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Como deve ser realizada a anestesia para tratamento odontológico em pacientes com doença cardíaca?

CLÍNICA MÉDICA

Como deve ser realizada a anestesia para tratamento odontológico em pacientes com doença cardíaca?

Carolina Letícia Zilli Vieira; Bruno Caramelli

O uso dos agentes anestésicos locais com vasoconstritor em pacientes com doença cardíaca é motivo de controvérsias. No entanto, seu uso aumenta a qualidade e duração do controle da dor, além de outras vantagens, como a redução de sangramento1. Sem eles, os anestésicos locais têm curta duração, menos efetividade e são absorvidos mais rapidamente pelo organismo, aumentando o potencial de toxicidade1. Pacientes que recebem anestésicos sem vasoconstritor freqüentemente têm um controle menos eficiente da dor do que se tivessem recebido anestésicos com epinefrina. Soluções anestésicas (como a lidocaína) promovem uma leve vasodilatação que pode aumentar o sangramento1. Além disso, doses excessivas desse agente podem aumentar a pressão e causar arritmias em alguns pacientes1,2. Recomenda-se um limite total de 2 a 3 tubetes de lidocaína associada com epinefrina 1:100.000 (0,02mg por tubete)1,2.

Entretanto, a epinefrina ou outro vasoconstritor são contra-indicados em casos de arritmias não-tratadas e devem ser usados com precaução em pacientes com marcapassos e desfibriladores implantáveis2. O uso de vasoconstritor é também contra-indicado para pacientes com angina instável e o hospital deve ser o local mais apropriado para a realização do tratamento odontológico2. O tratamento em pacientes com angina estável pode ser realizado desde que se use uma pequena quantidade de anestésicos locais com vasoconstritor. De maneira semelhante, em pacientes com cardiomiopatia hipertrófica, o uso de epinefrina deverá ser feito com cuidado2.

O uso de anestésicos locais com vasoconstritores deve ser feito de maneira indivi-dualizada para pacientes com hipertensão arterial sistêmica. Em pacientes hipertensos não-controlados, a aplicação de epinefrina foi associada a um ligeiro aumento da pressão sangüínea sistólica e diastólica, porém isso não foi significativo. Neste caso, o controle da pressão e de eventuais complicações sistêmicas deve preceder qualquer tipo de tratamento odontológico1,2. Em caso de emergência, entretanto, uma análise individual da relação risco-benefício pode levar à decisão pela intervenção antes do controle pressórico2. Sangramentos excessivos em procedimentos cirúrgicos ou traumas foram observados nestas situações; no entanto, pacientes com hipertensão comumente não apresentam esse tipo de sangramento, o que tem gerado controvérsias1.

Finalmente, anestésicos com vasoconstritores devem também ser contra-indicados para pacientes com episódio recente de infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca grave e hipertireodismo não-controlado1,2.

Referências

1. Rhodus NL. Detection and management of dental patient with hypertension. Northwest Dentistry. Clinical Feature. 2001. p.39-48.

2. Academy Report. Periodontal management of patients with cardiovascular diseases. J Periodontol 2002; 73:954-68.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Nov 2003
  • Data do Fascículo
    Set 2003
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