo aquilo que Sirineli (2003) denominou de sociabilidade, comumente denominada de redes constituídas tanto pelos lugares de produção quanto pelos valores afetivos e ideológicos5 5 Como ator social engajado na vida da cidade, reorganizou a Liga de Desporto Terrestre do Rio Grande do Norte (1927), assumindo a sua presidência. Fundou, a Policlínica do Alecrim (1944), na qual integrou o primeiro conselho administrativo como presidente. Participou de forma ativa da organização e instalação da Faculdade de Farmácia e Odontologia de Natal (1945). Implementou o Jardim de Infância, no Grupo Escolar Frei Miguelinho (1945). Ainda foi membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, da Academia Potiguar de Letras e do Conselho Estadual de Educação do estado potiguar. foi eleito vereador com um grande número de votos e também eleito presidente da Câmara Municipal (1950). . É com o apoio dessas redes de sociabilidade que o professor Luiz Soares vai consolidar o escotismo natalense e expandi-lo para o interior do estado do Rio Grande do Norte.

De acordo com a Mensagem Legislativa apresentada ao Congresso Nacional pelo então governador do estado, Joaquim Ferreira Chaves, em 01 de novembro de 1918, o número efetivo de membros da Associação Brasileira de Escoteiros do Rio Grande do Norte era de 123 sócios. Entretanto, quando a Associação encerrou as suas atividades, no ano de 1919, restaram apenas os vinte escoteiros oriundos do Grupo Escolar Frei Miguelinho. Para dar continuidade à “obra escoteira”, o professor Luiz Soares reuniu mais dois grupos, compostos por alunos do referido grupo escolar, fundando em 14 de julho de 1919, a Associação de Escoteiros do Alecrim. Destarte, a A.E.A foi fundada, exclusivamente, com alunos do Grupo Escolar Frei Miguelinho, garotos de origem humilde, moradores do bairro do Alecrim. Parece que essa peculiaridade caracterizou a A.E.A ao longo dos anos e influenciou a composição social dos núcleos escoteiros que vieram a se formar, posteriormente, na cidade do Natal, conforme explicita o jornalista Djalma Maranhão, no ano de 1941MARANHÃO, Djalma. O escotismo no Rio Grande do Norte. A República, Natal, 22 jul.1941.:

Aqui em Natal verifica-se um fato que não encontro explicação. Raros são as crianças que sendo provenientes das camadas mais altas da sociedade, filiam-se aos núcleos escotistas. Por quê? Simples ignorância dos pais. É um preconceito que é preciso abolir. Cabe ao ilustre professor Luiz Soares, chefe dos escoteiros norte-rio-grandenses, fazer uma campanha, a fim de que este ponto de vista errôneo despareça (MARANHÃO, 1941MARANHÃO, Djalma. O escotismo no Rio Grande do Norte. A República, Natal, 22 jul.1941., p. 3).

Possivelmente, o fato de o escotismo na capital potiguar ter se consolidado e se expandido a partir da A.E.A contribuiu para o estereótipo de que ele estava relegado à parcela pobre da população infanto-juvenil. Outro aspecto que nos chama atenção é a justificativa para a denominação dada à Associação. Nesse sentido, o professor alega que essa denominação foi dada porque a sede dos escoteiros estava localizada no bairro do Alecrim. Embora, no ano de 1919, os escoteiros ainda não tivessem construído a sua sede, eles já tinham a posse do terreno. Ademais, a sede provisória da A.E.A funcionava no Grupo Escolar Frei Miguelinho6 6 A prática do escotismo demandava um lugar espaçoso e ao ar livre, por isso, inicialmente, Henrique Castriciano cedeu a sua propriedade para a realização das primeiras reuniões. Posteriormente, as reuniões foram transferidas para a residência do comandante Monteiro Chaves, localizada na Rua Apodi, no bairro do Tirol. Quando ele viajou para o Sul, a sede da Associação Brasileira de Escoteiros do Rio Grande do Norte foi transferida para o Grupo Escolar Frei Miguelinho. . Devemos lembrar, ainda, que os escoteiros residiam também nessa localidade, peculiaridade que também influenciou a escolha da referida denominação.

O terreno onde foi construída a sede da A.E.A foi doado pelo governador Joaquim Ferreira Chaves, no ano de 1918. Mas, a autorização para a construção da sede só foi concedida no ano de 1922. O escotismo recebia apoio tanto do Poder Público Federal quanto do Estadual, os quais vislumbravam no movimento de Baden-Powell um complemento para a educação da juventude natalense. O professor Luiz Soares recorreu ao ex-governador do estado, o então desembargador Joaquim Ferreira Chaves, o qual, no momento, desempenhava a função de Ministro da Justiça, para intermediar uma audiência com Epitácio Pessoa, chefe máximo do Poder Executivo Federal. O professor explica que sua intenção era pleitear uma piscina de natação, que seria construída no Baldo, para a realização das atividades escoteiras. O Baldo era uma lagoa natural, onde, em 1877, foram construídas paredes para reter e acumular água potável para posterior distribuição entre a população urbana de Natal. Entretanto, no início do século XX, o Baldo passa a ser um concorrido espaço de encontros e diversão da população pobre, graças ao surgimento de uma outra represa para o acúmulo de água de uso doméstico (VIEIRA, 2008VIEIRA, Enoque Gonçalves. A construção da natureza saudável em Natal (1900-1930). 2008. Dissertação (Mestrado em História) − Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2008.).

Nos chamou a atenção o prestígio que o professor Luiz Soares tinha junto à elite política, pois além de concordar em vê-lo, o presidente Epitácio Pessoa ainda levou em consideração as suas reivindicações, autorizando Arrojado Lisboa, então inspetor chefe da Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas, a designar os engenheiros Henrique Novaes e Moacir Avidos a realizarem um estudo na região do Baldo para determinar a viabilidade da obra. Ambos os engenheiros faziam parte da Inspetoria Federal de Obras Contra a Seca, que estava subordinada ao Ministério da Viação e obras Públicas. Após ser comprovada a sua inviabilidade, foi-lhe oferecida a construção da sede da A.E.A. É notório que o professor Luiz Soares estava inserido em redes de sociabilidade que apoiava o seu projeto escoteiro, inclusive financeiramente.

Construída na Rua Fonseca e Silva, no bairro do Alecrim, em Natal-RN, “bairro considerado pobre para a época” (PINTO, 2015PINTO, Amanda Thaise Emerenciano. A presença do professor Luiz Soares Correia de Araújo no Grupo escolar Frei Miguelinho (1912-1967). 2015. Dissertação (Mestrado em Educação) − Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2015., p. 33), a sede inaugurada em junho de 1923, chamava a atenção dos moradores e das pessoas que transitavam por aquela região, já que apresentava dimensões bastante espaçosas7 7 As fontes analisadas não especificam as medidas da sede, somente as dimensões do terreno onde ela foi construída, que é cerca de 879 m2. :

FIGURA 1
FACHADA DA SEDE DA A.E.A

Dispondo de uma sede espaçosa e bem equipada, adquirida graças ao apoio financeiro do Poder Público Estadual e Federal, a A.E.A tinha a finalidade de

desenvolver entre a infância e juventude, a destreza e o vigor físico, o espírito de iniciativa, a decisão pronta, a coragem prudente e proveitosa, o civismo, o sentimento de solidariedade, de previdência, de responsabilidade moral e de honra no interesse próprio e bem da pátria (SOBRE..., 1939, p. 2).

Reconhecida de utilidade pública pela Lei Estadual n° 491 de 01 de dezembro de 1920 (RIO GRANDE DO NORTE, 1920RIO GRANDE DO NORTE. Lei nº 491, de 20 de dezembro de 1920- Considera de utilidade pública a Associação de Escoteiros do Alecrim. In: Atos Legislativos e decretos do Governo do ano de 1920. Natal: Typ. Comercial J. Pinto & C. 1920. p. 22.), devido ao seu alto fim educativo, a A.E.A, sob a direção do professor Luiz Soares, se constituiu em um espaço educativo, não ficando restrita aos ensinamentos de Baden-Powell, assim, disponibilizava para os seus escoteiros uma Escola Profissional8 8 Inicialmente, a Escola Profissional do Alecrim dispunha de oficinas de sapataria, serralheria, funilaria, marcenaria. Posteriormente, foram instaladas as oficinas de Bordados e costuras, alfaiataria, confecções e tipografia. , um cinema educativo9 9 Interlocutor da ideia do uso do cinema para fins educativos, o professor Luiz Soares adquiriu um projetor na Casa Kodak no Rio de Janeiro e instalou um Cinema Educativo na sede da A.E.A, no ano de 1928, o primeiro da cidade do Natal. , uma sala de jogos, um gabinete médico e uma pequena capela. Oferecia ainda educação musical, sendo a primeira associação escoteira do país a ter uma banda de música denominada de Charanga do Alecrim10 10 Criada no ano de 1918 pelo professor Luiz Soares e tendo o seu instrumental patrocinado pela ação do Estado, a banda era formada por garotos com idades que variavam entre nove e quinze anos. , que era presença constante nos eventos sociais promovidos na capital e no interior do estado.

Exercendo as suas atividades profissionais no Alecrim, o professor Luiz Soares convivia diariamente com os problemas sociais do bairro e sabia que era preciso fazer alguma coisa para mudar a realidade dos seus alunos/escoteiros, moradores daquela localidade. A preocupação com o futuro dos seus discípulos levou-o a pensar a A.E.A para além das práticas escoteiras, ele argumentava que era preciso dar assistência a esses garotos e, principalmente, ensiná-los a ter “um meio útil de ganhar a vida”, para que, assim, eles pudessem ter um ofício e se tornar trabalhadores produtivos, por isso, introduziu, com o apoio dos poderes públicos federal e estadual, naquele espaço, destinado à prática do escotismo, o ensino profissional, por meio da Escola Profissional do Alecrim, criada pelo Decreto nº 176, de 24 de abril de 1922.

O presidente Epitácio Pessoa, em posse do parecer favorável do diretor da Escola de Aprendizes Marinheiro do Rio Grande do Norte, autorizou que fossem destinadas à Escola Profissional do Alecrim algumas máquinas que se encontravam sem aplicação no depósito daquele estabelecimento. Como nesse período a sede da A.E.A encontrava-se em processo de construção, as máquinas foram instaladas, provisoriamente, no Grupo Escolar Frei Miguelinho, em 12 de junho de 1922. Em meados de 1923, “quando a sede da A.E.A ficou pronta, as máquinas foram distribuídas em cinco salas da A.E.A” (ESCOTEIROS..., 1982ESCOTEIROS comemoram 65 anos com muito entusiasmo. O poti , Natal, 18 jul.1982, p. 12., p. 12).

Conforme determinava o decreto nº 176, a Escola Profissional do Alecrim era mantida pela A.E.A em cooperação com o Estado. Assim, a sua administração ficou a cargo do professor Luiz Soares, que estabeleceu dois turnos de funcionamento para a aludida escola de ensino profissional: matutino e vespertino, com duração de quatro horas cada, sem prejuízo do horário do Grupo Escolar Frei Miguelinho. Dessa forma, os alunos/escoteiros que estudavam no turno da manhã no referido Grupo poderiam, no turno da tarde, aprender um ofício na Escola Profissional e vice-versa11 11 A Escola Profissional do Alecrim destinava o seu ensino apenas aos escoteiros da A.E.Ae aos alunos do Grupo Escolar Frei Miguelinho. . Já o governo se encarregou da instalação das máquinas, como também do pagamento dos respectivos mestres.

Considerações finais

A implantação do escotismo na cidade do Natal se insere no contexto da expansão do escotismo no Brasil, um período caracterizado pelo discurso nacionalista, o qual enfatizava a importância da educação física e cívica da infância e juventude para o soerguimento moral da nação. Dada a aproximação da sua pedagogia com os valores nacionalistas, logo o escotismo foi apontado por um grupo de intelectuais, educadores e políticos como uma escola de moral e civismo, na qual se formaria o futuro cidadão da Pátria. Imbuído dessa ideia, Olavo Bilac, como representante da Liga de Defesa Nacional, escreve ao amigo Henrique Castriciano para que este formasse em seu estado batalhões de escoteiros. Assim, Castriciano une seus esforços aos do professor Luiz Soares e do comandante Monteiro Chaves, e juntos, fundam a Associação Brasileira de Escoteiros do Rio Grande do Norte, no ano de 1917.

Nesse período, a capital potiguar estava passando por um processo de urbanização, que almejava, além do aspecto da salubridade, o embelezamento e modernização da cidade e o disciplinamento dos usos desse espaço urbano, por meio de uma mudança de hábitos e costumes dos seus habitantes, pois, na ótica da elite local, somente assim, Natal se tornaria um centro urbano civilizado, a exemplo do modelo europeu. Foi nesse cenário que o escotismo foi recepcionado pelas elites intelectuais, políticas e educacionais, as quais percebiam-no como uma alternativa para educar os futuros cidadãos dessa “urbe” que almejava se modernizar.

Devido ao afastamento dos outros fundadores, o professor Luiz Soares toma para si a tarefa de conduzir o escotismo no estado natalense e funda a A.E.A. Envolto em uma rede de sociabilidades, a qual incluía pessoas influentes, o professor Luiz Soares conseguiu o apoio necessário para consolidar o escotismo na capital e no interior do estado. Reconhecido como o patrono do escotismo no Rio Grande do Norte, por meio da Lei estadual 9.940, de 11 de maio de 2015 (RIO GRANDE DO NORTE, 2015PINTO, Amanda Thaise Emerenciano. A presença do professor Luiz Soares Correia de Araújo no Grupo escolar Frei Miguelinho (1912-1967). 2015. Dissertação (Mestrado em Educação) − Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2015.), o professor Luiz Soares, que dirigiu a A.E.A entre os anos de 1919-1967, foi o maior propagador do escotismo no estado do Rio Grande do Norte.

As redes de sociabilidade foram determinantes para a implantação do escotismo na cidade do Natal, haja vista que possibilitaram, em primeiro lugar, a comunicação entre Bilac e Henrique Castriciano e a articulação deste com o professor Luiz Soares e o Comandante Monteiro Chaves e, posteriormente, a fundação da A.E.A e a consolidação do escotismo natalense. Ademais, a A.E.A era o lugar por excelência da circulação das ideias educativas do professor Luiz Soares, isso foi decisivo para que o escotismo praticado em suas dependências articulasse os ensinamentos de Baden-Powell a outras práticas educativas, a exemplo do ensino profissional e musical, e adquirisse contornos singulares que o distinguia das práticas escoteiras de outros estados.

Nascimento (2004NASCIMENTO, Adalson. Sempre alerta! O Movimento Escoteiro no Brasil e os projetos nacionalistas de educação infanto-juvenil (1910-1945). 2004. Dissertação (Mestrado em História) − Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2004.) observou que durante o processo de consolidação do escotismo no Brasil, existiram dois tipos de militância: o primeiro grupo de militantes era composto pelos chefes que se preocupavam em aprender a doutrina de Baden-Powell, comprometidos com ações práticas, com a difusão e implantação do escotismo. Já o segundo, também simpatizante, era formado por intelectuais, políticos e educadores que tinham uma visão acerca do escotismo, todavia, não se envolviam em suas práticas cotidianas, restringindo a sua participação ao seu apoio discursivo. O professor Luiz Soares enquadra-se nesses dois tipos de militantes, uma vez que, como intelectual, foi um militante ativo do escotismo, pois ele estudou atentamente a doutrina de Baden-Powell, implantou e difundiu o escotismo nas terras potiguares por meio da A.E.A.

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  • 20 ANOS de Escotismo no Rio Grande do Norte. A República, Natal, 23 jun. 1937, p. 4.
  • 1
    Olavo Bilac prefaciou o livro “Mãe”, escrito por Henrique Castriciano, publicado em 1899. Outrossim, no ano de 1900, atendendo ao pedido do amigo, Bilac prefacia o livro “Horto”, de autoria de sua irmã Auta de Souza.
  • 2
    Natural da cidade do Natal, Frei Miguelinho foi executado em 12 de junho de 1817, na cidade de Salvador, acusado do crime de lesa-majestade por ter participado da Revolução Pernambucana, também conhecida como Revolução de 1817, um movimento de caráter liberal e republicano, que eclodiu em 06 de março de 1817. No centenário da sua morte, foram organizadas várias homenagens na capital potiguar, a exemplo de missa campal, préstito cívico e inauguração de um monumento na Praça André de Albuquerque. As homenagens mobilizaram vários setores da população natalense, como autoridades, oficiais da Guarda Nacional, representantes de imprensa, escolares, escoteiros, associações e populares.
  • 3
    Inspirado, sobretudo, nos pressupostos ativistas, Baden-Powell buscava uma forma de educar que afastasse a criança do ambiente artificial da cidade, através de atividades ao ar livre, que ao mesmo tempo manipulassem e respeitassem o aprendizado global, juntando atividades intelectuais e práticas.
  • 4
    A análise das fontes bem como a bibliografia pesquisada não permitiu afirmar que o Comandante Monteiro Chaves era um intelectual, no entanto tudo indica que ele circulava pelos mesmos espaços de sociabilidades de Henrique Castriciano e do professor Luiz Soares.
  • 5
    Como ator social engajado na vida da cidade, reorganizou a Liga de Desporto Terrestre do Rio Grande do Norte (1927), assumindo a sua presidência. Fundou, a Policlínica do Alecrim (1944), na qual integrou o primeiro conselho administrativo como presidente. Participou de forma ativa da organização e instalação da Faculdade de Farmácia e Odontologia de Natal (1945). Implementou o Jardim de Infância, no Grupo Escolar Frei Miguelinho (1945). Ainda foi membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, da Academia Potiguar de Letras e do Conselho Estadual de Educação do estado potiguar. foi eleito vereador com um grande número de votos e também eleito presidente da Câmara Municipal (1950).
  • 6
    A prática do escotismo demandava um lugar espaçoso e ao ar livre, por isso, inicialmente, Henrique Castriciano cedeu a sua propriedade para a realização das primeiras reuniões. Posteriormente, as reuniões foram transferidas para a residência do comandante Monteiro Chaves, localizada na Rua Apodi, no bairro do Tirol. Quando ele viajou para o Sul, a sede da Associação Brasileira de Escoteiros do Rio Grande do Norte foi transferida para o Grupo Escolar Frei Miguelinho.
  • 7
    As fontes analisadas não especificam as medidas da sede, somente as dimensões do terreno onde ela foi construída, que é cerca de 879 m2.
  • 8
    Inicialmente, a Escola Profissional do Alecrim dispunha de oficinas de sapataria, serralheria, funilaria, marcenaria. Posteriormente, foram instaladas as oficinas de Bordados e costuras, alfaiataria, confecções e tipografia.
  • 9
    Interlocutor da ideia do uso do cinema para fins educativos, o professor Luiz Soares adquiriu um projetor na Casa Kodak no Rio de Janeiro e instalou um Cinema Educativo na sede da A.E.A, no ano de 1928, o primeiro da cidade do Natal.
  • 10
    Criada no ano de 1918 pelo professor Luiz Soares e tendo o seu instrumental patrocinado pela ação do Estado, a banda era formada por garotos com idades que variavam entre nove e quinze anos.
  • 11
    A Escola Profissional do Alecrim destinava o seu ensino apenas aos escoteiros da A.E.Ae aos alunos do Grupo Escolar Frei Miguelinho.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Ago 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    03 Out 2020
  • Aceito
    27 Jan 2021
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