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Os europeus, os americanos e a banda ajustável laparoscópica

Panorama Internacional

Clínica Cirúrgica

OS EUROPEUS, OS AMERICANOS E A BANDA AJUSTÁVEL LAPAROSCÓPICA

Muito se discutiu a respeito de inúmeras técnicas para o tratamento cirúrgico da "Obesidade Mórbida". Chamou-nos atenção a utilização da "banda ajustável".

A banda ajustável laparoscópica tem sido utilizada em todo o mundo, como uma das opções no tratamento cirúrgico da obesidade mórbida. Na Europa, de forma extensa. Suas vantagens são citadas como sendo de fácil execução, baixo índice de complicações, possibilidade de controlar a ingestão e, claro, ser executada através de procedimento minimamente invasivo. Em coletânea nacional de mais de 1000 casos, os italianos demonstraram essas qualidades da banda ajustável, em apresentação no 17º Encontro da Associação Americana de Cirurgia Bariátrica, realizado em junho último na cidade de Memphis. Relataram, também, bons resultados em médio prazo quanto à perda de peso e consideraram o método como de escolha para o tratamento da obesidade mórbida.

Nos Estados Unidos, não se pensa assim. O FDA (Food and Drug Administration) crê que o procedimento tem um índice de complicações que justifica o uso apenas experimental, em serviços credenciados e seguindo um protocolo elaborado pelo órgão. Numa das apresentações no mesmo Congresso, salientou-se a alta incidência de sérias disfunções esofágicas após a colocação da banda ajustável, diagnosticadas através de exames manométricos e radiológico. Apesar de veementemente rechaçados pelos europeus presentes, os resultados foram confirmados pelo apresentador que ainda justificou que os diagnósticos foram feitos no cumprimento do protocolo, e não por presença de sintomas.

Não se sabe o motivo certo desta "guerra". Não parece haver justificativa nem para a insistência dos europeus em defender o método como se só apresentasse complicações sem gravidade e de fácil resolução, nem para a insistência dos americanos em condená-lo.

Comentário

Para o espectador, não parece haver diferença funcional entre a banda ajustável e a gastroplastia vertical com bandagem, cirurgia há muito proposta por E. Mason, e abandonada na grande maioria dos serviços de cirurgia bariátrica, por apresentar alta incidência de recuperação do peso em longo prazo. Por que o mesmo não aconteceria com a banda inflável? Só pelo fato de ser inflável? Sabe-se que a margem de ajuste deste dispositivo é pequena: um pouco mais inflada, produz vômito; um pouco menos, não leva à perda esperada.

Por outro lado, se a banda ajustável funciona como a gastroplastia, por que não esperar que as mesmas alterações manométricas e radiológicas não ocorram também nos outros procedimentos gástricos restritivos? Condenar a banda laparoscópica por esse motivo seria condenar também as outras formas de gastroplastia.

A cirurgia bariátrica é uma situação de extrema seriedade. As indicações são precisas e os pacientes devem ter conhecimento de todas suas opções. As reflexões são válidas, já que um procedimento aparentemente mais simples pode estimular sua prática fora dessas indicações. A banda ajustável é uma forma a mais para tratar esta grave doença, mas sua aplicação, como a indicação de qualquer outro tipo de operação, deve ser adequada a cada paciente.

Carlos Alberto Malheiros

Francisco César Martins Rodrigues

Referência

• 17º Encontro da Associação Americana de Cirurgia Bariátrica, Menphis, EUA

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Jan 2001
  • Data do Fascículo
    Out 2000
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