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Obstrução antro-pilórica-duodenal e distúrbios metabólicos: é importante um pré-operatório adequado?

À beira do leito

Clínica Cirúrgica

OBSTRUÇÃO ANTRO-PILÓRICA-DUODENAL E DISTÚRBIOS METABÓLICOS: É IMPORTANTE UM PRÉ-OPERATÓRIO ADEQUADO?

Doente com neoplasia do antro gástrico e obstrução antro-pilórica-duodenal é internado para tratamento operatório.

Apresenta emagrecimento importante e vômitos pós-alimentares diários.

O preparo pré-operatório deve ser rápido (48 a 72 horas), uma vez que a melhora metabólica e nutricional só ocorrerá após a desobstrução do tubo digestivo.

Além dos exames habituais, deve ser dada atenção especial à gasometria arterial e à dosagem de potássio, uma vez que os distúrbios hidro-eletrolíticos devem ser compensados da forma mais adequada possível, considerando os grandes riscos que acarretam durante a anestesia a ser realizada.

O distúrbio ácido-básico principal dos doentes com obstrução alta do tubo digestivo é a alcalose metabólica. As perdas de íons H+, provocadas pelos vômitos, resultam em aumento do pH e acúmulo de HCO3 -. Estas obstruções resultam também em perdas de potássio. Existe uma compensação renal, havendo excreção do íon H+ pelo rim, onde é trocado pelo potássio. Existe uma compensação renal, havendo excreção de HCO3¾ e deveria haver retenção de H+, mas a necessidade de compensação da perda de K+ (íon muito importante), provoca a excreção do íon H+ pelo rim, onde é trocado pelo potássio, havendo uma acidúria paradoxal.

O adulto possui perto de 60 % de seu peso representado por água, sendo que 40% desta água se encontra no intra-celular e apenas 20% no extra-celular, que é dividido em interstício (16%) e compartimento vascular (4%). O potássio é o íon mais abundante no corpo (cerca de 3.400 mEq), mas só 2% dele é do extra-celular. Nossas necessidades diárias de potássio correspondem de 40 a 60 mEq/I deste íon, que fica acumulado principalmente no intra-celular. Devemos lembrar que a perda de 1 mEq/I no plasma, corresponde a uma perda de 100 a 200 mEq/I de potássio do intra-celular, sendo sua reposição fundamental.

O estômago deve ser lavado com o auxílio de sonda de Fouchet na véspera da operação, sendo mantida sonda gástrica 12 ou 14 e o doente permanece em jejum após a limpeza do estômago. O anestesista deve usar técnica adequada de intubação orotraqueal, considerando o doente como se ainda estivesse com o estômago cheio, protegendo-o de uma possível aspiração pulmonar do conteúdo gástrico.

Como a operação foi indicada por neoplasia gástrica, devemos preparar o cólon do doente, apesar dos distúrbios relatados e administrar antibiótico durante a operação (antibiótico profilático), que pode ser indicado como terapêutico, dependendo do achado operatório.

A gravidade da desnutrição e os distúrbios metabólicos que as obstruções altas do tubo digestivo acarretam, podem implicar em decisões difíceis para o cirurgião, uma vez que vai tratar de um doente em condições muito desfavoráveis.

Se existe uma condição clínica mínima, o ato operatório não deve ser postergado, já que a obstrução representa indicação formal de operação, que pode não aumentar a sobrevivência do doente, mas muitas vezes tem resultados gratificantes, mesmo que a curto prazo.

A correção adequada e rápida dos distúrbios hidro-eletrolíticos, assim como os cuidados durante a anestesia, podem permitir uma ressecção gástrica, ainda que paliativa, ou mesmo uma derivação gastro-jejunal, com melhora da qualidade da sobrevivência.

PEDRO LUIZ SQUILACCI LEME

FRANCISCO CESAR MARTINS RODRIGUES

CARLOS ALBERTO MALHEIROS

Referência

Rahal F, Pereira V, Malheiros CA, Rodrigues FCM, Gonçalves AJ.Câncer gástrico. In: Condutas normativas ¾ Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. 9ª ed. 1998. p. 28-36.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Nov 2001
  • Data do Fascículo
    Set 2001
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