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Qual a utilidade da proteína C reativa quantitativa no manejo das infecções em crianças?

À beira do leito

Pediatria

QUAL A UTILIDADE DA PROTEÍNA C REATIVA QUANTITATIVA NO MANEJO DAS INFECÇÕES EM CRIANÇAS?

O paciente YRS, de 11 anos e 2 meses, internado no leito 31, vem recebendo tratamento com antimicrobianos já há 10 dias por uma pielonefrite aguda documentada; ficou afebril no 3º dia e agora vem apresentando febre alta novamente nos últimos dois dias; no exame clínico não foi detectado nenhuma alteração significativa; o que fazer de exame laboratoriais e estaria indicada a mudança de antimicrobianos?

Bom, é obvio que você deverá refazer a exploração laboratorial do rim para avaliar a evolução da pielonefrite (sedimento e cultura de urina; ultra-som dos rins e vias urinarias e eventualmente uma cintilografia renal), e controles gerais que podem ajudar no esclarecimento desse novo episódio febril. É útil nessas circunstâncias a avaliação evolutiva do hemograma (leucócitos e o diferencial), mas melhor ainda, e é o que gostaria de discutir, a utilização das provas da fase aguda do soro, essencialmente a PCR; neste caso, a caracterização de pienoneflite aguda se baseou nas alterações dos exames de urina, nas alterações ecograficos e também nos valores da PCR que era de 123 mg/1; PCR é em nossa opinião um excelente marcador com valor discriminativo na fase aguda da doença entre doença viral e bacteriana, bem como um dado muito importante para avaliar eficácia da terapêutica antibacteriana introduzida.

Apenas 8 horas após ocorrido o estímulo para resposta inflamatória em um processo infeccioso bacteriano, pode ser detectado um aumento significativo da PCR, que varia de 10 a 100 vezes do valor basal. Não infrequentemente esta alteração precede em várias horas o aparecimento dos sinais e sintomas. Usando a Unidade mg/1, aumentos iguais ou maiores de 40 mg/1 dos valores basais, indicam a presença de infecção bacteriana, e as menores infecção viral. Algumas situações como desnutrição grave, grave hipofunção hormonal, doenças de auto agressão e uso de antibióticos e esteróides podem modificar esta resposta e portanto falsear a interpretação. A par desse valor discriminativo entre infecção viral ou bacteriana, o uso em tratamentos com antibióticos, usando a PCR seriada, mostra queda (já com 18 a 24 horas isso pode ser percebido) indicando que os antimicrobianos em uso estão sendo eficazes. Esta utilização da PCR é de extrema valia nas situações clínicas com variáveis pouco definidas para controle evolutivo da infecção, como pacientes com infecções graves, recebendo antimicrobianos, sem identificação do agente etiológico.

No caso apresentado, a feitura de uma nova PCR é importante para a interpretação do que está causando o novo picofebril. Se vier com valores baixos, bem inferiores ao inicial, muito provavelmente essa febre corresponderia a uma infecção viral e portanto não haverá nenhuma necessidade de mudança de antimicrobianos; de outra parte, se o valor do PCR for alto, estaremos frente a uma outra infecção bacteriana ou evolução complicada da piolonefrite. Nessa situações dever-se à, frente a demais dados clínicos e laboratoriais, promover a mudança dos antimicrobianos em uso.

EVANDRO R. BALDACCI

Referência

Lindquist L, Hansson LC. Reactive protein: its role in the diagnosis and follow-up of infections diseases. Curr Opin Infect Dis 1997;10:196-201.

Nota do autor:

No caso, a PCR realizada no segundo episódio febril foi menor do que 5 mg/1 e a criança no 3º dia de febre apresentou rash cutâneo de varicela.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Nov 2001
  • Data do Fascículo
    Set 2001
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