GINECOLOGIA
Endometriose de vagina. Como abordar cirurgicamente?
Francesco Viscomi
Dentro dos quadros de endometriose pélvica, a de localização vaginal é pouco freqüente. A manifestação clínica caracteriza-se, geralmente, por dispareunia de profundidade, dificultando o relacionamento sexual, podendo também se acompanhar de graus variados de dismenorréia. É fundamental que se avalie o sito exato destas lesões e a abordagem cirúrgica deve ser por via abdominal (de preferência laparoscópica) e não por via vaginal.
Caso Clínico
S.M.A, 30 anos, nulípara, nuligesta, com queixa de dispareunia de profundidade, dismenorréia e pequeno sangramento ao coito.
Ao exame ginecológico detectou-se presença de nódulos escuros de 0,5 a 1,0 cm de diâmetro, localizados no 1/3 superior da vagina, logo abaixo do lábio posterior do colo do útero. Ao exame de toque os nódulos apresentavam-se dolorosos. O restante do exame ginecológico, bem como a ecografia vaginal não mostravam alterações significativas. A determinação sérica do CA 125 revelou resultado de 30 (limite superior de normalidade). A paciente foi encaminhada para colposcopia e foi solicitada biópsia dos nódulos. O anatomo- patológico das lesões evidenciou presença de epitélio glandular endometrial de permeio a fibras musculares.
Com esse diagnóstico foi indicada videolaparoscopia, cujo resultado mostrou cavidade abdominal sem alterações significativas, identificando o útero de tamanho e forma normais, ovários de aspecto normal e tubas uterinas normais. O fundo de saco útero-retal mostrava-se livre, porém notaram-se lesões escuras nas regiões dos ligamentos útero-sacros. Não se constatou nódulos entre os ligamentos útero-sacros; entretanto, à palpação com instrumental laparoscópico desta região notou-se irregularidade que coincidia com os nódulos de vagina. Com este quadro, decidiu-se pela excisão das lesões dos ligamentos útero-sacros e abertura por via laparoscópica da cúpula vaginal. Assim, introduziu-se na vagina instrumental para apresentação da cúpula utilizado em cirurgias laparoscópicas e, com o bisturi ultrassônico laparoscópico, procedeu-se à abertura da vagina. Uma vez aberta, observou-se a presença de quatro nódulos escuros, endurecidos e de 1cm de diâmetro. Retirou-se uma faixa de 1cm a 1,5cm de vagina. A utilização do palpador especial fez com que não houvesse saída de gás durante o procedimento e dessa forma evitou-se a perda do pneumoperitônio. A sutura vaginal foi realizada por via laparoscópica.
A alta hospitalar ocorreu 24 hs após o procedimento. O estudo anatomopatológico da peça cirúrgica confirmou tratar-se de endometriose vaginal. A paciente foi orientada a utilizar contraceptivo oral após o procedimento.
Apesar da reativação da via vaginal para cirurgias de retirada de útero, a endometriose de vagina não deve ser abordada por esta via, pois as lesões na vagina podem representar uma ponta do "iceberg" de um grande implante endometriótico propriamente dito. A via laparoscópica, além de fazer um diagnóstico mais amplo e efetivo, permite uma abordagem segura e eficaz com retirada de todo implante endometriótico.
Referências
1. Redwine DB. Conservative laparoscopic excision of endometriosis by sharp dissection: life table analysis of reoperation in persistent or recurrent disease. Fertil Steril 1991; 56:628-34.
2. Adamson GD, Heard SJ, Pastor DJ, Rodriguez BD. Laparoscopic endometriosis treatment. It is better? Fertil Steril 1993; 59:35-44.
3. Olive DL, Schwartz LB. Endometriosis. N Engl J Med 1993; 328:1759-69.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
04 Fev 2004 -
Data do Fascículo
2003