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Síndrome dos Ovários Policísticos: abordagem prática da avaliação da resistência à insulina

Panorama Internacional

Ginecologia

SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS: ABORDAGEM PRÁTICA DA AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA À INSULINA

As pacientes portadoras da Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), independente da presença de obesidade, geralmente têm resistência à insulina (RI) e hiperinsulinemia, com maior chance de desenvolvimento de diabetes mellitus (DM2), dislipidemia, doenças cardiovasculares e hipertensão arterial no futuro1. A identificação das pacientes com SOP que são mais insulino-resistentes poderá ser útil na seleção daquelas que se beneficiarão com o uso de drogas que melhoram a sensibilidade à insulina.

Para se determinar a presença de RI, métodos invasivos como o clamp euglicêmico são considerados padrão ouro, mas são complexos. Estudo de Legro et al2 teve como objetivo testar medidas indiretas da sensibilidade à insulina. Foram avaliadas 40 pacientes americanas brancas não-hispânicas obesas com SOP e 15 obesas controles através do FSIVGTT com determinação dos níveis de insulina (I) e glicemia (G) de jejum e durante TOTG-75g. A relação G/I foi considerada como anormal (presença de RI) quando menor que 4,5, com uma sensibilidade de 95% e especificidade de 84%, valor preditivo positivo de 87% e negativo de 87%. Foi demonstrado ainda que a relação G/I é mais acurada que a medida da glicemia ou insulinemia de jejum isoladamente.

Comentário

Dentre as medidas indiretas e práticas da sensibilidade à insulina, a presença de acantosis nigricans, apesar de não ter sido citada neste estudo, é uma avaliação simples, com boa especificidade, mas baixa sensibilidade e sua presença, aliada a clínica de SOP, é fortemente sugestiva de RI. Sua ausência não afasta o diagnóstico de RI.

A medida da I ou após estímulo (TOTG-75g) e a relação entre G e I são limitados a indivíduos com uma secreção de insulina normal. Portanto, situações onde esta função esteja comprometida, como no DM2, esse método pode não refletir a RI. Estes testes são de baixa sensibilidade, embora tenham em geral boa especificidade. Além disso, o estudo de Legro avaliou apenas pacientes obesas. Em um estudo em nossa população, avaliando obesas e não obesas, utilizou-se o índice I/G basal e/ou o índice I/G da Área sob a Curva-ASC (ASC-I/ASC-G) obtido através do TOTG-75g. O índice I/G basal > 0,14 para as não obesas e > 0,19 para as obesas foi indicativo de RI3. Como a relação I/G normal não afasta a possibilidade de RI, neste caso deve-se analisar a relação I/G da ASC (ASC-I/ASC-G) obtida através do TOTG-75g após 30, 60, 90 e 120 min. Um índice I/G da ASC > 0,75 para as pacientes não obesas e >0,97 para as obesas indica RI.

Cálculo ASC= {I +2(I 30 + I 60 + I 90) + I 120} x 60

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Esta abordagem possibilita diagnosticar a presença de RI de maneira custo-efetiva, tanto em pacientes obesas quanto em não obesas, possibilitando assim medidas terapêuticas eficazes.

HÉRICA CRISTINA MENDONÇA

RENAN M. MONTENEGRO JÚNIOR

MILTON CÉSAR FOSS

RUI ALBERTO FERRIANI

Referências

1. Dunaif A. Insulin resistance and ovarian hyperandrogenism. Endocrinologist 1992; 2: 248 ¾ 60.

2. Legro RS, Finegood D, Dunaif A. A fasting glucose to insulin ratio is a useful measure of insulin sensivity in women with polycystic ovary syndrome. J Clin Endocrinol Metab 1998; 83: 2694 ¾ 8.

3. Mendonça HC, Montenegro Jr RM, Foss MC, Silva de Sá MF, Ferriani RA. Índice I/G: uma boa medida para resistência a insulina em pacientes com Síndrome dos Ovários Policísticos [dissertação]. Ribeirão Preto: Faculdade de Medicina; Universidade de São Paulo; 2000.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Jan 2003
  • Data do Fascículo
    Dez 2002
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