Acessibilidade / Reportar erro

Interação essencial

Editorial

Clínica Cirúrgica

INTERAÇÃO ESSENCIAL

Este é nosso primeiro editorial da nova Ramb. Difícil, em poucas linhas, definir projetos consistentes. Talvez valha a pena usar um exemplo objetivo para ilustrar o que se pretende estabelecer como linha editorial no âmbito da cirurgia. Leia e medite a respeito. Se concordar, ótimo. Se não, escreva-nos. Afinal, a revista é sua e nós somos intermediários, cuja tarefa é fazer com que ela represente um instrumento eficaz de atualização, de reciclagem, de aprendizado contínuo. A história é a seguinte: Estava um de nós assistindo a um congresso. O tema central da sessão era trauma abdominal. Discutia-se tratamento inicial não-operatório e um dos apresentadores defendia, de forma enfática, esta modalidade de atendimento inicial em ferimentos por arma de fogo. Usando instrumentos didáticos extremamente convincentes, lançando mão de abundantes dados estatísticos, mantinha a assistência atenta e receptiva. Olhando em volta, percebia-se que a maioria dos presentes era integrada por médicos jovens, talvez residentes. Percebia-se que, com grande probabilidade, alguns deles sairiam da sessão para, ainda no mesmo dia ou nos dias subsequentes, darem plantão em algum serviço de pronto socorro (PS). E, provavelmente, seria de algum serviço de emergência de hospital público, afogado em demanda e dotado de recursos precários. Era fácil imaginar que, impressionado pelas enfáticas assertivas do orador, ocorresse a algum dos seus ouvintes adotar a conduta conservadora no atendimento inicial do próximo ferimento abdominal por arma de fogo que recebesse no PS. Ao fim do plantão, cansado, teria pouco tempo para rever o doente ou passar o caso para o plantonista do dia. Este, por sua vez, talvez, mantivesse a conduta conservadora. No plantão seguinte, finalmente, uma enfermeira mais experiente chamaria a atenção do plantonista da noite para o fato de o doente estar febril, taquicárdico, oligúrico, hipotenso. Uma rápida avaliação, seguida de laparotomia. Achado: um pequeno ferimento tangencial de delgado e uma grande peritonite. Sutura primária, lavagem "exaustiva" da cavidade peritoneal e UTI. Daí, o início do calvário: insuficiência renal, insuficiência respiratória, instabilidade hemodinâmica, internação prolongada, montanhas de exames, medicamentos caríssimos, longos dias de sofrimento e, talvez, alta. Evidentemente esta história é imaginária. Pergunto-lhe, entretanto, se você já não viu acontecer algo semelhante! Conclusão: quem usa um instrumento de comunicação deve ter suficiente crítica para transmitir uma mensagem consentânea com o perfil de quem ouve ou de quem lê, em que pese que a palavra escrita pode ser avaliada com mais calma e merecer comentários. Seja como for, achamos que nosso "mandato" como editores associados será pautado pela prudência e ponderação. Todos os trabalhos que nos forem submetidos serão revistos cautelosamente, com a ajuda de nossos excelentes editores colaboradores e de consultores selecionados. De sua parte, não hesite em mandar comentários ou em questionar o que for publicado. A interação entre nós e você é essencial.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Jan 2001
  • Data do Fascículo
    Out 2000
Associação Médica Brasileira R. São Carlos do Pinhal, 324, 01333-903 São Paulo SP - Brazil, Tel: +55 11 3178-6800, Fax: +55 11 3178-6816 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: ramb@amb.org.br