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Como acompanhar as gestações que apresentam insuficiência placentária grave?

Àbeira do leito

Obstetrícia

COMO ACOMPANHAR AS GESTAÇÕES QUE APRESENTAM INSUFICIÊNCIA PLACENTÁRIA GRAVE?

A insuficiência placentária grave pode ser diagnosticada com a utilização da dopplervelocimetria das artérias umbilicais, caracterizando-se pela ausência de fluxo na diástole e, por isso, conhecida como diástole zero (DZ) ou, fluxo reverso, também denominada de diástole reversa (DR). Essa condição está invariavelmente associada a resultados perinatais adversos, representados pelas altas taxas de mortalidade perinatal, prematuridade, necessidade de internação em unidades de terapia intensiva neonatal, restrição do crescimento fetal e depressão neonatal. Inicialmente, pelo temor gerado pelo risco de óbito fetal, houve grande número de interrupções das gestações, imediatamente após o diagnóstico de DZ/DR. A inadequação dessa conduta foi demonstrada pela elevação da taxa de óbitos neonatais, apesar de, obviamente, notar-se redução no obituário fetal. Assim, diagnosticada a insuficiência placentária grave (DZ/DR), é imprescindível agregar a monitoração da hemodinâmica fetal (Doppler da circulação arterial e venosa) aos métodos já consagrados de avaliação da vitalidade como a cardiotocografia (CTG) e o perfil biofísico fetal (PBF), com o intuito de se determinar o melhor momento para a interrupção desta gestação. Com relação à avaliação da hemodinâmica fetal, os últimos estudos demonstram que a centralização da circulação arterial fetal, diagnosticada pela dopplervelocimetria da artéria cerebral média, não deve ser utilizada como determinante do término da gestação. Entretanto, a dopplervelocimetria do ducto venoso (DV), por se relacionar com a acidemia no nascimento, é preconizada entre os exames de dopplervelocimetria para a escolha do momento mais oportuno para interrupção dessas gravidezes. Esses exames, aliados à CTG e ao PBF, permitem o acompanhamento evolutivo desses casos, possibilitando que quaisquer mudanças, mesmo que tênues, possam ser percebidas. A grande maioria dos casos se refere a idades gestacionais entre 26 e 32 semanas e com restrição do crescimento fetal importante (peso entre 500 e 1200g), traduzindo a necessidade de extremo cuidado. É fundamental salientar que tais gestantes devem, obrigatoriamente, estar ao abrigo de cuidados terciários, sob vigilância de equipe treinada, tanto em nível pré-natal quanto pós-natal. Após a viabilidade fetal, para a interrupção da gestação, são considerados a gravidade da doença materna, o peso estimado do feto, a maturidade fetal e a vitalidade fetal. A qualidade da assistência às gestantes com insuficiência placentária grave deve ser continuamente avaliada levando-se em consideração o resultado neonatal final que é o objetivo de todo obstetra: recém-nascido saudável, livre de seqüelas resultantes da prematuridade e da hipoxia.

ROSSANA PULCINELI VIEIRA FRANCISCO

Referências

1. Trudinger BJ, Stevens D, Connelly A, Hales JR, Alexander G, Bradley L, et al. Umbilical artery flow velocity waveforms and placental resistence: the effects of embolization of the umbilical circulation. Am J Obstet Gynecol 1987; 157:1443-8.

2. Francisco RPV, Nomura RMY, Miyadahira S, Zugaib M. Diástole zero ou reversa na dopplervelocimetria das artérias umbilicais. Rev Assoc Med Bras 2001; 47:30-6.

3. Nomura RMY. Estudo da cardiotocografia anteparto em gestações com diástole zero ou reversa à dopplervelocimetria das artérias umbilicais. Faculdade de Medicina. São Paulo: Universidade de São Paulo ¾ Tese ( doutorado), 2000.

4. Francisco RPV. Predição de valores de pH e de déficit de bases no nascimento em gestações com diástole zero ou reversa à dopplervelocimetria das artérias umbilicais. Faculdade de Medicina. São Paulo: Universidade de São Paulo ¾ Tese (doutorado), 2002.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Mar 2006
  • Data do Fascículo
    Set 2002
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