Acessibilidade / Reportar erro

O ultra-som transvaginal é um bom screening para o câncer de ovário?

Panorama Internacional

Ginecologia

O ULTRA-SOM TRANSVAGINAL É UM BOM SCREENING PARA O CÂNCER DE OVÁRIO?

Essa questão vem comprovar a idéia de se realizar ultra-sonografia transvaginal de rotina, mesmo em pacientes na pósmenopausa histerectomizadas e com ovário. Todos os médicos que avaliam as mulheres climatéricas utilizam um arsenal propedêutico amplo, sempre procurando fazer exames de screening que detectem precocemente patologias sérias. Para o câncer ginecológico, há várias rotinas que se mostram altamente eficazes. Eficaz significa que um exame feito na população geral tem um baixo custo e alta sensibilidade de detectar a patologia, ou seja, tem pouco falso-negativo. Esses exames não necessitam ter alta especificidade, ou seja, o número de falso positivo pode ser alto, pois exames posteriores complementam o diagnóstico.

Exemplos claros são a citologia cervical, que é um exame barato, tem boa sensibilidade, e portanto consegue ter um impacto positivo sobre o diagnostico precoce do câncer de colo uterino. O mesmo se diz quanto ao ultra-som transvaginal, para detectar o câncer de endométrio na pós-menopausa e a mamografia, para detectar o câncer de mama. O nosso problema sempre foi a detecção precoce do câncer de ovário, pois sabemos que não há métodos bons e baratos para se fazer um diagnóstico precoce, e a maioria dos diagnósticos se faz em fase de pobre prognóstico.

Recentemente, Sato et al. propuseram que o uso de ultra-som transvaginal (USTV) pode ter um bom impacto em termos de saúde pública em relação ao diagnóstico precoce do câncer de ovário. Após fazerem o Papanicolau e o exame pélvico, eles fizeram um screening de 183034 mulheres assintomáticas, utilizando o USTV em um período de 10 anos. As mulheres já participavam de um programa de screening de câncer de colo uterino, e o exame levava cerca de um minuto por paciente. Destas mulheres, 51550 estavam fazendo o seu primeiro screening.

Um screening secundário foi necessário em 5309 mulheres que apresentavam um sonograma anormal. Trezentas e vinte e quatro mulheres submeteram-se a cirurgia, que identificou 22 tumores primários, dos quais 17 eram carcinoma estádio I, e cinco eram positivos para marcadores tumorais. Dois tumores metastáticos foram também detectados.

Das 24 mulheres com tumores ovarianos, 14 pacientes que tinham tumores primários e as duas com tumores metastáticos faziam o screening pela primeira vez. Estas mulheres também requereram screening secundário, realização de marcadores tumorais e laparotomia. Outras quatro pacientes eram também participantes pela primeira vez e requereram screening secundário e laparotomia. As restantes quatro pacientes tinham sido examinadas anualmente. Os autores observaram também que a porcentagem de casos com estádio I aumentou 29,7% para 58,8% após a instituição do USTV de rotina.

Comentário

Este trabalho vem ao encontro da idéia de se realizar este exame de rotina, mesmo em pacientes na pós-menopausa histerectomizadas, com ovário. Logicamente, o custo deste screening em uma população geral deve ser levado em conta, mas o que os autores advogam é que este custo ainda é menor do que o custo do tratamento da doença, desde seu diagnóstico até a morte da paciente. Em termos de saúde pública, esta análise deve ser feita criteriosamente, principalmente pensando em termos de Brasil.

Rui Alberto Ferriani

Referência

Sato et al, Cancer 2000;89:582-587.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Jan 2001
  • Data do Fascículo
    Out 2000
Associação Médica Brasileira R. São Carlos do Pinhal, 324, 01333-903 São Paulo SP - Brazil, Tel: +55 11 3178-6800, Fax: +55 11 3178-6816 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: ramb@amb.org.br