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Queixas urogenitais no climatério: o que fazer?

À beira do leito

Ginecologia

QUEIXAS UROGENITAIS NO CLIMATÉRIO: O QUE FAZER?

No climatério, principalmente na pós-menopausa, são freqüentes as queixas envolvendo os aparelhos genital e urinário, tais como: corrimento, prurido, sangramento, dispareunia, incontinência urinária, tenesmo vesical, infecções urinárias de repetição, pois o hipoestrogenismo desencadeia mudanças significativas no ambiente vaginal e nos órgãos gênito-urinários, gerando dúvidas e nem sempre conduzidas de forma satisfatória. Existem diferenças nas mulheres submetidas à reposição hormonal (TRH) e naquelas não medicadas. Assim, nas não usuárias de hormônios, as queixas não infecciosas representam cerca de 60% dos casos, decorrentes da atrofia urogenital e os demais casos por vaginose bacteriana, vaginite por trichomonas, infecções urinárias e outras infecções menos comuns. Por outro lado, as usuárias de TRH costumam apresentar melhor trofismo gênito–urinário, maior incidência de vaginite fúngica ,vaginite mista, e maior incidência de outras infecções devido as características do ambiente vaginal e das demais estruturas conferidas pela TRH. Deve-se ainda salientar que a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), tem apresentado aumento significativo nesta faixa etária. Por estas razões, nas mulheres climatéricas, com queixas urogenitais, deve-se sempre considerar na etapa do diagnóstico, o uso ou não de TRH, pesquisando-se o meio vaginal pelo estudo bacterioscópico, em geral do tipo III nos casos de atrofia acentuada, II na hipotrofia, que são os achados mais comuns em não usuárias de TRH ou quando a mesma não está sendo efetiva, e tipo I quando a TRH for efetiva. Torna-se imperioso nesta avaliação a pesquisa dos agentes mais comuns de infecções genitais, pois ao contrário do que se acreditava, também nesta faixa etária estas patologias como as vulvovaginites existem em freqüência significativa, e embora menos freqüente também infecções pelo Papiloma Vírus Humano(HPV), cervicites e doença inflamatória pélvica, quadros estes nem sempre cogitados. O diagnóstico inclui sempre bacterioscopia, colposcopia, vulvoscopia, colpocitologia oncótica e quando necessário cultura e antibiograma de urina e secreção vaginal, à semelhança do roteiro empregado para mulheres no menacme.

O tratamento é etiológico, com os produtos farmacológicos empregados de acordo com o agente infeccioso. Contudo, alguns aspectos devem ser ressaltados: quando as manifestações decorrerem apenas do hipoestrogenismo, basta a TRH tópica, que oferece excelentes resultados, ou se houver indicação para TRH sistêmica, aplicá-la. Quando o hipoetrogenismo estiver interferindo de forma desfavorável e facilitando as infecções genitais, a TRH como coadjuvante do tratamento etiológico, acelera o processo de cura e reduz os índices de recidiva. Entretanto, a TRH pode promover o desenvolvimento de vulvovaginite fúngica por vezes rebelde ao tratamento.

Pode-se concluir que a menopausa é um período com características especiais e que, portanto, merece atenção especial, para permitir que a mulher que atualmente vive grande parte de sua vida neste período, sinta-se bem e protegida, bastando que valorizemos entre as queixas também as urogenitais, e as tratemos corretamente. Deve-se enfatizar a necessidade de excluir a presença de neoplasias dos órgãos genitais e urinários, que muitas vezes passam despercebidas, e utilizar de forma adequada os hormônios sexuais, que conferem resultados excelentes no controle das queixas urogenitais que atrapalham significativamente o bem-estar da mulher.

VICENTI RENATO BAGNOLI

ANGELA MAGGIO DA FONSECA

PAULO AUGUSTO DE ALMEIDA JUNQUEIRA

WILSON MAÇA YUKI ARIÊ

Referências

1. Bagnoli VR, Fonseca AM, Ariê WMY. Vulvovaginites recorrentes. Revisão dos aspectos clínicos relevantes. Rev Ginecol Obstet 2001; 12(1):40-4.

2. Sobel, JD. Vaginitis. N Engl J Med 1997; 337(26):1896-901.

3. Spinillo A, Bernuzzi AM, Cevini C, Gulminetti R, Luzi S, De Santolo A, et al. The relationship of bacterial vaginosis, candida and trichomonas infection to symptomatic vaginitis in postmenopausal women attending a vaginitis clinic. Maturitas 1997; 27:253-60.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Set 2002
  • Data do Fascículo
    Jun 2002
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