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Pediatria
HIPOTIREODISMO SUB-CLÍNICO ¾ CONTROVÉRSIAS (PARTE II)
Nós acreditamos que a insuficiência tireoideana leve é um distúrbio comum que freqüentemente progride para hipotireoidismo franco. A condição pode estar claramente associada a sintomas somáticos, depressão, alteração cognitiva e de memória, anomalias neuromusculares sutis, disfunção cardíaca sistólica e diastólica leves, elevação de níveis séricos de LDL colesterol (low-density lipoprotein) e um risco aumentado para o desenvolvimento de aterosclerose. Há evidência documentada que muitos, se não todos os efeitos adversos são melhorados ou corrigidos com o tratamento com L-tiroxina (hormônio tireoideano). Ainda mais, o tratamento da insuficiência tireoideana leve tem se mostrado efetivo no aspecto custo-benefício. O tratamento inicial pode ser justificado em indivíduos assintomáticos para prevenir os sintomas de deficiência hormonal tireoideana mais grave, que eventualmente se desenvolve conforme a glândula tireóide progressivamente falha; isto é particularmente verdadeiro em pacientes com anticorpos antitireoideano positivos, que apresentam o risco mais elevado de progressão da doença. Por estas razões, nós recomendamos L-tiroxina para a maioria dos pacientes com insuficiência tireoideana leve, particularmente aqueles que têm sintomas, outros fatores de risco cardiovascular, ou anticorpos antitireoideanos positivos, bem como nas gestantes. Todavia, a despeito dessas indicações positivas de que o tratamento com hormônio tireoideano traga benefícios, há muitas questões não respondidas. Há poucos estudos prospectivos, randomizados, controlados por placebo, o que é uma pena quando comparamos a outros distúrbios tais como hipercolesterolemia e osteoporose. As conseqüências potenciais de uma insuficiência tireoideana não tratada sobre a aterosclerose em adultos e sobre o potencial intelectual em crianças nascidas de mães com insuficiência tireoideana leve pede respostas definitivas sobre os benefícios terapêuticos do tratamento. Não é mais científica ou moralmente justificável questionar se a insuficiência tireoideana leve seja "alguma coisa" ou "nada". O que é claramente necessário agora são estudos randomizados, prospectivos e adequadamente desenhados para trazer respostas inequívocas às questões que se referem aos efeitos de insuficiência tireoideana leve e seu tratamento em importantes pontos, tais como função intelectual, doença cardíaca isquêmica e qualidade de vida.
Comentário
O leitor que teve oportunidade de ler a primeira parte deste comentário, publicada no número anterior da RAMB, pode verificar que McDermott e Ridgeway referem-se a "insuficiência tireoideana leve" como sinônimo de hipotireoidismo sub-clínico, mas a questão básica é se um nível de TSH menor que 10mUI/L é suficiente para identificar tal insuficiência? Os autores também misturam na definição pacientes com anticorpos antitireoideanos presentes e mesmo pacientes com sintomas de hipotireoidismo. Fica claro que, apesar das controvérsias sobre hipotireodismo sub-clínico, em presença de qualquer sintoma atribuível à insuficiência tireoideana, o lógico é a instituição do tratamento. Com os dados disponíveis no momento, fica difícil defender o tratamento com L-tiroxina em pacientes assintomáticos com TSH menor que 10mUI/L. Por outro lado, se em dosagens repetidas, os níveis de TSH persistem nessa faixa entre 5 e 10, também começa a ficar incômodo admitir que o paciente não tenha nenhuma disfunção tireoideana. Esses casos merecem uma análise cuidadosa e, como destacaram Chu e Crapo, a decisão deve ser individualizada.
DURVAL DAMIANI
Referência
McDermott MT, Ridgway EC. Subclinical hypothyroidism is mild thyroid failture and should be treated. J Clin Endocrinol Metab 2001;86:4585-90.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
28 Jan 2003 -
Data do Fascículo
Dez 2002