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A via de sinalização CD40/CD40L na sepse grave

PANORAMA INTERNACIONAL

EMERGÊNCIA E MEDICINA INTENSIVA

A via de sinalização CD40/CD40L na sepse grave

Heraldo Possolo de Souza

A sepse e sua expressão mais grave, o choque séptico, são as principais causas de mortalidade nas unidades de terapia intensiva de todo o mundo. Evidências recentes desafiam o clássico conceito de que o choque séptico ocorre devido a uma resposta inflamatória excessiva do hospedeiro.

Em um estudo recente1, foram comparados 40 pacientes com diagnóstico de sepse grave (sendo que dentro desse grupo, 15 pacientes apresentavam bacteremia) com um grupo de voluntários sadios. Nesses pacientes foi determinada a expressão do receptor de membrana CD40 na superfície de monócitos circulantes, bem como as concentrações séricas das interleucinas 6, 10 e 13.

A expressão do CD40 só ocorreu em monócitos de pacientes com sepse severa e o pico de expressão de CD40 foi maior naqueles pacientes que sobreviveram ao episódio séptico, em particular no grupo de pacientes com bacteremia. Os autores concluem que o aumento da expressão do CD40 em monócitos circulantes é um fenômeno protetor durante a sepsis severa, e que a desativação dessas células, refletida por uma baixa presença de CD40, pode representar uma piora da função imune, associada com a severidade da doença e uma evolução ruim.

Comentário

A teoria que a morte por sepsis pode ser atribuída a uma hiperestimulação do sistema imune vem sendo questionada em achados clínicos e experimentais recentes2. É descrito, por exemplo, que células importantes na resposta aos patógenos, como os macrófagos ou células dendríticas, dependendo do tipo de organismo infectante e do local de infecção, podem responder produzindo citocinas tanto inflamatórias quanto antinflamatórias. Assim, o resultado final da resposta destas células ao patógeno agressor pode até ser uma redução da resposta inflamatória global (anergia)3.

Esses achados, entre outros, sugerem que a sepse possa ser, na verdade, um quadro de diminuição da resposta imune diante do agressor. Essa resposta seria influenciada, também, por características herdadas (polimorfismo de genes envolvidos na resposta imune)4, pela duração do quadro séptico e por características moleculares do patógeno agressor2. É dentro dessa controvérsia que se inserem os achados do trabalho acima.

A ligação do receptor CD 40 da membrana de monócitos circulantes ao seu ligante (CD154, comumente chamado de CD40L), presente na membrana de células T, desencadeia a produção de diversos mediadores inflamatórios, a transcrição e ativação de enzimas e o aumento da expressão de moléculas co-estimulatórias envolvidas na patogênese da sepse5.

O achado de Sugimoto et al1 sugere que a ativação dos monócitos através da via de sinalização CD40/CD40L é necessária para a resposta efetiva do hospedeiro aos patógenos agressores e que uma diminuição da resposta imune seria prejudicial aos pacientes em sepsis severa.

Esses achados podem sugerir que o sistema imune do hospedeiro em sepse severa está, na verdade, comprometido e incapaz de erradicar o invasor, indicando que futuras terapêuticas terão que avaliar, também, a possibilidade de se aumentar, e não reduzir a resposta imune do paciente, levando em conta polimorfismos genéticos, a duração da doença e as características dos patógenos.

Referências

1. Sugimoto K, Galle C, Preiser JC, Creteur J, Vincent JL, Pradier O. Monocyte CD40 expression in severe sepsis. Shock 2003;19(1):24-7.

2. Hotchkiss RS, Karl IE. The pathophysiology and treatment of sepsis. N Engl J Med 2003; 348(2):138-50.

3. Abbas AK, Murphy KM, Sher A. Functional diversity of helper T lymphocytes. Nature 1996; 383(6603): 787-93.

4. Lorenz E, Mira JP, Frees KL, Schwatz DA. Relevance of mutations in the TLR4 receptor in patients with gram-negative septic shock. Arch Intern Med 2002; 162(9):1028-32.

5. Van Kooten C, Banchereau J. CD40-CD40 ligand. J Leukoc Biol 2000;67(1):2-17.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Abr 2003
  • Data do Fascículo
    Jan 2003
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