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Hormônio do crescimento: parte I

Diretrizes

Pediatria

HORMÔNIO DO CRESCIMENTO - PARTE I

A Sociedade de Pesquisa em Hormônio de Crescimento reuniu-se para avaliar alguns aspectos do uso do hormônio (GH) e verificar se algumas preocupações com sua utilização encontram respaldo na literatura especializada.

Ao lado da análise sobre a segurança de seu uso em crianças, a Sociedade debruçou-se sobre os aspectos de segurança com o uso do GH em adultos.

Metabolismo da glicose ¾ A prevalência de diabetes mellitus (DM) está aumentada em adultos hipopituitários e as ações metabólicas do GH incluem antagonismo à insulina. Recomenda-se que o metabolismo glicêmico seja avaliado em todos os pacientes, antes e após substituição com GH. DM ou tolerância a glicose alterada não são contra-indicações do uso de GH. O cuidado de diabéticos em uso de GH deve seguir as recomendações usuais, com monitorização intensificada no início do tratamento. O exame de fundo de olho deve ser periodicamente realizado e, se bem que uma retinopatia não-proliferativa não seja motivo de descontinuação do uso de GH, o desenvolvimento de retinopatia proliferativa exige a suspensão do uso do hormônio de crescimento.

Retenção de fluidos ¾ Pode ocorrer, especialmente nas fases iniciais do uso do GH. Parcialmente, isto reflete a normalização da hidratação tecidual, induzida por GH e dependente de dose. Peso, história clínica e exame físico são capazes de identificar tal ocorrência. Redução de dose no caso de sintomas persistentes deve ser considerada. Cuidado especial em pacientes com insuficiência cardíaca congestiva.

Interação com outros hormônios ¾ O GH aumenta a conversão de T4 a T3 e pode desmascarar um hipotireoidismo incipiente. Todos os pacientes devem ser monitorizados quanto à função tireoideana. O GH pode diminuir a concentração de cortisol total diminuindo a globulina ligadora (CBG). Pode também reduzir a biodisponibilidade de cortisol, aumentando sua conversão a cortisona. A possibilidade de uma insuficiência adrenal deve ser considerada durante a terapia.

Função cardíaca e lipoproteínas ¾ A prevalência aumentada de doença cardiovascular observada na acromegalia ativa não pode ser extrapolada para o adulto hipopituitário em reposição de GH. Dessa forma, a monitorização da função cardiovascular deve seguir os padrões para população normal. A substituição de GH no adulto aumenta os níveis séricos de lipoproteínas. São incertas as implicações (se é que há) dessas elevações e isto deve ser pesado contra os benefícios da instituição do tratamento com GH. Não recomendamos as dosagens de lipoproteínas como um procedimento rotineiro em pacientes hipopituitários.

Risco de câncer e recorrência de tumor ¾ tem sido documentada uma incidência aumentada de certas doenças malignas (especialmente recorrência de tumor) em adultos hipopituitários, mas não há evidência que tal fato associe-se à reposição com GH. As recomendações usuais para prevenção de câncer e detecção precoce devem ser implementadas nos pacientes recebendo GH.

Aspectos de segurança em tratamento farmacológico de GH em adultos¾ Uso de Terapia Intensiva ¾ Estudos demonstram que a mortalidade dobra em pacientes gravemente enfermos tratados com altas doses de GH. Em dois estudos controlados por placebo, envolvendo 522 pacientes, demonstrou-se que a mortalidade aumentou de 19% para 42% no grupo que recebeu GH.

Tratamentos farmacológicos com GH ¾ Qualquer tratamento com GH que não seja de substituição em pacientes deficientes deve ser considerado farmacológico. Em condições específicas em que se esteja considerando o tratamento farmacológico, devem ser coletados dados de segurança e protocolos devem ser desenvolvidos, como se estivéssemos testando uma nova droga. A evolução negativa observada em pacientes em terapia intensiva que receberam altas doses de GH não podem ser automaticamente extrapolados para outras condições que podem, eventualmente, beneficiar-se deste tipo de uso.

Comentário

Cada vez mais tem havido indicações para o uso de GH em pacientes adultos que foram crianças que cresceram normalmente e, por conseqüência, produziram seu GH nessa fase de crescimento. Os cuidados a serem tomados em tais pacientes são bem abordados pela Sociedade de Pesquisa em GH e abertas quanto a doses farmacológicas devem ser tomados em sua devida conta. Alguns "mitos" têm sido derrubados, como a contra-indicação do GH em casos de neoplasias e, extremamente importante, o seguimento dos pacientes, com avaliações periódicas com o intuito de se detectar alterações que podem levar à suspensão da medicação (como retinopatia proliferativa, por exemplo) nunca deve ser esquecido.

DURVAL DAMIANI

Referência

Growth Hormone Research Society. Critical evaluation of the safety of recombinant human Growth Hormone administration: statement from the Growth Hormone Research Society. J. Clin Endocrinol Metab, 2001; 86:1868-70.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Jan 2002
  • Data do Fascículo
    Dez 2001
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