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Saúde e desemprego

Panorama Internacional

Economia da Saúde

SAÚDE E DESEMPREGO

Nesse artigo são apresentados os resultados da pesquisa desenvolvida por Jennifer M. Stewart a respeito do impacto da condição de saúde na permanência do desemprego de longa duração. Uma de suas conclusões é que os indivíduos com saúde precária tendem a permanecer mais tempo em desemprego e por isso constituem parcela significativa dos desempregados. Além disso, observa que o peso dos indivíduos com saúde precária no total dos desempregados é maior do que entre os empregados. Essa diferença, contudo, não explica completamente a diferença existente nas taxas de mortalidade dos dois grupos.

A metodologia utilizada apóia-se em pressuposto relativamente simples, pois supõe que os indivíduos deixarão a situação de desemprego se o "valor do emprego" for maior do que o valor de "permanecer desempregado". O valor do emprego é uma função da diferença entre ganhos e custos do emprego, características pessoais e a duração do desemprego. Para se ter uma idéia, a educação tem um impacto positivo no valor do emprego, sendo considerada um ganho; já a duração da condição de desempregado diminui o valor do emprego. Para o desenvolvimento do modelo foram utilizadas 24 variáveis e as informações da pesquisa do Canadian Out of Employment Panel.

Comentário

Os resultados obtidos por Jennifer Stewart são extremamente instigantes, pois contradizem a idéia corrente que o desemprego é fator de agravo da condição de saúde e, por isso, do aumento da taxa de mortalidade entre a população desempregada. Pesquisa realizada por Brenner, em 1979, confirmou essa percepção. Contudo, como bem cita a autora do artigo, outras pesquisas subseqüentes produziram resultados contraditórios, deixando em aberto essa questão. A relação entre desemprego e condição de saúde é tema extremamente relevante, tanto pelo fato de a convivência com elevadas taxas de desemprego ser uma constante na maioria dos países desde meados dos anos 1970, como devido às restrições orçamentárias da atenção à saúde. Os resultados da pesquisa de Jennifer Stewart podem ser vistos de duas formas: a primeira, e explicitada por ela em suas conclusões, que o impacto do desemprego na condição de saúde foi superestimado; a segunda, que o desemprego é em grande parte explicado pela condição de saúde dos indivíduos que estão desempregados. Esta última leitura lembra as explicações largamente difundidas que dizem que o desemprego é formado de indivíduos sem condições de empregabilidade, isto é, sem estudo e qualificação para as atividades da moderna economia. Mesmo deixando tal idéia no ar, o artigo merece atenção daqueles preocupados com política de saúde.

ROSA MARIA MARQUES

ÁQUILAS MENDES

Referência

Jennifer WS. The impact of health status on the duration of unemployment spells and the implications for studies of the impact of unemployment on health status. Health Econ 2001; 20:781-96.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Ago 2002
  • Data do Fascículo
    Mar 2002
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