Acessibilidade / Reportar erro

Custo-minimização e número de pessoas a serem tratadas na hipertensão não complicada

Panorama Internacional

Economia da Saúde

CUSTO-MINIMIZAÇÃO E NÚMERO DE PESSOAS A SEREM TRATADAS NA HIPERTENSÃO NÃO COMPLICADA

Pearce e colaboradores compararam os custos associados com a prescrição de diuréticos tiazídicos, beta bloqueadores, inibidores da enzima conversora da angiotensina, bloqueadores alfa e antagonistas dos canais de cálcio para a prevenção de acidente vascular cerebral (AVC), infarto do miocárdio (IM) e morte prematura em casos de hipertensão sem complicações.

Os autores realizaram uma análise de custo-minimização, ou seja, assumiram que a eficácia dos medicamentos era a mesma e pesquisaram as diferenças no custo de sua utilização. Com base em uma metanálise de 15 estudos clínicos importantes, Pierce e colaboradores derivaram o número de pessoas que precisavam ser tratadas para evitar cada um dos eventos mórbidos citados anteriormente. Apenas foram selecionados para a metanálise os trabalhos randomizados e com grupo controle que estudavam medicamentos para tratamento de hipertensão leve a moderada e que tinham como desfecho o AVC, o IM ou a morte.

Foram, também, estudados os preços da droga mais freqüentemente prescrita e da droga mais barata em cada classe. Nesse estudo, as medidas de impacto foram o custo das drogas e o custo direto total de atendimento ambulatorial para prevenir um dos desfechos (AVC, IM ou morte prematura) entre pessoas hipertensas de meia idade ou idosas.

O custo de aquisição de medicamentos para prevenir um AVC, IM ou morte variou de US$ 4.730 a US$ 346.236 entre os pacientes de meia idade, e de US$ 1.595 a US$ 116.754 entre os idosos. Diuréticos ou beta bloqueadores foram os mais custo-efetivos quando comparados a outras classes de medicamentos anti-hipertensivos. O número de pessoas que precisavam ser tratadas durante cinco anos para evitar um AVC, IM ou morte foi estimado em 86 para os pacientes de meia idade e 29 entre os idosos. A terapia com diuréticos mostrou-se mais custo-efetiva, mesmo quando se assumia que as drogas mais modernas eram 50% mais eficazes que os diuréticos na prevenção dos eventos citados. O custo associado à suplementação com potássio não eliminou a vantagem dos diuréticos.

Comentário

O estudo apresenta algumas limitações metodológicas, salientadas pelos próprios autores, ou seja, o estudo da eficácia do medicamento na prevenção de eventos cardiovasculares e morte se limita a um período de cinco anos; apenas se avalia o tratamento da hipertensão leve e moderada; não são considerados efeitos colaterais dos medicamentos (exceto hipopotassemia) ou grau de adesão pelo paciente. Contudo, este trabalho é importante por chamar a atenção para as implicações de custo de suas prescrições. Ao longo de anos de tratamento de um paciente hipertenso, diferenças no custo dos medicamentos podem significar volumes de recursos importantes para o paciente e para a sociedade. Embora os profissionais de saúde não sejam treinados para tomar decisões considerando custo, é importante lembrar que os recursos, sejam os do paciente, sejam os da sociedade, são finitos. Quando utilizados para comprar medicamentos mais caros, eles deixam de ser usados para outros investimentos pessoais (comprar alimentos de boa qualidade, por exemplo) ou sociais (investir em pesquisa, ensino, outros programas de saúde, saneamento etc), que também trazem repercussões para a saúde. No Brasil, onde existem mais de uma centena de produtos farmacêuticos comerciais destinados a tratar hipertensão, com grande variação de preços entre produtos equivalentes, é importante o médico estar atento ao custo ao realizar a prescrição a seu paciente.

ANA MARIA ARATANGY PLUCIENNIK

Referência

Kevin A. Pearce, Curt D. Furberg, Bruce M. Psaty, Julienne Kirk. Cost-minimization and the number needed to treat in uncomplicated hypertension. Am J Hypertens 1998; 11:618-29.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Set 2002
  • Data do Fascículo
    Jun 2002
Associação Médica Brasileira R. São Carlos do Pinhal, 324, 01333-903 São Paulo SP - Brazil, Tel: +55 11 3178-6800, Fax: +55 11 3178-6816 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: ramb@amb.org.br