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A progesterona natural é a droga de eleição na prevenção primária do nascimento prematuro?

À beira do leito

Obstetrícia

A PROGESTERONA NATURAL É A DROGA DE ELEIÇÃO NA PREVENÇÃO PRIMÁRIA DO NASCIMENTO PREMATURO?

Qualquer processo desencadeador de contrações uterinas pode progredir para uma via comum caracterizada por um aumento progressivo da excitabilidade das fibras miometriais, desencadeando aumento da contratilidade uterina e dando início ao trabalho de parto prematuro. Sabe-se que pacientes com elevado risco para o parto prematuro apresentam um estado de hipercontratilidade uterina, provavelmente, em virtude da quebra do estado de quiescência uterina, comum às gestações normais. Em tal situação, poder-se-ia utilizar a progesterona, cujo principal objetivo é aumentar o limiar de excitabilidade uterina e, assim, diminuir as taxas de nascimentos prematuros. Esta pretensa compreensão da fisiologia da contratilidade uterina tem despertado grande interesse teórico na utilização de progesterona para prevenir o parto prematuro. Além destes efeitos benéficos para as gestantes com risco para o parto prematuro, a progesterona natural é isenta de ação teratogênica, não promove distúrbios metabólicos ou hemodinâmicos, ao contrário dos progestagênios de outrora. A partir de então, novas perspectivas foram alçadas, baseando-se nas evidências fisiológicas de sua ação. Alguns estudos sugeriram a utilização de progesterona natural, desenvolvida em uma fórmula galênica que possibilitou a utilização oral, e mais recentemente, após 1980, na França, surgem os primeiros trabalhos com progesterona natural micronizadas, que possibilitou maior absorção. A via vaginal e a retal podem ser prescritas, pois além demonstrarem os mesmos efeitos benéficos, não foi observado os inconvenientes da primeira passagem hepática. Deste modo, a utilização de progesterona natural por via vaginal não determinou efeitos colaterais adversos com a evolução pré-natal nem associou-se a alterações neonatais. Os resultados preliminares de um estudo duplo-cego realizado em um hospital universitário têm sido promissores. Entretanto, deve-se ratificar que as evidências atuais sugerem benefícios na utilização tópica de progesterona natural em pacientes com elevado risco para o parto prematuro espontâneo. Por enquanto, sua administração não dispensa a utilização de métodos preditivos para o parto prematuro, tais como: ultra-sonografia transvaginal, a monitorização das contrações. A administração de progesterona tópica natural em pacientes assintomáticas com risco tem por finalidade manter o "bloqueio progestagênico", que determina a quiescência uterina e, por conseqüência, a diminuição do risco do parto prematuro (prevenção secundária). Assim, diminui-se a incidência do nascimento prematuro ou a possibilidade do emprego de medidas desnecessárias, como as internações hospitalares e a tocólise intempestiva, as quais são, indubitavelmente, de alto custo social.

EDUARDO BORGES DA FONSECA

Referências

1. Bittar RE, Yamasaki AA, Sasaki S, et al. Cervical fetal fibronectin in patients at increased risk for preterm delivery. Am J Obstet Gynecol 1996; 175: 178-81.

2. Lockwood CJ & Kuczynski E. Markers of risk for preterm delivery. J Perinat Med 1999; 27: 5-20.

3. Carbilhons L, Uzan M, Challier JC. Fetal placental and decidual placental units: role of endocrine and paracrine regulations in parturition. Fetal Diagn Ther 2000; 15: 308-18.

4. Fonseca EB, Bittar RE, Zugaib M. The use of natural progesterone in prevention of preterm delivery in high risk women for preterm birth [abstract]. In: XVI World Congress of International Federation of Gynecology and Obstetrics; 2000; Washington.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Jan 2002
  • Data do Fascículo
    Dez 2001
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