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Tratamento da síndrome antifosfolípides na gestação

Diretrizes

Obstetrícia

TRATAMENTO DA SÍNDROME ANTIFOSFOLÍPIDES NA GESTAÇÃO

A Síndrome Antifosfolípides (SAF) é uma trombofilia adquirida que acarreta, às suas portadoras, baixos índices de sucesso na gestação (20%), na ausência de terapêutica adequada. A administração de aspirina em baixa dosagem e de heparina no decurso da gravidez revolucionou o tratamento dessa patologia elevando as taxas de sucesso para 75% a 85%. Porém, a freqüência de complicações nas gestações ainda é muito alta. A incidência de partos prematuros terapêuticos é de 50%, sendo que a principal causa ainda é a insuficiência placentária (diástole zero à dopplervelocimetria das artérias umbilicais) com altos índices de oligoâmnio e restrição do crescimento intra-uterino. Assim, a literatura moderna pertinente preconiza um tratamento diferenciado com a introdução de anticoagulantes baseado no quadro clínico antenatal. As pacientes são classificadas como de risco moderado, alto ou muito alto para perda fetal, insuficiência placentária e/ou trombose. As de risco moderado são aquelas com perdas fetais anteriores, mas que nunca tiveram trombose, apresentam títulos de anticardiolipina IgG ou IgM inferior a 20 GPL e anticoagulante lúpico eventualmente positivo. Estas pacientes iniciam o tratamento com AAS 100 mg/dia e enoxaparina 20 mg/dia a partir do diagnóstico de gestação. As pacientes de alto risco são aquelas que já apresentaram trombose em território venoso há mais de um ano, porém sem tromboembolismo, com títulos de anticardiolipina superiores a 20 GPL, com anticoagulante lúpico positivo, com doença reumática associada, ou com outras trombofilias presentes (deficiência de proteína C, S ou antitrombina III, fator V de Leiden, gene recombinante de protrombina e hiperhomocisteinemia). Este grupo inicia o tratamento na gestação com AAS associado a enoxaparina 40 mg. As pacientes de muito alto risco são aquelas que já apresentaram trombose em território arterial (AVC, infarto do miocárdio), títulos muito altos de anticardiolipina (> 100 GPL) ou episódio de trombose venosa inferior a um ano. Este grupo deve ser tratado com AAS e enoxaparina 80 mg/dia.

Comentário

O impacto imediato da aplicação desse protocolo em nosso serviço (Clínica Obstétrica da FMUSP) foi a redução de 80% das internações nas gestações por insuficiência placentária. Vale acrescentar que a monitorização da função placentária é fundamental para o seguimento dessas gestantes. A dopplervelocimetria, por ser único método não-invasivo para essa finalidade, tem a nossa preferência, aplicando-a desde o segundo trimestre da gestação (a partir de 16 semanas) com repetição do exame com periodicidade ditada pela evolução clínica materna e do produto conceptual quanto aos seus parâmetros biométricos. A resolução obstétrica também deve ser muito criteriosa, tendo em vista a magnitude da influência dessa doença sobre todo o produto conceptual (placenta e feto) a despeito de, em muitos casos, observarmos pequena expressividade do quadro clínico materno.

VENINA VIANA DE BARROS

Referências

1.Wilson WA, Gharavi AE, Koike T, Lockshin MD, Branch DW, Piette JC, et al. International Consensus Statement on Preliminary Classification Criteria For Definite Antiphospholipid Syndrome. Arthritis Rheum 1999; 42:1309-11.

2. Brenner B, Hoffman Z, Blumenfeld Z, Weiner Z, Younis JS. Gestacional outcome in thrombophilic women with recurrent pregnancy loss treated by enoxaparin. Thromb Haemost 2000; 83:693-7.

3. Arias F, Romero R, Joist H, Kraus FT. Thrombophilia: a mechanism of disease in women with adverse pregnance outcome and thrombotic lesions in the placenta. J Matern Fetal Med 1998; 7:277-86.

4.Lockshin, MD. Pregnancy loss and antiphospholipid antibodies. Lupus 1998; 7(suppl 2):86-9.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Set 2002
  • Data do Fascículo
    Jun 2002
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