Acessibilidade / Reportar erro

Princípios éticos para o não tratamento de pacientes com câncer da cabeça e pescoço

Panorama Internacional

Bioética

PRINCÍPIOS ÉTICOS PARA O NÃO TRATAMENTO DE PACIENTES COM CÂNCER DA CABEÇA E PESCOÇO

É lícito, em nome da autonomia, despender recursos fúteis, ou ao contrário, não usar recursos promissores? É missão do médico avaliar e decidir em cada caso, considerando o benefício diante do custo, do risco e da distribuição social de recursos.

Custo-Benefício: Exames e procedimentos devem melhorar o resultado do tratamento, ser aprovados pelo paciente e claramente registrados.

Risco-Benefício: Procedimentos radicais se justificam ante a possibilidade de prolongamento ou melhora na qualidade de vida, segundo critério do paciente. Se o médico julga que deve continuar o tratamento e o paciente informado não quer, sua autonomia deve ser respeitada. Na situação contrária, devem ser considerados os princípios médicos e os recursos disponíveis.

Distribuição social de recursos: Os recursos para a saúde devem ser igualmente distribuídos visando oferecer a melhor qualidade de vida pelo mais longo tempo possível, para o maior número de beneficiários atendendo às necessidades individuais. Uma pessoa nascida com fibrose cística provavelmente necessitará de mais tratamento que uma pessoa com a uma perna quebrada. O custo médio do tratamento de um portador de câncer de cabeça e pescoço nos Estados Unidos é de U$ 20 mil. Há aumento na qualidade e duração da vida, com queda na capacidade produtiva. O retorno social é ruim, o mesmo ocorrendo em outras doenças.

Deve haver um só critério para decidir pelo não tratamento com base na escassez de recursos, igual para todas as doenças. No câncer de cabeça e pescoço, o benefício é diretamente proporcional aos custos até um determinado momento em que, mesmo o investimento crescente, nada acrescenta ao resultado.

Numa representação gráfica em que a abscissa é o custo e a ordenada é o benefício, temos como ponto inicial o diagnóstico, e final, a morte. Com o aumento dos recursos se atinge um benefício máximo, o ápice da curva, que pode corresponder à cura. A partir deste momento, a curva se torna descendente. O ponto entre o diagnóstico e a morte em que, a despeito do investimento crescente, não há benefício, é o ponto onde se deve interromper o tratamento em qualquer doença.

Comentário

Princípios éticos podem ser infringidos com a aplicação de normas advindas da escassez de recursos. Existe um direito individual dando base a um critério social.

As vantagens e perspectivas de sucesso de cada tratamento aumentam com o investimento até um ponto em que os riscos são maiores que o resultado esperado. Investimento no procedimento deve ser proporcional ao estado da doença e doente. Este ponto pode ser definido para cada doença, comparando-se a perspectiva da duração e qualidade de vida.

Quanto se deve oferecer para cada indivíduo, dentro do total de doenças?

A aplicação destes critérios pode ainda fornecer dados para orientar na escolha de política de investimento em saúde.

RENLÉ W. D. YOUNG

Referência

Young EW - The ethics of nontreatment of patients with cancer of head and neck. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 1991;117: 769-73.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Jan 2002
  • Data do Fascículo
    Dez 2001
Associação Médica Brasileira R. São Carlos do Pinhal, 324, 01333-903 São Paulo SP - Brazil, Tel: +55 11 3178-6800, Fax: +55 11 3178-6816 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: ramb@amb.org.br